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Parte I Enquadramento Conceptual

1. De que é feito o Arte Educador?

1.3 Conceitos de ajuda humanitária

1.3.5 Educação como resposta humanitária

1.3.5.2 Educação em emergências

Abordámos anteriormente as diferenças entre ajuda humanitária e ajuda ao desenvolvimento, sendo a primeira uma intervenção para o alívio imediato e a segunda uma intervenção a longo prazo com o objetivo de melhorar as condições de vida.

Sublinhamos de novo a dificuldade em delimitar nitidamente uma e outra e tomamos como nossa a questão de Karpinska (2012) sobre de que modo pode esta divisão formar perceções do imperativo de fornecer educação em todos os contextos para todas as populações?

A educação é naturalmente um processo de vários anos mas no contexto do nosso estudo tomamos a definição de educação em emergências da UNHCR que se refere a situações em que as crianças não têm acesso aos seus sistemas educacionais nacionais devido a crises humanas ou a desastres naturais. A interpretação precisa varia de uma preocupação com a educação de emergência durante os primeiros meses após uma crise, aos anos levados para restaurar os sistemas de educação normal depois de uma "emergência humanitária complexa". Para a UNHCR a "resposta de emergência" é tecnicamente uma questão de meses, essencialmente referindo-se ao tempo necessário para que os sistemas normais da organização sejam implementados e operacionais.102

99 UNICEF Nepal, “A Year On Nepal Earthquakes: Education Continues In Affected Districts But Children

Still Need Safe And Stable Learning Environment”, abril 2016.

100 http://theirworld.org/explainers/education-in-emergencies. 101 OCHA, op. cit..

São várias as razões que justificam uma abordagem imediata à educação em situações de emergência, tão necessária como água, alimentação e abrigo desde o início, embora nenhuma das definições de ajuda humanitária a incluam.

Re-establishing education after an emergency not only meets a fundamental right of children to education regardless of the circumstances, but also plays a critical role in normalizing the environment for children and contributes significantly to helping children overcome the psychological impact of disasters. Equally important, education provides a protective environment for children, who are more vulnerable to exploitation and abuse in the wake of emergencies or armed conflict.103

Machel (2001) used the phrase “fourth pillar” of humanitarian response, referring to the life- saving imperative of educational provision in emergency situations, along with the other pillars of aid: food and water, shelter and healthcare. Donors have historically been loath to fund education as an emergency response, questioning its categorization as a life-saving intervention. Is education as immediately life-sustaining and life-saving as the other core humanitarian aid sectors? If education is defined broadly, then the answer is yes (see, e.g., Women’s Commission 2014). Education programs allow for the immediate, and immediately needed, dissemination of important messages, such as landmine awareness, disaster risk reduction and/or HIV/AIDS sensitization. Education programs can provide physical protection from the dangers of a crises environment. When a child is in a safe learning environment he or she is less likely to be sexually or economically exploited or exposed to other risks, such as voluntary recruitment into an armed group. Importantly, there is another reason to engage in education immediately: ignoring the education sector can result in severe psychosocial problems later; a faster return to normalcy may reduce trauma. Also, missing out on school in times of conflict or natural disaster may keep children out of school permanently, resulting in longer-term grievances and return to conflict.104

Enquanto Arte Educadora sentimos o dever de intervir e influenciar para a mudança social. A nossa prática, refletida no presente estudo, é a nossa contribuição

103 Tradução livre da autora: “O restabelecimento da educação após uma emergência não só cumpre um

direito fundamental das crianças à educação, independentemente das circunstâncias, mas também desempenha um papel crítico na normalização do ambiente e contribui significativamente para ajudar as crianças a superar o impacto psicológico das catástrofes. Igualmente importante, a educação fornece um ambiente protetor para as crianças, que são mais vulneráveis à exploração e ao abuso na sequência de emergências ou conflitos armados”. UNICEF, “Education in Emergencies: a Resource Tool Kit”, 2006.

104 Tradução livre da autora: “Machel (2001) usou a expressão "quarto pilar" da resposta humanitária,

referindo-se ao imperativo de salvamento da provisão educacional em situações de emergência, juntamente com os outros pilares da ajuda: alimentos e água, abrigo e saúde. Historicamente, os doadores têm sido relutantes a financiar a educação como uma resposta de emergência, questionando a sua categorização como uma intervenção para salvar vidas. A educação é imediatamente sustentável e salva vidas como os outros setores essenciais de ajuda humanitária? Se a educação é definida amplamente, então a resposta é sim (ver, por exemplo, Women's Commission 2014). Os programas de educação permitem a disseminação imediata de mensagens importantes, como sensibilização às minas terrestres, redução do risco de desastres e / ou sensibilização para o HIV / SIDA. Os programas de educação podem proporcionar proteção física contra os perigos de um ambiente de crise. Quando uma criança está num ambiente de aprendizagem seguro, é menos provável que seja sexualmente ou economicamente explorada ou exposta a outros riscos, como o recrutamento voluntário para um grupo armado. É importante notar que há outra razão para se engajar imediatamente na educação: ignorar o setor de educação pode resultar em graves problemas psicossociais mais tarde. Um retorno mais rápido à normalidade pode reduzir o trauma. Além disso, perder a escola em tempos de conflito ou desastre natural pode manter as crianças fora da escola permanentemente, resultando em frustrações a longo prazo e retorno ao conflito” (Karpinska, 2012, p.17).

enquanto elemento participante e ativo dessa mudança. Atuámos no campo da Arte Educação em práticas de educação não-formal que acreditamos serem essenciais, não só para o desenvolvimento físico, como mental e emocional de crianças vulneráveis.

Justificamos a relevância da nossa prática na importância em promover a criatividade como forma de auto reflexão (não exclusiva, mas particularmente no Caso I), e de proporcionar lugares seguros de brincadeira e jogo que preencham a lacuna da escola em situações de catástrofe (Caso II).

Nos dois casos a importância da expressão, tanto através do jogo, como através de criação artística, prende-se não só com o facto de ser uma ferramenta para a descoberta, como ser também uma forma alternativa de comunicação, já que nem todas as experiências humanas podem ser inteiramente reduzidas a palavras e, expressar emoções pode ir para além da expressão verbal em que a produção artística é a forma alternativa.