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A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FATOR DE PREVENÇÃO AO

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 41-48)

Para percepção do fenômeno “drogadição”, é preciso discorrer sobre as políticas públicas sobre drogas que estão sendo utilizadas para conter a dimensão da substância. Dessa maneira, selecionei algumas Leis que tornam mais compreensíveis a questão.

No ano de 2003, o Ministério da Saúde elaborou um plano de ação intitulado “A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas”. O texto diz que “[...] o Ministério da Saúde assume de modo integral e articulado o desafio de prevenir,tratar, reabilitar os usuários de álcool e outras drogas como um problema de saúde pública” (BRASIL, 2003, p. 28).

Assim, a questão das drogas passou a ser tratada como um problema de saúde pública. O compromisso do Programa é manter uma política de atenção a usuários de álcool e drogas. Dessa forma, rompeu com a dicotomia que separava álcool/drogas e se fundamentou no eixo principal: o do “tratamento”. A associação drogas-comportamento antissocial (álcool) ou criminoso (drogas ilícitas). Em ambos os casos, há um único objetivo a ser alcançado: a abstinência.

A Lei Nº 11. 343, de 23 de agosto de 2006, institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – (SISNAD) e prescreve as medidas de prevenção, e a reinserção de usuários e dependentes. Esse órgão tem por finalidade integrar, coordenar e integrar as atividades relacionadas à prevenção do uso indevido, à reinserção dos usuários e dependentes e à repressão não autorizada do tráfico de drogas.

O Título III trata das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas, no capítulo da prevenção. No capítulo I, selecionei alguns artigos e incisos, os quais considero importantes para o desenvolvimento do trabalho.

Art. 18. Constituem atividades de prevenção do uso indevido de drogas, para efeito desta Lei, aquelas direcionadas para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco e para a promoção e o fortalecimento dos fatores de proteção.

Art. 19. As atividades de prevenção do uso indevido de drogas devem observar os seguintes princípios e diretrizes:

II - a adoção de conceitos objetivos e de fundamentação científica como forma de orientar as ações dos serviços públicos comunitários e privados e de evitar preconceitos e estigmatização das pessoas e dos serviços que as atendam;

VII - o tratamento especial dirigido às parcelas mais vulneráveis da população, levando em consideração as suas necessidades específicas;

XI - a implantação de projetos pedagógicos de prevenção do uso indevido de drogas, nas instituições de ensino público e privado, alinhados às Diretrizes Curriculares Nacionais e aos relacionados a drogas; conhecimentos

O parágrafo único dessa Lei diz que são consideradas como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União.

Em Silva, Silva e Medina (2005, p. 119), as drogas, sob o ponto de vista legal e jurídico, podem ser classificadas em:

Lícitas: são produzidas e comercializadas legalmente (álcool, tabaco, medicamentos, inalante, etc).

Ilícitas: são comercializadas ilegalmente (maconha, cocaína, crack, etc). De uso controlado: podem ser adquiridas com receita médica (moderadores de apetite e tranquilizantes, etc).

Para esses autores, “O Estatuto da Criança e do adolescente, apesar das dificuldades e demora na implantação das medidas que prevê, é sem dúvida, um grande aliado da prevenção” (SILVA, SILVA, MEDINA, 2005, p. 119).

No que concerne a essa questão, gostaria de ressaltar alguns aspectos legais descritos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela Lei nº 8. 069, de 13 de julho de 1990, sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Nas disposições preliminares, Art. 1º do Estatuto, a Lei considera criança, pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

As normas de prevenção, descritas nos incisos II e III do Art. 81 do ECA, dizem que é proibida, à criança e ao adolescente, a venda de bebidas alcoólicas e produtos cujos componentes possam causar dependência física e química, ainda

que por utilização indevida. Noto que o termo “utilização indevida” refere-se ao uso impróprio de determinada substância. Entretanto, a lei não faz referências a medidas punitivas quando se trata do “ato infracional”, cometido pelo menor. Nesse caso, em vez de medidas punitivas, a Lei dispõe de Medidas Socioeducativas, que vão desde a advertência, obrigação de reparação do dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, regime de semiliberdade até a internação.

O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) afirma que as leis anteriores promoviam o controle e a exclusão social sustentadas na Doutrina de Proteção. Já o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) expressa direitos da população infanto-juvenil brasileira, pois afirma o valor da criança e do adolescente, como ser humano em respeito à sua condição de pessoa em desenvolvimento, o valor da infância e da adolescência, como portadoras de continuidade do seu povo e o reconhecimento da sua situação de vulnerabilidade, o que torna as crianças e adolescentes merecedores de proteção integral por toda sociedade.

Muito embora, de acordo com texto do SINASE, “[...] o ECA apresente significativas mudanças e conquistas em relação ao conteúdo, ao método e à gestão, essas ainda estão no plano jurídico e político-conceitual, não chegando efetivamente aos seus destinatários”.

As Leis existem, mas o que as torna inaplicáveis? Por que elas não atingem a todos? Tais questionamentos se justificam pelo fato que, é possível ver, em plena luz do dia, crianças e adolescentes consumindo drogas.

São inúmeros os dispositivos legais de prevenção ao uso de drogas, embora não o suficiente; ainda assim, a existência da lei é necessária. É preciso um dispositivo de acompanhamento desses jovens através de práticas educativas que tenham como objetivo encontrar a solução para o problema.

No que diz respeito a essa questão, a escola deve atuar no sentido não só de prevenção, mas também de recuperação, de reintegração dos jovens usuários através de atividades de interesse dos mesmos. Oficinas de teatro, música, dança, esportes podem manter os jovens ocupados e afastados do “submundo” das drogas. A família pode ser uma grande aliada nessa questão, pois o amor, o respeito e a união não ficam em segundo plano, eles são fatores primordiais não só na fase de prevenção, mas também de recuperação do jovem usuário. Dessa forma, as

atividades desenvolvidas devem ter o apoio da escola, da família, da comunidade e de toda a sociedade, nas ações contra o uso de drogas.

Robaina afirma que:

Devido à reduzida eficiência de políticas públicas, muitos jovens, com baixa alta estima se envolvem nessa atividade. Esse envolvimento, para o adolescente surge como uma possibilidade de ganhar dinheiro e de ter acesso facilitado à droga para seu próprio consumo. O reflexo disso aparece na família muitas vezes recrutada para o tráfico (ROBAINA, 2010, p. 42).

Em cidades como São Paulo, existe uma região que passou a ser denominada “cracolândia”. Em Porto Alegre, a Avenida Castelo Branco tornou-se um ponto de viciados que ocorre no Loteamento Santa Terezinha (ex-Vila dos Papeleiros), um conhecido ponto de tráfico, distante três quadras da Secretaria da Segurança Pública.

A Lei Nº 6. 368, de 21 de outubro 1976, no art. 1º vigora da seguinte maneira:

Art. 1º É dever de toda pessoa física ou jurídica colaborar na

prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica.

Essa Lei deixa claro que é dever de todos, colaborar na prevenção e repressão ao tráfico e uso indevido de drogas.

De acordo com Robaina (2010, p. 52) “[...] a Política Nacional Antidrogas, surge como instrumento regulador de todos os projetos que o Brasil pretende desenvolver para diminuir o mal causado pelas drogas aos nossos jovens”. Essa política tem como principal objetivo: informar a sociedade brasileira sobre os riscos representados pelo uso indevido de drogas. Além disso, visa capacitar profissionais da educação e de diversas áreas do conhecimento, para atuarem na prevenção e no combate ao tráfico de drogas. Outros caminhos apontados por essa política é a municipalização das ações contra as drogas, com a colaboração de professores e educadores das escolas municipais, que se capacitam sobre o assunto e têm conhecimento para esclarecer, aos alunos, os mais diferentes aspectos relacionados a essa temática, em sala de aula (ROBAINA, 2010, p. 52).

Os Conselhos Municipais de Entorpecentes (COMENs) atuam como representantes de todas as entidades que trabalham com essa temática. Esses conselhos, quando atuantes, são de fundamental importância na sociedade, pois

têm como função estabelecer políticas públicas de prevenção, tratamento e ressocialização, além de fiscalizarem entidades que atuam nessa área, como comunidades terapêuticas, clínicas médicas e entidades assistenciais (ROBAINA, 2010, p. 53).

Cabe destacar que essa política é a valorização do “Projeto de Redução de Danos Sociais e à Saúde”, do governo federal, cujas metas são reduzir às consequências causadas pelo uso abusivo das drogas, principalmente em adolescentes, buscando a redução do uso e a diminuição dos danos à saúde. Essa política visa desenvolver ações de prevenção ao abuso de drogas, através de cursos de capacitação docente oferecidos pelo governo, aos educadores da rede de ensino (ROBAINA, 2010, p. 53).

Nessa questão, o governo federal, por meio da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), pretende reduzir a proliferação do uso de drogas, que afetam os jovens brasileiros. Assim, concretizando um projeto de prevenção, pode direcionar esses jovens para uma melhor qualidade de vida (ROBAINA, 2010, p. 53). A emenda Constitucional, que altera a Lei Nº 65, de 13 de julho de 2010, altera a denominação do Capítulo VII do Título VIII da Constituição Federal e modifica o seu art. 227, para cuidar dos interesses da juventude.

Art. 2º O art. 227 da Constituição Federal passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 227 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

III - garantia de acesso do trabalhador adolescente e jovem à escola; VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins.

Os parágrafos do artigo 227 mostram que as leis existem, mas nem sempre são cumpridas. Sabemos que nem todas as crianças e jovens desse país têm direito à saúde, alimentação e educação. As leis asseguram direitos básicos, porém, na prática, nem sempre esses direitos são garantidos. Vivemos em uma época em que

nossas crianças e adolescentes estão expostas a uma diversidade de situações que implicam violência, discriminação, exploração, crueldade e solidão. Nesse contexto de opressão, a falta de sentido para a vida, o sentimento trágico e desolador, a sensação de solidão e de incomunicabilidade são um “convite” para o mundo das drogas.

Para uma maior compreensão sobre o usuário de drogas, deve-se conhecer seu ambiente, os fatores que contribuíram para o desenvolvimento de sua personalidade, seus contatos iniciais com grupos, as pessoas que influenciaram decisivamente na sua forma de pensar. Dessa forma, seguindo passo a passo o personagem poderá ser entendido. Mas isso não será o suficiente, caso não se analisem paralelamente as circunstâncias sociais e políticas que o envolvem.

As leis de proteção asseguram, à criança, ao jovem e ao adolescente, direitos mediante a proteção da família da sociedade e do Estado. A família é de fundamental importância na recuperação de dependentes químicos. Segundo Silva; Silva; Medina (2005), a família é considerada um grupo imprescindível na formação e desenvolvimento do ser humano; uma das funções a ela atribuída é de cuidar de si e do outro, mas nem sempre isso ocorre.

Para Freitas (2002, p. 65), o adolescente tem necessidade de ter modelos de identificação. No entanto, quando suas condições psicológicas são precárias, e o seu contexto familiar é conturbado, a escolha de modelos identificatórios fica severamente prejudicada.

A família exerce um papel importante na vida dos jovens, mas deve-se considerar também o momento histórico da qual ela faz parte, uma vez que existem diferentes grupos familiares determinados por um conjunto significativo de variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas.

Nesse sentido, conflitos familiares permeados por desavenças, lares desestruturados, falta de diálogo com os filhos, podem ser responsáveis por um ambiente de difícil relacionamento. No entanto, na maioria das vezes, a família também é vitima desse ambiente hostil. As causas do problema estão nas transformações ocorridas no “novo” modelo de sociedade.

Tais transformações levam homens e mulheres a atuar no mercado de trabalho em condições de desigualdade. Assim, começam a dividir entre si o trabalho doméstico e a educação dos filhos, ainda que a maior parte destas tarefas

se mantenha a cargo da mulher, que vem confrontando os desafios do mundo do trabalho procurando conciliar a vida profissional e familiar.

Em alguns casos a mulher tem que assumir o papel de mãe e o papel de pai, por diversos motivos (mães solteiras, divorciadas ou viúvas). A sensação de solidão e de incomunicabilidade, de excesso de trabalho que pesa sobre a sociedade moderna, alienada, o empobrecimento das relações familiares.

4 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRANSFORMAÇÃO DAS RELAÇÕES

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 41-48)