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3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 APRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA ESCOLHIDA E JUSTIFICATIVA

3.1.2 A Entrevista

A entrevista é a base sobre a qual repousam os outros elementos, pois é a fase de coleta dos dados (GOODE ; HATT, 1979). As entrevistas em abordagens qualitativas utilizam roteiros que assumem o lugar dos questionários totalmente estruturados utilizados em abordagens quantitativas. Bauer e Gaskell (2003), defendem que o roteiro deve funcionar como uma pauta, uma agenda a ser seguida, cobrindo os temas e tópicos centrais da pesquisa, sendo as perguntas um convite, um estímulo ao entrevistado para falar longamente com suas próprias palavras e para refletir o quanto for necessário. Eles apontam ainda que o guia também serve como um meio para monitorar a entrevista enquanto esta é realizada, porém, deve ser flexível o suficiente para incluir ou excluir itens em função do resultado de entrevistas anteriores, ou seja, não é um instrumento estático.

Como o roteiro visa guiar a entrevista realizada em campo, Flick (2004) ressalta que o pesquisador deve refletir bem sobre a questão de pesquisa e se assegurar de que as questões

sejam bem claras, sólidas e possíveis de serem respondidas dentro dos recursos limitados (tempo, prazo, dinheiro, etc.), sob pena de dificultar a interpretação dos dados coletados.

Porém, Apesar de o tempo poder ser um recurso limitado, nesse tipo de entrevista é importante que o entrevistado reflita sobre as perguntas, é importante dar-lhe o tempo necessário para tal, portanto, pausas não devem ser logo preenchidas com outras perguntas sob pena de perder uma revelação que poderia ser de grande relevância (BAUER ; GASKELL, 2003).

Goode e Hatt (1979) ressaltam também a importância do entrevistador assegurar-se, a cada resposta recebida, que a compreendeu e que esta é realmente uma resposta à questão, exigindo frequentemente uma verificação mais profunda do significado das respostas fornecidas. Eles também explicam, que quando o informante responde “não sei” pode ser por incapacidade de pensar rapidamente, por medo de tentar responder ou ainda por não ter compreendido a pergunta. Para lidar com tais situações, ele sugere reconstituir a situação abordada na pergunta, levando o informante indiretamente a reviver experiências prévias, utilizando a técnica de estimular a recordação de fatos bem estáveis, que em geral, são recordados com facilidade, tais como: onde morava na época, que ocupação tinha e assim por diante.

Nesses tipos de entrevistas, é recomendado que estas sejam gravadas para que a atenção do entrevistador possa estar focada no que está sendo dito e não nas anotações a serem feitas (BAUER ; GASKELL, 2003). Porém, deve ser comunicado e solicitado aos entrevistados seu consentimento para a gravação.

Um tipo de entrevista utilizado é a entrevista em profundidade que, segundo Selltiz et al. (1974), costuma ser usada para um estudo mais intensivo de percepções, atitudes, motivações,

pois quando utilizadas adequadamente, possibilitam a revelação de aspectos carregados de valor, permitindo que a definição da situação de entrevista se exprima de maneira completa e minuciosa, além de despertar o contexto social e pessoal de crenças e sentimentos. Esse tipo de entrevista atinge seu objetivo na medida em que as respostas da pessoa são espontâneas. Além disso, se o entrevistador crê que as respostas não estão revelando tudo que tem a ser revelado, ele deve continuar a sondar mais profundamente e cuidadosamente (GOODE ; HATT, 1979 ; BAUER ; GASKELL, 2003).

Segundo Selttiz et al. (1974), a entrevista em profundidade tem a característica de ser focalizada, direcionando sua atenção em determinada experiência e seus efeitos, cujos aspectos ou tópicos a serem abordados são conhecidos previamente pelo pesquisador com base na sua análise da teoria e na formulação do problema de pesquisa. Estes pesquisadores ressaltam ainda que, embora o entrevistado tenha a liberdade para exprimir seu pensamento, é papel do entrevistador orientar a entrevista para que o foco não seja perdido.

A entrevista em profundidade é um processo social em si mesmo, em que várias percepções e realidades são exploradas e construídas (BAUER ; GASKELL, 2003) e é importante

considerar ainda o elemento intuição, de forma a saber reconhecer indícios sublimiares sendo, portanto, exigido um alto nível de competência do entrevistador (GOODE ; HATT, 1979). Além disso, a liberdade do entrevistador pode ser uma desvantagem também, a medida que sua flexibilidade pode resultar em falta de comparabilidade de uma entrevista com outra, tornando a análise dos resultados mais difícil e demorada. (SELTTIZ et al., 1974).

Além das orientações que a literatura fornece para a condução de entrevistas, Gruca (1992) alerta que, ao realizar pesquisas com pessoas mais idosas, deve-se atentar ainda para

características específicas desses consumidores que afetam diretamente a pesquisa. Essas principais características estão resumidas no quadro 2.

Q UAD R O 2- F A T O R E S R E L E VA NT E S AO P E S Q UIS A R C O NS UMID O R E S ID O S O S A lteraç ões s ens oria is (mudanças na vis ão e na a udição ) e de proces s amento de informaçã o.

Maior propens ão em compartilha r s ua s opiniões e experiência s com entrevis tadores do que c ons umidores ma is jovens .

C oleta de da dos requer ma ior intera ção s ocia l e, portanto, entrevis tas pes s oa is s ão a s mais indic ada s para cons umidores idos os por s erem menos es tres s antes para os res pondentes .

Nec es s idade de mais repetições e es c larecimentos s obre as ins truções a s s im como um maior período de ambientaç ão.

A lguns tipos de perguntas podem s er cons idera da s com maior fa cilidade como delicadas , intrometidas ou a té amea çadoras .

Fonte: Elaborado pela autora a partir de GRUCA, T.S.; SCHEWE, C. D. Researching Older Consumers. Marketing Research. Set. 1992.

Com base nas considerações e orientações identificadas nesta revisão teórica sobre a pesquisa exploratória, a abordagem qualitativa e a entrevista em profundidade, será explicitado a seguir o procedimento de campo a ser conduzido nesta dissertação.

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