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A Empresa Folha de S Paulo

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL (páginas 93-107)

2 CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO

2.3 A Empresa Folha de S Paulo

De acordo com Thompson (2009), a análise da ideologia, nas sociedades modernas, exige a contextualização da produção, transmissão e recepção das formas simbólicas, pois formas simbólicas não são ideológicas em si, mas podem estabelecer e sustentar relações de dominação em contextos sócio-históricos específicos. Além disso, a análise da ideologia deve centrar-se no impacto e na natureza da comunicação de massa23, mesmo não sendo o seu único local de

operação.

A centralidade atribuída aos meios de comunicação de massa, por Thompson (2009), refere-se à midiação da cultura moderna. Para o autor, esse é um processo em que a experiência cultural dos sujeitos é moldada pela transmissão de formas simbólicas, realizada pelos diferentes meios de comunicação de massa. Os meios técnicos de difusão das formas simbólicas, por exemplo, o jornal, participam da criação de relações sociais que se propagam no tempo e no espaço. Entende-se como comunicação de massa o conjunto de fenômenos e processos de produção e difusão institucionalizada das formas simbólicas, as quais são tratadas como produtos à venda, como serviço ou, ainda, como um meio que facilita a compra de outros produtos e serviços.

No processo analítico da ideologia, proposto por Thompson (2009), deve-se atentar para o conjunto de articulações institucionais de produção do meio técnico, bem como para as formas de codificação e decodificação da informação. Essas articulações institucionais se materializam em forma de regras, recursos e implicam na hierarquização de poder entre os indivíduos que ocupam as diferentes posições de uma instituição, bem como no controle sobre a transmissão cultural.

De acordo com Thompson (2009), esse aparato institucional interfere no uso das formas simbólicas como um recurso para o exercício do poder e para o alcance de interesses e objetivos particulares “(...) por exemplo, como a informação

23 O termo “massa”, conforme apontado por Thompson (2009), “(...) deriva do fato de que as mensagens transmitidas pelas indústrias da mídia são, geralmente, acessíveis a audiências relativamente amplas (...) [além de] que os produtos estão, em princípio, disponíveis a uma pluralidade de receptores” (THOMPSON, 2009, p. 287). Ainda, o autor faz uma ressalva ao uso desse termo, pois pode sugerir “(...) que as audiências são como amontoados inertes e indiferenciados. Tal percepção obscurece o fato de que as mensagens transmitidas pelas indústrias da mídia são recebidas por pessoas específicas, situadas em contextos sócio-históricos específicos” (THOMPSON, 2009, p. 287).

registrada a respeito de uma população pode ser usada pelos agentes do estado para regular e controlar a população” (THOMPSON, 2009, p. 224). O autor usa, ainda, a ilustração do controle do Estado sobre a liberdade de expressão, relatando o uso de mecanismos institucionais específicos para limitar o fluxo e o conteúdo das formas simbólicas.

Neste tópico, serão descritos os eixos de produção e transmissão que compõe o contexto sócio-histórico das peças jornalísticas sobre creche, captadas no jornal Folha de S. Paulo, a partir de aspectos referentes à empresa Folha de S. Paulo: sua história e seu projeto editorial. Além disso, serão apresentadas as críticas tecidas, por profissionais ligados ao jornalismo, a respeito da prática jornalística, no geral, e a respeito do jornalismo desenvolvido pela Folha de S. Paulo, em particular. Para finalizar o tópico será situada, brevemente, a forma com que a infância e a criança são tratadas nas peças jornalísticas produzidas e veiculadas por esse jornal.

2.3.1 História da empresa Folha de S. Paulo

Em comemoração aos aniversários de 80 e 90 anos do jornal Folha de S.

Paulo, foram publicados textos especiais, veiculados no site da própria empresa,

contando a trajetória do jornal desde sua fundação até os dias atuais, destacando aspectos que contribuíram para a sua consolidação como um dos jornais de maior tiragem no país (FOLHA, 2011). Foram utilizadas, aqui, para a produção de uma linha histórica do jornal, as informações contidas nessas publicações comemorativas.

A empresa Folha de S. Paulo surgiu em 1921 com a publicação do jornal

Folha da Noite, cujo público-alvo era os trabalhadores assalariados urbanos. Com

os lucros crescentes, em 1925 foi lançada a Folha da Manhã. As principais características dessas edições, conforme descrição do próprio jornal, eram a “linguagem simples”, um “estilo leve” e a concepção de que o jornal deveria manter- se “independente” de partidos políticos e com “flexibilidade” para diferentes opiniões quando necessário (FOLHA, 2011).

Nesse período, é apontada como missão da empresa a fiscalização do governo, tendo o jornal participado ativamente das campanhas de defesa do voto secreto, da construção de habitações operárias, direito às férias, regulamentação do

trabalho de menores em fábricas e da ampliação da rede escolar. Essa postura implicou na proibição da circulação da Folha da Manhã e da Folha da Noite no mês de dezembro de 1924, quando foi lançado o Folha da Tarde (FOLHA, 2011).

No ano de 1930, as instalações da empresa Folha de S. Paulo foram destruídas por populares, em função da posição assumida pelo jornal contra Getúlio Vargas. A circulação do jornal foi suspensa até janeiro de 1931, quando foi comprada pelo cafeicultor Octaviano Alves de Lima. O jornal foi denominado Folha

da Manhã e passou a enfatizar, nas notícias, a agricultura. Nesse período, foram

instaladas sucursais no interior do estado e a tiragem do jornal passou de 15 mil para 80 mil exemplares por dia (FOLHA, 2011).

Octaviano vendeu a empresa em 1945 a José Nabantino Ramos, Clóvis Queiroga e Alcides Meirelles. Nas palavras da própria empresa, os novos responsáveis pelo jornal tinham o intuito de defender a democracia e os interesses públicos de forma imparcial e apartidária (FOLHA, 2011).

A denominação Folha de S. Paulo foi atribuída à empresa no ano de 1960 quando as edições Folha da Tarde, Folha da Manhã, e Folha da Noite foram unificadas em um único jornal diário. Em 1962 a Folha de S. Paulo foi vendida a Octávio Frias de Oliveira e Carlos Caldeira Filho (FOLHA, 2011).

No ano de 1967, a Folha de S. Paulo iniciou a revolução tecnológica e a

modernização de seu parque gráfico, tornando-se pioneira na impressão offset, em

cores, com larga tiragem. Trinta anos depois, o jornal precisou ampliar sua atuação para além de sua versão impressa e de sua ênfase no campo da informação. A intenção da empresa, a partir de 1996, foi tornar-se um grupo de comunicação que também faz jornal. A reviravolta na trajetória da empresa foi possibilitada pela associação com uma das maiores gráficas norte-americanas – Quad/Graphics – união que redundou no nascimento da Plural, a qual imprimia em formato de revista. Foi criada, então, uma holding – Folhapar – que possibilitou a duplicação do faturamento (FOLHA, 2011).

Outra grande virada da empresa Folha de S. Paulo foi a criação do Universo

Online (UOL), cuja proposta era fornecer a informação e o acesso à internet de

forma conjunta. No ano 2000, 25% do faturamento do Grupo Folha era constituído pelo UOL, líder absoluto do mercado da internet e da informação online (FOLHA,

Ao longo da história do jornal houve inúmeras mudanças na diagramação, nos Cadernos e na diferenciação entre as versões impressa e on line. De acordo com

Moherdaui (1999) a versão on line diferenciava-se da versão impressa quanto ao

conteúdo das matérias publicadas, principalmente aquelas referentes à opinião. Uma razão para isso era que, na versão on line, estavam inclusos textos publicados tanto

na versão nacional como local, distribuída na cidade de São Paulo. No formato on

line a preferência era atribuída à publicação circulada na cidade de São Paulo,

normalmente a mais atualizada. De acordo com a autora, não existiam diferenças na linguagem utilizada, porém apenas 15% das imagens veiculadas no material impresso eram divulgados via web.

No dia 13 de setembro de 2009 o próprio jornal Folha de S. Paulo divulgou

uma nota com as alterações na apresentação do material on line. Esse passou a ter

diagramação e edição semelhantes à versão impressa, com imagens e conteúdo iguais.

O público leitor típico, da Folha de S. Paulo, em 2001, quando o jornal completava 80 anos de existência, tinha alto padrão de renda, faixa etária entre 30 e 49 anos, formação superior, era casado, com renda individual de até 15 salários mínimos e renda familiar acima de 30 salários mínimos, participante das classes A ou B, católico, era possuidor de televisão por assinatura e com acesso à internet.

O último levantamento realizado, no ano de 2011, identificou que o leitor do jornal é ultraqualificado, economicamente ativo, possui trabalhos mais longos e aproveita mais seus momentos de lazer. Totalizam dois milhões duzentos e quatro mil leitores, 73% pertencente à classe AB, 24% pertencente à classe C e 3% pertencente à classe DE; 55% do sexo masculino e 46% do sexo feminino; 45% entre 25 e 54 anos; 47% com remuneração acima de R$ 2999,00; 67% com imóvel próprio; 71% possuidores de automóvel e 17% com algum tipo de pós-graduação. Essa mesma pesquisa divulgou algumas preferências e crenças desses leitores: 93% afirmam que a educação é o melhor caminho para o futuro; 66% preferem produtos de empresas que apóiam projetos sociais e culturais e 71% afirmam que quase sempre compensa pagar mais caro por produtos de qualidade (FOLHA, 2011).

Para entender mais sobre a produção e transmissão das formas simbólicas veiculadas pelo jornal Folha de S. Paulo é importante, ainda, destacar as regras

que regem desde a elaboração da pauta até a edição final do jornal. Assim sendo, será apresentado, a seguir, o projeto editorial da Folha de S. Paulo, conforme

descrito no Manual de Redação elaborado pela própria empresa.

2.3.2 Projeto editorial da Folha

As mudanças tecnológicas e gráficas, visando ordenar procedimentos, bem como estabelecer prioridades editoriais, começaram a ser gestadas no ano de 1984 a partir da elaboração da primeira versão do projeto editorial da Folha de S. Paulo. A versão mais recente e atualizada desse projeto foi definida no ano de 1997, a qual compreende um conjunto de bases doutrinárias que sistematizou normas de escrita, conduta e implantou instrumentos de controle de produção. Ela preconiza que os jornais devem organizar a informação e torná-la compreensível a todas as pessoas, por meio de uma capacidade refinada de seleção, de didatização e de análise (FOLHA, 2011).

Em meio à balburdia informativa, a utilidade dos jornais crescerá se eles conseguirem não apenas organizar a informação inespecífica, aquela que interessa a toda pessoa alfabetizada, como também torná-la mais compreensível em seus nexos e articulações, exatamente para garantir seu trânsito em meio à heterogeneidade de um público fragmentário e dispersivo. (...) o jornalismo terá de fazer frente a uma exigência qualitativa muito superior à do passado, refinando sua capacidade de selecionar, didatizar e analisar (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p. 15).

A preocupação com a apresentação de forma didática implicou no aumento do número de cadernos especiais publicados pelo jornal e na reforma gráfica que tornou o jornal menos poluído e mais transitável. De acordo com a publicação

comemorativa de 80 anos do jornal Folha de S. Paulo, publicada na página on line

da empresa, outra preocupação arraigada às revoluções tecnológicas e editoriais vividas pelo jornal é a de tornar-se mais próximo do leitor (FOLHA, 2011).

Além das mudanças gráficas, como por exemplo, a organização do noticiário em cadernos temáticos, utilização de gráficos, quadros e mapas, o projeto folha estabeleceu como meta a seleção criteriosa dos fatos, com uma abordagem mais

articulada e aprofundada. A notícia veiculada pela Folha de S. Paulo passa a ser abertamente tratada como produto sujeito às leis de mercado e a preocupação maior passa a ser com as questões técnicas e com a publicação de diferentes versões, de maneira proporcional, sobre um mesmo fato (FOLHA, 2011).

É preciso maior originalidade na identificação dos temas a serem objeto de apuração, bem como uma focalização mais precisa de sua abordagem. Pesquisas de opinião possibilitam conhecer um pouco melhor as necessidades do público e aproximar da vivência concreta do leitor a pauta do jornal. (...). A transição de um texto estritamente informativo, tolhido por normas pouco flexíveis, para um outro padrão textual que admita um componente de análise e certa liberdade estilística é consequência da evolução que estamos procurando identificar. Trata-se, porém, de política a ser administrada com parcimônia e cautela, seja para que não se perca a base objetiva de informação, seja para que o leitor não fique à mercê dos caprichos da subjetividade de quem está ali para, antes de mais nada, informar com exatidão (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p. 15).

Outro ponto crucial do Projeto Folha, na sua aproximação com o leitor, foi a busca pela transparência externa e interna. No ano de 1989, o jornal Folha de S.

Paulo foi o primeiro jornal da América Latina a instituir a função ombudsman, cujo

principal objetivo era tecer críticas internas, diariamente, e distribuí-las aos jornalistas. Erros de conteúdo, informações incorretas, imprecisas e mal explicadas também ganharam atenção e espaço nas versões finais do jornal. Essa postura adquiriu formato mais consistente em 1996 com a criação de um projeto de qualidade, com o intuito de prevenir e combater erros, além de melhorar a qualidade do texto (FOLHA, 2011).

O jornal Folha de S. Paulo tem buscado maior qualificação de seus profissionais para dar um tratamento mais técnico à informação. Porém, ao mesmo tempo em que afirma esse interesse, o próprio jornal reconhece que a imprensa deve prestar-se ao serviço público de incomodar o governo, ou seja, de interpelar, criticar, duvidar do que está posto (FOLHA, 2011).

No Manual de Redação da Folha de S. Paulo está explicitado que a

seletividade e a hierarquia das pautas são recursos de extrema importância para a organização das notícias, criação de nexos, estabelecimentos de parâmetros sobre o que é relevante e necessário ao conhecimento do leitor. As prioridades são

atribuídas aos “fatos de incontestável interesse geral e as notícias de utilidade pública” (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p. 21). São eles: acontecimentos que podem mudar a estrutura política, econômica e cultural, que afetem a história de um povo ou da humanidade em geral, podem abranger aspectos relativos à saúde, educação, ciência, economia, entre outros.

Em segundo lugar encontram-se os temas de “comoção pública, a dinâmica das relações entre instituições e seus integrantes e as reportagens contendo análises originais” (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p.22). Nesses casos a emotividade e o sensacionalismo devem ser evitados, pressupondo, com isso, a busca pela objetividade jornalística e pelo distanciamento crítico. Para a empresa Folha de S.

Paulo, essas são estratégias para evitar constituir-se como um porta-voz dos

interesses políticos ou para evitar a sobrevalorização das notícias referentes à política institucionalizada (FOLHA DE S. PAULO, 2010). Essa postura, por sua vez, demonstra a permanência do desejo da empresa por um apartidarismo, pluralismo e por um jornalismo crítico. Tais princípios editoriais são definidos no Manual de Redação do jornal:

apartidarismo – Princípio editorial da Folha. O jornal não se atrela a grupo, tendência ideológica ou partido político, mas procura adotar posição clara em toda questão controversa. Mesmo quando defende tese, ideia ou atitude, a Folha não deixa de noticiar e publicar posições divergentes das suas (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p. 37).

pluralismo – Princípio editorial da Folha. Numa sociedade complexa, todo fato se presta a interpretações múltiplas, quando não antagônicas. O leitor da Folha deve ter assegurado seu direito de acesso a todas elas. Todas as tendências ideológicas expressivas da sociedade devem estar representadas no jornal (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p. 48). jornalismo crítico - Princípio editorial da Folha. O jornal não existe para adoçar a realidade, mas para mostrá-la de um ponto de vista crítico. Mesmo sem opinar, é sempre possível noticiar de forma crítica. Compare fatos, estabeleça analogias, identifique atitudes contraditórias e veicule diferentes versões sobre o mesmo acontecimento. A Folha pretende exercer um jornalismo crítico em relação a todos os partidos políticos, governos, grupos, tendências ideológicas e acontecimentos (FOLHA DE S. PAULO, 2010, p. 45).

Leandro Feitosa Andrade (2001) ressalta a dificuldade de garantir as propostas descritas nos verbetes anteriores, dentro da estrutura interna do jornal,

principalmente em função da diversidade de jornalistas e de leituras da realidade orientadas por recortes nem sempre explicitados.

A alteração mais recente do projeto editorial da Folha de S. Paulo ocorreu em 23 de maio de 2010, divulgada em um Caderno especial, na versão impressa do jornal, sob o título Novíssima. Na capa do Caderno é apontado que a reforma

editorial e gráfica adotada objetivava alcançar maior legibilidade e se tornar mais incisiva, por meio de um “noticiário mais sintético; mais análise e opinião. Novos cadernos, novas seções, novos colunistas e novos ilustradores. Jornalismo preciso e confiável 24 horas por dia” (NOVISSIMA, 2010, p. 1).

Além disso, o editor executivo do jornal Sérgio Dávila, na apresentação das reformas editoriais, aponta que o novo projeto “prioriza furos jornalísticos, ressalta contexto e interpretação (...)” (DÁVILA, 2010, p. 2). Ainda, Dávila (2010) aponta a

fusão entre as equipes jornalísticas do meio on line e impresso, destacando a não

alteração no compromisso diário do jornal em “buscar informação exclusiva, o furo de reportagem, o enfoque único, o olhar diferenciado” (DÁVILA, 2010, p. 2).

2.3.3 Críticas ao jornalismo da Folha de S. Paulo

Com o olhar voltado para a cobertura jornalística brasileira, de maneira geral, Abramo (2003) argumenta que a manipulação da informação é uma das características marcantes do jornalismo no Brasil. Para esse autor, o conteúdo veiculado no jornal possui apenas uma ligação indireta com a realidade. O autor define pelo menos quatro padrões de manipulação exercidos pela imprensa: ocultação; fragmentação; descontextualização; inversão e indução.

Para Abramo (2003), ocultação refere-se ao silêncio sobre determinados fatos da realidade, implícito no processo de seleção de fatos relevantes ou não para a cobertura jornalística; fragmentação refere-se à particularização de fatos em casos, muitas vezes desconectados entre si, implicando na ênfase a algumas particularidades ou até mesmo na descontextualização; entende-se por descontextualização o isolamento de um dado, de uma informação ou de uma declaração fazendo com que se perca o significado original e real do fato, mantendo- o em uma espécie de “limbo”; inversão refere-se ao reordenamento de partes fragmentadas da informação, troca de lugares e de importância dessas partes; a

indução corresponde à submissão da população à condição de excluída da possibilidade de visão e compreensão da realidade, fazendo com que o leitor seja induzido a ver o mundo da maneira como queiram que ele veja.

A partir dessas formas de veiculação da informação, Abramo (2003) questiona a visão do jornalismo brasileiro como a-partidário, pluralista e neutro. O autor argumenta que ao contrário disso, o órgão de comunicação tem a função de orientar o seu leitor na formação de opinião, na sua ação cotidiana, na sua tomada de posição (ABRAMO, 2003).

A produção e veiculação da informação devem ser claras, com indicações das diferenças presentes nos gêneros jornalísticos, das diferenças de conteúdo, fornecendo ao leitor subsídios para identificar quando estão sendo apresentadas opiniões sobre um fato ou quando está sendo descrito o fato em si (ABRAMO, 2003).

Contudo, as principais empresas de comunicação no país são, hoje, propriedades privadas. Assim sendo, o aspecto econômico passa a interferir na produção da informação por meio da preocupação com a venda do produto final. Centradas no aumento de seus lucros, essas empresas precisam agradar seus consumidores e seus anunciantes (ABRAMO, 2003).

Para Abramo (2003), essa preocupação no campo econômico é de pequeno impacto para as grandes empresas de comunicação, as quais estão focadas no controle político, fazendo com que elas procurem representar valores e interesses de um segmento específico da sociedade, sem se preocuparem com os interesses maiores da população, em geral.

De acordo com Nassif (2003), até a metade da década de 1980, o jornal

Folha de S. Paulo era um jornal secundário, caracterizado pela extensa presença

de colunistas, com textos e diagramação mais leves, por sua posição mais liberal, mais plural e pela sua forte penetração no interior do estado, em função do seu eficiente sistema de distribuição. Para Nassif (2003), o prestigio do jornal foi alcançado a partir da campanha das diretas já que marcou fortemente a imprensa brasileira.

Esse período de redemocratização do país pode ser distinguido pela disputa de interesses, abusos políticos e pelo desequilíbrio econômico, constatado principalmente pela superinflação. Nesse contexto, o desenvolvimento do projeto

editorial do jornal Folha de S. Paulo visou colocar o jornalismo brasileiro no campo do marketing da notícia sob a idéia de defesa dos interesses difusos dos cidadãos (NASSIF, 2003).

Para Arbex Jr (2001), esse modelo proposto no projeto editorial buscou igualar

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