• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: A ESCOLA INVESTIGADA E OS PROCEDIMENTOS

2.1 A escola pesquisada

2.1.2 A escola em números

Para caracterizar o locus de investigação reuniu-se informações a respeito da unidade educacional pesquisada consultando os resultados da Prova Brasil e seu

24 O objetivo do Projeto Político Pedagógico é construir uma escola alfabetaletradora, onde todos os

alunos possam terminar o 9º ano lendo qualquer tipo de texto, interpretando-o e sendo capaz de produzir textos com boa argumentação (CAMPINAS, PPP 2009, p. 268).

desempenho tendo como parâmetro o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).

O IDEB é um indicador criado pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Anísio Teixeira (INEP) em 2007, sendo calculado a partir de dois componentes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo INEP. Os índices de aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente. As médias de desempenho utilizadas são as da Prova Brasil, para escolas e municípios, e do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), para os estados e o país, realizados a cada dois anos. O indicador apresenta resultados sintéticos que variam de 0 a 10 e permite traçar metas bienais para os sistemas.

Embora a EMEF tenha participado da Prova Campinas no ano de 2008, não tive acesso aos resultados25. Esta prova visa a aferição de rendimento dos alunos matriculados no 3° ano, nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.

A Figura 4 reproduz um gráfico que indica a evolução em relação às metas nos anos iniciais do ensino fundamental.

Figura 4: Evolução no IDEB em relação às metas. Rede Municipal. Anos iniciais EF. 2007-2013.

Fonte: BRASIL, MEC/INEP, 2014. Dados da Rede Pública Municipal.

Na Figura 4 há uma linha ascendente escura que reproduz a expectativa para a escola nos anos iniciais que deve atingir o indicador ou acima disso em 2021. A linha

25A assessora de AIP da SME afirmou que os dados encontravam-se disponíveis no Portal da Secretaria;

verde representa o resultado da escola no IDEB e tem a aparência de um ótimo rendimento em aprendizagem (via provas objetivas padronizadas). Mas deve-se lembrar que o IDEB é calculado com o auxílio dos dados do fluxo, ou seja, aprovação, que sempre ajuda a puxar o resultado e este depende de decisão da própria escola, sobretudo no regime de ciclos nas quais se adota a progressão continuada (GESQUI, 2012).

Figura 5: Evolução no IDEB em relação às metas. Rede Municipal. Anos finais EF. 2007-2013.

Fonte: BRASIL, MEC/INEP, 2014. Dados da Rede Pública Municipal.

A figura 5 representa os dados dos anos finais da escola e a expectativa que deve ser ascendente até 2021, até chegar ao nível 5,5. A análise desta figura é bem estranha, pois demonstra uma oscilação bem grande entre 2007 e 2013. Em 2007 os alunos atingiram patamar abaixo de 3,5. Em 2009 saltaram para 4,5 e novamente baixando para pouca coisa acima de 3,5 em 2011. Em 2013 voltaram a subir para 4,5. No patamar de 2011 a escola esteve pouca coisa abaixo do previsto e no de 2013 ficou bem acima do previsto. Vale para esses dados a mesma ressalva feita para a Figura 4.

Figura 6: IDEB. Anos iniciais do Ensino Fundamental. 2005 a 2013

Fonte: BRASIL.MEC/INEP, 2014. Dados da Rede Pública Municipal.

No Brasil e no Estado de São Paulo os resultados estão expostos desde 2005. Em Campinas e na escola, como já visto nas figuras anteriores, a exposição se inicia no ano de 2007. Esta figura 6 permite analisar a posição das séries iniciais da escola diante do país, do estado e do município. Verifica-se que as linhas tanto da escola quanto a do município estão situadas acima da linha que representa os dados do país. A linha que representa a escola está abaixo da linha do município e ambas estão abaixo da linha que representa o Estado de São Paulo. Todas com evolução contínua.

Já para os anos finais da escola, representados na figura 7, a situação da escola permanece, no conjunto, a mesma da figura 5, ou seja, com a oscilação de resultados que fica mais evidenciada no contraste com as linhas do estado de São Paulo e também do Brasil. Porém, é interessante observar que a linha que representa o município teve a mesma oscilação e, ainda, permite ver que a escola está abaixo dos resultados do município.

Figura 7: Ideb. Anos finais do Ensino Fundamental. 2005 a 2013

Fonte: BRASIL, MEC/INEP, 2014. Dados da Rede Pública Municipal.

Em Freitas (2014, p. 47) encontramos a informação que o MEC não adota nenhum parâmetro específico em relação ao desempenho no SAEB, mas o Comitê Todos Pela Educação26, extraoficialmente, classificou a distribuição dos alunos de acordo com os pontos obtidos, sendo possível analisar os resultados sob esse prisma. O Comitê definiu a distribuição dos alunos em quatro níveis numa escala de proficiência: insuficiente, básico, proficiente e avançado. Essa classificação qualitativa foi definida pelo pesquisador Francisco Soares27, com base na escala do SAEB, conforme a legenda cada nível representa: 1) Básico: representa alunos com pouco aprendizado; 2) Insuficiente: é composto por alunos que apresentaram pouquíssimo aprendizado; 3) Proficiente: refere-se aos que estão com aprendizado dentro do esperado para o ciclo em que se encontra matriculado; 4) Avançado: corresponde ao aprendizado além da expectativa. Considera-se alunos com aprendizado adequado aqueles que estão no nível proficiente e avançado.

26 De acordo com o site da Instituição, o Todos pela Educação é um movimento, fundado em 2006 que

congrega representantes de diferentes setores da sociedade, como gestores públicos, educadores, pais, alunos, pesquisadores, profissionais de imprensa, empresários e todas as pessoas ou organizações sociais que são comprometidas com a garantia do direito a uma Educação de qualidade. Disponível em: <http://www.todospelaeducacao.org.br/>. Acesso: 05/01/2015.

27 Informação obtida no portal QEdu, plataforma que congrega dados e informações educacionais dos

entes federados e do Brasil. Este portal é uma iniciativa da Fundação Lemann e do Meritt Informações Educacionais. Disponível em: <http://www.qedu.org.br/>.Acesso: 05/01/2015.

Tabela 1: Proporção de alunos que “aprenderam o adequado” em 2011 na escola

Adequado Anos iniciais Anos finais

Português Matemática Português Matemática

Percentual 47% 34% 15% 6%

Nº absoluto 47 34 24 10

Fonte: BRASIL, Prova Brasil 2011, INEP. Organizado por Meritt. Classificação não oficial. QEdu

Para os anos iniciais do ensino fundamental, 47% é a proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e interpretação de textos até o 5º ano. Ou seja, dos 99 alunos, só 47 demonstraram o aprendizado adequado. Já em relação à competência de resolução de problemas 34% é a proporção de alunos que aprenderam o adequado até o 5º ano. Dos 99 alunos, só 34 demonstraram o aprendizado adequado.

Para os anos finais do ensino fundamental, 15% é a proporção de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e interpretação de textos até o 9º ano. Ou seja, dos 163 alunos, só 24 demonstraram o aprendizado adequado. Sobre a competência de resolução de problemas, só 6% é a proporção de alunos que aprenderam o adequado até o 9º ano. Dos 163 alunos, só 10 demonstraram o aprendizado adequado. Os resultados mostram-se bastante preocupantes nos anos finais do ensino fundamental, pois 139 jovens não tinham domínio do necessário em Língua Portuguesa e 153 em Matemática, sendo que estavam terminando o ensino fundamental, o que é gravíssimo. Mas não menos preocupantes são os resultados dos anos iniciais em que 52 crianças não tinham domínio do necessário para ir adiante em Língua Portuguesa e 75 em Matemática – não é pouca coisa.

Nos anos iniciais, portanto, o cenário não é melhor; comparando com o Brasil, que tem 37% (que também é um resultado ruim) e a própria cidade de Campinas, com 42% de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e interpretação de textos até o 5° ano na rede pública de ensino. Cotejando também com outras duas escolas do mesmo município cujos alunos possuem nível socioeconômico (NSE) semelhante, percebe-se que esta unidade apresenta desempenho superior. Vale lembrar que, de acordo com a classificação não oficial do movimento Todos Pela Educação, o valor de referência é de 70%, como sendo a proporção de alunos que deve aprender o adequado até 2022. O que é um resultado péssimo.

O nível socioeconômico (NSE) da unidade em questão é de 5,3. O NSE relaciona questões de renda, ocupação e escolaridade respondidas no questionário contextual da Prova Brasil de 2011. O NSE varia entre 0 e 10. Associações entre o nível socioeconômico e os resultados das avaliações externas têm sido tema de pesquisa na educação, e neste trabalho apresenta-se como elemento a mais na discussão da escola enquanto lócus de aprendizagem e atenuante de desigualdades educacionais. São esses alunos os que mais precisam que a escola seja boa.

Para compreender melhor a caracterização da escola é importante também se debruçar sobre o Projeto Político Pedagógico que traduz a dinâmica da escola, registrando seu processo de formulação e reformulação na esfera pedagógica e sua organização e funcionamento.

2.1.3 Projeto Político Pedagógico e a organização do calendário