• Nenhum resultado encontrado

Parte II Estudo Empírico

2. Contexto do estudo

2.4 Instrumentos de recolha de dados

2.4.2 A entrevista

A entrevista, enquanto processo de recolha de dados em investigação, ocupa um papel destacado entre os outros métodos, principalmente, em relação ao inquérito. Apresentando uma estrutura flexível em forma de conversa, o investigador estabelece uma relação próxima com o entrevistado com o objetivo de obter insights importantes sobre assuntos ou ações comportamentais. Usufruindo de uma amplitude de temas, o investigador conduz a entrevista de forma a proporcionar uma série de tópicos que podem ser tanto informações esperadas e previstas por um guião, como informações para sustentar evidências.185

A flexibilidade desta estratégia está na possibilidade que o investigador tem no contacto direto com o entrevistado, podendo observar atitudes, comportamentos, insinuações e pormenores que de outra forma não seriam visíveis:

Enquanto que o questionário escrito oferece vantagens quando se trata da obtenção de dados concretos em grandes amostras, a entrevista procura estudar variáveis complexas e mais ou menos subjetivas em amostras mais reduzidas, estabelecendo uma relação pessoal entre o

183 Sousa, op. cit.. 184 Ibidem, p. 211.

entrevistador e o entrevistado, que leva este a um maior envolvimento na conversa e na elaboração das respostas.186

Pela proximidade que a entrevista proporciona ao investigador na perspetiva de que, para além das verbalizações, se cria um ambiente que pode ser repleto de subjetividade e empatia importantes, Bogdan e Biklen (1994) consideram a entrevista em investigação qualitativa como uma estratégia predominante que pode, contudo, ser utilizada ao mesmo tempo que a observação participante, a análise de documentos e outras técnicas, sendo que:

Em todas as situações, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo.187

Os autores referem, ainda, a importância dos sujeitos se sentirem à vontade para que possam livremente falar sobre os seus pontos de vista:

As boas entrevistas produzem uma riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspetivas dos respondentes. As transcrições estão repletas de detalhes e de exemplos. Um bom entrevistador comunica ao sujeito o seu interesse pessoal, estando atento, acenando com a cabeça e utilizando expressões faciais apropriadas.188

Sousa (2009) enuncia seis tipos de objetivos gerais da entrevista segundo Selltiz (1965):

1. Averiguação dos “factos”: o que realmente acontece no contexto do assunto em estudo;

2. Averiguação de “opiniões”: qual a opinião pessoal do entrevistado?;

3. Averiguação dos “sentimentos”: como se sente o entrevistado perante os factos?; 4. Averiguação de “atitudes”: qual a atitude do entrevistado em relação aos factos?; 5. Averiguação de “decisões”: que decisões toma o entrevistado face aos factos? 6. Averiguação de “motivações”: que factores levaram o entrevistado a tomar

determinadas ações e porquê?

186 Ibidem, p. 247.

187 Bogdan e Biklen, 1994, p. 134. 188 Ibidem, p. 136.

Vantagens Desvantagens

1. Relação próxima com o entrevistado;

2. Pode ser usada com crianças pequenas;

3. Flexibilidade de adaptação tanto aos sujeitos como às questões e situações;

4. O entrevistador pode clarificar as questões;

5. O entrevistador pode observar na primeira pessoa nuances e insinuações e melhor avaliar atitudes e opiniões do entrevistado; 6. Uniformização dos dados.

7. O entrevistado está mais limitado: não tem tempo para pensar ou voltar atrás como no questionário;

8. O modo como o entrevistador conduz a conversa pode levar a distorções ou influenciar as respostas;

9. Menor veracidade nas respostas devido à falta de anonimato.

Quadro 8 - Vantagens e desvantagens da entrevista.

Máximo-Esteves (2008) menciona a entrevista informal ou entrevista em profundidade segundo Jorgensen (1989); conversacional segundo Woods (1987); não estruturada segundo Fontana e Grey (1998) e etnográfica segundo Spradley (1979), caracterizando-a por: a) ter um propósito evidente; b) poder ser conduzida e orientada fornecendo informações aos entrevistados e c) ser composta por questões abertas que proporcionem a avaliação de descrições de ações e ideias.

Este método de entrevista, assemelhando-se a uma conversa do quotidiano com a intencionalidade de através dela recolher informações que complementem os dados recolhidos através da observação, é pouco estruturada e as perguntas não obrigam a um tipo de resposta única.

A entrevista em profundidade procura detalhes, pormenores de descrições ricos, orientando o entrevistado através de perguntas abertas dando-lhe total liberdade para expressar opiniões e sentimentos.189

Segundo a metodologia construtivista:

o significado do mundo é construído por quem nele vive, por isso, realçam-se aspetos como as experiências e vivências pessoais, assim como o significado que as pessoas atribuem ao seu próprio mundo. Daí que o propósito dos estudos construtivistas esteja centrado nas interpretações que os atores sociais atribuem às suas ações e contextos. Para tal, o investigador procura penetrar no mundo subjetivo da experiência, pesquisando como é que os narradores

experimentam, interpretam e reinterpretam os significados subjetivos dos contextos culturais em que vivem.190

A entrevista semiestruturada, em contrapartida, é um género de entrevista mais controlada seguindo um guião onde o investigador predefiniu e estruturou temas a serem abordados. Neste género de entrevista as perguntas são amplas e esperam-se respostas longas em que o conteúdo das respostas se torna “em matéria de indagação do significado que o respondente lhe atribui. Esta estratégia permite uma primeira codificação dos significados da narrativa através de um processo dialogado”.191

No presente estudo recorremos principalmente ao uso da entrevista informal como método de suporte para a recolha de informação. No contexto da nossa investigação, no contexto do Caso II em particular, as condições nunca foram propícias a entrevistas semiestruturadas e as oportunidades para recolher informação surgiram sempre através de conversas espontâneas próprias do ambiente de trabalho com os sujeitos envolvidos. As entrevistas realizadas tiveram o propósito de fortalecer o processo de observação participativa que ocupou um lugar de destaque na investigação. Como refere Yin, quanto mais sólida for a mistura de métodos e a sua integração em todas as fases do projeto, melhores serão os benefícios da mistura de métodos.192

Sentimos, contudo, a necessidade de elaborar um guião de entrevista semiestruturada para ser aplicado na recolha de dados do Caso I que nos auxiliasse a manter presente os principais objetivos. Os tópicos do guião da entrevista semiestruturada são muito semelhantes ao guião para a construção do inquérito aplicado no Caso II, sendo que a grande diferença se prende com o facto de, no Caso I, termos procurado recolher informação mais sólida quanto à interpretação que os membros da organização START fazem dos resultados da sua intervenção. Procurámos explorar a fundo de que forma a START regista e avalia a efetividade da prática desenvolvida.

190 Máximo-Esteves, 2008, p. 94. 191 Ibidem, p. 97.

Tema Objetivo

Caracterização dos voluntários

Identificar:

• o tipo de pessoa que trabalha como voluntário com a START.

Formação

Conhecer:

• o tipo de formação dos voluntários;

• a importância da formação para o desenvolvimento do trabalho dos voluntários.

Atividades de expressão artística

Identificar:

• o tipo de atividades desenvolvidas;

• quais as atividades mais bem recebidas pelas crianças; • a influência das atividades de arte no comportamento das

crianças.

Avaliação da prática

Identificar:

• o tipo de ferramentas utilizadas para registar os efeitos/ contribuição dos workshops no comportamento das crianças; • que avaliação é feita às práticas, com que regularidade e por

quem;

• quais as maiores evidências de sinais positivos resultantes da ação da START.