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3 – INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM PARA A PROMOÇÃO DA AUTOEFICÁCIA NO TRABALHO DE PARTO

3. APRESENTAÇÃO DOS DADOS E ANÁLISE DOS RESULTADOS

3.1.3. A dor: significado, experiência e estratégias de coping

Quanto à dor de trabalho de parto há pouca evidência que mostre qual o significado que a mulher lhe atribui. Como refere Simkin (2000), este conhecimento ajuda os enfermeiros de saúde materna e obstétrica a preparar melhor as grávidas para a gestão da dor, diminuindo o risco de consequências negativas a longo prazo (Sousa, Santos, & Santos, 2012). Por esse motivo, com o objetivo de conhecer o significado que a grávida atribuía à dor trabalho de parto, questionaram-se as participantes, tendo respondido a esta questão 94,7% (n=233).

Significado atribuido à dor trabalho de parto

Após a análise de conteúdo aos depoimentos, definiram-se duas categorias e oito subcategorias (quadro 13):

Quadro 13: Significado atribuído pela mulher à da dor de trabalho de parto

Categorias Subcategoria Dor esperada Inevitável Natural Suportável Difícil de suportar Interpretação da dor Ansiedade Sofrimento Gratificação

171 Relativamente à dor esperada, como se pode constatar nos depoimentos abaixo, as participantes consideraram que a dor de trabalho de parto é inevitável: “É um mal necessário.” (E88); “É necessária para o parto (…).” (E160); “(…) dor inevitável (…).” (E110); “É uma dor que tem que existir, (…).” (E235), e natural: “A dor do parto é (…) natural.” (E6); “A dor no parto é algo natural e inevitável.” (E239).

Nos seus testemunhos, algumas participantes, referiram, ainda, ser uma dor suportável: “(…) não são dores que não se consigam suportar.” (E19); “Dor que se consegue ir suportando, bem pior que a dor de dentes.” (E30); “Penso que é uma dor forte, mas suportável.” (E66), no entanto, para outras participantes, a dor de trabalho de parto é uma dor intensa, difícil de suportar: “É uma dor forte, das mais fortes que se pode ter.” (E51); “(…) dor intensa, difícil de suportar.” (E155); “É uma dor horrorosa e difícil de suportar.” (E175).

Relativamente à dor de trabalho de parto, como se pode constatar, as grávidas referiram pensar que é uma dor natural, inevitável, intensa e difícil de suportar, resultados que estão de acordo com os de Melzack e col. (1981), Niven e Gijsbers (1984), Escott e col. (2009) e Lowe (2002).

Quanto à Interpretação da dor de trabalho de parto, observaram ser uma dor que provoca ansiedade: “(…) tempo de angústia e ansiedade, (…).” (E233); “(…) provoca um estado de ansiedade elevado.” (E246), e sofrimento: “Penso que é um sofrimento.” (E75). A forma como a grávida interpreta a dor de trabalho de parto pode ser altamente geradora de ansiedade e sofrimento, como se verificou nos testemunhos das participantes. Estes resultados estão de acordo com o referido em diversos estudos (Mander, 2000, Simkin, 2000, Davim et al., 2008, Sousa et al., 2012) e são importantes para a atuação do ESMO, pois, tal como mencionado pelos autores, a dor esperada é uma das variáveis que mais negativamente influencia a intensidade da dor percecionada pela mulher durante o trabalho de parto afetando a sua atitude no mesmo.

Apesar dos resultados anteriores, no estudo uma grande parte das participantes mencionou que a dor de trabalho de parto é gratificante: “Dor boa, pois dela sairá a nossa razão de viver, (…).” (E17); “(…) segundo as opiniões muito gratificante.” (E43); “(…) mas que vai trazer o meu filho ao mundo.” (E92); “É um dia de sofrimento em nove meses de satisfação, (…).” (E98); “É uma dor (…) que me vai dar uma grande alegria.” (E109); “A dor existe (…) mas tem uma grande recompensa no fim.” (E230),e necessária para ser mãe: “É uma dor necessária, pois leva a uma vinculação mais forte ao filho.” (E81); “(…) faz parte da natureza e do ser humano, cria ligações.” (E84). Estes resultados corroboram os de Davim e col. (2008) que concluíram que as grávidas encontram sentido na experiência da dor de trabalho de parto no processo de transição para a parentalidade.

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Experiência anterior de dor

Relativamente a este aspeto, 50,8% (n=125) das participantes referiram não ter experiência anterior de dor, aguda ou crónica, sendo que 49,2% (n=121) das inquiridas já tiveram uma experiência anterior. Os tipos de dor mais frequentemente referidos foram a dor músculo-esquelética, a dor vascular, a enxaqueca e a dismenorreia.

Estratégias de coping para a gestão da dor

De acordo com Melzack e Dennis (1978), cada indivíduo experiencia e gere a dor de forma diferente, única, seja esta aguda ou crónica. No sentido de se identificarem quais as estratégias de coping, mais frequentemente utilizadas pelas participantes para lidar com a dor, questionaram-se as 121 grávidas que referiram experiência anterior de dor. Após análise dos testemunhos, identificaram-se seis estratégias: a medicação, o repouso, o isolamento, a distração, os pensamentos positivos e o relaxamento.

O coping pode definir-se como as estratégias que as pessoas utilizam, em sentido adaptativo, para lidar com situações indutoras de stresse (Lazarus & Folkman, 1984; Serra, 1999). Na CIPE® (ICN, 2011) encontra-se definido como “Gerir o stresse e ter uma sensação de controlo e de maior conforto psicológico.” (p. 46). As estratégias de coping são adotadas pela pessoa para a gestão das situações stressantes avaliadas como superiores aos recursos pessoais.

Algumas participantes do estudo utilizavam para a gestão da dor estratégias farmacológicas, como se pode perceber pelos depoimentos: “Quando tenho alguma dor tomo medicação.” (E15); “Tomo logo medicação.” (E156). Outras grávidas referiram que quando sentem dor preferem repousar: “Deito-me (…).” (E17); “Tento (…) descansar.” (E121), e/ou, isolarem-se: “Isolo-me (…).” (E40); “Tento ficar sossegada, sozinha.” (E174). Também, mencionaram usar estratégias, mais ativas, tais como, a distração: “Vou passear.” (E11); “Canto e faço crochet.” (E27); “Evito pensar na dor, distraindo-me.” (E174); “Vou trabalhar.” (E208). Havendo grávidas que indicaram que para gerirem a dor recorriam a pensamentos positivos: “Tento abstrair-me pensando em algo positivo.” (E240), e/ou ao relaxamento: “(…) tento acalmar.” (E16); “Tento respirar melhor e acalmar-me.” (E19); “Tomo duche.” (E59); “Uso o calor e faço massagem.” (E248).

As estratégias de coping identificadas estão de acordo com o mencionado por Rokke e Lall (1992) que, num estudo experimental, concluíram que as pessoas têm estilos e utilizam diferentes estratégias, e com os resultados de Blyth, March, Nicholas e Cousins (2005) que expõem que as estratégias mais utilizadas pela









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O medo manifesta-se em sintomas físicos e psicológicos, leva a um aumento da perceção de dor de trabalho de parto, determina a cesariana eletiva em cerca de 7 a 22% dos nascimentos, e potencia uma experiência de parto negativa e um baixo grau de satisfação (Lang et al., 2006; Saisto et al., 2001; Hildingsson et al., 2002; Saisto & Halmesmäki, 2003; Bahl et al., 2004; Fenwick, Gamble, Nathan, Bayes, & Hauck, 2009). Costa e col. (2004) verificaram que 48,3% das mulheres sentiram medo, ou muito medo, durante o trabalho de parto e parto, e Saisto e Halmesmäki (2003) referem que o medo intenso do parto está presente em cerca de 6 a 10% das parturientes. Tal como os autores, verificou-se que a maioria das grávidas do nosso estudo sentia medo, ou muito medo, do trabalho de parto.

No sentido de se identificarem as causas de medo associadas ao trabalho de parto, questionaram-se as participantes, obtendo-se 95,5% (n=235) de respostas. Após análise dos testemunhos, identificaram-se quatro categorias relacionadas com a mulher e duas relacionadas com o feto/recém-nascido (quadro 14).

Quadro 14: Causas de medo no trabalho de parto

Categorias n %

Relacionadas com a mulher

Complicações no trabalho de parto 111 45 Perda do autocontrolo 241 98 Danos físicos 20 8,6 Morte 7 3 Relacionadas com o feto/recém-nascido Saúde 220 89 Bem-estar 36 15

Causas de medo relacionadas com a mulher

Muitas participantes referiram ter medo das complicações que possam surgir durante otrabalho de parto, como se pode depreender pelos seus depoimentos: “(…), e que algo corra mal.” (E17); “(…) hemorragias graves (…)” (E25); “Complicações obstétricas durante o parto, (…).” (E229).

Para outras a possibilidade de perderem o autocontrolo é o que lhes causa mais medo: “Não conseguir controlar a dor (…).” (E11); “(…) ser dominada pela dor.” (E14); “(…), não conseguir suportar a dor, perder o autocontrolo, prejudicando o meu desempenho durante o parto.” (E35); “(…) como me irei comportar no momento da vinda do meu filho.” (E46); “Não ser capaz de superar a dor durante o parto (…).” (E114); “Não conseguir ter controlo absoluto no momento.” (E131).

175 O medo de danos físicos está, também, presente nos relatos das inquiridas: “(…), necessidade de um corte grande no períneo (…).” (E29); “(…) de ficar com problemas de saúde devido a complicações do parto, e de não recuperar a forma.” (E54); “(…) de ficar sem andar ou mexer alguma parte do corpo.” (E111). Assim, como o medo de morrer: “(…) não estar presente na vida do meu filho.” (E193); “Tenho medo de morrer.” (E63).

Causas de medo relacionadas com o feto/recém-nascido

Os medos relativos ao feto/recém-nascido relacionavam-se com a sua saúde: “(…) que aconteça alguma coisa dentro da minha barriga, que ele tenha um problema de saúde, ganho antes ou na hora do parto.” (E17); “(…) que [o bebé] possa ter algum problema de saúde.” (E35); “(…) que não nasça saudável, perfeito (…).” (E44); “(…) que fique entravado.” (E73); “(…) que fique com paralisia cerebral.” (E213), e com o seu bem-estar: “(…) que ele sofra antes e durante a expulsão.” (E91); “Tenho medo que sofra no momento do parto.” (E193); “(…) que também seja doloroso para o bebé.” (E152); “(…) que a magoem ou partam alguma coisa, (…).” (E111).

O medo está ligado a causas bem definidas com importante impacto na mulher e na família. Como constatado, o medo do parto associou-se: à perda de controlo, às complicações, aos danos físicos e à morte, resultados que estão de acordo com os estudos de vários investigadores (Lyberg & Severinsson, 2010; Salomonsson et al., 2010; Pereira, Franco, & Baldin, 2011; Haines et al., 2011). Compreendia, ainda, o medo pela saúde e bem-estar do feto/recém-nascido, o que corrobora os resultados de outros investigadores (Pereira, Franco & Baldin, 2011; Haines et al., 2011).