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O meio ambiente e os conflitos na adolescência

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 88-91)

6 A SOCIOPOÉTICA NA PESQUISA SOBRE EDUCAÇÃO

6.2 O meio ambiente e os conflitos na adolescência

Em cada um dos adolescentes com quem trabalhei, existe uma história norteada por conflitos, normas de comportamento e relação direta e indireta com o uso de drogas. A convivência com esses jovens permitiu que eu conhecesse suas relações familiares e as problemáticas vivenciadas no seu dia a dia. Ressalto que, não se trata de um exame da família ou das condições sociais dessa, mas de superação de todos esses problemas, da reversão de uma situação em que todos estavam expostos, mas optaram por outro modo de vida.

O uso de caracteres alfabéticos foi empregado como forma de preservar o anonimato dos participantes da pesquisa.

Quando conheci J, ela já tinha assumido um compromisso conjugal aos 14 anos. Ela e o namorado moravam juntos com a permissão da família. Ela trabalhava no Banco pela manhã e à tarde frequentava a escola regular. Aos sábados, tínhamos oficina na Escola Assis Brasil. Muito inteligente, falante, parecia mais madura do que realmente aparentava. A família era composta pelo pai, a mãe, ela e o irmão. O qual era o motivo de problemas na família, pois era viciado em crack, e fora encontrado várias vezes caído na rua. J vinha de uma família que lutava contra as dificuldades econômicas, mas incentivava a educação dos filhos. No dia da apresentação do vídeo “Sonhos desfeitos, adolescência interrompida”, a mãe e o irmão de J estavam presentes, ela chorou, falou sobre o mal causado pelo crack, mas em nenhum momento falou a respeito do filho. Este também se manteve em silêncio, segundo J ele já tinha superado essa fase.

A família de C foi marcada pela tragédia. Na família, C é a filha que antecede o mais novo dos quatro irmãos. Também como os demais adolescentes da pesquisa, trabalhava como aprendiz de serviços bancários no Banco do Brasil.

Quando conheci C, não sabia dos problemas na família, mas aos poucos ela foi relatando o seu drama. Disse que um dos cunhados era traficante e estivera preso por causa do tráfico e drogas, mas que, ao sair da prisão, continuava praticando os mesmos atos. O homicídio praticado pelo cunhado e o suicídio do mesmo, diante dos dois filhos menores, desestabilizou a família. A mãe de C ficou com as crianças, porém veio a falecer pouco tempo depois. C perdeu o ponto de referências, pois, segundo ela, a mãe era tudo o que tinha na vida.

A família de Ju era composta pela avó e pelo pai. Ju era fruto de uma união desfeita, a mãe a deixou sobre os cuidados do pai e da avó. O pai tinha mais dois filhos de outra união, também desfeita, Mas esses não moravam com a família de Ju. A mãe morava em Goiás e pouco visitava a filha, ela tinha outro filho de um outro relacionamento. Ju se dizia ciumenta em relação ao pai. Os namorados, geralmente, tinham o dobro de sua idade, eles iam e vinham devido ao seu mau humor. Ju trabalhava no Banco e estudava, queria cursar faculdade.

O jovem F pertencia a uma família de seis irmãos, o mais velho trabalhava, os demais viviam com ele e a mãe. A mãe era separada, trabalhava e cuidava dos filhos sozinha. O pai vivia em outra cidade. A demora no término das gravações fez com que ela ligasse para falar com os filhos e com a professora. Sim, os filhos, porque o irmão menor de F também participou nas cenas e da gravação do vídeo. Atendi à ligação e disse que estávamos gravando as cenas finais e logo eles iriam para casa, ela disse que queria se certificar de que realmente eles estavam com o professora. F é um menino educado, meigo e muito compreensivo, sempre disposto a ajudar a todos. Mas, disse que morava em um lugar muito violento e via os amigos da escola seguirem o caminho do crack. A mãe se preocupava com a situação, por isso sempre ligava para saber notícia dos filhos, embora soubesse onde eles estavam.

Não muito diferente de F, N era um menino excelente, os colegas, às vezes, debochavam dele, pois N era evangélico e tudo ao seu redor girava em torno da religião. Para que N participasse do vídeo, a família precisou ser convencida que se tratava de um trabalho que servia de alerta aos jovens, sobre o uso de drogas. O adolescente era muito participativo, as normas comportamentais adotadas pela família, eram baseadas nas crenças. Os livros escolhidos para leitura tinham sempre um cunho religioso.

As maiores dificuldades relatadas por esses jovens era o fato de não se sentirem inseridos na própria comunidade, onde habitavam. O trabalho no Banco associado à escola diferenciava-os de outros grupos de adolescentes do mesmo bairro e isso causava um tipo de rejeição, por ambas as partes, a não aceitação do comportamento do outro. Conforme Robaina, “[...] a rua espelha o funcionamento das relações sociais vigentes com hierarquia, valores, interações, violências e desigualdades” (2010, p. 13).

O segundo grupo de adolescentes eu não conheci com a mesma intensidade que o primeiro, devido ao tempo de convivência ter sido menor. Os conflitos gerados eram com outros jovens das diferentes comunidades que circundam a escola. Os problemas estavam relacionados a territórios, pois segundo esses, quem era de determinado bairro não podia invadir o território vizinho. Esses relatos só foram feitos depois que vi um dos alunos com o “olho roxo”. Então, ele contou que os jovens demarcavam território, quem morava em determinado local, sabia que não poderia ultrapassá-lo, pois corria o risco de apanhar.

7 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ELABORAÇÃO DOS DADOS E A SUA

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 88-91)