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O conhecimento científico resulta de uma investigação que segue uma metodologia capaz de analisar e resolver problemas (Fachin, 2006). Segundo Marconi e Lakatos (2003) constitui um “conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua veracidade ou falsidade conhecida através da experiência e não apenas pela razão” (p. 80). É real, sistemático, verificável e exato, pois “novas proposições e o desenvolvimento de técnicas podem reformular o acervo de teoria existente” (p. 80)

O método é o conjunto de ações, sistemáticas e racionais, que permite alcançar o objetivo, traçando o caminho a ser seguido, detetando erros e auxiliando nas decisões (Marconi & Lakatos, 2003). Neste estudo adotou-se o método hipotético-dedutivo, que segundo Marconi e Lakatos (2003) “… se inicia pela perceção de uma lacuna nos conhecimentos, acerca da qual formula hipóteses e, pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela hipótese” (p. 106).

O método seguido para responder às questões de investigação elaboradas previamente, centrou-se numa pesquisa de caráter misto que, segundo Jones (1997), apresenta várias vantagens, podendo melhorar os resultados dos estudos. O paradigma qualitativo, secundário neste estudo, quando aplicado à saúde, tenta compreender o significado de um fenómeno e não o fenómeno em si, pois o conhecimento desse significado, para a vida das pessoas, é importante para a melhoria da qualidade dos cuidados (Turato, 2005). A sua utilização permitiu o acesso a conteúdos não possíveis de apurar pelo paradigma primário (Driessnack, Sousa & Mendes, 2007). O paradigma quantitativo, primário no estudo, carateriza-se pelo emprego da quantificação concretizada através da utilização de questionários e uso de análise estatística com o fim de determinar um padrão de dados e seu significado (Richardson, 1989; Dzurec & Abraham, 1993; Dalfovo, Lana & Silveira, 2008).

A combinação dos dois métodos permite reduzir as limitações de cada um, pelo que a sua utilização conjunta se complementa, ajudando a compreender e explicar de forma mais clara, fenómenos que de outra forma poderiam permanecer ocultos (Ribeiro, 2010; Polit & Beck, 2011).

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1. PROBLEMÁTICA, OBJETIVOS E FINALIDADE

A preparação para o parto, como referido, tem como principal objetivo ensinar à grávida técnicas que apoiam a utilização de estratégias de coping adequadas à gestão do trabalho de parto. Apesar de já ser efetuada em várias instituições de saúde do nosso país há vários anos, a sua eficácia não se encontra comprovada na promoção da autoeficácia para lidar com o trabalho de parto, nem na satisfação com a experiência de parto.

Estudos demonstram que a autoeficácia durante o parto influencia a forma como este é percebido (Manning & Wright, 1983; Lowe, 1991; 1993; Slade et al., 2000). Slade e col. (2000) e Manning e Wright (1983) recomendam que as aulas de preparação para o parto incorporem e reforcem a teoria de autoeficácia no seu curriculum. Consideram que estas aulas contribuem para que a mulher e o seu companheiro fiquem informados, tenham objetivos realistas, aprendam estratégias de coping para a gestão da dor, fiquem preparados para a tomada de decisão e obtenham um sistema de apoio adequado de outras pessoas significativas e de profissionais de saúde. Entender a perceção da dor de trabalho de parto, assim como a perceção de autoeficácia da mulher no pré-parto, pode ajudar os profissionais de saúde a prepararem adequadamente a grávida para o parto e, dessa forma, ajudarem a promover uma experiência de parto positiva (Prata, Santos & Reis Santos, 2009). A autoeficácia foi aplicada em numerosa investigação sobre confiança materna e resultado do parto. Várias pesquisas foram desenvolvidas, contudo, em Portugal não se encontraram estudos sobre a promoção da autoeficácia na gravidez nem sobre a sua influência na satisfação com o parto.

Neste sentido, a seguinte questão deu origem ao desenvolvimento deste estudo: será que a promoção da autoeficácia durante a gravidez melhora a experiência e a satisfação com o parto?

Com vista à sua consecução definiram-se os seguintes objetivos:

• identificar as intervenções de enfermagem mais adequadas à promoção da autoeficácia no trabalho de parto;

• desenvolver um programa de intervenção em enfermagem promotor da autoeficácia no trabalho de parto;

• implementar o programa desenvolvido nas sessões de preparação para o parto;

• avaliar a eficácia do programa implementado, na autoeficácia da mulher para lidar com o trabalho de parto;

91 • avaliar o impacto do programa na satisfação das mulheres com a

experiência de parto.

O estudo tem como finalidade contribuir para melhorar o conhecimento sobre o contributo da autoeficácia na experiência e satisfação com o parto, concorrendo para o desenvolvimento e avaliação de um programa de intervenção em enfermagem que permita à mulher uma maior satisfação com a experiência de parto e, dessa forma, a promoção de uma melhor ligação mãe-filho.

A pertinência do estudo associa-se à possibilidade de preparar melhor as grávidas, aumentando a sua autoeficácia para lidar com o trabalho de parto, e ao contributo para a reflexão das práticas de educação para a saúde que os enfermeiros de saúde materna e obstétrica se encontram a desenvolver nas sessões de preparação para o parto, auxiliando a perceber como podem ajudar a grávida a utilizar as medidas de conforto aprendidas e as estratégias escolhidas, durante o trabalho de parto. Por estarem implementadas nas várias instituições de saúde, e por fazerem parte da rotina pré-natal e terem uma função importante na educação da mulher/casal, o estudo afigura-se oportuno, no sentido em que visa tornar as sessões de preparação para o parto mais eficazes, através da promoção de intervenções com melhor custo-efetividade (DGS, 2012).

2. DESENHO DO ESTUDO

O desenho do estudo pode ser caracterizado como um conjunto de estratégias, ou um plano e estrutura do trabalho de investigação que compreende a identificação do tipo de abordagem metodológica que se vai utilizar para responder a uma determinada questão de investigação. Envolve a definição das características básicas do estudo, tais como, a população e a amostra a serem estudadas, a definição do modo como será efetuada a colheita de dados, a existência ou não de intervenção direta sobre os indivíduos, o processamento e a análise da informação e a descrição organizada e calendarizada das tarefas e questões logísticas envolvidas. A sua elaboração tenta reduzir e minimizar o viés e o acaso (Oliveira, 2009).

De forma a dar resposta aos objetivos propostos, realizaram-se quatro estudos, em duas etapas distintas.

A primeira etapa teve como finalidade elaborar um programa de intervenção em enfermagem promotor da autoeficácia para lidar com o trabalho de parto. Para a sua concretização realizou-se uma revisão de literatura e efetuaram-se dois estudos:

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Estudo I – Intervenções de enfermagem para a promoção da autoeficácia no trabalho de parto. Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de cariz

qualitativo e corte transversal. Teve como objetivo geral identificar um conjunto de intervenções de enfermagem adequadas à promoção da autoeficácia no trabalho de parto. Compreendeu, além da revisão da literatura, entrevistas a mulheres no período pós-parto. Os resultados obtidos permitiram prosseguir para o segundo estudo.

Estudo II – Autoeficácia nas sessões de preparação para o parto: estudo de consensos. Estudo descritivo, de cariz quantitativo, que teve como objetivo geral

validar as intervenções identificadas estudando a sua relevância para as sessões de preparação para o parto. Para a sua concretização foi utilizada a técnica de Delphi - técnica de obtenção de opiniões e de consensos de um grupo de especialistas com experiência no assunto. Após a realização de duas rondas foi obtido o consenso e foram validadas as intervenções de enfermagem que iriam integrar o programa de intervenção.

A segunda etapa teve como finalidade implementar e avaliar a eficácia e o impacte do programa de intervenção em enfermagem previamente elaborado, na perceção de autoeficácia das grávidas para lidar com o trabalho de parto e na satisfação com a experiência de parto. Neste sentido, desenvolveram-se duas pesquisas:

Estudo III - Escutar as mulheres: detetar necessidades para a