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5 A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO EDUCATIVO PARA ATENDER ÀS

5.2 A EQUIPE BILÍNGUE

Com vistas à implantação da educação bilíngue, as escolas referência tiveram alteração no quadro funcional e, consequentemente, tiveram sua rotina modificada. Essas unidades de ensino passaram a ter em seu quadro uma equipe bilíngue formada pelo instrutor ou professor de Libras, o professor bilíngue e o intérprete de Libras. Já nas unidades de educação infantil, a equipe foi composta por instrutor ou professor de Libras e professor bilíngue.

Na educação infantil, de acordo com o documento (VITÓRIA, 2008a, p. 11), o professor bilíngue tem como função,

a) Garantir o ensino de Língua Portuguesa aos alunos com Surdez da Educação Infantil às séries finais do Ensino Fundamental, incluindo EJA;

b) Ministrar aulas como forma de complementação e suplementação curricular utilizando a LIBRAS como língua de instrução para o aprendizado da Língua Portuguesa como segunda língua;

c) Desenvolver e adotar mecanismos de avaliação coerentes com o aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas,

valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; d) Confeccionar, solicitar, disponibilizar e orientar a utilização de recursos

didáticos que apóiem o processo de escolarização do aluno com surdez;

e) Planejar e acompanhar as atividades pedagógicas desenvolvidas em parceria com os demais profissionais da unidade de ensino e comunidade escolar, quando necessário, em consonância com o Projeto Político Pedagógico;

f) Exercer a função de Tradutor e Intérprete de LIBRAS-Língua Portuguesa-LIBRAS quando necessário.

Embora as funções do professor bilíngue sejam assim estabelecidas, a educação infantil, na sua especificidade que configura o trabalho educativo como cuidado e educação assentado no direito de a criança viver a infância, exige o deslocamento do olhar e do fazer desse profissional para questões pertinentes a essa etapa da educação. A responsabilidade pela criança, seja ela ouvinte, seja surda, deve ser de toda a comunidade escolar, não se restringindo apenas à equipe bilíngue.

Em relação à função do instrutor, o mesmo documento destaca que ele deve:

a) Apoiar o uso e a difusão da LIBRAS; ministrar aulas de LIBRAS na Educação Infantil e Ensino Fundamental, incluindo EJA, no atendimento educacional especializado e para toda a comunidade escolar;

b) Utilizar a Libras como língua de instrução, como forma de complementação e suplementação curricular;

c) Desenvolver e adotar mecanismos de avaliação alternativos ou não, referentes ao aprendizado dos conteúdos curriculares expressos em LIBRAS, desde que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos;

d) Orientar alunos com surdez no uso de equipamentos e/ou novas tecnologias de informação e comunicação;

e) Confeccionar, solicitar, disponibilizar e orientar a utilização de recursos didáticos que apóiem o processo de escolarização;

f) Planejar e acompanhar as atividades pedagógicas desenvolvidas em parceria com os demais profissionais da unidade de ensino e comunidade escolar, quando necessário, em consonância com o Projeto Político Pedagógico da escola (p. 11).

Além de garantir a operacionalização da política bilíngue no turno em que as crianças frequentam a sala de atividade, o instrutor também busca estar com os professores regentes que têm crianças surdas na sala regular, quando estes solicitam sua participação nas atividades; realiza oficina de Libras para todas as turmas do turno em que atua, adequando estratégias para cada grupo; e, nos dias de atendimento educacional especializado, ele fica responsável pelos cuidados da criança no intervalo dos dois turnos, atuando no banho, lanche e descanso, a fim de

garantir que essas crianças estejam preparadas para as atividades do contraturno, que são realizadas no turno vespertino.

O documento municipal anuncia, no seu item 7, o professor bilíngue e o instrutor de Libras e/ou professor e Libras como recursos humanos previstos para atuar na educação infantil.

Na ausência do professor bilíngue16 na unidade de educação infantil, profissional que começa a fazer parte do cenário educacional nacional, via decreto, a partir de 2005, e a partir de 2008 no cenário educacional da Prefeitura de Vitória, a Secretaria de Educação encaminhou uma intérprete para apoiar o trabalho da instrutora.

Essa intérprete vinha atuando diretamente com o Grupo VI, pois esse grupo tinha um aluno com Libras (L1) como primeira língua, e a professora não possuía o domínio de Libras. Na ausência da intérprete, a instrutora apoiava o grupo, buscando garantir o desenvolvimento das atividades propostas na sala de atividade. Entretanto, no início do mês de novembro, a intérprete que vinha atuando nessa unidade teve que se afastar por motivo de doença. As ações do instrutor passaram então a abarcar os Grupos III, V e VI, que possuíam crianças surdas.

Destacamos que as crianças elencadas para a pesquisa foram uma do Grupo III e duas do Grupo V, tendo em vista que a criança do Grupo VI utiliza Libras como L1.

5.2.1 A organização do CMEI para o Atendimento Educacional Especializado

O atendimento às necessidades educacionais específicas desses alunos é garantido por dispositivos legais, que definem o direito a uma educação bilíngue. De acordo com esses dispositivos, o atendimento deve ser realizado no contraturno. Nesse sentido, o fato de todas as crianças atendidas pela política bilíngue, nesse CMEI, frequentarem a sala regular no turno matutino, favoreceu o encontro das crianças

surdas no contraturno. Essa decisão buscou levar em consideração o encontro entre as crianças surdas, o instrutor e o professor bilíngue, de modo que essas crianças, em contato com a instrutora, pudessem ter experiências ampliadas da significação de si, favorecendo a construção da identidade.

A viabilização desse trabalho contava com o apoio direto da instrutora, que era responsável pelo banho, lanche e repouso das crianças no intervalo dos turnos. Portanto, entre 11h30min e 12h30min todas as providências eram tomadas. Na ausência da instrutora, a diretora organizava essas ações de forma que o atendimento fosse garantido (Diário de campo – 09-08-2011).

Essas crianças, em idade entre três a cinco anos e três meses, chegavam ao CMEI no mais tardar às 7h15min. Quando não havia nenhum imprevisto, vivenciavam a rotina da sala de atividade e, em três dias na semana, ficavam para o Atendimento Educacional Especializado das 13h às 17h. No entanto, o cansaço e o sono acabavam interferindo no trabalho realizado com essas crianças no turno vespertino. Por várias vezes, as professoras de Libras e bilíngue chegaram a acordar as crianças para realizar o trabalho. Faziam essa árdua tarefa com muito pesar, pois ambas ficavam com sentimento de desrespeito à criança por interferir no repouso: “Fico com o coração apertado”, diz a professora bilíngue.

Verificamos que o atendimento no contraturno, para essas crianças, espaço com condições favoráveis à apropriação da Libras, ainda é um desafio para muitos sistemas de ensino.

A singularidade da criança, não mencionada na lei nº 10.436 (BRASIL, 2002), conhecida como Lei de Libras, é citada no corpo textual do Decreto nº 5.626 (BRASIL, 2005) em seu art. VI, quando se refere ao acesso da pessoa surda à educação. Esse decreto determina que deve ser ofertado

[...] obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos em escolas e classes de educação bilíngue, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngues, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental (BRASIL, 2005).

O decreto visa a garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas regulares e em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização e prover o professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade linguística manifestada pelos alunos surdos.

Entretanto, a proposta oficial de trabalho do Atendimento Educacional Especializado no CMEI pesquisado, no que se refere ao atendimento complementar ou suplementar ao ensino da sala regular, conforme prevê a legislação, acaba não se efetivando integralmente, devido às situações enfrentadas pelos profissionais, decorrentes de não haver planejamento com o professor da sala de atividade, pois o encontro desses profissionais acaba sendo inviabilizado pelas condições impostas pela realidade da própria profissão.

5.3 A EQUIPE GESTORA E A EQUIPE BILÍNGUE: ORGANIZAÇÃO DO