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A EQUIPE GESTORA E A EQUIPE BILÍNGUE: ORGANIZAÇÃO DO

5 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EDUCATIVO PARA ATENDER ÀS

5.3 A EQUIPE GESTORA E A EQUIPE BILÍNGUE: ORGANIZAÇÃO DO

Embora tenha dificuldade com a Libras, por reconhecer o direito da criança surda à educação infantil, a diretora abriu as portas da unidade de ensino para que ela se tornasse escola referência e disponibilizou os recursos e materiais possíveis para a operacionalização.

Inicialmente, com diálogos intensos com o Conselho de Escola, foi criado um espaço para o atendimento especializado. Esse espaço foi separado por divisória e mobiliado pela escola com um armário e uma mesa com quatro cadeiras pequenas. Também foram disponibilizados os recursos da secretaria da escola, como computador e impressora. Foi feita pesquisa na internet para instalação da fonte LIBRAS17 e busca de material em Libras para alavancar a Política Bilíngue, tendo em vista que os recursos multifuncionais foram instalados em 2009, um ano após a

implantação das escolas referência. “Embora tenha ainda algumas resistências, avançamos”, diz a diretora.

Ainda de acordo com a diretora, mediante o trabalho desenvolvido, foi possível perceber a mudança na forma de se referir à criança surda por parte dos funcionários de modo geral, especialmente do apoio (merendeira, limpeza) que, embora tivessem interesse em se envolver com a Libras, faltava tempo para frequentar as oficinas. A Libras despertou o interesse de vários funcionários, levando-os a buscar formação para além das oficinas realizadas na unidade de ensino.

Para a organização do trabalho nesse CMEI, a direção conta com o apoio de três pedagogas, uma de 40 horas e duas de 25 horas. A pedagoga de 40 horas é quem realiza o intercâmbio entre os turnos matutino e vespertino e, em parceria com o pedagogo de turno e a diretora, coordena técnica e administrativamente as propostas de trabalho a serem realizadas (VITÓRIA, 2008c).

As duas pedagogas de 25 horas atuam uma no matutino e outra no vespertino. Elas devem coordenar a implementação das ações técnico-pedagógicas, buscando elevar a qualidade do ensino e aprendizagem. Ademais, em parcerias com a comunidade escolar, devem avaliar o processo educativo, promovendo e acompanhando as atividades pedagógicas que são desenvolvidas (VITÓRIA, 2008c).

Ainda que as pedagogas, a de 40 horas e as de 25 horas, tenham essas funções definidas, a rotina de uma unidade de educação infantil, como sabemos, é dinâmica. Portanto, o pedagogo, além de realizar os planejamentos diários com os profissionais da educação, é solicitado o tempo inteiro para resolver situações diversas: “[...] na verdade, no dia-a-dia, sou solicitada o tempo todo” (DIVA, pedagoga de 40 horas). Karen, pedagoga de 25 horas do matutino diz que: “[...] ser pedagoga está sendo um desafio porque é diferente da sala de aula, você lida com todos os pais, todos os professores e todas as crianças”.

É importante ressaltar que o planejamento, considerado, no Projeto Político- Pedagógico, como instrumento essencial na organização do trabalho do professor,

passa a ter novos elementos. Além de novos componentes no quadro funcional, uma nova língua passa a ser vivenciada nessa instituição, exigindo novas estratégias, novas práticas e, acima de tudo, um novo olhar sobre as crianças surdas e sua forma de aprendizado. Elas apreendem o mundo pelo visual, e quando oportunizado, contribuiem para o desenvolvimento da pessoa surda (LACERDA, 2000; GÓES, 1999).

Diva, a pedagoga de 40 horas que atuou no matutino e no vespertino, sobre o planejamento com a equipe bilíngue, afirmou que era procurada para ser informada sobre o trabalho desenvolvido.

As diversas atribuições desenvolvidas pela equipe bilíngue, quando esta está presente na escola, acabam causando desencontros nos planejamentos com as três professoras que possuem crianças surdas em seus grupos, considerando que, embora tenham um quadro que organiza os espaços e tempos do CMEI, essa rotina pode ser alterada.

Nesse sentido, o acompanhamento das práticas e sua mediação ficam comprometidos no caso do professor que não possui domínio da Libras, além de não contribuir para o desenvolvimento linguístico da criança surda. Esses são alguns dos desafios na atualidade, quando se ambiciona uma escola inclusiva bilíngue, em que as necessidades das crianças surdas sejam efetivamente atendidas (LACERDA, 2000).

Inicialmente, a equipe bilíngue, que era formada pela instrutora e pela intérprete, dividia-se na tentativa de garantir o atendimento às crianças. Na quarta-feira, era dia de oficina de Libras para todas as turmas; na sexta feira, dia do planejamento da equipe bilíngue, ficando para o trabalho com os alunos os dias de segunda, terça e quinta-feira. Na ausência da intérprete, a instrutora, conforme já informado, além de atuar nos grupos participante da pesquisa, auxiliava nos trabalhos desenvolvidos no Grupo V, tendo em vista que essa turma possuía uma criança surda fluente em Libras, e a professora regente não sabia Libras.

Para facilitar a operacionalização do trabalho para atendimento das crianças foco da política bilíngue e ensino da Libras para todas as crianças, durante a semana, a instrutora se organizava da seguinte forma.

Quadro 8 – Organização do trabalho da Equipe Bilíngue

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

Horário dividido entre os Grupos III, V e VI Horário dividido entre os Grupos III, V e VI Oficina de Libras nos grupos Horário dividido entre os Grupos III, V e VI PL da Equipe Bilíngue

Mediante o referencial teórico utilizado nesta pesquisa que dá ênfase ao papel do outro e da linguagem no desenvolvimento humano, o quadro acima nos revela a ausência de condições para efetivação de situações que de fato venham a contribuir para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças surdas. No grupo em que o professor regente não sabe Libras, o contato e a interação das crianças surdas com a língua de sinais estão atrelados apenas à presença de uma das pessoas da Equipe Bilíngue.

Para analisarmos o desenvolvimento do trabalho e a apropriação da Libras pelas crianças surdas, devemos considerar o fato de dois dos três professores regentes não possuírem o domínio da língua de sinais e a composição da Equipe Bilíngue que, devido ao afastamento por doença da intérprete de Libras, se resumiu à instrutora no turno matutino, dificultando assim o desenvolvimento do trabalho.