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Parte II Estudo Empírico

2. Contexto do estudo

2.3 Apresentação dos casos de estudo

Apresentamos uma investigação de casos múltiplos (dois casos)161 que

identificamos como Caso I e Caso II – ordem em que surgiram no desenho do nosso projeto. O Caso I (caso START) envolve crianças órfãs dos 7 aos 10 anos de idade com quem trabalhámos como Arte Educadora nos ateliês de arte organizados pela ONG START no Dubai. O Caso II (caso Nepal) é formado por crianças dos 5 aos 17 anos de idade com quem desenvolvemos atividades de Arte Educação em CFS e TLC em Catmandu, Nepal, e em comunidades periféricas da capital.

O Caso I é composto por grupos pequenos de crianças (nunca mais de 10 crianças em cada ateliê) em que a língua materna é o árabe, tendo o inglês como segunda língua. Os intervalos entre ateliês com o mesmo grupo são longos (uma vez por mês, aos fins de semana). Os grupos viajam de autocarro do orfanato para o local onde se realizam as atividades.

Os facilitadores das oficinas são: 1) voluntários que não têm necessariamente formação em práticas artísticas e seguem as instruções planeadas pela coordenadora da START; 2) voluntários que são artistas e desenvolvem especificamente projetos de atividades para as crianças. A START não proporciona formação aos voluntários. O número de voluntários varia entre 3 a 6 por grupo, incluindo a coordenadora da ONG.

As atividades da START centram-se nas artes plásticas e visuais como pintura, colagem e desenho. Proporciona-se o contato com diferentes técnicas plásticas com recurso a vários materiais, incentivando a exploração e possibilidades dos mesmos no processo de construção artística. É dado um tema que desencadeia o processo de criação e que visa exercitar a capacidade criativa e a imaginação. A organização mantém registos individuais de cada criança onde anota informação sobre a evolução da interação social das crianças e o seu desenvolvimento técnico/artístico.

O Caso II envolve dois sub-casos. O primeiro é composto pelas crianças com acesso a TLC ou CFS na cidade de Catmandu; o segundo pelas crianças de bairros da periferia da cidade e de aldeias próximas sem estes espaços. A grande distinção entre os dois grupos é o facto de os TLC e CFS serem espaços, embora temporários, para onde as

crianças podem voltar todos os dias mesmo sem ateliês programados, substituindo a rotina da escola e onde podem brincar e sentir-se protegidas. Nos grupos sem TLC ou CFS, as crianças passam os dias na rua ou abrigadas em tendas de lona com as famílias. Nas duas situações a maioria das crianças ficou desalojada na sequência do terramoto, embora algumas famílias tenham optado por ficar em tendas com medo de voltarem para as suas casas. É de notar que o período de tempo em que desenvolvemos estas atividades, foi imediatamente a seguir ao grande terramoto em que diariamente se registavam contínuas réplicas que instalavam o pânico na população.

O Children’s Art Museum organizou uma agenda de atividades a ser desenvolvida de forma a alcançar o maior número de TLC e CFS possível, daí que os ateliês com o mesmo grupo tivessem intervalos de duas a quatro semanas. As atividades foram estruturadas pela equipa do CAM que confiou o facilitamento das mesmas a voluntários. O número total de voluntários do CAM chegou a 76 elementos, embora não disponíveis ao mesmo tempo. Antes de atuar no campo, todos os voluntários tiveram no mínimo duas sessões de treino sobre: 1) Princípios básicos de ajuda humanitária em situações de catástrofe (terramotos em particular); 2) Tipos de atividades a realizar e como orientar oficinas com crianças.

O programa de atividades do CAM contemplou dança, jogos, música, desenho, pintura, sempre numa abordagem cooperativa, em que cada elemento do grupo é tão importante como o todo e onde todos são convidados a participar.

Nas atividades realizadas nos bairros e aldeias desenvolvemos trabalho independente, o que proporcionou que a rotina das atividades fosse mais intensa. Desenvolvemos, diariamente, sessões de aproximadamente 3 horas durante as manhãs. Nas nossas atividades contemplámos a contação de histórias, jogos, dança, música, drama, desenho e meditação. Procurámos interligar cada uma das diferentes áreas artísticas numa atividade contínua que se desenvolvia de acordo com o contexto e assumindo imprevistos segundo a pedagogia de situação de Barret descrita por Martins (2002).

Todas as crianças do Caso II têm o nepalês como língua materna embora todas consigam um nível de comunicação básico em inglês.

Caso I Localização Dubai, E.A.U.

Contexto Crianças órfãs recolhidas em orfanatos

Idades 7 aos 10 anos

Quadro 3 - Caracterização do Caso I

Caso II Localização Catmandu, Nepal

Contexto Crianças em situação pós traumática na consequência do terramoto de abril 2015

Idades 5 aos 10 anos

Quadro 4 - Caracterização do Caso II

Nos dois casos tivemos particular atenção à proteção dos sujeitos. De todos os participantes, ou respetivos responsáveis, obtivemos autorização prévia para fotografar, filmar e realizar entrevistas. Yin (2015) alerta para a necessidade de conduzir um estudo fiel a práticas éticas que, sendo “um fenómeno contemporâneo em seu contexto de mundo real” deve ter cuidados e sensibilidades especiais, e enumera as seguintes considerações da National Research Council:162

• obter o consentimento informado de todas as pessoas que podem fazer parte do estudo de caso, alertando-as para a natureza do estudo e solicitando, formalmente, que a sua participação seja voluntária; • proteger os que participam do estudo de qualquer dano, inclusive

evitando o uso de qualquer dissimulação no estudo;

• proteger a privacidade e a confidencialidade dos que participam para que, em consequência da sua participação, não fiquem inadvertidamente em posição indesejável, mesmo que isso signifique

estar numa lista para receber solicitações para participar em algum futuro estudo;

• tomar precauções especiais que possam ser necessárias para proteger

grupos especialmente vulneráveis (por exemplo, pesquisa

envolvendo crianças); e

• selecionar parceiros de forma equitativa, de modo que nenhum grupo de pessoas seja injustamente incluído ou excluído da pesquisa. No Caso I foi-nos solicitado para não efetuar qualquer tipo de registo fotográfico das crianças participantes nas oficinas com o fim de o tornar público. Apresentaremos apenas registos escritos de observações efetuadas e fotografias dos trabalhos.