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O resgate social do indivíduo através da Educação Ambiental

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 38-41)

2. A AÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL SOBRE AS SUBSTÂNCIAS

2.3 O resgate social do indivíduo através da Educação Ambiental

Antes de começar essa discussão, algumas questões me parecem pertinentes: a liberação das drogas resolveria os problemas relacionados ao uso e à dependência? As redes de comercialização são as principais responsáveis pelo quadro da toxicodependência?

O fenômeno droga dependência gira em torno da seguinte questão: o acesso mais fácil às drogas poderia elevar o número de usuários experimentais e ocasionais? Mas, e os não dependentes, como se enquadram nessa história? Ao contrário do que muitos pensam, as pessoas não se tornam dependentes de drogas, porque elas estão disponíveis. Entretanto, seria ingênuo pensar que a liberação das drogas resolveria todo o problema. Se, por um lado, a redução da oferta não resolve a questão, por outro o aumento da oferta (liberação) não é capaz de diminuir por si só a dependência de drogas.

Em notícia publicada pelo Correio Brasiliense on line (ZAMPIER, 2011) o Supremo Tribunal Federal (STF) descartou incluir a discussão sobre a liberação do uso de substâncias psicoativas no julgamento sobre a legalidade das passeatas pró-maconha, que foram realizadas nesse dia. Na ação, ajuizada em 2009, o Ministério Público Federal pede apenas a liberação das passeatas pela legalização de drogas leves, por considerar que os eventos não fazem apologia ao crime. O argumento usado por muitos juízes, para cancelar as passeatas, é que os manifestantes fazem apologia ao uso de drogas, o que é proibido pelo Código Penal.

O artigo “A solução menos pior”, publicado pela revista Veja, Edição 2004 de 18 de março de 2009, fala sobre o fracasso da guerra centenária contra as drogas e a corrupção dela decorrente. A Organização das Nações Unidas (ONU) fortalece a ideia de tentar uma saída radical: a legalização das drogas. Todavia, a ONU não chegou nem perto de liberar as drogas. O que houve foram vozes isoladas, mas num coro crescente, que sugeriram que essa opção fosse incluída no debate.

Ainda de acordo com a revista, defensores argumentam que as drogas devem ser tratadas como uma questão de saúde pública. Seus usuários são doentes, e não criminosos, e devem ser atendidos por serviços assistenciais com o intuito de reduzir

os riscos aos quais estão expostos, como overdose, aids e outras doenças. Os governos poderiam taxar e regulamentar o comércio de drogas, tirando-o das mãos dos traficantes e diminuindo a violência associada à disputa por mercados consumidores. Com esse dinheiro, financiariam programas de tratamento de dependentes e educariam seus cidadãos sobre os malefícios dos entorpecentes.

O paradoxo dessa questão é que, a liberação aumentaria o consumo, mas leis mais severas não inibiriam os consumidores. Do ponto de vista legal, conforme descrito em Silva, Silva e Medina (2005, p. 119) “[...] a legislação brasileira fundamentou-se basicamente na Carta das Nações Unidas e nos tratados Internacionais de Controle de Drogas”. No Brasil, medidas de prevenção e repreensão ao tráfico têm sido adotadas com vistas a conter o uso indevido da substância.

Na obra “Droga e Toxicodependência: o desafio de uma intervenção global” (CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A PASTORAL DA SAÚDE, 2006), a produção, a comercialização e o uso de drogas suscitam várias formas de delinquência que vão desde a organização até as redes de fornecimento; bem como até a lavagem de dinheiro “sujo” obtido com o tráfico. Inserem-se nesta questão os indivíduos com problemas sociais, que já estão sob a alçada de ações judiciais. E, consequentemente, isso desencadeia questionamentos sobre a injustiça que reina nesse domínio.

Ainda, de acordo com a obra, existe uma perseguição entre alguns “pequenos” vendedores ou consumidores mais ou menos ocasionais, e a relativa impunidade de que gozam personalidades nos meios de comunicação, as quais reconhecem publicamente, em entrevistas, o consumo regular de drogas.

[...] interlocutores dos poderes públicos nessa matéria reivindicam o papel de pessoas às quais os jovens podem recorrer. Atribuir uma tarefa educacional da juventude, e portanto com valor de exemplo, a indivíduos ligados de uma maneira ou outra à droga constitui um perigo real e torna difícil, para não dizer impossível, a luta que se trava contra difusão e consumo de produtos tóxicos (CONSELHO

PONTIFÍCIO PARA A PASTORAL DA SAÚDE, 2006, p. 19).

Para Freitas (2002, p. 54), “[...] no Brasil, o narcotráfico surgiu vinculado ao problema do contrabando, o qual, para existir necessita estar firmemente associado

à corrupção do aparelho policial e do judiciário” . Conforme este ganhou espaço, foi se expandindo devido às facilidades que encontrou em certos segmentos da política.

Numa sociedade, onde há tanta discrepância social, o poder persuasivo da mídia coloca pessoas famosas associadas ao uso de substâncias psicoativas, as quais, na maioria das vezes, assumem o uso dessas. Fascinados por aquele mundo “invisível”, onde só prevalece o imaginário, os jovens tendem a imitar seu personagem, nas roupas, no vocabulário e até mesmo nos atos.

No texto intitulado “Desconstruindo estereótipos e reconhecendo demandas” de Sudbrack6 (2011), coloca que se faz necessário pensar com cuidado a relação entre drogas, violência e juventude, considerando a complexidade da questão, uma vez que as temáticas sobre drogas e violência são sempre carregadas de representações que precisam ser desconstruídas. De acordo com o texto, pesquisas em psicologia social apontam que o estereótipo antigo binômio pobreza=violência foi substituído, no imaginário social,pelo estereótipo drogas=violência.

Em Silva, Silva e Medina (2005, p. 126), para trabalhar a prevenção, é imprescindível que sejam tratados, nessa questão, temas como solidariedade, respeito, amizade e bem comum para desarmar os estereótipos erguidos pelo sistema social vigente. Dessa forma, se faz necessário o resgate social do indivíduo através do processo de criação, para que se possa visualizar na criança ou adolescente suas reais relações e visões de mundo.

A questão da legalização das drogas ainda é um assunto muito complexo e discutido em todos os meios sociais. Paralelo a esse fato, existem outras drogas, como os anfetamínicos disponíveis em todos os mercados lícitos ou ilícitos. Essas drogas controlam o sono, a obesidade e o seu uso descontrolado gera muitos dependentes químicos.

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Maria Fátima Olivier Sudbrack Doutora em Psicologia (Université de ParisXIII) e Pós-doutora em Psicossociologia (Université e Paris VII); Professora Titular do Departamento de Psicologia Clínica/Instituto de Psicologia/Universidade de Brasília; pesquisadora do CNPQq; Coordenadora do PRODEQUI-Programa de Estudos e Atenção às Dependências Químicas/PCL/IP/UnB; Psicóloga clínica, terapeuta de famílias e de adolescentes.

3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FATOR DE PREVENÇÃO AO USO DO

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 38-41)