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A Educação Rural de 1985 ao final dos anos 90: o processo de

1.1 OLHARES SOBRE A EDUCAÇÃO NO CAMPO

1.1.5 A Educação Rural de 1985 ao final dos anos 90: o processo de

Na segunda metade da década de 80, com estímulo do Ministério de Educação, as Secretarias de Educação de inúmeros estados brasileiros, em parceria com as Secretarias Municipais de Educação, iniciam um programa de reformulação do ensino rural, que se caracteriza pela formação de agrupamentos de escolas rurais, e, como conseqüência, pela eliminação das escolas isoladas e da multisseriação. Este processo conhecido como nucleação de escolas rurais tinha por objetivos centrais: a) melhorar o acesso e permanência do aluno na escola rural; b) melhorar as instalações e equipamentos à disposição da escola rural; c) melhorar o desempenho d@s professor@s, em função do alívio das tarefas não curriculares e do contato com outros docentes. Como conseqüência, as escolas pequenas são fechadas e @s alun@s transferid@s para uma nova escola agrupada ou também conhecida por escola “núcleo”. A escola “núcleo”, por dispor de várias salas de aula, atende as crianças por séries (agrupadas por idade), evitando a multisseriação. No entanto o agrupamento exige o transporte das crianças que perdem a sua escola de origem, o que leva “à criação de uma rede de comunicação entre as várias unidades educacionais da área, incluindo as da sede do município” (VASCONCELLOS, 1993, p. 71).

No início dos anos 1990 ocorre de forma mais intensiva a municipalização do ensino. Esta municipalização “se dá pela imposição da autoridade governamental, à revelia da sociedade” (GRITTI, 1999, p. 76). Em função do discurso de melhoria da qualidade do ensino, vemos na região do Alto Uruguai gaúcho as comunidades rurais distanciam-se ainda mais da escola, agora também fisicamente. O discurso oficial da municipalização acenava para a construção de uma escola maior, embora mais distante da comunidade, onde muitas comunidades poderiam convergir para, naquele espaço – então mais ampliado, mais equipado e muito mais qualificado do que a pequena escola de

cada comunidade, obter uma educação mais qualificada, que pudesse equiparar- se qualitativamente à educação dos alunos das grandes escolas (GRITTI, 1999).

A sede da “nova” escola, para a qual @s alun@s de várias comunidades rurais seriam transportad@s para estudar, normalmente era decidida pelas autoridades municipais. Servem de escolas-núcleo as escolas municipais ou estaduais de maior porte e que oferecem uma localização geográfica central, facilitando e viabilizando o transporte escolar com o menor custo possível. Quando não existia o espaço escolar que possibilitasse a nucleação, um novo prédio escolar era construído em local estratégico a fim de facilitar o acesso dos docentes (muitos destes residentes na zona urbana). Muitas prefeituras também trazem as crianças do meio rural para escolas nucleadas na zona urbana, num trajeto de horas de viagem, muitas vezes seguindo por estradas precárias, normalmente com a finalidade de reduzir os custos com a educação. Com este processo, um número bastante expressivo de escolas da rede estadual e um número ainda maior de escolas municipais foram extintas. Segundo Gritti (1999, p.77), “nesse contexto, não mais ocorre uma transposição da escola urbana para a rural, mas sim uma política que obriga @s alun@s do meio rural a deslocarem- se para os centros mais urbanizados, o que é uma forma, também, de expulsá-los da terra e da escola”.

Alguns estudos têm sido direcionados à resistência ao fechamento das escolas isoladas. Para Vasconcellos (1993), estas resistências se dão devido ao medo de que as pequenas comunidades fiquem completamente desprovidas de educação; a idéia de que as escolas unidocentes apresentam grande eficiência, em função da relação íntima que mantêm com a comunidade; que através de treinamentos específicos é possível melhorar a qualidade do ensino nas escolas unidocentes; pelo fato de as escolas pequenas desempenharem um importante papel no contexto local. Hoje são raras as pesquisas sobre os benefícios advindos do fim da multisseriação e da melhoria das condições de ensino e aprendizagem. Certamente o processo de nucleação é um processo que não está livre de conflitos e apresenta problemas que precisam ser discutidos. É importante considerar que, apesar dos programas municipais de nucleação das escolas rurais, a nível nacional permanecem em grande número as escolas isoladas no meio rural. Em algumas regiões, como é o caso da região Alto Uruguai gaúcho,

existe uma convivência entre escolas agrupadas e escolas isoladas, formando espécies de redes, onde as escolas trabalham de modo integrado em cada região.

Na década de 1990, a atual Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9.394/96) “promove a desvinculação da escola rural dos meios e da performance da escola urbana, exigindo para a primeira um planejamento interligado à vida rural e de certo modo desurbanizado” (LEITE, 1999, p. 54). Mas é importante tornar claro que a Lei 9.394/96 não explicita princípios e bases para uma política educacional no meio rural. Em termos institucionais a Lei prevê calendários escolares próprios, adequados às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas (Art. 23, Parágrafo 2º), sendo estes de responsabilidade dos municípios. Na prática concreta, essa flexibilidade inviabiliza-se “uma vez que já foi internalizada uma cultura de organização do ano letivo com a observância do período de férias que corresponde ao cotidiano da vida urbana. Também no artigo 28 prevê adaptações necessárias à adequação da escola às peculiaridades da vida rural e de cada região, através de “conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; II- organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas; III – adequação à natureza do trabalho na zona rural. ”

Em nenhum momento esta lei faz referência à formação de professor@s para atuação no meio rural, o que gera uma transposição do urbano para o rural. É o trabalho urbano, sob forma de emprego e cultura urbanos, que vai caracterizar a educação da população que reside no meio rural.

1.2 - A ESCOLA RURAL CONTINUA A SER UMA