3 ANÁLISE FORMAL
3.1 Procedimentos
Da mesma maneira que Feitosa Andrade (2001) procedeu em sua tese, nesta dissertação os procedimentos para análise das peças jornalísticas ocorreram “em cascata”, ou seja, delimitamos o universo (constituído por 343 peças jornalísticas) ao qual foi aplicada uma grade “genérica” de análise de conteúdo contendo dez categorias (quadro 7) que visam a descrever de modo geral as peças jornalísticas. Desse universo foi extraído um corpus, com 163 peças jornalísticas, as quais faziam
menção direta à creche e publicadas entre 1994 e 2009. Deste corpus extraímos
uma amostra de 50% das peças jornalísticas publicadas em cada ano, o que redundou em uma amostra contendo 86 peças jornalísticas. À amostra de 86 peças jornalísticas foi aplicada uma grade de análise contendo 35 categorias (quadro 7).
Além disso, após o exame de qualificação, e por sugestão da banca, foi realizada uma busca intencional associando ao termo creche os principais marcos legais da EI (“creche LDB”; “creche ECA”; “creche diretrizes curriculares para a educação infantil”; “creche FUNDEB”; “creche parâmetros de qualidade da educação infantil”; “creche PNE”, “creche PROINFANTIL”; “creche EC59/09”), por meio da qual compusemos um novo corpus contendo mais nove peças jornalísticas24.
Tais procedimentos permitiram elaborar uma descrição ampla do corpus e mais
detalhada da amostra, cujos resultados, além disso, foram acompanhados de exemplos ilustrativos retirados das peças jornalísticas.
24 Essas peças jornalísticas não integraram as tabelas, mas foram usadas no tópico 3.2.3 referente à legislação.
Quadro 7 - Descrição dos procedimentos para constituição do universo, corpus e da amostra,
número de peças jornalísticas resultantes e categorias de análise de conteúdo aplicadas nas peças jornalísticas.
3.1.1 Constituição do corpus e da amostra
Thompson (2009) sustenta que as formas simbólicas são construções com uma estrutura interna articulada, ou seja, são construídas a partir de regras, recursos e apresentam determinados padrões e relações. A análise formal ou discursiva, apresentada pelo autor como a segunda etapa da HP, está interessada na descrição dessas características que estruturam as formas simbólicas. Para esse processo descritivo, Thompson (2009) destaca que podem ser utilizados diferentes procedimentos, os quais são selecionados a partir do objeto de pesquisa e das particularidades das formas simbólicas. Ou seja, procedimentos para analisar filmes, em princípio, não são idênticos aos utilizados para analisar artigos acadêmicos.
Nesta dissertação, os procedimentos para constituição da amostra e para descrição das peças jornalísticas, foram pautados na análise de conteúdo (AC), conforme proposta por Bardin (1977) e Rosemberg (1981).
Procedimento Número de
peças Categorias de análise de conteúdo
Adotando o descritor “creche” sem qualificativo e sem o limite temporal foram
localizadas 1019 −
Adotando os descritores “creche infância”, 222
“creche criança”, 540
considerando o período de 1994 a 13/09/2009, foram localizadas ao total 762
Eliminando peças que não se referiam a creche enquanto instituição restaram 493 −
Eliminando matérias repetidas conforme os descritores “infância criança”, foi
constituído o universo contendo 343
• Título; abertura; sobretítulo; autor;
origem jornalística; caderno; dia da semana; data; cidade; menção à creche. Eliminando matérias que tratavam apenas indiretamente do tema creche (180)
formou-se o corpus 163 • As mesmas do universo.
Constituição de amostra composta por 50% de matérias publicadas em cada ano
e que tratam diretamente da instituição creche 86
• Todas do universo e corpus e mais:
número da UI; tema; localização geográfica; gênero jornalístico; foco/contexto; creche no título; adoção; sexo do autor; quadro institucional do autor; conceituação de creche explícita; conceituação de creche implícita; situação administrativa; tratamento negativo da creche; tratamento positivo da creche; legislação; função; contexto; aspectos positivos e negativos; sugestão; hierarquia; idade da criança; local da creche; acesso; identificação; idade; sexo da criança; raça; família; empregada; profissional da creche; profissionais outros; político; instituição; estatística.
Busca Intencional Mais 9 • As mesmas categorias da amostra.
De acordo com Bardin (1977), a AC está organizada em três etapas cronológicas. A primeira, denominada pré-análise, tem o intuito de selecionar o material a ser analisado, além de tornar operacional e sistemático o objeto proposto, pela pesquisa. Para isso, primeiro o pesquisador deve fazer um levantamento do material que deseja analisar, constituindo o seu universo. Por meio da leitura do material que compõe o universo, bem como “iluminado” pelo objeto de estudo, o pesquisador pode definir o seu corpus de análise, seguindo regras claras, explícitas
e que possibilitem um recorte representativo de todo o material levantado. Nesta pesquisa, como afirmamos, do corpus foi retirada uma amostra.
Nesta pesquisa, foi realizado um primeiro levantamento de peças jornalísticas no jornal Folha de S. Paulo on line por meio do descritor “creche”, que permitiu
localizar 1019 peças jornalísticas. Foi observado que nem todas as peças jornalísticas se referiam à creche no contexto da EI. Assim, com o intuito de filtrar os resultados de forma mais precisa, foram introduzidos, em uma segunda etapa, dois qualificadores para o termo creche: infância e criança.
Com o descritor “creche infância” foram localizados 222 textos e com o descritor “creche criança” 540 textos, totalizando 762 peças. Uma terceira etapa foi realizada a partir da leitura do título e do resumo das peças jornalísticas. Verificou-se que certas peças jornalísticas não tratavam da creche como instituição do contexto da EI. Muitos resultados referiam-se a programas televisivos e a filmes que estavam em cartaz, na época. Aquelas que compunham esse cenário foram excluídas. Após essa etapa, organizamos um conjunto de peças jornalísticas formado por 493 unidades identificadas pelos descritores “creche infância” (132) e “creche criança” (361), publicadas pelo jornal Folha S. Paulo on line.
A quarta etapa para a delimitação do corpus foi a eliminação das peças
jornalísticas que apareceram repetidas nas listas organizadas a partir dos dois descritores. Nesse momento, 107 peças jornalísticas foram descartadas.
Decidimos, em seguida, introduzir algumas especificações quanto ao limite
temporal. Delimitamos o ano 1994, início da difusão do jornal Folha de S. Paulo on
line, como o limite inferior. Por outro lado, para estabelecer o limite superior,
inspiramo-nos na dissertação de Bizzo (2008), que também realizou o seu levantamento de peças jornalísticas na versão on line do jornal Folha de S. Paulo. A
conteúdo, de acordo com a versão de publicação impressa ou on line. No dia 13 de
setembro de 2009, o próprio jornal Folha de S. Paulo publicou um texto afirmando modificações na forma de apresentação da versão on line, a qual passaria a ser
semelhante e correspondente à versão impressa. Dessa maneira, estabeleceu-se
esse dia (13/09/2009) como limite superior para a constituição do corpus desta
dissertação.
Definiu-se, então, um universo composto por 343 peças jornalísticas
publicadas no jornal Folha de S. Paulo on line, no período 1994 a 13 de setembro
de 2009, que continham os termos “creche criança” ou “creche infância”. As peças jornalísticas do universo foram catalogadas em uma planilha do Excel nas seguintes categorias: título; abertura; sobretítulo; autor; origem jornalística; caderno; dia da semana; data; cidade e forma de menção à creche (direta ou indireta). Essas categorias foram delineadas a partir das definições apresentadas no Manual de Redação da Folha de S. Paulo e inspiradas pelas pesquisas de colegas do NEGRI.
Do total de 343 peças jornalísticas, foram localizadas 163 unidades que fazem menção direta à creche (tabela 6), e que passaram a constituir o corpus. Portanto, o corpus desta pesquisa foi formado apenas por peças jornalísticas que tratassem
diretamente da instituição creche, descartando-se, então, aquelas que apenas mencionaram-na.
Do mesmo modo que os (as) demais colegas do NEGRI que analisaram a mídia diária, adotamos a expressão “unidade de informação” (UI) para indicar a
(...) célula básica da peça jornalística, que compreende (...) o contexto de produção da matéria (autor, data, dia da semana), a peça jornalística propriamente dita (artigo, gráfico, mapa, etc.), às vezes com imagens associadas apropriada por imagens (fotos, selos, desenhos) (ANDRADE, L., 2001, p. 111).
Tabela 6 – Distribuição de frequência de UIs, do universo, publicadas pela Folha de S. Paulo on line, por tipo de menção à creche, segundo os descritores.
"creche infância" "creche criança" Total
Direta 44 119 163
Indireta 60 120 180
Total 104 239 343
Tipo de menção à creche
Com autorização da banca de qualificação, foi selecionada uma amostra de
aproximadamente 50% das peças jornalísticas que compunham o corpus da
pesquisa. Para nos assegurarmos da representatividade da amostra, o material foi submetido a uma pré-análise antes do exame de qualificação, quando a banca examinadora validou o recorte. A seleção da amostra foi realizada de maneira aleatória e por ano, totalizando 86 unidades de informação (tabela 7).
Tabela 7 – Distribuição de frequência de UIs que compõem o corpus e a amostra, por ano.
3.1.2 Procedimentos para análise das UIs
A partir da leitura “flutuante” (BARDIN, 1977, p.96) das peças jornalísticas do
corpus, foram delineados manuais de análise (quadro 8), visando à descrição
sistemática dos textos.
Descrever minuciosamente os procedimentos é de extrema relevância, pois as especificações dos passos tomados, pelo (a) pesquisador (a), na construção de suas interpretações, irão permitir a dialogicidade com o leitor, considerando-o um
Ano Corpus Amostra
1994 3 2 1995 4 2 1996 8 4 1997 11 6 1998 19 10 1999 21 11 2000 22 11 2001 13 7 2002 10 5 2003 9 5 2004 6 3 2005 5 3 2006 1 1 2007 11 6 2008 8 4 2009 12 6 Total 163 86
sujeito ativo na sua leitura, capaz de construir, também, interpretações próprias a partir das formas simbólicas. Nosso propósito, nesta pesquisa, é construir um conjunto de descrições e, em seguida, interpretações possíveis e passíveis de justificação teórica e metodológica (para versão detalhada dos manuais, ver apêndice 1).
Quadro 8 - Síntese dos manuais e suas categorias de análise.
Manual Nº de categorias Categorias de análise
Abertura Caderno Cidade Creche no título Data de publicação Dia da semana Foco/contexto Gênero jornalístico Localização geográfica Menção à creche Número da UI Sobretítulo Tema Título Nome do autor Origem jornalística Quadro institucional Sexo do autor Acesso Conceituação explícita Conceituação implícita Contexto socioeconômico Função da creche Hierarquia Idade da criança Legislação Localização da creche Pontos positivos e negativos Situação administrativa Sugestões
Tratamento negativo da creche Tratamento positivo da creche Cor/raça Idade Identificação da criança Sexo Empregada Estatística Família Instituições Políticos Profissionais da creche Profissionais outros
5. Coadjuvantes na peça jornalística 7
2. Autoria da peça jornalística 4
3. Creche na peça jornalística 14
1. Informações catalográficas 14
As peças jornalísticas foram descritas a partir dessas categorias, o que gerou 78 tabelas as quais foram descritas, inicialmente, de modo indutivo. Em seguida, efetuamos um reagrupamento das categorias a partir de uma reflexão sobre os dados obtidos, processando-se, então a descrição dos resultados de modo dedutivo em torno de eixos de sentido. Várias tabelas estão apresentadas no corpo do texto. Outras, porém, foram transcritas nos apêndices E e F.