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Da Escola para o Mundo do Trabalho

Capítulo III -

Da Escola para o Mundo do Trabalho

3.1. O papel da escola como construtora de identidades

A escola é um espaço físico onde se convive com outras pessoas diferentes, relativamente à maneira de pensar, de resolver os problemas e de agir. Os conhecimentos devem transmitidos e ensinados, de forma a preparar os futuros profissionais para uma futura profissão e entrada na vida ativa. Considerando Fernandes (2009), as escolas são instituições que contribuem para o bem-estar e para o desenvolvimento das sociedades, organizações e principalmente das pessoas.

Conforme referenciado no artigo nº1 da Constituição da República Portuguesa, Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária, assumindo a escola um comprometimento no ensinamento e desenvolvimento destes valores, possibilitando a construção de uma sociedade com valores, ética e responsabilidade social.

A escola do século 21, nas opiniões dos autores Fadel, Bialik & Trillingem (2015) deve ser uma escola que dê relevo à construção do aluno, relativamente à dimensão das competências socio-emocionais e, ao desenvolvimento de habilidades, para que possam participar ativamente no novo mundo em que vão entrar. Identificam ainda as competências necessárias para o sucesso dos estudantes, agrupando-as nas várias dimensões: conhecimento, habilidades, carácter e, por último, o meta-aprendizado.

Como refere Delors et.al.(1996), a escola terá que se (re)construir de forma a tornar-se num espaço dinâmico de aprendizagem, preparando os alunos para a resolução de situações novas e para as mudanças socais e profissionais cada vez mais visíveis. A criatividade, pensamento crítico e as qualidades do carácter são fatores que a escola deve ter em conta na preparação dos estudantes, de forma a produzir mudanças na sociedade.

Compreender o significado das coisas e de criar, é o papel que escola deve desempenhar, conforme referenciado no livro branco da educação (Comissão Europeia, 1995), sendo através destes fatores que se procede à adaptação à economia e ao emprego, fomentando o desenvolvimento pessoal e cognitivo, porque tudo se inicia na escola. Ventura (2016, p.133), refere que, um dos princípios para a escola é promover a construção interativa do conhecimento em busca do desenvolvimento de competências. Sendo um espaço que potencia

o desenvolvimento pessoal com o objetivo de criar projetos de vida pessoais. Relativamente ao papel da escola Azevedo refere:

Uma instituição educativa ao serviço do desenvolvimento humano, é uma organização social que elege como missão central favorecer e potenciar a emergência das diferentes identidades pessoais, dos vários campos de possibilidades e dos diversificados projetos de vidas de cada ser humano ao longo da sua vida. Aí, cada um e cada uma deve ser estimulado(a) a trabalhar, a aprender a aprender, a aprender a ser livre a experimentar a sua autenticidade, a ser criativo(a), a comunicar e a cooperar com os demais na vida da “comunidade local”. (Azevedo, 1999, p.11).

O futuro da escola também é referenciado por Canário, identificando três ideias bases: (…) a de construir uma escola onde se aprenda pelo trabalho e não para o trabalho; (…) a de fazer da escola um sítio onde se desenvolva e estimule o gosto pelo ato intelectual de aprender;(…) a de transformar a escola num sítio em que se ganha gosto pela política, isto é, onde se vive a democracia(…); (…)exercer o direito à palavra, usando-a para pensar o mundo e nele intervir. (Canário, 2008, p.80).

Além dos vários contributos da escola, Lesle (1984), aponta essencialmente que a mesma, deverá deixar de ser vista unicamente como transmissora de conhecimento e preparar os seus alunos para o mundo do trabalho, para uma vida ativa.

3.2. Entrada na Vida Ativa

A necessidade de trabalhar está ligada ao bem-estar na convivência social. Méda (1999, p.22), refere o trabalho é a nossa essência ao mesmo tempo que a nossa condição.

O mundo do trabalho em constante mutação e cada vez mais dinâmico, procura nos seus trabalhadores muitas especificidades. O desafio das empresas consiste em que os seus trabalhadores, além das qualificações técnicas, possuam outras como cultura geral, autonomia e capacidade de evolução, conforme é apontado no livro branco da educação, possibilitando a adaptação ao mundo do trabalho, sendo assim imprescindível que as qualificações dos profissionais se entrelacem com as necessidades das empresas.

A passagem da escola para o mundo profissional consiste na preparação de uma determinada atividade profissional para o exercício da mesma, isto é, a passagem de contexto de formação para um outro muito diferente- o mundo do trabalho. A escola e a profissão estão interligadas, marcando assim vida dos jovens.

Azevedo (1999), identifica os voos de borboleta, como o desafio a que os jovens estão expostos no início do seu percurso profissional e que na passagem para a vida ativa Alves (2000), refere que o jovem inicia o processo de negociação das competências vindas da formação, com a

entidade empregadora, de forma a permitir a sua entrada no mercado de trabalho. Assim, tendo em conta a opinião da mesma autora, a inserção profissional é um processo heterogéneo, complexo e fragmentado, em que a dinâmica emprego-desemprego-formação estão presentes, acrescentando ainda outros fatores.

Várias referências na literatura são feitas acerca dos conceitos: vida ativa, inserção profissional, entrada no trabalho. Entrada na “vida ativa” é uma expressão que surgiu em França nos anos setenta, na área da psicologia, conforme referido por Drancourt(1996), sendo posteriormente alterada para “inserção profissional”, sendo através de Vincens (1981) que surge a primeira definição científica de inserção profissional.

Também a expressão “entrada no trabalho” é substituída por” transição para o trabalho”, segundo os autores Carter (1962) e Maizels (1970). Ainda a entrada na “vida ativa” é referenciada por Vernières (1993, p.97) como a passagem repentina da formação inicial para o emprego, por outras palavras o início da vida profissional, definindo, como o processo através do qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos que nunca pertenceu à população ativa ocupa uma posição estabilizada no mercado de emprego.

É no mundo do trabalho que o jovem desenvolve a construção da sua identidade social, profissional através da relação laboral, deixando para trás o seu quotidiano escolar entrando noutro contexto que obrigatoriamente terá que adaptar-se. Para Rose (1996), além da construção da identidade, através da socialização os jovens vão alcançar qualidades técnicas e comportamentais para as suas relações laborais.

Por outro lado, também a construção da identidade profissional é referida por Dubar (1991), através da saída do contexto educativo para o contexto do mercado trabalho, havendo obrigatoriamente um confronto.

A preparação do aluno do ensino profissional para o mundo do trabalho é feita através do desenvolvimento das suas competências ao longo do ciclo de formação, em que além da FCT, que assume um papel de relevo e facilitador na entrada do aluno no mundo empresarial, também as atividades práticas, realizadas com os parceiros e com comunidade durante o ciclo de formação, são de extrema importância para o processo da transição da escola para a vida ativa. Os alunos vão assim adquirindo um know-how, desenvolvendo diversas competências essenciais no novo mundo onde vão entrar. No entanto entrar e ficar no mercado de trabalho, exige disponibilidade, adaptabilidade e muita flexibilidade.

Ministério da Educação (1998) e pela Fundação Manuel Leão (2003), concluindo que os jovens do ensino profissional, após terminarem os seus cursos, entram no mercado de trabalho e têm a perceção do contributo da sua formação, ao facilitar a integração no mundo do trabalho. As escolas profissionais têm um compromisso com os seus jovens no acompanhamento para a transição da vida ativa, quer seja pela ação direta ou indireta dos professores, quer pela própria estrutura interna da escola, através de um gabinete criado para orientação e apoio aos alunos, conforme referido no Decreto-Lei:

As escolas profissionais privadas devem criar e manter em funcionamento mecanismos de orientação e de acompanhamento que apoiem os alunos no desenvolvimento dos seus percursos formativos e na eventual reorientação dos mesmos, e promovam a integração socioprofissional dos respetivos diplomados. (Decreto-Lei 92/2014, de 20 de junho, art. 32º).