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1 – A AUTOEFICÁCIA, A PREPARAÇÃO PARA O PARTO E A EXPERIÊNCIA E SATISFAÇÃO COM O PARTO

1. A TEORIA SOCIAL COGNITIVA

1.5. Autoeficácia e controlo no trabalho de parto

A teoria de autoeficácia é aplicável ao coping materno no trabalho de parto. Permite desenvolver investigação sobre a interpretação das mulheres nas causas de stresse do nascimento e sobre a sua perceção de como lidaram com o parto.Simkin (1991) e Stern (1997) reportam que o impacto da experiência de parto é, frequentemente vivido e poderoso, mesmo quinze a vinte anos após o parto, pois experiências de parto, positivas ou negativas, podem ter efeitos profundos na memória da mulher, o que vai influenciar posteriores experiências.

A confiança materna foi identificada como um componente importante no coping da dor de trabalho de parto (Lowe, 1989). A capacidade da mulher para gerir a dor de trabalho de parto é uma das primeiras áreas da experiência de parto que podem, positiva ou negativamente, influenciar a sua intuição sobre este. As expetativas da mulher num parto natural podem levar a uma sensação de falha se aceitar analgesia para a dor.

A experiência do parto é determinada pelo meio social e cultural em que a mulher se insere. A dor e a morte são dimensões socialmente reconhecidas como integrantes da experiência do parto. Figueiredo e col. (2002) referem que:

…o medo é a resposta que mais prevalece quando as mulheres são questionadas acerca da experiência de parto; este medo refere-se sobretudo à dor que podem vir a experimentar durante o parto, assim como ao bem-estar e sobrevivência da mãe e do bebé. (p. 210).

A dor é um dos fatores que mais negativamente interfere, na perceção da experiência de parto. Quando sentida durante o trabalho de parto e se de grande intensidade, leva a que a mulher fique menos disponível para se envolver

51 emocionalmente com o bebé, e pode coibir algumas mulheres de voltarem a engravidar, pois além de ser recordada frequentemente é sentida como uma experiência traumática (Niven, 1988). Entender a perceção da dor de trabalho de parto da mulher grávida pode ajudar os profissionais de saúde a prepará-la adequadamente para esse momento.

A autoestima materna e a perceção da experiência de parto podem, também, ser influenciadas pelo medo, fadiga e preocupação com a própria segurança e a do bebé (Stern, 1997). O domínio na experiência do parto pode ser conseguido através do conhecimento sobre o processo do parto, da habilidade para gerir as estratégias de coping de forma ativa, da influência nas decisões, pelo apoio social e pelo apoio dos profissionais de saúde.

Diversa pesquisa efetuada, associou o aumento da confiança materna com uma experiência de menos dor durante o trabalho de parto e parto (Crowe & Baeyer, 1989). A confiança e a autoeficácia são conceitos diferentes. Segundo Bandura (1997) a confiança é um termo anódino que se refere à força da crença de um sujeito, não especificando com certeza do que se trata. Autoeficácia percebida refere-se à crença na própria capacidade, crença que pode produzir um determinado nível de realização. A autoavaliação de eficácia inclui, por isso, tanto uma afirmação de nível de capacidade, como de força de uma crença. É, ao contrário da confiança, um constructo baseado numa teoria, que especifica os seus determinantes, mediando os processos e os seus múltiplos efeitos.

Manning e Wright (1983) estudaram o papel desempenhado pelas expetativas de autoeficácia no controlo persistente da dor de trabalho de parto livre de medicação e observaram o efeito de uma série de variáveis suscetíveis de interferir no controlo desta dor, tais como:

Variáveis de autoeficácia – expetativas de autoeficácia no controlo da dor; expetativas quanto ao resultado; importância do controlo da dor e de ter um trabalho de parto e parto sem analgésicos;

Variáveis individuais – locus de controlo e desejabilidade social;

Variáveis de preparação para o parto – treino do controlo da dor; experiência no controlo da dor;

Variáveis relativas ao parto – tempo de trabalho de parto; tipo de parto. Verificaram que, as expetativas de autoeficácia, positivas quanto à importância de controlar a dor e quanto ao facto de o conseguir, predizem a persistência no controlo da mesma, sem recorrer a medicação, de uma forma melhor que outras variáveis preditivas, tais como, a importância para a mãe de um parto sem

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medicação, o uso de medicação prévia ou o locus de controlo. Apuraram, ainda, que as expetativas de autoeficácia da mulher contribuem mais para explicar a persistência no controlo da dor do que as expetativas de resultado ou a importância do controlo da dor.

Lowe (1989; 1991) verificou que a confiança da mulher na sua capacidade para lidar com o parto é um preditor significativo da perceção da dor de trabalho de parto. Usou a análise de regressão para avaliar a capacidade de variáveis selecionadas (incluindo fatores fisiológicos e psicológicos) para explicar a variância na experiência da dor, usando como instrumento de medida o McGill Pain Questionaire. Descobriu que a confiança na capacidade para lidar com o parto contribuiu em 24 a 31% na variação efetiva da dor durante a fase ativa e de transição do trabalho de parto.

Em 1993, a mesma investigadora, desenvolveu o Childbirth Self-Efficacy Inventory para medir a confiança que a mulher tinha nas suas capacidades para lidar com o trabalho de parto, e usou o modelo de autoeficácia para distinguir entre dois tipos de expetativas para o parto:

Expetativas de autoeficácia – definem-se como a avaliação da mulher sobre a sua capacidade para ter um determinado comportamento (i.e, vou conseguir estar relaxada durante o trabalho de parto).

Expetativas de resultado – avaliação da mulher de que esse comportamento leva a um determinado resultado (i.e: relaxar durante o trabalho de parto leva a menos dor).

Propôs, ainda, quatro fatores principais como influenciadores da autoeficácia no trabalho de parto (Lowe, 1993):

- experiência anterior de trabalho de parto;

- aprendizagem vicariante a partir de outras pessoas e dos mass media; - persuasão verbal de outros influentes;

- ansiedade e stresse.

Examinando os resultados das expetativas de autoeficácia numa amostra de 100 mulheres australianas, Drummond e Rickwood (1997) verificaram que só a experiência positiva e o conhecimento acerca do trabalho de parto podem predizer as expetativas de autoeficácia. Não encontraram relação entre a autoeficácia e os níveis de apoio social e de ansiedade percebidos pelas participantes.

As crenças são ideias pré-existentes, consideradas como verdades absolutas, acerca da realidade, e que formam a perceção de nós mesmos, dos outros e do ambiente. Influenciam a perceção, a expressão e o controlo da dor, se

53 verdadeiras ou falsas, adaptativas ou mal adaptativas, podem tornar-se a realidade que influencia o comportamento da mulher (Salvetti & Pimenta, 2007). Crenças fortes na eficácia para exercer controlo sobre a própria condição física servem como prognóstico psicológico, indicador do nível pessoal de funcionamento na saúde. No entanto, a crença da mulher no resultado não leva necessariamente à execução da atividade requerida, saber que o relaxamento provoca menos dor não ajuda, a não ser que acredite que consegue relaxar quando estiver em trabalho de parto.

As sessões de preparação para o parto, componente importante da educação pré-natal (Manning & Wright, 1983; Slade, Escott, Spiby, Henderson, & Frase, 2000; Direção Geral da Saúde, 2001), devem incorporar a autoeficácia no seu curriculum por forma a encorajem as mulheres a serem participantes ativas no seu parto.

Vários estudos foram desenvolvidos desde os anos 80 (Manning & Wright, 1983; Crowe & Baeyer, 1989; Lowe, 1993; Dilks & Beal, 1997; Ip, Chan, & Chien, 2005), contudo em Portugal, não se encontraram estudos sobre a promoção da autoeficácia nas mulheres grávidas e sua eficácia no controlo da dor e na experiência e satisfação com o parto.

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