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As consequências do uso do crack na juventude

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 54-58)

4 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRANSFORMAÇÃO DAS

4.2 As consequências do uso do crack na juventude

As consequências do uso dessa droga são quase sempre desastrosas sobre a vida do usuário, promovendo prejuízos em suas mais diversas áreas de

funcionamento. A falta de limites, as amizades e o distanciamento da família induzem o adolescente ao consumo do crack.

Conforme Freitas:

O problema dos limites é um problema central na questão do uso de drogas, já que tem uma correlação direta com o lidar com a frustração. É a possibilidade de se equilibrar com o que pode e o que não se pode fazer. É essa instância reguladora da Lei que vem faltar nestas famílias, é a impossibilidade do exercício do dizer não, dos limites reguladores da inserção na cultura [...] (FREITAS, 2002, p. 46-47).

Nesse processo, pressupõe-se que alguns fatores podem estar relacionados como uma condicionante para o uso do crack. A privação de recursos são fatores econômicos que estão associados ao fracasso. Adiciona-se a isso, o espaço social ocupado pelo jovem de classe baixa na sociedade e as representações mentais do consumismo introduzidas pela mídia. Para Freitas,

[...] o adolescente originário da classe baixa, da favela frequentemente envolve-se com o narcotráfico, [...]. Ser bandido e andar armado promovem o acesso às jovens mulheres da área, dando ao adolescente a sensação de ser valorizado, respeitado, temido. (2010, p. 18)

O ter prevalece sobre não ter, e diante da impossibilidade da família de lhe proporcionar o objeto que lhe confere “status”, o dinheiro “fácil” passa a ser a opção.

Para Robaina:

A situação de abandono dos jovens de periferias, não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, mas mundial. Esse fenômeno ocorre também em países desenvolvidos. Embora os contextos socioculturais e a postura da população em geral possam variar, a presença de jovem em situação de vulnerabilidade social é uma questão globalizada (2010, p. 12).

Entretanto, outros fatores induzem o adolescente ao consumo do crack, como as amizades, a falta de limites e o distanciamento da família. Para Freitas

É comum em famílias com estrutura geradora de patologias, que o fenômeno não seja percebido com facilidade. É necessário, muitas vezes, que o quadro se agrave para que outros participantes do grupo familiar se dêem conta da inclusão na problemática (2010, p. 42).

A adolescência é a fase da vulnerabilidade, das curiosidades, das sensações, do proibido. O gosto por “aventuras” pode trazer consequências drásticas, principalmente, quando a acessibilidade ao “objeto do desejo” não é só uma questão econômica, mas sim, a busca da satisfação e do prazer. Inserem-se nessa problemática os jovens de classe média e alta. “O apelo ao mundo marginal das drogas também, e cada vez mais, encontra eco junto as classes mais favorecidas” (FREITAS, 2010, p. 18). A sensação de contentamento do prazer e a tentativa de preencher o espaço vazio, da satisfação e do desejo, os leva a buscar caminhos “desconhecidos” e, nessa trajetória, sem o apoio da família, tornam-se também “vítimas” do crack.

Conforme Bucher (1992, p. 33), a fase da adolescência consiste em uma etapa crítica devido ao seu caráter de transição: a passagem da fase de criança que o adolescente não é mais e o adulto que não é ainda, mas que deseja ser. Essa transição de uma etapa a outra da vida, inclui conflitos “[...] que raramente se revelam de modo direto, mas que devem ser responsabilizados pelas incongruências que constam da conduta adolescente”. (BUCHER, 1992, p. 33). Se, por um lado, os jovens procuram imitar os adultos, que consideram como ídolos, como “bem sucedidos” ou por outro traço qualquer, que lhes desperta a atenção; por outro lado, deixarem a infância para trás, onde pouco se exigia, pois não se responsabilizavam pelos próprios atos, contribui para as contradições que eles acumulam em sua conduta.

Os conflitos não se limitam apenas aos de geração, mas originam-se na fase do amadurecimento ou de regressão à infância. Essas convergências antagônicas provocam crise no adolescente, o qual não entende o que se passa com ele. “A saída mais comum que encontrará, será aquela da fuga: fuga de seus parceiros de vida habituais, a começar pela família, procurando refúgio em si mesmo”. O isolamento é uma forma pela qual ele tenta proteger sua fragilidade ou busca inserir-se em grupos místicos deinserir-senvolvendo estilos de vida (BUCHER, 1992, p. 33).

O abalo emocional provocado pelo crack provoca uma série de desajustes que resultam em problemas relacionados à conduta. Isso ocorre, porque o indivíduo começa a apresentar comportamentos antagônicos provocados por suas reações aos estímulos da substância. O transtorno de conduta, depressão, agressividade e ansiedade contribuem para que o adolescente apresente um comportamento

instável e com dificuldades de se relacionar socialmente. A compulsão pela droga o leva a cometer atos que “fogem” ao seu controle e, para sustentar o vício, pratica o “roubo”. Não existe família, nem amigos e nem vida social, tudo circula em torno do crack e do prazer ilusório que esse proporciona.

Conforme Freitas, afirma:

Em certas famílias, a criança, e posteriormente o adolescente não respeita a Lei (no seu sentido amplo), até porque a Lei, para ser respeitada, tem que ser temida, e esse respeito só pode ser estabelecido se tanto pai quanto a mãe se impuserem como figuras de autoridade, para seus filhos poderem participar do contexto social, [...]. O usuário contumaz de drogas não respeita nem o outro nem a si próprio, na medida em que o seu uso continuado nada mais é do que um suicídio a conta-gotas [...] (2002, p. 46).

Em Bucher (1992, p. 141), querer aplicar ações preventivas baseadas em transposições simplórias, significa desconhecer o fenômeno do consumo de drogas, as motivações do usuário, que o levam à procura daquele “agente”, e os seus efeitos tríplices no corpo, na cabeça e no coração; é ignorar a relação da droga com o prazer, a transgressão e a autodestrutividade, consciente ou não consciente.

No que diz respeito a essa questão, a camada mais carente da população sofre os efeitos da substância; a crise social atinge a estruturação sócio-econômica desencadeando o aumento da pobreza, logo “[...] o consumo de drogas atinge então todas as parcelas fragilizadas do corpo social e se propaga com rapidez, inclusive entre os menos favorecidos”. (BUCHER, 1992, p. 28). A sensação de esquecimento dos problemas favorece o aumento do consumo que, por sua vez, acarreta danos não só na vida individual como também na vida social. Se as drogas usadas diminuem a sua potência, as dosagens aumentam “[...] trazendo em sua bagagem a decadência física e moral, a violência e a marginalização, a solidão e o suicídio”. (BUCHER, 1992, p. 29).

Diante dessas questões, alguns fatores de risco, que podem estar associados ao uso do crack, encontram espaço na curiosidade, na obtenção de prazer, no relaxamento das tensões psicológicas e na facilitação da sociabilização. Insere-se nesses fatores, a influência do grupo, o isolamento social, a dinâmica familiar, a baixa autoestima, o manejo inapropriado da mídia na questão das drogas,

as influências genéticas, os familiares com problemas com álcool, e a excessiva medicalização da sociedade.

Entretanto, não basta apenas diminuir os fatores de risco, mas promover ações preventivas com vistas a coibir o uso das drogas. No que diz respeito a essa questão, o papel dos educadores é de extrema importância. Sendo assim, cabe a eles, planejarem ações educativas que reservem espaço para os alunos e a comunidade, através da prevenção.

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 54-58)