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3 – INTERVENÇÕES DE ENFERMAGEM PARA A PROMOÇÃO DA AUTOEFICÁCIA NO TRABALHO DE PARTO

2. MATERIAL E MÉTODOS

O método compreende um conjunto de ações organizadas e lógicas, que ajudam o investigador a alcançar o seu objetivo (Marconi & Lakatos, 2003).

Para dar início à sua pesquisa, o investigador elabora um desenho do estudo que lhe permita conseguir respostas válidas para os objetivos, questões ou hipóteses delineadas.

2.1. População e amostra

O estudo teve como população alvo todas as mulheres grávidas que frequentavam as consultas de obstetrícia de uma instituição da região Norte de Portugal, e que tinham intenção de assistir às sessões de preparação para o parto.

157 O método escolhido para a seleção da amostra foi o de amostragem não probabilística, por conveniência.

Foram estabelecidos como critérios de inclusão na amostra: estar grávida; ter 28 ou mais semanas de gestação e estar interessada em assistir às sessões de preparação para o parto na instituição onde decorreu a investigação. Considerou-se como único critério de exclusão da amostra a grávida ter uma idade inferior a 20 anos, período de adolescência como definido pela OMS (1997). A gravidez na adolescência é considerada, por vários autores como um fator de risco tanto fisiológico como psicológico, pois como referido por Dias e Teixeira (2010), durante este período as adolescentes deveriam “explorar possibilidades antes de tomar decisões que exigem compromissos” (p. 125). A preparação da adolescente para o parto deve acontecer em grupos de pares e deve ser planeada de acordo com as suas necessidades específicas. As características específicas desta população levaram a que não fossem incluídas no estudo.

Quanto ao tamanho da amostra, teve-se em conta o instrumento de colheita de dados que se iria utilizar, as técnicas estatísticas a usar na análise dos dados e a necessidade de se assegurar a representatividade do universo em estudo (Hill & Hill, 2005).

A amostra foi, assim, composta por 246 grávidas.

2.2. Procedimento para recolha de dados

A colheita de dados decorreu entre janeiro de 2011 e setembro de 2012, e foi realizada pela equipa de enfermagem do serviço de Consulta de Obstetrícia da instituição.

No sentido de se minimizarem as diferenças de procedimento entre a equipa de investigação que seria responsável pela colheita de dados foi, previamente, dada informação sobre os objetivos do estudo e sobre as características dos instrumentos de recolha de dados.

O primeiro contacto com as mulheres, no segundo trimestre da gravidez, foi estabelecido pelas enfermeiras responsáveis pela consulta de obstetrícia e teve como objetivo inquirir sobre a sua intenção de frequentarem o curso de preparação para o parto disponibilizado pela instituição. Perante uma resposta afirmativa, o estudo era apresentado e eram questionadas sobre o seu interesse em participar. No caso de demonstrarem interesse era-lhes entregue: o documento de informação ao

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participante e o de consentimento informado que levavam para casa, para em conjunto com a família decidirem sobre a sua participação.

No segundo contacto, entre as 28 e as 32 semanas de gestação, as grávidas que se mostravam interessadas em participar, entregavam o documento de consentimento informado assinado procedendo-se em seguida à entrevista, e à entrega, para preenchimento, de duas escalas para avaliação do medo e da ansiedade e do Questionário de Autoeficácia no Trabalho de Parto. No início da entrevista relembravam-se os objetivos do estudo, o motivo da realização da entrevista e garantia-se a confidencialidade.

2.3. Instrumentos de recolha de dados

De acordo com os objetivos que se pretendiam atingir e o tipo de estudo definido, utilizaram-se quatro instrumentos de recolha de dados, um guião de entrevista semiestruturada, duas escalas de avaliação (medo e ansiedade) e um questionário.

Realizou-se uma entrevista que, para além de permitir colher os dados necessários à caracterização da amostra: atributos sociodemográficos e da gravidez, possibilitou, também,conhecer as expetativas e preferências das grávidas relativas ao trabalho de parto, à preparação para o parto e à confiança da mulher para lidar com o trabalho de parto, permitindo dessa forma detetar necessidades para o planeamento da preparação para o parto.

Para a sua concretização elaborou-se um guião de entrevista semiestruturada. Este guião foi composto por quatro perguntas destinadas à recolha de informação relativa a variáveis sociodemográficas; cinco questões fechadas e uma aberta para conhecimento da história obstétrica; uma questão aberta, que visava colher informação sobre as expetativas que as participantes tinham relativamente ao curso de preparação para o parto; cinco perguntas, três fechadas e duas abertas, que visavam identificar quais os conhecimentos e as expetativas que as grávidas tinham sobre o trabalho de parto e quais as pessoas que desejavam ter durante o trabalho de parto a apoiá-las. Uma questão foi elaborada no sentido de se conseguir avaliar a confiança. Sendo a dor de trabalho de parto uma das variáveis que importava medir, conhecer a ideação da dor e a forma como habitualmente as participantes lidam com ela pareceu importante, pelo que, foram incluídas duas questões abertas e três fechadas para a colheita dessa informação. Duas questões

159 abertas foram formuladas com o intuito de se identificarem as causas de medo relacionadas com o trabalho de parto.

No sentido de se avaliar o grau de medo e de ansiedade que as grávidas tinham relativamente ao trabalho de parto foram aplicadas duas escalas visuais analógicas de 10 pontos. Cada escala caracteriza-se por ser um instrumento unidimensional constituído por uma linha com as extremidades numeradas em 0 e 10. Na escala para medir o grau de medo o 0 corresponde a sem medo e o 10 a muito medo. Na escala para medir a ansiedade o 0 corresponde a nada ansiosa e o 10 a muito ansiosa.

Após obtenção do consentimento informado, procedeu-se à realização da entrevista, cuja duração média foi de 20 minutos. A brevidade dos testemunhos permitiu que se efetuasse o seu registo manual durante a entrevista, possibilitando a sua reprodução com precisão (Gil, 2008).

O Childbirth Self-efficacy Inventory [Questionário de Autoeficácia no Trabalho de Parto (QAETP)], desenvolvido por Nancy Lowe (1993) e traduzido e adaptado para a população portuguesa por Neves (2010), foi utilizado com o objetivo de medir as expetativas de resultado e de autoeficácia para lidar com o trabalho de parto. É uma escala de autorrelato, e está dividido em duas partes: a primeira compreende duas subescalas com 15 itens cada, que têm como objetivo medir as expetativas de resultado e as expetativas de autoeficácia relativas à fase ativa do trabalho de parto. A segunda parte é composta por duas subescalas, com 16 itens cada, que visam avaliar as expetativas de resultado e as expetativas de autoeficácia relativas ao período expulsivo. A grelha de respostas é constituída por uma escala de Likert de 10 pontos, em que o 1 corresponde a nada útil e o 10 a muito útil nas subescalas relativas às expetativas de resultado (itens 1 a 15 e 31 a 46). Nas subescalas referentes às expetativas de autoeficácia (itens 16 a 30 e 47 a 62) o 1 equivale a nada certa e o 10 a completamente certa.

Os scores resultam da soma dos valores de resposta aos itens 1 a 15 e 31 a 46 para medir as expetativas de resultado na fase ativa de trabalho de parto e no período expulsivo; e das respostas aos itens 16 a 30 e 47 a 62 para avaliar as expetativas de autoeficácia na fase ativa de trabalho de parto e no período expulsivo. Cada uma das duas medidas (expetativas de resultado e de autoeficácia no trabalho de parto) da fase ativa de trabalho de parto pode obter scores que variam entre 15 e 150; as duas medidas relativas ao período expulsivo (expetativas de resultado e de autoeficácia no parto) têm scores que podem variar entre 16 e 160. A autora (Lowe, 1993) sugere que para facilitar a interpretação dos dados, se divida o score obtido

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em cada subescala pelo seu número de itens, apresentando-se o resultado com duas casas decimais.

Para o cálculo da pontuação total das expetativas de resultado e das expetativas de autoeficácia devem somar-se os scores das respetivas subescalas. Em ambos os casos, uma maior pontuação corresponde a um maior nível de expetativas de autoeficácia ou de expetativas de resultado.

Na presente investigação, o estudo da consistência interna do QAETP revelou um valor do coeficiente alpha de Cronbach (baseado nos itens estandardizados) para a escala total de 0,96, e para cada subescala, valores que variavam entre 0,87 e 0,95 (quadro 10). Estes resultados estão em sintonia com os valores encontrados por outros autores (Lowe, 1993; Ip, Chien & Chan, 2004; Howharn, 2008; Neves, 2010) e permitem afirmar que o QAETP concede confiança nos resultados pois apresenta valores de consistência interna com fiabilidade elevada (Murphy & Davidsholder, 2005).

Quadro 10: Consistência interna do QAETP

α de

Cronbach Nº itens

Expetativa de resultado no trabalho de parto 0,89 15

Expetativa de eficácia no trabalho de parto 0,94 15

Expetativa de resultado no parto 0,87 16

Expetativa de eficácia no parto 0,95 16

Escala total 0,96 62

2.4. Tratamento dos dados

Nesta investigação, o estudo descritivo foi realizado com recurso a medidas de tendência central e de dispersão. Com o objetivo de extrapolar os resultados para a população foi, ainda, realizada estatística inferencial, utilizando-se testes paramétricos e não-paramétricos.

O programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 21.0, para Windows foi o escolhido para se efetuar o tratamento estatístico dos dados.

161 Os dados qualitativos, de acordo com o preconizado por Bardin (2004), foram tratados a partir da análise dos discursos. Esta análise que se efetuou em três fases: organização das ideias iniciais, codificação dos dados e criação de categorias, que no estudo foram construídas a posteriori e, finalmente, efetuou-se a escrita descritiva e interpretativa dos padrões resultantes. Excertos das entrevistas acompanham a descrição dos dados, sendo que cada excerto é identificado de acordo com a codificação atribuída à entrevista a que pertence, por exemplo: E1 - Entrevista realizada à participante 1.

Na análise de algumas questões abertas: “Quais os desconfortos da gravidez?” e “Que pessoa quer que assista ao seu trabalho de parto e parto?”, por se verificar homogeneidade das respostas, utilizou-se a técnica quase estatística que, conforme Polit e Hungler (2013), consiste na quantificação da informação qualitativa. Após a análise dos discursos, agruparam-se os dados em categorias e contabilizou-se a frequência com que determinado dado surgiu.

A organização e a apresentação de dados foram efetuadas de acordo com o tipo de variáveis em estudo.