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A análise dos temas com base nas cenas do vídeo

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 98-102)

7.1 Oficina de vídeo 1

7.1.2 A análise dos temas com base nas cenas do vídeo

7.1.2.1 Os conflitos gerados na Instituição família

A primeira imagem simbólica apresentada pelo grupo-pesquisador é a casa. A casa como um ambiente fechado, onde vivem pessoas do mesmo núcleo familiar, não é um espaço impenetrável, logo, se tornou vulnerável, pois é ali que acontecem os primeiros experimentos com drogas. Os conflitos são gerados, à medida que as relações familiares sofrem uma ruptura. Nas cenas do vídeo, apresentada pelos jovens, existe um distanciamento entre todos os membros da família. A desunião passa a ser perceptível, quando a representação simbólica da mesa do café da manhã, uma das primeiras refeições do dia, os mantém afastados. Cabe destacar que os conflitos, apresentados nas cenas pelo grupo, mostram de forma negativa a relação intrafamiliar e os desentendimentos entre pais e filha, o que torna mais difícil

o relacionamento afetuoso entre eles. Essas relações conflituosas refletem em todos os membros da família, principalmente, na adolescente, que está em processo de formação, sendo mais vulnerável ao sofrimento. Constituindo um reforço, para se tornar uma adulta muito agressiva.

O grupo-pesquisador questiona, principalmente, no que diz respeito ao núcleo familiar, fator que muitas vezes os coloca em choque com seus pais e familiares. Nem sempre os pais de adolescentes estão preparados emocionalmente e psicologicamente para lidarem com as contestações de seus filhos. Tornando, muitas vezes, as famílias um alvo vulnerável para a existência de conflitos. A família é vista, pelo grupo, como instituição de socialização e proteção de seus membros.

Na visão apontada por eles, a família desempenha papel marcante na vida de seus integrantes, visto que a estrutura psicológica e social do ser humano é, na sua maioria, formada na família. Entretanto, nas cenas apresentadas pelos alunos no vídeo, as próprias condições da sociedade influem na família, impedindo que ela cumpra os seus deveres essenciais junto aos adolescentes, fazendo com que, eles sigam seu caminho, obedecendo as suas inclinações pessoais e menos subordinados à influência familiar. No vídeo algumas cenas são destacadas pelo grupo, os conflitos entre os pais (13ª cena) e o distanciamento em relação aos filhos (9ª cena).

Para o grupo-pesquisador as transformações, pelas quais os jovens passam, merecem ser observadas, orientadas e acompanhadas pelos pais, como algo normal, inerente a todo ser humano, que está em constante processo de transformação. As cenas do vídeo mostram que maioria dos pais não estáo preparados para este processo por qual seu filho passa, ocasionando, no grupo familiar, conflitos na relação pais e filhos, quanto ao respeito da singularidade do outro. O despreparo para lidar com essas transformações ocorridas na adolescência, aliado ao desconhecimento dos pais, constituem-se em fatores determinantes para a manifestação de conflitos.

A avaliação feita pelos adolescentes, no vídeo, revela que a educação em família é a base que constituí o indivíduo, entretanto quando essa base é desestabilizada pode provocar mudanças no comportamento dos jovens.

7.1.2.2 Drogas, prostituição

No que diz respeito a essa temática, o grupo-pesquisador acentuou o uso de drogas e da prostituição, nas cenas. As influências do meio, idéias partilhadas por todos os membros do grupo na elaboração das cenas (12ª cena), estão relacionadas a essa questão. Fenômenos como prostituição e abuso de drogas, a apropriação do corpo assume contornos específicos, à medida em que o corpo é utilizado, ou melhor, superfaturado. Nesse contexto, o corpo constitui, ao mesmo tempo, meio para ofertar prazer ao outro, recurso de sobrevivência e instrumento para proporcionar dinheiro para a compra da drogas. Nas cenas, a prostituição diz respeito a uma vida que não é digna de respeito e de estima, a saber, o corpo. De tal modo, resume-se a uma vida de humilhação, desvalorização e devassidão. Nas cenas, as drogas são usadas, pela amiga da protagonista, como forma de “anestesiar” a prostituição.

7.1.2.3 Morte do corpo

A simbologia da morte, na cena final, foi muito discutida entre o grupo, a opção pela morte e pela não morte do personagem, na cena final, ficou dividida. Por fim, todos concordaram pela opção da morte, a morte representada por eles, significa a vida, pois se apoiando nesse exemplo, eles queriam transmitir a mensagem a outros jovens sobre os prejuízos causados pelo uso do crack.

Gauthier et al. afirma que “[...] o grupo-pesquisador descobre uma maneira inesperada de formular problemas existenciais que encontram na sua prática” (2005, p. 75), mas nem sempre esses problemas estão conscientes na vida das pessoas.

Depois de várias discussões sobre o uso de drogas na adolescência, senti que alguma coisa afligia o grupo - pesquisador, principalmente, quando falavam de suas comunidades, não era só a questão da não-identificação com outros grupos jovens. Então, eles sugeriram que gravássemos uma entrevista, para que eles pudessem falar a respeito de seus bairros e expor as problemáticas, ali existentes.

A fase da produção de dados “[...] é um momento dialógico, no qual se aceita ‘uma pluralidade de vozes, uma polifonia, semântica e conceptual’ que permite obter

dados individuais e coletivos, produzidos na interação entre o pesquisador e o grupo (as pessoas) pesquisando” (GAUTHIER et al., 2005, p. 21).

Nessa parte do trabalho, o grupo-pesquisador formula o problema existente na sua comunidade. Nas entrevistas12 gravadas e transcritas por essa pesquisadora, o espaço escolhido pelos adolescentes foi a Biblioteca da Escola de Orientação Profissional Assis Brasil. A gravação foi anterior a apresentação do vídeo. Os temas abordados estavam relacionadas ao fenômeno drogadição e aos estigmas criados em torno dos bairros e de seus habitantes.

Como forma de favorecer a produção de dados, do grupo-pesquisador, foram usados como ferramentas os temas de discussão em sala de aula: de que forma as relações sociais e ambientais podem influenciar no uso do crack? Todavia, fiz uma reflexão e, como afirma Gauthier et al., “[...] o fato do próprio grupo-alvo escolher o tema que quer investigar garante mais motivação” (2005, p. 9). Dessa forma, fiz com que eles debatessem entre si os problemas da comunidade.

Primeiramente, sugeri que fizessem um círculo de discussão, no qual eles deveriam debater sobre as problemáticas da sua comunidade, e, depois, deveriam propor uma solução para o problema. Todos acolheram a ideia de que deveriam falar a respeito dos conflitos da comunidade. Conforme Gauthier et al. (2005, p. 301), na sociopoética, o grupo pesquisador é um conjunto dentro do qual se inserem várias técnicas, principalmente aquelas em que os sujeitos da pesquisa exercem seus direitos de cidadania, em todos os segmentos da pesquisa.

Assim, no dia da gravação, eles chegaram cedo e se localizaram no espaço, onde iríamos desenvolver o trabalho. Porém, nem todos os alunos participaram da entrevista, uma das alunas não quis falar e nós respeitamos sua vontade. Gauthier et al. diz que (2005, p. 10) “[...] é importante ressaltar que na concepção sociopoética os dados que surgem nessa experiência não são ‘coletados’ como se estivessem esperando numa cesta e sim produzidos pelas condições de realização da pesquisa”.

Para aprofundar esses símbolos, busquei sustentação teórica nas palavras de Jung (1993 apud GAUTHIER, 2005, p. 163), que diz “[...] uma palavra ou uma imagem são simbólicas, quando implicam alguma coisa além do seu significado manifesto e imediato”.

12 Na cena final do vídeo “Sonhos desfeitos, adolescência interrompida”, consta a parte das entrevistas realizadas pelos estudantes.

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 98-102)