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Parte II Estudo Empírico

2. Contexto do estudo

2.4 Instrumentos de recolha de dados

2.4.1 Inquérito por questionário

O recurso ao inquérito por questionário, enquanto estratégia metodológica, tem em si associadas várias vantagens em que o objetivo é a análise de respostas dadas a perguntas sobre um determinado assunto para a partir da sua interpretação criar uma generalização. Através do inquérito pretende-se recolher opiniões subjetivas e, por isso, difíceis de formular operacionalmente.173

Segundo Hoz (1985) um questionário é:

um instrumento para a recolha de dados constituído por um conjunto mais ou menos amplo de perguntas e questões que se consideram relevantes de acordo com as características e dimensão do que se deseja observar. 174

173 Ghiglione e Matalon, “O Inquérito: Teoria e Prática”, Celta Editora, Oeiras, 2001; Sousa, 2009.

174 Hoz, “Investigacion Educativa: Dicionário Ciências da Educação”, Ediciones Anaya S.A., Madrid, 1985,

Partindo de um problema, o inquérito por questionário apresenta-se como uma ferramenta autónoma em que todas as questões são colocadas da mesma forma a todos os sujeitos de modo a assegurar a comparabilidade entre as respostas.

De entre as vantagens do recurso ao inquérito por questionário enunciadas por Sousa (2009) identificamos as que mais se aplicam ao nosso estudo em particular:

• Poder ser aplicado a um número grande de indivíduos, mesmo quando dispersos por uma área geográfica extensa;

• Garantia de anonimato dos inquiridos proporcionando maior veracidade nas respostas;

• Os inquiridos respondem quando lhes é mais conveniente;

• Recolhem-se respostas com opiniões e pensamentos que de outro modo seriam inacessíveis.175

Por outro lado, o questionário apresenta também desvantagens que o investigador não consegue controlar, como:

• Não saber o que o inquirido estava a pensar no momento e que poderia contribuir para a avaliação das respostas;

• Nem todas as perguntas serem respondidas;

• Não ter a garantia de que todos os inquiridos devolvem o questionário;

• Fragilidade da objetividade das respostas já que a mesma pergunta pode ser interpretada de várias formas consoante os sujeitos.

Segundo o autor, deve ter-se em linha de conta a análise de três pontos importantes antes de criar um questionário:

• O exato objetivo do questionário; • A população que se pretende estudar; • Os recursos de que se dispõe.176

Construímos um inquérito por questionário dirigido aos voluntários do CAM assegurando os três pontos anteriores na nossa planificação e desenvolvendo um guião para a elaboração das perguntas apresentado no Quadro 6.

175 Sousa, 2009, p. 206. 176 Ibidem, p. 204.

Sousa (2009) sublinha a importância de definir o objetivo do questionário de forma curta, clara e completa, considerando a operacionalidade em que “um objetivo operacional especifica algo que é possível de ser analisado concretamente, através de uma pergunta”. Considerámos as particularidades dos sujeitos na organização e redação do inquérito de modo a ir ao encontro das suas capacidades e interesses:

A redação das perguntas deverá ser efetuada de modo a tornar-se o mais compreensível possível para as pessoas que irão ler, procurando utilizar-se linguagem comum do meio em que vivem.177

Por fim, em relação aos recursos, tentámos controlar da melhor forma a distância geográfica dos inquiridos fazendo uso das novas tecnologias e evitando que tal factor condicionasse a nossa investigação.

• Objetivo do questionário:

Compreender o impacto das atividades de arte realizadas com as crianças em TLC e CFS através das perspetivas dos voluntários envolvidos. Conhecer o nível de preparação para facilitar as oficinas no contexto do desastre natural. Caracterizar os voluntários em termos de sexo, idade, formação académica.

• População em estudo:

Voluntários do CAM facilitadores das atividades de arte, nepaleses, tendo o inglês como segunda língua. Tivemos presente que o inglês não é a língua materna nem dos inquiridos, nem nossa.

• Recursos:

Utilizámos uma plataforma online gratuita para a criação do questionário. Foi enviado o link178 do sítio do questionário na internet através de correio eletrónico ou de

mensagem no Facebook a todos os 76 voluntários do CAM. A plataforma possibilita que o questionário seja preenchido e submetido pela internet. As respostas são recebidas e organizadas numa base de dados da própria plataforma facilitando a sua análise.

Estruturámos o questionário maioritariamente à volta de questões fechadas e a plataforma para a construção online possibilitou a opção de selecionar quais as perguntas que deveriam ser obrigatórias, ficando estas devidamente assinaladas com um asterisco e

177 Ibidem, p. 205.

178 O questionário foi elaborado recorrendo ao uso do JotForm em: www.jotform.com. O formulário pode ser

impossibilitando que o inquérito pudesse ser submetido enquanto não fossem respondidas. Controlámos desta forma, uma das desvantagens referidas por Sousa (2009) de os sujeitos não responderem a todas as perguntas devolvendo o inquérito incompleto.

Na elaboração das perguntas fechadas, segundo Ghiglione e Matalon (1993), pedimos aos inquiridos para:

• selecionar várias respostas de entre um conjunto de respostas possíveis; • selecionar a resposta mais adequada (dicotómica, escolha múltipla e escala).179

Optámos por usar:

• Escala psicométrica de Likert com cinco graus de resposta para averiguar os níveis de concordância com as perguntas efetuadas;

• Respostas de espaço em branco com limite de amplitude de resposta; • Respostas abertas com liberdade de redação.

Incluímos perguntas abertas no final de algumas secções e para terminar o questionário. Cohen, Manion e Morrisson (2011) referem que as perguntas abertas podem enriquecer os dados recolhidos já que:

a pergunta aberta é um dispositivo muito atraente para investigação à escala menor ou para aquelas secções de um questionário que convidam a um comentário pessoal honesto dos entrevistados, além de assinalar números e caixas. O questionário simplesmente coloca as perguntas abertas e deixa um espaço (ou desenha linhas) para uma resposta livre. São as respostas abertas que podem conter as “preciosidades” de informação que de outra forma podem não ser capturadas no questionário. Para além disso, colocam a responsabilidade e propriedade dos dados mais assumidamente do lado dos inquiridos. ( … ) uma pergunta aberta pode captar a autenticidade, riqueza, profundidade de resposta, honestidade e sinceridade que (…) caracterizam os dados qualitativos.180

179 Giglione e Matalon, 1993, p. 127.

180 Tradução livre da autora: “The open-ended question is a very attractive device for smaller scale

research or for those sections of a questionnaire that invite an honest, personal comment from respondents in addition to ticking numbers and boxes. The questionnaire simply puts the open ended- questions and leaves a space (or draws lines) for a free response. It is the open ended responses that might contain the "gems" of information that otherwise might not be caught in the questionnaire. Further, it puts the responsibility for and ownership of the data much more firmly into respondents' hands. (...) an open ended question can catch the authenticity, richness, depth of response, honesty and candour which (...) are the hallmarks of qualitative data.” Cohen, Manion e Morrisson, 2011, p. 393.

Tema Objetivo Questão

Caracterização dos voluntários

Identificar:

• o tipo de pessoa que trabalha como voluntário em workshops de arte.

Parte I

Questões 1 a 5

Formação

Conhecer:

• o tipo de formação a que os voluntários tiveram acesso antes de começar a trabalhar;

• a importância da formação para o desenvolvimento do trabalho dos voluntários.

Parte II

Questões 1 a 5

Questões 6 a 8

Atividades de expressão artística

Identificar:

• tipo de atividades desenvolvidas; • quais as atividades mais bem recebidas

pelas crianças;

• a influência das atividades de arte no comportamento das crianças; • o nível de participação das pessoas

mais próximas das crianças.

Parte III

Questões 1 a 3

Questões 4 e 6 Questão 5

Caracterização dos grupos de crianças

Identificar:

• o tipo de crianças que frequentam os

workshops;

• frequência/ continuidade dos

workshops e acompanhamento dos

grupos pelos voluntários;

• comportamentos associados a traumas; • contribuição dos workshops no alívio

desses mesmos traumas.

Parte IV

Questões 1 e 2 Questão 3

Questões 4 e 5

Ao contemplarmos perguntas abertas demos espaço para que os inquiridos pudessem partilhar experiências pessoais, situações particulares e observações que as perguntas fechadas não permitiam. Embora as perguntas abertas apresentem uma desvantagem para o tratamento de dados devido à dificuldade de cotação, pareceu-nos fundamental que todos os inquiridos tivessem a oportunidade de expandir o tema num convite à reflexão sobre o seu papel e a sua ação, não sendo, contudo, estas perguntas obrigatórias.181

Para averiguar a adequação, clareza, relevância, amplitude dos tópicos enunciados, tempo necessário ao preenchimento e compreensão geral dos objetivos do questionário, elaborámos um exercício piloto com amigos e familiares “cobaias”. O exercício piloto possibilitou reorganizar o questionário em relação às instruções e à facilidade de compreensão das perguntas.182

Modo de resposta Tipo de dados Vantagens Desvantagens

Dicotómica e Lista de respostas Nominais ou Intervalares Facilidade em responder e na cotação Proporciona poucos dados e poucas opções

Ordenada Ordinais Facilidade na cotação e

na análise estatística

Dificuldades para completar

Escalonada Intervalos Objetividade, grande

facilidade de cotação e de análise estatística

Consome mais tempo no tratamento dos seus dados

Espaço-em-branco Nominais Flexibilidade na

resposta

Dificuldade na cotação

Aberta Nominais Grande liberdade na

resposta

Dificuldade na cotação

Quadro 7 - Vantagens e desvantagens dos diferentes modos de resposta

Fonte: Sousa (2009)

181 Ghiglione e Matalon, 1993; Sousa, 2009.

182 Bell, “Como realizar um projeto de investigação em ciências sociais e da educação”, Gradiva, Lisboa,

Ao enviarmos o questionário aos setenta e seis voluntários do CAM assegurámos que o propósito do estudo era claramente entendido; garantimos a sua confidencialidade; demonstrámos a garantia científica do estudo; apresentámo-nos – uma vez que não trabalhámos com todos os voluntários CAM; solicitámos a sua participação apelando à importância de produção científica nesta área, valorizando a sua opinião e o trabalho realizado; fornecemos instruções de como utilizar a plataforma JotForm e submeter o questionário completo com sucesso.183Todos os inquiridos receberam uma

mensagem de agradecimento automática depois de submeter o questionário. Seguimos as recomendações do autor sobre:

A delicadeza da abordagem solicitando o favor de responder ao questionário, a natureza dos propósitos do teste, o anonimato e a confidencialidade, a importância das respostas dadas pelo sujeito, o agradecimento formal posterior, enviando um resumo com os resultados da investigação e a verificação de que esta contribuiu de facto para a melhoria de algo palpável e concreto, são procedimentos deontológicos que, por muitas vezes terem sido esquecidos, levam bastantes sujeitos a colocarem-se em posições de descrédito e recusa.184