além das áreas críticas, estão representadas na Figura 9. As áreas críticas
compreendem áreas de maior demanda de água para uso industrial e, conseqüentemente, cargas altamente poluidoras são lançadas nos rios, ocasionando a degradação da qualidade das águas (áreas críticas 1 e 2). Na área crítica 3 encontra-se a região do Vale do Aço e áreas de minera-ção, que demandam quantidades expressivas de água, tendo ainda, alto
potencial poluidor por substâncias inorgânicas13. A área crítica 4, onde
se localizam cidades de maior porte, existem problemas de qualidade da água para abastecimento em virtude da contaminação ambiental a montante.
Áreas críticas e problemas prioritários da Bacia do Rio Doce. Adaptado de DNAEE (1948) apud Setti (1996)13.
Fig.9
b) Reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê - Os reservatórios do Médio e Baixo rio Tietê estão localizados na bacia hidrográfica do rio Paraná, na região de maior desenvolvimento econômico da América Latina. Esses reservatórios foram construídos para atender à crescente demanda energética da região que possui a maior densidade
demográ-fica do país, 2.300 indústrias (demandando 113,0m3 por segundo de
água) e uma parcela acrescida para suprir a irrigação, criação de gado
e outros usos como navegação, recreação e suprimento de água14. Os
reservatórios estão localizados em região caracterizada pela intensa hete-rogeneidade espacial de ecossistemas sujeitos à ação antrópica.
A Bacia do Tietê Médio Superior inclui os rios Piracicaba e Tietê e o primeiro reservatório do sistema (Barra Bonita), sendo caracterizada pela elevada concentração urbana e industrial, com predominância na área agrícola de culturas de café e cana-de-açúcar e, na área industrial, papel e celulose, alimentos, têxtil, curtumes, metalúrgicas, abatedouros,
refinarias de petróleo e usinas de açúcar e álcool15,16.
Na Bacia do Médio Tietê Inferior encontram-se os reservatórios de Bariri, Ibitinga e Promissão. As atividades agrícolas predominantes são
214
Organismos aquáticos
as culturas de café, cana-de-açúcar, milho e laranja, além de intensas áreas de pastagens. As atividades industriais relacionam-se às usinas de
açúcar e álcool, alimentos e curtumes16.
A Bacia do Baixo Tietê inclui os dois últimos reservatórios: Nova Avanhandava e Três Irmãos. A área de entorno é caracterizada predomi-nantemente por pastagem e plantações de cana-de-açúcar. O aproveita-mento industrial é baixo e predominam usinas de cana-de-açúcar e alimentícias.
Em geral, toda a área de estudo é caracterizada pela ausência de vegetação nativa e mata ciliar, sendo os recursos hídricos destinados ao abastecimento público, recepção de efluentes domésticos e industriais, irrigação, navegação e lazer.
6.2. Introdução de espécies exóticas e alóctones
Além da destruição de habitats, as invasões biológicas têm sido consideradas uma ameaça constante à biodiversidade global. Em quase todas as regiões colonizadas pelo homem ocorreram introduções de ani-mais e plantas invasoras de forma deliberada ou acidental, freqüente-mente seguidas de extinção total ou parcial de espécies nativas. Algu-mas das extinções estão diretamente relacionadas à introdução de espécies alienígenas, enquanto outras decorrem de efeitos combinados, configurando situações mais complexas.
Organismos invasores podem exercer um ou mais efeitos que oca-sionam ou contribuem para a extinção das plantas e animais nativos. Espécies introduzidas competem por alimento ou por locais de nidifi-cação, se hibridizam com espécies nativas proximamente relacionadas ou introduzem doenças. Qualquer um destes efeitos pode desencadear mudanças que afetam adversamente as espécies nativas, promovendo a extinção ou tornando-as mais vulneráveis a outros impactos, como a superexploração pesqueira, a poluição química e a fragmentação dos habitats.
Entre as espécies normalmente introduzidas nos ecossistemas aquáticos, os peixes têm merecido maior atenção, ocorrendo de forma acidental ou ainda pela ação das empresas hidrelétricas, como uma ten-tativa de repovoamento dos rios represados. Nos reservatórios do rio Tietê, por exemplo, inúmeras espécies de peixes exóticos e alóctones foram introduzidas a partir da década de 60, quando teve início a cons-trução das barragens em série. Entre outras espécies encontradas atual-mente, a corvina (Plagioscion squamosissimus) representa uma das introduções mais antigas no Estado de São Paulo, feita em 1966 pela CESP, no Rio Pardo, distribuindo-se pelo rio Grande e em seguida no rio Paraná e nos reservatórios de Ilha Solteira e Jupiá, quando iniciaram
a colonização do rio Tietê17,18. A espécie Micropterus salmoides (black
bass), originária da América do Norte, teve sua introdução em 1909, na
represa de Ponte Nova, no rio Tietê, SP. Para as demais espécies
intro-duzidas não existem relatos ou informações de sua autoria18.
Nos reservatórios do rio Tietê, das 80 espécies de peixes
identifi-cadas, 11 foram introduzidas (Tabela 3), sendo duas exóticas (espécies
de outros continentes) e nove alóctones (espécies de outras bacias hidrográficas do Brasil).
215
Tabela 3. Espécies de peixes introduzidas nos reservatórios do rio Tietê.
Espécie Nome vulgar Origem
Plagioscion squamosissimus Corvina Amazônica
Cichla sp (1 ou 2 espécies) Tucunaré Amazônica
Triportheus signatus Sardinha Nordeste
Tilapia rendalii Tilápia Africana
Satanoperca jurupari Cará Amazônica
Astromotus ocellatus Apaiari Amazônica
Lipossarcus anisitsi Cascudo *
Cyprinus carpio Carpa Asiática
Metynnis maculates Pacú-prata *
Trachelyopterus coriaceus Bagre *
* origem desconhecida
Algumas das espécies exóticas (Tilapia rendalli) e alóctones (Plagioscion squamosissimus, Satanoperca jurupari e Cichla sp) são
mostradas na Figura 10.
Welber Senteio Smith
Fig.10
Nos lagos do Vale do rio Doce, o tucunaré (Cichla ocellaris ) e a piranha (Pygocentrus sp) foram introduzidas em lagos localizados na área interna (lagos Dom Helvécio e Carioca) e externa ao Parque
Flo-restal do Rio Doce (lagoa Jacaré)19,20, promovendo alterações
significati-vas na riqueza de espécies de peixes no período de 1983 a 1992 (50% de redução em relação à riqueza de espécies em anos anteriores).
Existem inúmeros exemplos dos efeitos negativos da introdução de espécies de peixes, entre eles estão a perda de espécies, queda no rendimento pesqueiro de espécies nativas e alterações do ambiente
pela redução dos locais de desova e até mesmo a eutrofização21,22,23,24.
Estes efeitos ocorrem principalmente quando espécies piscívoras são introduzidas, pois estas exercerão uma pressão, seja ela por preda-ção ou competipreda-ção, sobre as espécies nativas. Além disso, a espécie introduzida pode se comportar de maneira diferente da esperada, ocupando nichos diferentes dos habituais. Também a hibridização entre espécies nativas e introduzidas tem resultado na diluição das
características genéticas24. As espécies introduzidas possuem
216
Organismos aquáticos
res exigências de condições ambientais, sendo consideradas mais rústicas e de rápido crescimento, beneficiando-se em relação às espé-cies nativas.
Em relação aos invertebrados, milhares de espécies tem se espa-lhado em várias partes do mundo em decorrência das atividades huma-nas. Na maioria dos casos, no entanto, não há registros sobre o local exato, a quantidade de organismos introduzidos ou a real permanência e estabelecimento de populações permanentes das espécies introduzidas. Menos freqüentes ainda são os estudos que comprovem as extinções das espécies nativas em decorrência da introdução dos invertebrados alienígenas. No caso dos reservatórios do rio Tietê e seus tributários (além de outros reservatórios do Estado de São Paulo), bem como nos lagos do Vale do Rio Doce, verificou-se por exemplo, a ocorrência do caramujo Melanoides tuberculata (Mollusca, Gastropoda), uma espécie de origem asiática.
6.3. Contaminação
Nos diferentes compartimentos da biosfera - terra, água ou atmos-fera - um aspecto marcante da influência antropogênica são as profun-das modificações que ocorrem na composição química dos mesmos, de forma dinâmica e em muitos casos com alta variabilidade. Talvez se possa traduzir grande parte dos impactos introduzidos pelo homem nos diversos ecossistemas, neste século, como a combinação de duas ações perigosas: 1) as alterações majoritárias na concentração dos elementos químicos singulares da tabela periódica e 2) a criação e introdução de milhares de novos compostos com potencial desconhecido de atuação nos diferentes níveis hierárquicos do espectro de organização biológica, desde a unidade genética básica, o gene, até os níveis superiores das populações e comunidades.
Diversos são os efeitos prejudiciais da contaminação por produ-tos químicos nos ecossistemas naturais. Entre os muiprodu-tos problemas, a perda de biodiversidade através da extinção de espécies sensíveis aos diferentes tipos de poluição química, é bastante grave e preocu-pante. Nos ambientes terrestres a utilização excessiva e continuada de agrotóxicos elimina espécies importantes nas redes tróficas e reduz drasticamente a diversidade de plantas e animais, tanto nas áreas cul-tivadas quanto nas áreas limítrofes de vegetação natural. Localmente, inúmeras populações são extintas pela deposição de resíduos sólidos tóxicos. A fauna e a flora do solo são extremamente vulneráveis a este tipo de contaminação química. Em qualquer local do planeta, quando resíduos de substâncias tóxicas ou de elementos essenciais são libera-dos em concentrações acima do limite de tolerância de uma ou mais espécies, há riscos de perda imediata de diversidade. A perda será apenas local, no caso das espécies amplamente distribuídas, ou total se a região contaminada coincidir com a única área de ocorrência de uma espécie endêmica.
Nos ambientes aquáticos os seres vivos possuem uma íntima, obrigatória e recíproca relação com o meio circundante, portanto, a introdução de substâncias ou compostos estranhos à composição natu-ral da água e dos sedimentos aquáticos leva a alterações profundas na biota. Os efeitos da poluição química ocasionando a erosão da biodi-versidade, geralmente podem ser observados através da redução no