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163Das espécies existentes no Parque, 14 constam na listagem oficial de

espécies ameaçadas de extinção do IBAMA. Nesse contexto, 18 espécies estão incluídas em alguma categoria de ameaça da União Internacional

para a Conservação da Natureza - IUCN12 (órgão que estabelece os

critérios e define as espécies ameaçadas do mundo): duas espécies criticamente ameaçadas são o mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii) e o beija-flor-de-cauda-oliva (Glaucis dohrnii); três espécies ameaçadas - suia (Touit surda), chauá (Amazona rhodocorytha) e crejoá (Cotinga

maculata); sete vulneráveis - gavião-branco (Leucopternis lacernulata),

fura-mato (Pyrrhura cruentata), rabo-amarelo (Tripophaga macroura), sabiá-pimenta (Carpornis melanocephalus), jandaia-sol (Aratinga

auricapilla), choquinha-da-cauda-cintada (Myrmotherula urosticta)

e escarradeira (Xipholena atropurpurea) e seis quase ameaçadas - macuco (Tinamus solitarius), gavião-real (Harpia harpyja), choquinha-de-peito-pintado (Dysithamnus stictothorax), chororózinho-baiano (Herpsilochmus pileatus), maria-verdinha (Hemitriccus nidipendulus)

e araponga (Procnias nudicollis). Aves endêmicas da Mata Atlântica13

também foram muito bem representadas no Parque, sendo registradas 43 espécies.

O tamanho dos fragmentos em zonas costeiras pode ser um fator determinante da abundância de aves limícolas. Em espécies migratórias

que costumam congregar milhares de maçaricos (Figura 7), pequenos

fragmentos não são suficientes para abrigar tais populações. Entretanto, fragmentos em torno de 5ha, como aqueles da Ilha de Maiaú, litoral oci-dental do Maranhão, podem abrigar populações de tamanho razoável como os 5.000 maçaricos migratórios que anualmente ocupam esse

fragmento (Figuras 10 e 11). Vale ressaltar que a qualidade do habitat em

termos de produtividade, nesse caso a alta abundância de organismos bentônicos, exerce um papel crucial nas populações de aves migratórias. Em geral, diminuindo o tamanho do fragmento há uma tendência de queda na disponibilidade de presas para as aves e, conseqüentemente, na qualidade do habitat.

Maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus) uma das aves limícolas que migram anualmente para as praias do litoral norte do Brasil.

Fig.10

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Aves

A distribuição das aves migratórias costeiras parece estar associada à distribuição de recursos alimentares e de locais de descanso e abrigo (tipo de praia). A fragmentação natural de habitats como, por exemplo, a que ocorreu ao longo da costa entre o Maranhão e o Pará no período Pleistoceno, pode ter influenciado a fragmentação das populações de aves migratórias. Uma larga área da costa foi recortada formando o que é conhecido hoje como Reentrâncias Maranhenses e Salgado Paraense. Embora os dados ainda sejam preliminares, as populações que ocorrem na costa do Pará parecem diferir daquelas que ocorrem no Maranhão. Nessas áreas de invernada, extremamente importantes, as informações atuais ainda não são suficientes para precisar se essas populações ocu-pam a mesma área de reprodução no Ártico canadense. Informações adicionais são necessárias para definir os limites de distribuição das populações de maçaricos migratórios tanto nas áreas de invernada como nas áreas de reprodução.

Na região do Corredor do Descobrimento foram estabelecidos os limites das principais paisagens. No total, nove sub-regiões biogeográ-ficas foram identificadas ao longo da área estudada. As sub-regiões são determinadas latitudinalmente pelos rios e, longitudinalmente pela ve-getação. Dessa forma, cada sub-região apresenta um padrão de cober-tura vegetal e composição faunística diferenciados.

Os resultados dos inventários nas 30 localidades estão resumidos

na Tabela 2. No total, foram registradas 287 espécies de aves, sendo

que 197 têm hábitos florestais, 232 espécies usam as bordas e florestas secundárias (capoeiras), 68 espécies ocorrem associadas aos ambientes abertos, como pastagens e lavouras, além de outras 32 que preferem ambientes aquáticos.

Batuíra-norte-americana (Charadrius semipalmatus), outra espécie de ave migratória.

Antônio Augusto F. Rodrigues

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Tabela 2. Localidades inventariadas no sul da Bahia com sua posição geográfica (UTM), tamanho (em hectares) e riqueza de espécies.

Localidades Norte Leste FragmentoÁrea do Riqueza de Espécies

Faz. Bolandeira 495220 8298486 1000 188

Faz. Montecristo 484176 8274414 400 173

Faz. Taquara 459695 8231937 3000 201

Faz. Palmeiras 433047 8238344 900 193

Faz. Rio Capitão 492221 8414989 1600 165

Faz. Caititu 482881 8388297 550 175

PARNA Descobrimento 463159 8111937 11000 244

Faz. Alcoprado 428467 8088016 1000 152

Faz. P. Pajaú 410473 8101529 300 136

RPPN Ecoparque 494201 8324537 9000 190

Faz. Boa Sorte 458575 8321374 1200 167

RPPN Teimoso 439764 8326701 500 191

Faz. Jueirana 493332 8318700 9000 182

P. A. Zumbi Palmares 484524 8450278 800 162

Faz. Pedra Formosa 451267 8457445 200 142

Faz. São Roque 427314 8467113 400 142

PARNA Monte Pascoal 456169 8131517 7000 230

RPPN Veracruz 484469 8191962 7000 244

Faz. Cara Branca 460761 8196877 200 100

Faz. Vista Bela 402650 8165378 500 180

PARNA Pau Brasil 469033 8178281 8000 225

Rest. Serra Grande 500551 8413546 800 114

Rest. de Ilhéus 494331 8391889 600 96 Rest. de Uma 499329 8343355 500 93 Camp. Canavieiras 501439 8288491 400 125 Rest. de Maraú 506435 8462394 200 123 REBIO de Una 490306 8321989 9000 197 Faz. Subaúma 496040 8484268 800 134

Faz. São João 478119 8487188 500 137

Nova Esperança 422364 8499566 1600 149

Com base nessas amostragens e com auxílio de um programa de

computador14, foi realizada uma análise para estimar qual o número de

espécies de aves ao longo da área do Corredor do Descobrimento (Figura

9).

Ao sul do rio Jequitinhonha se encontram as áreas de maior rique-za, muitas delas protegidas sob grandes Unidades de Conservação como os Parques Nacionais do Descobrimento, Monte Pascoal e Pau-Brasil e a RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural Veracruz. Diversos fatores parecem determinar a riqueza de aves nessa região. Em primeiro lugar ainda existem grandes fragmentos (>5.000ha), muitos deles com extensas florestas bem conservadas e adequadas à ocorrência de boa quantidade de espécies florestais típicas da Mata Atlântica. Uma região de alta riqueza pode ser identificada ao sul do rio de Contas. Essa região também conta com diversas áreas protegidas, como a Reserva Biológica de Una e as RPPNs Ecoparque de Una e da Serra do Teimoso. Isso se deve provavelmente aos diferentes usos compatíveis com a conserva-ção de paisagens florestais, como as cabrucas e outros sistemas agroflo-restais desenvolvidos na região.

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Aves

Já na porção norte do rio de Contas observa-se uma riqueza média de aves devido, principalmente, ao desmatamento generalizado, com a ocorrência de pequenos fragmentos isolados. Essas características ambientais, associadas à história biogeográfica indicam uma grande diminuição na diversidade uma vez que, no passado, essa região podia

ser caracterizada como de alta riqueza biológica15. Iniciativas de

conser-vação são urgentes nessa região, sendo as áreas florestadas próximas de Camamú as mais prioritárias.

Por fim, as porções mais próximas do litoral cobertas por restingas, possuem potencialmente menos espécies, embora a média de espécies assinaladas para esses ambientes no sul da Bahia seja superior a 100, número significativamente grande em relação aos outros encontrados

em fragmentos localizados na Mata Atlântica do sudeste brasileiro10.

No entanto, é importante lembrar que nessas áreas também ocorrem diversas espécies ameaçadas de extinção, como o chauá (Amazona

rhodocorytha)

4. Efeito de borda

O Projeto Restauna foi o único a avaliar o efeito de borda sobre a avifauna, não tendo sido detectada diferença na abundância das espécies entre a borda e o interior de fragmentos. Entretanto, quando analisadas apenas as espécies florestais, a abundância nas bordas foi menor que no interior. A borda é utilizada por um grande número de espécies de áreas abertas e, paralelamente, há espécies florestais que

a evitam5. O mesmo padrão não se repete com a riqueza de espécies

florestais - o interior dos fragmentos possui aparentemente, maior riqueza que as bordas, mas essa diferença é pequena. Isso pode ser devido à substituição das espécies florestais sensíveis à borda por espécies especialistas em bordas.

As aves podem ser agrupadas em grupos (guildas) de acordo com sua dieta e o local onde obtêm alimentos. Observou-se em Una que alguns grupos (aves carnívoras, frugívoras e insetívoras que se alimentam no sub-bosque e insetívoros que capturam insetos nas cascas das árvores) evitam as bordas, sendo menos abundantes nes-tes locais. Provavelmente o efeito de borda altera a disponibilidade de alimento ou outro recurso para estes grupos, mas isso não foi avaliado pelo projeto. Já os frugívoros que se alimentam nas copas e insetívoros generalistas de áreas abertas, são mais abundantes nas

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