• Nenhum resultado encontrado

Observação: no cotidiano escolar e nas reuniões da CPA

CAPÍTULO 2: A ESCOLA INVESTIGADA E OS PROCEDIMENTOS

2.2 Os procedimentos de pesquisa adotados

2.2.1 Observação: no cotidiano escolar e nas reuniões da CPA

Segundo o conceito de avaliação iluminativa, a eleição de táticas de investigação não se faz tendo como base uma doutrina de investigação, mas da escolha da melhor técnica para cada caso; o problema determina os métodos utilizados, e não o contrário. Da mesma maneira nenhum método, implícitos os seus limites, deve ser utilizado de forma única ou isolado, diferentes técnicas devem ser empregadas para aclarar um problema.

Hamilton e Parlett (1989) postulam que há três estágios característicos da avaliação iluminativa, como um sistema que compreende três níveis: a observação, a investigação profunda e a explicação, sendo que o objetivo da investigação se concretiza progressivamente e se concentra nos problemas que surgem. Desta forma, a observação da escola pesquisada não se baseou num roteiro prévio que buscava respostas na realidade, embora estivesse fundamentada no uso que já havia sido proposto como foco e já houvesse informações de base sobre o processo de avaliação na escola a partir da SME de Campinas. A opção foi oposta: vivenciar a escola e a partir de situações concretas elaborar e incrementar os questionamentos, tendo em vista portanto

o objetivo geral e os objetivos específicos deste estudo. A adoção desta técnica permitiu a elaboração de perguntas mais precisas, sistemáticas e seletivas.

Durante a coleta de dados foi importante não perder de vista a finalidade da investigação. Para estes estudiosos, um pesquisador deve agir como os antropólogos sociais:

al igual que ello, no intentan manipular, controlar o eliminar variables de la situación, sino que toma como un hecho el complejo cuadro que encuentra. Su tarea principal es desenredarlo; aislar sus características importantes; trazar los ciclos de causa-efecto y entender las relaciones entre creencias e prácticas y entre esquemas de organización y reacciones de los individuos (HAMILTON E PARLETT, 1989, p. 457).

Os primeiros momentos do trabalho de campo ocorreram nos dias 21 de novembro e 5 de dezembro de 2013 e prosseguiram durante o primeiro semestre de 2014, momentos muito interessantes e produtivos nos quais o objetivo foi o de familiarizar-me com a escola e com a situação que estava estudando.

Nesse período, foram feitas nove visitas com periodicidade quinzenal à escola, com tempo médio de permanência de 5 horas diárias, tendo como objetivos observar o cotidiano da escola tentando identificar evidências nas relações sociais entre os agentes da escola, sendo que a circulação se deu nas áreas comuns da instituição e nas reuniões da Comissão Própria de Avaliação (CPA). Não se buscou observar as salas de aula.

No cotidiano escolar

Priorizou-se observar os momentos de interação dos agentes no cotidiano, na dinâmica da escola, nos espaços comuns de circulação, tentando perceber como os conflitos ou as solicitações eram tratados. Como afirmado, à medida que as situações eram vivenciadas os questionamentos surgiam: Qual o tom da interlocução entre os agentes da escola (secretárias, merendeiras, agentes de limpeza, vigia, docentes, equipe gestora) considerando seus cargos e funções, e destes com alunos e seus responsáveis? Qual a natureza dos argumentos nos momentos que exigiam repreensão ou negativa de algo? Quais encaminhamentos eram dados às demandas de pais e de alunos? Qual a relação da equipe gestora com os professores, pais, alunos e profissionais de apoio ao serviço escolar?

O ambiente escolar é, por definição, um ambiente no qual a agitação e a efervescência fazem parte, e quando elas faltam podem indicar algo. Na EMEF pôde-se

apontar que há uma dinâmica típica: movimento de alunos, professores, funcionários, integrantes da equipe gestora, vigia, familiares, principalmente mães e irmãos de alunos, nos tempos e espaços da escola. Os momentos de observação permitiram constatar um dinamismo próprio de unidades de educação básica, que atendem a uma razoável demanda com quase 750 alunos, conforme dados do Censo Escolar (BRASIL, 2013). Ademais, na escola são desenvolvidos vários projetos, realizadas reuniões periódicas de docentes em horários de formação, reuniões de conselhos de ciclos, de alunos e da CPA, entre outras, o que torna esse ambiente bastante vivo.

Nos momentos de observação notou-se que as formas de tratamento são respeitosas e gentis, as pessoas, independente de função ou cargo, cumprimentam-se e se abraçam. Notou-se que a hierarquia está estabelecida, pois os encaminhamentos das questões e problemas cotidianos eram remetidos a quem de direito; no entanto, pelo que pôde ser observado, a posição hierárquica não inibe o estabelecimento de relações cordiais e de aproximação entre as pessoas.

Fazendo alusão a este aspecto, foi selecionado no PPP da escola no item: “A escola, segundo a equipe gestora”, o seguinte depoimento da diretora:

Pensar nossa escola, como uma realidade global, sendo que tudo está relacionado a tudo, de maneira direta ou indiretamente, havendo uma rede de situações interligadas... isto me reporta à dinamicidade da realidade da escola como um todo, que é construída socialmente por toda a equipe, com suas diferentes concepções de ser humano e de mundo. Desse modo, temos um ambiente socialmente intenso, com pessoas diferentes, cujos comportamentos são dinâmicos, cujas competências, habilidades e talentos de cada um podem ser coordenados, mas não controlados. Li em algum lugar, não me lembro onde, que o controle cerceia e a orientação impulsiona...

Nas reuniões, nós temos pensado, rido, comido, registrado, dado nós, desfeito nós, discutido, temos feito tudo... menos ‘descurtido’. Eu acredito, e sinto que os professores também, nos rumos que traçamos coletivamente. Esse excesso de GTs28 é uma resposta à falta que eles

fizeram até 2007! Os GTs e TDs são os lugares pedagógicos onde podemos tudo, aí é só sair e ganhar a sala de aula, a quadra, a sala de projetos, o refeitório... Só?!! Não só, junto, e com muito trabalho. A tal gestão democrática e autonomia do professor serviam somente para preencher as páginas do PPP, mas na prática mesmo, o professor não passava de um executor de tarefas e o aluno de um cliente. Aqui não, é tudo muito diferente disso. A escola respira, tem vida. Eu chego e as pessoas me falam oi e dão beijo, chamo os pais para uma

28 Os docentes que atuam na rede municipal de Campinas contam com espaços/tempo escolares

destinados a planejamento e formação docente, como: Carga Horária Pedagógica (CHP), Trabalho Docente Individual (TDI), Grupo Estudo Temático (GT) e Projeto Pedagógico Diferenciado (PPD).

conversa e eles vêm, converso com os alunos e eles, na maioria das vezes, admitem o próprio erro, os professores não se pegam no TDC, temos, enfim, um ambiente muito bom de trabalho. Estou aprendendo, dia após dia, o que é trabalhar em equipe. Abreviar essa distância entre o que pensamos e o que fazemos é nossa meta, coletiva (CAMPINAS, PPP, 2009, p. 298-300).

É importante dizer que o foco da observação não foi o ambiente físico e sua ocupação; no entanto, dois aspectos chamaram atenção: a presença dos projetos da escola é notória, como: Reforço escolar em Língua Portuguesa, Biblioteca Aberta, Banda de Fanfarra e Grafite e os arranjos que são feitos nos espaços da escola para atender a demanda. Pelo que foi observado, a cooperação entre a equipe gestora e as funcionárias do apoio parecem ser fundamentais para que o organismo seja dinâmico, mas não caótico.

Nas reuniões da Comissão Própria de Avaliação (CPA)

Este ambiente escolar é particularmente interessante para a observação, pois as discussões se dão entre os participantes sendo proporcionado à pesquisadora acompanhar in loco todo o movimento, as dinâmicas estabelecidas na reunião, as regras peculiares do grupo, as denotações das expressões utilizadas, enfim, uma gama de características subjacentes existentes nas relações interpessoais, diferentemente de momentos mais formais, como as entrevistas.

De acordo com a Resolução SME Nº 05/2008, Art. 3º (CAMPINAS, 2008), a CPA é a instância na qual a avaliação institucional se materializa. Cabe a essa Comissão, a partir das prioridades estabelecidas coletivamente e elencadas no Plano Escolar/Projeto Pedagógico, assumir a condução do processo de Avaliação Interna na Unidade Educacional. Tendo esta informação foi importante ratificar junto à assessora de Avaliação Institucional Participativa da SME e a direção da escola se este espaço cumpria de fato este papel e se havia outros espaços institucionais da escola que deveriam ser observados, tendo em vista o intuito desta pesquisa. Ou seja, o objetivo era ter garantias de que diante do que está estabelecido, pela política e pela organização da escola, o espaço de observação é a CPA. No entanto, é importante notar que há outros espaços de participação instituídos na escola: o Conselho de Escola e o Conselho de Alunos.

Durante as nove reuniões procurou-se observar: i) a disposição física dos segmentos no espaço da reunião, se os segmentos de dispunham de forma agrupada com

professores de um lado, alunos de outro, pais e equipe gestora, em outro espaço; ii) a forma como o tratamento pessoal entre os membros se expressava, se cordial, formal ou informal; iii) os termos utilizados principalmente para dar exemplos ou ilustrar algo, se denotavam respeito, sobriedade ou preconceito; iv) se havia por parte dos diferentes segmentos menção ao modo como os conflitos eram resolvidos e que relação isso poderia ter com a AIP; v) se a participação dos segmentos se dava de forma equânime ou se havia uma polarização/concentração das atenções em determinados atores.

Sobre os dois focos de observação (no cotidiano escolar e nas reuniões da CPA), cabe ressaltar que não houve nenhum impedimento ou dificuldade colocada pelos profissionais da escola ou pelos demais agentes que lá atuavam em relação à presença da pesquisadora nas dependências da escola ou nas reuniões da CPA.

Houve outro momento de observação, pontual, ocorrido no início de 2014: a reunião de planejamento pedagógico. Nessa ocasião foi importante notar a discussão sobre o PPP da escola, o quão vivo e referência este documento foi para o coletivo de educadores da escola, quais os argumentos dos educadores em relação à avaliação que fazem sobre os alunos e o trabalho pedagógico que tem sido desenvolvido e quais as expectativas de mudança para o ano de 2014. Observar como a equipe da escola recepcionou os professores novos e a declaração desses de que a escola é uma referência positiva na rede, também foi relevante.

O produto apreendido nesses procedimentos de observação fundamentará a análise que será realizada posteriormente sobre a materialização dessa política na escola.