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Parte I Enquadramento Conceptual

1. De que é feito o Arte Educador?

1.3 Conceitos de ajuda humanitária

1.3.4 Da ajuda humanitária à ajuda ao desenvolvimento

Uma crise, seja uma catástrofe natural ou conflito, causa danos humanos e materiais que exigem ações urgentes de apoio às pessoas afetadas. Ajuda humanitária é, então, implementada de forma a disponibilizar comida, água, abrigo ou assistência médica depois das comunidades serem atingidas.

Contudo, no rescaldo de uma emergência as comunidades têm ao mesmo tempo necessidades que vão para além do alívio básico que lhes possibilitem reduzir e recuperar do impacto negativo nas suas vidas e prevenir futuras crises.

A fase de recuperação visa restaurar serviços mínimos, abrigo e meios de subsistência. Neste processo de recuperação precoce procura-se responder a necessidades durante as crises humanitárias dando apoio essencial para o impacto a longo prazo.

A recuperação precoce é, portanto:

a vital element of an effective humanitarian crisis response as a foundation for building resilience in post-crisis settings. Just as emergency relief activities are crucial to saving lives by responding to the most urgent human needs, integrating an early recovery approach within humanitarian operations is crucial to the first efforts of a community to recover. It prepares the ground for an effective ‘exit strategy’ for humanitarian actors and contributes to ‘durable solutions’ by establishing the base on which nationally-led development occurs after a crisis.70

69 Idem, ibidem.

70 Tradução livre da autora: “um elemento vital de uma resposta eficaz à crise humanitária como base para a

construção de resiliência em contextos pós-crise. Assim como as atividades de ajuda de emergência são cruciais para salvar vidas, respondendo às necessidades humanas mais urgentes, a integração de uma abordagem de recuperação precoce nas operações humanitárias é crucial para os primeiros esforços de recuperação de uma comunidade. Prepara o terreno para uma "estratégia de saída" eficaz para os intervenientes humanitários e contribui para "soluções duradouras" estabelecendo a base sobre a qual o desenvolvimento impulsionado nacionalmente ocorre após uma crise”. UNDP, “UNDP and Early Recovery”, 2012. http://www.undp.org (Consultado em março 2016).

O objetivo da recuperação precoce transversal a todos os intervenientes humanitários é de ajudar à transição da ajuda humanitária ao desenvolvimento auto- sustentável. Pretende reforçar a importância de desenvolver a capacidade e as competências da comunidade de forma a fortalecer a resiliência das pessoas e da comunidade em futuras situações de crise, e reduzir a dependência do alívio ao mesmo tempo que ajuda a tomar medidas que ajudem a resolver algumas das questões que contribuíram para o desastre.71

O estágio de recuperação nem sempre segue um curso claramente definido e há várias fases que se desenrolam ao mesmo tempo que as comunidades começam a reconstruir as suas vidas após os desastres. Um exemplo de um ciclo de ação pode ser o seguinte:

- Busca e resgate; - Ajuda de emergência; - Recuperação precoce;

- Recuperação de médio e longo prazo; - Desenvolvimento comunitário; - Redução de risco de desastres; - Preocupações ambientais.72

Quadro 1 - Diferenças entre ajuda humanitária e ajuda ao desenvolvimento

71 Idem, ibidem.

72 Crutchfield, “Phases of Disaster Recovery: Emergency Response for the Long Term”, 2013.

http://www.umcmission.org (Consuldado em março 2016).

Diferenças importantes entre ajuda humanitária e ajuda ao desenvolvimento

Ajuda humanitária Ajuda ao desenvolvimento

- Curto prazo

- Implementada em zonas de catástrofe - Dá resposta a um incidente ou evento - Focada em salvar vidas

- Longo prazo

- Implementada em países em desenvolvimento

- Responde a problemas sistemáticos - Focada no desenvolvimento social, económico e político

1.3.4.1 Transição

No ciclo de fases de intervenção humanitária o termo “transição” refere-se à passagem de uma situação de emergência que necessita de ações de alívio imediatas à restauração de desenvolvimento sustentável. É uma fase que engloba uma variedade de atividades no processo de saída da crise em direção ao desenvolvimento sustentável, a uma maior apropriação nacional e maior capacidade do estado. Abrange atividades de recuperação e reconstrução que tradicionalmente se situam entre as categorias humanitárias e de desenvolvimento e as atividades de segurança e de consolidação da paz.73

A fase de transição não é de fácil definição e não encontra unanimidade pela dificuldade em definir critérios que determinem quando é que um país entra em fase de transição ou não. A dinâmica das situações de crise não é linear, já que estados ou territórios específicos podem entrar e sair da crise sem uma linha divisória clara entre crise e pós-crise. Contudo, há evidência de um número cada vez maior de agências e países em que a mudança do programa de alívio para o de desenvolvimento acontece cada vez mais cedo.74

1.3.4.2 Desenvolvimento sustentável

O desenvolvimento sustentável tornou-se um objetivo reconhecido para a sociedade humana desde a deterioração das condições ambientais em muitas partes do mundo.75

A definição mais conhecida é a do Relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como Relatório Brundtland,76 em que desenvolvimento sustentável é

“um desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, e contém dois conceitos-chave:

73 OECD, “International Support to Post-conflict Transition: DAC Guidance on Transition Financing: Key

Messages”, 2012. http://www.oecd.org (Consultado em março 2016).

74 Smillie, “Relief and Development: The Struggle for Synergy”, Thomas J. Watson Institute for International

Studies, 1998, p.xix.

75 Bossel, 1999 apud Duran et al., “The Components of Sustainable Development - A Possible Approach”,

2015, p. 808.

76 O documento ficou também conhecido como Relatório Brundtland, nome da primeira-ministra norueguesa

• conceito de necessidades, em particular as necessidades essenciais dos pobres do mundo, a que deve ser dada prioridade absoluta; e • a ideia de limitações impostas pelo estado da tecnologia e da

organização social sobre a capacidade do meio ambiente para atender às necessidades presentes e futuras”.77

Embora ampla, esta definição não limita o âmbito da sustentabilidade e sublinha a importância da igualdade intergeracional. O conceito de conservação de recursos para as gerações futuras é uma das principais características que distinguem a política de desenvolvimento sustentável da política ambiental tradicional. O objetivo geral do desenvolvimento sustentável é a estabilidade a longo prazo da economia e do ambiente. Isso só é possível através da integração e do reconhecimento de preocupações económicas, ambientais e sociais ao longo do processo de tomada de decisão.78

O desenvolvimento sustentável refere-se a três componentes principais da existência humana: sustentabilidade económica, ecológica e humana. Não nos alargando em explicações detalhadas de cada um dos componentes, é importante serem mencionados e dar particular atenção à componente de sustentabilidade humana por se centrar no equilíbrio social onde se insere a educação, tema central da nossa investigação.

O desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado apenas por soluções tecnológicas, regulamentação política ou medidas financeiras. É também preciso mudar a maneira de pensar e agir e isso exige uma educação e aprendizagem de qualidade para o desenvolvimento sustentável a todos os níveis e em todos os contextos sociais79 que

conduza ao desenvolvimento humano, sendo que desenvolvimento humano é o processo de “ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e oportunidades para serem aquilo que desejam ser”.80 Contrariamente ao conceito de crescimento

económico que relaciona diretamente o bem-estar de uma sociedade com os recursos ou

77 International Institute for Sustainable Development (IISD). http://www.iisd.org/topic/sustainable-

development (Consultado em janeiro 2017).

78 Emas, “The Concept of Sustainable Development: Definition and Defining Principles, 2015, p. 2.

https://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/5839GSDR%202015_SD_concept_definiton_rev.p df (Consultado em março 2016).

79 UNESCO, “Education for Sustainable Development”. http://en.unesco.org/themes/education-sustainable-

development (Consultado em janeiro 2017).

80 UNDP, http://www.br.undp.org/content/brazil/pt/home/idh0/conceitos/o-que-e-desenvolvimento-

renda que esta gera, a abordagem de desenvolvimento humano foca-se nas pessoas, nas suas oportunidades e capacidades.81

Nesse sentido, foram criados dois projetos fundamentais: a Agenda 21 em 1992 e os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)82 em 2000, que deu entretanto

lugar em 2015 aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, em que o objetivo 4 é: Assegurar uma educação inclusiva e de qualidade para todos e promover a aprendizagem ao longo da vida.

Os resultados destes projetos são avaliados através do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)83que utiliza três medidas: riqueza, educação e esperança

média de vida. Debruçando-nos, mais uma vez, particularmente sobre a dimensão da educação, temos que esta é medida da seguinte forma:

O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de escolaridade que uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade permanecerem os mesmos durante a vida da criança.84