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Capítulo II – Docência/Mediação/Supervisão

2.1. A Docência no Ensino Profissional

2.1.1. O ensinar

Num mundo em constante mudança quer a nível social, tecnológico e profissional, onde os desafios surgem constantemente, a educação terá que acompanhar estas mudanças, de forma a motivar a aprendizagem dos alunos e consequentemente os métodos de ensino pelos professores. A educação tem como missão preparar os jovens na vida social e profissional, contribuindo para a sua formação, de forma a torna-los cidadãos ativos.

Os quatro pilares relacionados com Gestão do Conhecimento, referenciados pela Comissão Internacional de Estudos sobre a Educação, foram identificados e apresentados à Unesco, como sendo os seguintes: a) aprender e conhecer; b) aprender a fazer; c) aprender a conviver e por último aprender a ser. A transversalidade nos quatros pilares referenciados, aponta para o conhecimento e a sua utilização de forma a potenciar o desenvolvimento social e integração no mercado de trabalho.

Sobre o papel da educação e o lugar que ocupa, no Relatório Mundial sobre a educação, lê-se: Quando o século atual está a chegar ao fim, a educação aparece no centro das preocupações que o futuro no mundo inspira. São os jovens de hoje que terão que confrontar-se com os desafios do próximo século: eliminar a pobreza, instaurar um desenvolvimento e uma paz duráveis. Educar os jovens para permitir-lhes vencer estes desafios é doravante um dos objetivos de todas as sociedades (…). (Unesco, 1998, p.16).

Sobre o conceito de ensinar e considerando a autora Roldão (2009), o ensinar pode ser organizado em vários grupos: a) a explicação dos conteúdos das matérias; b) um facilitador na aprendizagem para que os alunos aprendam por eles próprios; c) a forma da apresentação dos conteúdos e, por último, potenciar o pensamento dos alunos através das questões que são colocadas. A mesma autora refere que ensinar consiste em:

Desenvolver uma ação especializada, fundamentada em conhecimento próprio, de fazer com que alguém aprenda alguma coisa que se pretende que se considera necessária. (Roldão,2009, p.15).

Ainda segundo o pensamento da mesma autora, o ensinar poderá ser entendido num plano histórico e no plano curricular, sendo o primeiro relacionado com o “passar conhecimentos” e

o segundo com a organização do currículo.

Na perspetiva de Costa (2002), a transmissão de conhecimentos de professor para aluno é visível no ensino tradicional que se caracteriza por ser unidirecional, em que o aluno assume um papel de memorizador em vez de entendedor, em oposição ao ensino atual que, na perspetiva de Perrenoud (1995), o aluno deve assumir um papel mais ativo, relacionando os conceitos e participando na construção do conhecimento.

O facultar as ferramentas e os processos aos alunos em oposição à transmissão de conhecimentos, é na perspetiva de Martins (2004),o caminho que o ensino deverá percorrer, envolvendo o aluno nas aprendizagens e que, além do saber, o saber fazer é a ideia presente na nova visão da educação.

Centrando a atenção na opinião de Monteiro (2000), o ensinar depende das seguintes interrogações: o que, como, porquê e para quê, não sendo só o domínio do saber o ponto central do ensinar.

O ensinar na formação profissional, assente na Estrutura Modular, procura uma forma de ensinar aberta à mudança, à inovação e aos novos valores educativos. A criatividade, flexibilidade, empenhamento, participação, intervenção, capacidade de trabalho em equipa, capacidade de análise e de resolução de problemas "em contexto", relação pedagógica baseada na reciprocidade, práticas de reflexão a partir do quotidiano, abertura da escola ao meio e à comunidade, são segundo NACEM (1992), os pilares para o sucesso educativo, potenciando um olhar diferente para o desenvolvimento curricular.

O aluno é o foco no ensino profissional, tendo como base as aprendizagens e as necessidades individuais que deverão ser respeitadas. Assim as novas estratégias de ensino-aprendizagem deverão ser implementadas, de forma a respeitar estas aprendizagens, possibilitando ritmos de progressão mais diferenciados e personalizados, contribuindo também a produção dos materiais de formação, principalmente na componente prática (onde a inexistência de materiais é uma realidade), apoiar o processo ensino-aprendizagem, cuja responsabilidade é de cada professor. De acordo com a GETAP (1992), a organização do currículo deve ser aberta e flexível, tendo em conta os desafios nos dias de hoje da formação profissional, sendo um tipo de ensino que valorize as competências de cada aluno, os saberes-fazer, os saberes-estar, as atitudes, os valores, desenvolvimento de capacidades de criatividade, comunicação, trabalho em equipa, resolução de problemas, responsabilidade, capacidade empreendedora, em que a flexibilidade da planificação interativa torna possível o processo. O percurso

formativo também é da responsabilidade do aluno, havendo um respeito pela individualidade e liberdade relativamente ao processo ensino-aprendizagem.

2.1.2. O papel do professor/ formador

Tentando perceber o papel do professor/formador relativamente aos seus alunos e no desempenho das suas funções, fizemos uma revisão de literatura sobre esta temática.

O professor sendo um educador e um líder, assume um papel de referência para os seus alunos, que o vêm como uma inspiração e um exemplo a seguir, ajudando no crescimento destes futuros profissionais. Como escreve Hannoun:

O professor é, antes de mais, uma pessoa que comunica com uma outra pessoa (…) Comportamentos, gestos, palavras, são as pontes pelas quais passam-ou- não- os conteúdos da mensagem escolar. (Hannoun, 1989, p.236).

A importância do professor aparece referenciada no relatório da UNESCO (1998), identificando que além das condições e de aprendizagem, os professores têm um papel ativo na qualidade e na pertinência da educação, referindo:

(…) as condições de ensino e aprendizagem são um fator importante, mas a qualidade e pertinência da educação dependem, ante de mais, dos professores. (UNESCO, 1998, p.16).

A prática profissional do professor é um desafio permanente, em constante mutação que motivam, orientam, executam e entusiasmam os seus alunos, sendo a aprendizagem construída pelo aluno. Para Perrenoud (2001), os professores possuem competências profissionais além dos saberes, identificando as dez famílias: a) organizar e estimular situações de aprendizagem; b) gerar a progressão das aprendizagens; conceber e fazer com que os dispositivos de diferenciação evoluam; c) envolver os alunos em suas aprendizagens e no trabalho; d) trabalhar em equipe; e) participar da gestão da escola, informar e envolver os pais, utilizar as novas tecnologias; f) enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão e por último gerar sua própria formação contínua.

Sendo o professor um conhecedor, orientador e que compartilha os seus conhecimentos, Monteiro (2000) sustenta que o professor assume o papel de educador, mais do que um especialista na transmissão de conhecimento, em que a multiplicidade dos saberes e a forma como o faz influencia o percurso da aprendizagem do aluno.

Também o conceito de professor reflexivo é referenciado por Alarcão (1996), em que o professor tem consciência do lugar que ocupa. Só depois desta tomada de consciência é que os professores podem ser ativos e desenvolverem nos alunos competências de forma a torna-

los cidadãos ativos, preparando-os para a vida ativa.

O professor tem como missão encorajar para a aprendizagem, para Alarcão & Roldão (2008, p.41), o professor que orienta e estimula com vista à aprendizagem e ao desenvolvimento da autonomia dos seus alunos.

Ventura, na nova proposta para a educação, refere que o professor deverá assumir um novo papel com maiores responsabilidades e refere:

Na Educação 3.0 o professor deixa de ser o sol, o centro da sala de aula, para orbitar em torno de seus alunos. Sem a obrigação de ser fonte exclusiva de conhecimento, ele adquire maiores responsabilidades: a alunos, orientá-los individual e coletivamente, coordenar projetos e atividades, introduzir novas ferramentas (ou ferramentas conhecidas, mas com novos propósitos) e provocar reflexões. O professor 3. valoriza a troca de experiências, o desbravamento de novos caminhos e a produção coletiva (…).(Ventura, 2016, p.177).

Ainda segundo Ventura (2016, p.30), os professores têm um papel de relevância na sociedade e refere que o maior desafio de ser professor é fazer diferença na vida dos alunos e agregar valor a seu potencial de progresso.

Os desafios do professor/formador no ensino profissional, num tipo de ensino em que as expetativas dos alunos apontam para uma componente mais prática, o papel deste profissional está relacionado com a inovação e renovação constantes das suas práticas e em que as suas habilidades de cativar e motivar são uma constante. Conforme referenciado pela GETAP(1992), a construção da profissionalidade do docente é o primeiro fator para ensinar e aprender de uma forma eficaz, referenciando que os professores/mediadores são profissionais de educação; mediadores do currículo/construtores de projetos curriculares; gestores do currículo integrado; gestores de estratégias do processo ensino-aprendizagem; criadores de alternativas de aprendizagem adequadas a uma diversidade de dinâmicas; facilitadores de comunicação/animadores das atividades; construtores de ambientes de aprendizagem; produtores/utilizadores de materiais de ensino-aprendizagem; investigadores práticos, reflexivos, críticos e criativos e agentes de tomada de decisões e resolução de problemas. O papel do professor na formação profissional, entendido como agente de mudança, tem como missão criar um ambiente de sucesso na aprendizagem em que para muitos alunos o descredito do saber é uma constante, restabelecendo a ligação entre o conhecimento e a escola. Além da preparação dos seus materiais didáticos, o educador terá que conhecer as condições impostas pelo mercado de trabalho, sendo o seu trabalho visível quando os alunos

são integrados no mundo empresarial através da FCT. Deverá repensar ainda no trabalho que desenvolve neste tipo de ensino com os alunos e com os vários intervenientes envolvidos. No ensino profissional, segundo o referenciado no artigo nº 1 e 2 do artigo 12º, do Decreto- Lei nº 4/98, de 8 de janeiro, relativamente ao pessoal docente no ensino profissional, tendo em conta os perfis dos candidatos às exigências profissionais previamente definidas, assim é feita a seleção do pessoal docente. Para a docência na componente de formação técnica, deve ser dada preferência a formadores que tenham uma experiência profissional ou empresarial efetiva, pois é esta experiência na área, que o profissional possibilita aos alunos absorver os conhecimentos que fazem ou fizeram parte do seu dia-a-dia.

Entende-se por formador, segundo o artigo nº 10, do decreto–lei nº 401/91, de 16 de outubro, o profissional cujo perfil funcional integra competências técnico-científicas e pedagógico- didáticas adequadas à formação que ministra, e que detenha perfis funcionais exigíveis, em especial no que se refere à preparação técnica, científica, pedagógica, didática e social, bem como à experiência na área profissional específica. A docência da componente de formação tecnológica e prática, conforme mencionado no Decreto-Lei nº 92/2014, de 20 de junho, é assegurada preferencialmente, por formadores que tenham experiência profissional ou empresarial e sejam detentores de adequada formação pedagógica.