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1 – A AUTOEFICÁCIA, A PREPARAÇÃO PARA O PARTO E A EXPERIÊNCIA E SATISFAÇÃO COM O PARTO

1. A TEORIA SOCIAL COGNITIVA

1.3. A autoeficácia

1.3.2. Determinantes de autoeficácia

Os indivíduos formam as suas crenças de autoeficácia pela interpretação da informação que obtêm. Bandura propõe que existam, pelo menos, quatro determinantes possíveis para a autoeficácia: experiências pessoais de sucesso, observação do desempenho dos outros (aprendizagens vicariantes), persuasão verbal e perceção dos estados somáticas e emocionais (Bandura, 1977; 1981; 1986; 1997; Bzuneck, 2001; Pajares, 2002; Pereira & Almeida, 2004; Baptista, Santos, & Dias, 2006; Zinken,Cradock & Skinner, 2008).

Estes determinantes podem atuar de forma independente ou combinada e a informação assim adquirida não influencia a autoeficácia de modo automático, mas através de um processamento cognitivo pelo qual o sujeito considera, por um lado, as suas apacidades percebidas e experiências passadas e, por outro lado, os diversos componentes da situação tais como a dificuldade da função, o seu grau de exigência e a possível ajuda que possa receber. Os indivíduos interpretam os resultados dos acontecimentos e estas interpretações providenciam a informação na qual os julgamentos são baseados resultando num julgamento, positivo ou negativo, das suas capacidades de controlar a situação. Por isso, de acordo com Bzuneck (2001):

…a crença de autoeficácia é uma inferência pessoal ou um pensamento, que assume no final a forma de uma frase ou proposição mental, como

45 resultado de um processamento dessas informações, isto é, de uma ponderação de diversos fatores pessoais e ambientais. (p. 8).

Experiências pessoais de sucesso

O determinante com mais influência na aquisição da autoeficácia é a interpretação dos resultados de comportamentos anteriores, as denominadas experiências dominantes ou experiências anteriores de sucesso. São o maior contributo individual para aumentar a confiança, pois fornecem a informação mais forte para realçar crenças de eficácia, fornecem informação direta sobre a realização e levam à formação de juízos de eficácia mais exatos.

As realizações pessoais, por se basearem em experiências inerentes ao indivíduo, são fontes de informação importantes para a expetativa de eficácia. De acordo com Salvetti e Pimenta (2007):

Pessoas que têm a certeza das suas capacidades percebem melhor os fatores situacionais, o esforço insuficiente e as estratégias erradas como as causas do fracasso. Os ganhos em autoeficácia tendem a se generalizar para outras situações, nas quais o desempenho estava prejudicado por perceção de inadequação. (p.137-138).

As experiências de êxito são as mais influentes, pois o indivíduo que experimenta sucessos consecutivos na realização de determinada tarefa, torna-se confiante no desempenho dessa tarefa específica (Bandura, 1977; 1997).

Os indivíduos iniciam tarefas e atividades, interpretam os resultados das suas ações, e usam as interpretações para desenvolver crenças acerca das suas capacidades de executar tarefas e atividades subsequentes e agir em conformidade com as crenças criadas. Resultados interpretados como bem-sucedidos aumentam a autoeficácia, ao contrário, os avaliados como falhas baixam-na. Êxitos continuados, em tarefas análogas, facultam ao indivíduo informação de que poderá iniciar uma nova tarefa, pois tem capacidade para a executar com êxito e, vice-versa, fracassos repetidos dão origem a uma crença mais pobre de autoeficácia. Fracassos ocasionais após uma série de sucessos têm pouco impacto sobre as crenças positivas de autoeficácia, enquanto um único êxito numa série de insucessos, presumivelmente, pouco influenciará o aumento dessas crenças (Schunk, 1989).

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As pessoas que têm um baixo sentido de autoeficácia, muitas vezes não valorizam os seus sucessos, e mesmo após terem conseguido atingir o sucesso através de esforços persistentes, algumas continuam a duvidar da sua eficácia para pôr em prática um esforço similar.

Observação do desempenho dos outros (aprendizagem vicariante)

Como se referiu, a autoeficácia pode, também, ser influenciada pela observação do desempenho de outras pessoas. É a experiência indireta resultante da observação de um modelo. Esta fonte de informação é mais fraca que as experiências individuais de sucesso para ajudar a criar as crenças de autoeficácia, mas, quando as pessoas têm pouca certeza das suas capacidades ou pouca experiência anterior, pode produzir mudanças importantes e duradouras no seu comportamento, sendo o efeito de modelagem particularmente relevante neste contexto.

Enquanto as experiências de sucesso se relacionam com o ganho de crenças de autoeficácia através da experiência individual, o papel da modelação dá a oportunidade ao indivíduo de adquirir crenças de autoeficácia através da observação de outros bem-sucedidos. E, mesmo em indivíduos experientes e autoeficazes, a modelação aumenta ainda mais a sua eficácia se os modelos lhes ensinarem melhores formas de fazer as coisas.

A aprendizagem vicariante é particularmente poderosa quando os observadores observam semelhanças em alguns atributos e, então, assumem que o modelo é diagnóstico da sua própria capacidade. Ver as pessoas desempenhando atividades sem consequências adversas pode gerar, no observador, a expetativa de que ele também é capaz de as realizar, dando-lhe oportunidade de crer nas suas próprias capacidades (se ele consegue fazer eu também consigo), o que o ajuda a formar as crenças de autoeficácia. Reciprocamente observar modelos, com atributos idênticos, que falham pode minar as crenças do observador acerca das suas capacidades para ser bem-sucedido (Bandura, 1977; 1997).

O que torna um modelo influente são certas características pessoais, entre as quais a de similaridade percebida. Quando o observador percebe que os atributos dos modelos são muito divergentes dos seus, a influência da aprendizagem vicariante é altamente minimizada. Os indivíduos procuram modelos que possuam qualidades que admiram e capacidades que aspiram ter. Um modelo significante na sua vida pode ajudar a induzir autocrenças que influenciam o curso e a direção que a vida irá tomar.

47 Contudo, todas as formas de observação de modelos que apresentem êxito apenas têm efeito temporário, deixando de incrementar as crenças de autoeficácia caso, a seguir, não ocorram comprovações reais de êxito. Logo, as aprendizagens vicariantes representam uma força, apenas, relativa de influência sobre a autoeficácia, porque podem ser anuladas por experiências reais de fracasso.

Persuasão verbal

A persuasão verbal é outra fonte de autoeficácia. Consiste num encorajamento verbal dado por sujeitos credíveis (dignos de confiança) e peritos. É uma estratégia muito utilizada, pois é simples e está sempre disponível. Está fundamentada, não na ação, mas na avaliação efetuada pelos outros, tendo os persuasores um papel importante no desenvolvimento das autocrenças do indivíduo.

Embora a persuasão verbal seja uma fonte mais fraca para o incremento da autoeficácia, pode contribuir para desempenhos com sucesso, especialmente se o reforço é dado dentro dos limites reais e se organiza a experiência de modo a que a pessoa possa ter sucesso.

Através da persuasão positiva as pessoas podem sentir-se encorajadas e estimuladas a enfrentar situações que avaliavam como sendo superiores às suas capacidades. Pelo contrário, a negativa pode agir para derrotar e enfraquecer as crenças de autoeficácia. De facto, é mais fácil enfraquecer as crenças de autoeficácia através de avaliações negativas do que fortificá-las através do encorajamento positivo.

Os indivíduos também criam e desenvolvem crenças de autoeficácia como resultado da persuasão social que é empregue na tentativa de convencer as pessoas de que possuem as capacidades necessárias para alcançar o que procuram. Envolve exposição aos julgamentos verbais que os outros efetuam.

Persuasores efetivos desenvolvem as crenças dos outros nas suas capacidades e concomitantemente asseguram que o sucesso pretendido se pode conseguir.

Perceção dos estados somáticos e emocionais

A perceção dos estados somáticos e emocionais também pode afetar a autoeficácia pois a ansiedade, o stresse, o medo, a motivação e o estado de espírito frente a certas tarefas, podem levar o indivíduo a inferir que se sente assim porque

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não é capaz de as realizar, gerando uma influência negativa nas suas crenças de autoeficácia. Estas reações afetivas podem baixar a perceção de autoeficácia e desencadear stresse e agitação adicional, que ajudam a assegurar a execução inadequada da tarefa a empreender.

Os julgamentos de autoeficácia, a partir de estados somáticos e emocionais, não estão necessariamente ligados a um conjunto de tarefas (Pajares, 2002). Indivíduos deprimidos baixam a sua eficácia independentemente do conjunto de tarefas que têm que realizar. Mas, porque os indivíduos têm a capacidade de alterar os seus próprios pensamentos e sentimentos, aumentar as crenças de autoeficácia pode, por sua vez, influenciar o seu estado fisiológico e emocional.

Para melhorar a perceção de autoeficácia e o desempenho é preciso minimizar o desgaste emocional, aliviar a ansiedade e o medo, e melhorar o bem- estar físico, entre outros (Salvetti & Pimenta, 2007). As intervenções para aumentar a autoeficácia incluem o relaxamento e o proporcionar às pessoas habilidades para reduzir as reações fisiológicas adversas e para alterar as interpretações da informação somática (Baptista et al., 2006).