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A Educação Ambiental desconstruindo barreiras entre a família e

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 51-54)

4 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA TRANSFORMAÇÃO DAS

4.1 A Educação Ambiental desconstruindo barreiras entre a família e

Em todas as partes do país, são construídas histórias trágicas em torno do crack, o desespero das famílias, mães que acorrentam os filhos na esperança de mantê-los distante do inimigo “invisível”: o crack. Para Morin; Kern (2005, p. 59), “Cada um vive do nascimento à morte uma tragédia insondável, marcada por gritos de sofrimento, de prazer, por risos, lágrimas, desânimos, grandeza e miséria. Cada

um traz dentro de si tesouros, carências, falhas e abismos”. O medo domina as famílias, os laços são rompidos. Cercear a liberdade do filho é a única forma de proteção encontrada, em alguns momentos. Os pais já não conseguem proteger os filhos de si mesmos, o crescente vício dos adolescentes, as dívidas com traficantes, por fim, a própria desestrutura familiar.

A preocupação dos pais, quando os filhos estão na adolescência, é de que eles se envolvam no mundo do crime, levados pelo uso das drogas. Na fase da adolescência, os jovens procuram um grupo de pertencimento para se sentirem reconhecidos e valorizados pelos outros. Nas palavras de Robaina (2010, p. 20), “[...] se não há reconhecimento na família, na igreja, no centro comunitário, no clube, no trabalho e na escola, o adolescente procurará reconhecimento na marginalidade”. Eles não medem os riscos, o que importa são os momentos de prazer, mesmo que o preço a ser pago seja alto.

Vivências permeadas por conflitos familiares também são consideradas fatores de risco. O adolescente pode entrar para o mundo das drogas buscando uma “fuga” de seus problemas. Em Silva, Silva e Medina

[...] os conflitos surgidos, sobretudo da dissociação entre a mudança corporal e a psicologia, levam o adolescente à necessidade de planificação característica desse período que abarca desde o problema religioso ou o da colocação do homem frente ao mundo. (2005, p. 96)

Nas palavras de Bucher (1992, p. 33), na “crise da adolescência”, o jovem é um palco de tendências antagônicas que não entende o que o ultrapassa, embora desarticulando ele mesmo. O único meio é a “fuga” dos companheiros de vida habituais, a começar pela família, procurando o refúgio em si mesmo, o enclausura mento impenetrável, no qual tenta proteger sua fragilidade. Para Freitas, “[...] os adolescentes, na verdade, constituem um grupo de alto risco para utilização das drogas” (2010, p. 41).

Dessa forma, vários fatores podem estar envolvidos no aumento no consumo de drogas pelos adolescentes, alguns podem estar relacionados a fatores econômicos, sociais e ambientais, ou seja, às pressões sociais provocadas por uma sociedade que impõe “modelos”, dita regras, os modos de vida capitalista do mundo globalizado. Nas palavras de Carlini apud Robaina,

A sociedade é excludente e vivemos na época do consumismo. [...] O mercado de consumo faz parte da sociedade atual e precisa de consumidores. Quando temos uma grande disponibilidade de drogas e um vasto mercado de consumo, o número de dependentes aumenta muito, como mostram pesquisas recentes. (2010, p. 42)

A própria família é refém dessa sociedade, e, devido ao uso de substâncias psicoativas, pode ser considerada um dos fatores de risco que pode levar o adolescente ao uso de drogas. Em Sudbrack (2004, p. 34) apud Robaina (2010, p. 20), o envolvimento da família com o álcool ou outra sustância que possa causar dependência química; a falta de preocupação da família em relação ao consumo de álcool ou drogas pelo adolescente; a falta de expectativas familiares em relação aos adolescentes; a falta de limites e estímulo a conquistas importantes; a baixa expectativa em relação a conquista dos filhos; o conflito conjugal; o estímulo a uma reação competitiva entre irmãos, a falta de cuidados básicos com os filhos.

Entretanto, conforme essa mesma autora, existem também os fatores de proteção, famílias bem estruturadas com os laços afetivos edificados e sempre abertas à comunicação; famílias que estimulam, através da educação, as conquistas pessoais dos membros do grupo familiar; famílias que compartilham responsabilidades tornando as ideias claras dos filhos em relação aos pais, sempre abertas ao diálogo e à liberdade de expressão (ROBAINA, 2010, p. 21).

A família influencia diretamente nos impactos projetivos dos adolescentes. O ambiente social, econômico e cultural também influencia nas atitudes, nos valores e no modo de pensar a vida. De acordo com Bucher (1992, p. 69-70), “[...] além dos fatores sociais, e aqueles inerentes ao produto tóxico, cabe levar em conta a personalidade do usuário, suas vivências, conflitos e carências”. Num ambiente social conflituoso, o adolescente busca apoio no grupo de amigos que usa droga. Nesse grupo, existem normas de comportamento que são firmemente impostas pelo grupo ao adolescente. Logo, ocorrerão mudanças no modo de vestir, no corte do cabelo, enfim mudanças de atitudes,de hábitos.

De acordo com Freitas:

O grupo de adolescentes é um espaço de transição para o mundo adulto desejado e temido; contudo a experiência vivida nesse grupo, dependendo do contexto familiar do adolescente pode ser uma experiência extremamente produtiva ou geradora da indução ao caminho tortuoso do mundo da drogas. (2002, p. 44).

Conforme expressa Bouchard (1988) apud Silva, Silva e Medina (2005, p. 85), existem três modelos educativos predominantes no cuidado dos pais em relação aos filhos.

O primeiro, intitulado Modelo Racional, é aquele em que os pais mantêm o poder de decisão sobre as atividades e o futuro dos filhos. Esse modelo é regido pela disciplina, ordem, submissão e autoridade. As estratégias educativas nesse modelo são centradas na autoridade, os pais impõem as normas: ameaçam, criticam, controlam e proíbem. São questões orientadas mais para um conformismo social do que para a autonomia.

No Modelo Humanista, os pais se colocam como orientadores, cabendo aos filhos o poder e a decisão, numa política chamada por Bouchard (1988) de “autogestão do poder pela criança”. Nessa essa estratégia educativa estão os pais que permitem e estimulam a expressão das emoções pelos filhos, encorajando-os, motivando-os nos seus empreendimentos, valorizando sua capacidade e potencialidades e assim favorecendo a autonomia e autodeterminação.

O terceiro modelo, nomeado de Simbiossinérgico, caracteriza-se por uma “co-gestão” do poder, ou seja, pais e filhos compartilham atividades que pertencem a ambos. Simbio significa “associação durável e reciprocamente proveitosa entre dois ou mais seres vivos”, sinérgico “corresponde aos recursos das pessoas e a ação coordenada de muitos”. Entre as estratégias pensadas por Bouchard, estão respeitar deveres e direitos entre pai e filhos; partilhar responsabilidades cotidianas; desenvolver uma consciência social (além das paredes da casa); trocar, com os filhos, suas experiências, emoções e sentimentos; e explicar as consequências de determinadas ações, para que as crianças reconheçam seus erros.

Bouchard revela que, muitas vezes, as escolas tendem a reproduzir esses modelos na sua relação com os pais, por isso, seria importante que a escola repensasse o seu modo de agir, adotando não só um único modelo na relação com a família do aluno e com ele próprio, mas aproveitasse todos os aspectos positivos de cada um deles, de acordo com a realidade vivenciada pelos integrantes da comunidade.

No documento STELA MARIS FURTADO IECK (páginas 51-54)