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A ESCOLA INDÍGENA DE EDUCAÇÃO BÁSICA CACIQUE VANHKRE

No documento Cultura surda e educação escolar kaingang (páginas 54-57)

4 POVO E ESCOLA KAINGANG NO OESTE CATARINENSE

4.3 A ESCOLA INDÍGENA DE EDUCAÇÃO BÁSICA CACIQUE VANHKRE

Figura 2 - Espaço físico da escola em forma de oca.

O cadinho para o hibridismo é o “terceiro espaço”, ou seja, o espaço intersticial (inbetween) “fora da frase”, entre o enunciado e a enunciação. “Não esqueça do espaço fora da frase” (BHABHA, 1992 apud SOUZA, 2004, p. 131).

A escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkre está situada e localizada no Oeste de SC, Município de Ipuaçu, na Terra Indígena Xapecó, pertencente à Etnia Kaingang, distante 25 km da Secretaria do Desenvolvimento Regional, Ciências e Tecnologia de Xanxerê e a 600 km de Florianópolis, capital de SC.

A Educação na Terra Indígena Xapecó (em Ipuaçu), assim como toda a história do povo Kaingang e Guarani, passou por muitas etapas. Em meados do ano de 1912, não existia um ensino de maneira formal, eram ensinados os conhecimentos básicos de geração em geração.

Depois de 1912, até 1947, os registros mostram que existiram alguns homens chamados de professores, sendo estes índios e não-índios, que ensinavam nas casas e embaixo das árvores.

Em 1960, foi criada a primeira escola nas Terras Indígenas da região, chamada de Escola Estadual São Pedro, na Aldeia de Água Branca. Permaneceu até 1975 nesta localidade,

depois foi transferida, com o nome de Escola Isolada Federal Posto Indígena Xapecó. Em 1984, a referida escola recebe outra denominação: Escola Federal Vitorino Kondá.

Em 1988, muda novamente de nome, passando a ser chamada de Escola Isolada Federal Vitorino Kondá. Neste ano também é aprovado o Ensino Médio (parecer 352/97), passando a ser Colégio – o primeiro no Brasil com Ensino de 2° grau numa escola Indígena e em Terras Indígenas (IPUAÇU, 2007).

Em 1999, passou-se a estudar e entender a origem do nome da escola “Índio Kondá”, em homenagem à pessoa que não só não tinha contribuído para o engrandecimento da população Indígena, mas, ao contrário, havia debandado para os não-índios e prejudicado o povo e sua gente, facilitando as invasões de terra pelos não-índios.

Novamente o nome da escola é alterado. Desta vez, chama-se Cacique Vanhkre; em 2000, passa a ser chamada de Escola Indígena de Educação Básica Cacique Vanhkre. As mudanças aconteciam não somente nos nomes, pois havia um grande número de estudantes para estudar na educação infantil. Foram iniciadas, assim, em 2001, as turmas Infantis de Educação Bilíngüe, com a contratação de professores da Língua Kaingang.

A Escola Indígena Estadual Básica (EIEB) Cacique Vanhkre atualmente, em 2007/2008, oferece o ensino a mais de 800 estudantes, envolvendo as modalidades de Ensino Fundamental, Ensino Médio, Educação de Jovens e Adultos, Educação Especial – Turma de Surdos. A Educação Infantil é responsabilidade do poder municipal, funcionando nas dependências da escola.

Na escola, o quadro de professores é de 98% de profissionais Índios. A Filosofia da escola busca a formação de jovens que saibam decifrar os variados signos lingüísticos e da comunicação das sociedades dos índios e não-índios, para que possam defender sua cultura.

4.3.1 Organização no PPP – Projeto Político Pedagógico

A Escola contempla em seu Projeto – PPP – uma Educação Intercultural e Diferenciada em todos os sentidos, isto é, desde o calendário, escolha de professores, fortalecimento da cultura local e a revitalização da Língua Indígena, além da relação com outras culturas e o conhecimento universal.

Considera-se o PPP da escola, de 2007, como principal objetivo: trabalhar priorizando o ensino-aprendizagem da Língua Kaingang, visando revitalizar, preservar e

valorizar a identidade cultural, social e étnica do povo Kaingang, por meio da oralidade, da escrita e de outros projetos culturais.

A Escola também é Comunitária e Específica, por atender aos anseios da comunidade indígena, valorizando a participação da mesma em atividades escolares que envolvem pais, estudantes e Lideranças Indígenas. Estabelecem-se, assim, parcerias constantes com elementos importantes da comunidade: Associação de Pais e Professores (APP), Centros de Educação (CEDs), Associações e Instituições de outros setores, como por exemplo a Saúde, a Agricultura, além de secretarias municipais, estaduais e federais.

Por ser comunitária, a Escola tem um caráter e função fundamentais na construção e funcionamento, pois a diferença não está somente na Língua, mas em todo o processo educacional. Deve atender acima de tudo as necessidades da cultura e a permanência dos hábitos, usos, costumes e tradições do povo Kaingang, que em séculos passados foram sendo repassados de geração em geração.

As ações pedagógicas são baseadas em pesquisa, construção de projetos, reuniões pedagógicas com a participação e acompanhamento da comunidade escolar, questionamentos advindos no dia-a-dia escolar, cursos de capacitação. Prioriza-se a troca com os mais velhos para assegurar a cultura para as novas gerações.

A escola contribui para a discussão e compreensão da realidade sócio-político- econômica e cultural, com currículo específico, elaborado e aprovado pela comunidade. Também são abertos espaços e parcerias com outras instituições, tais como Universidades, escolas públicas, pesquisadores, etc.

Os valores Kaingang são parte do componente curricular, caracterizando-se pela Língua materna, pelos costumes, mitos, artes, história, tradições, terra, pinturas, alimentação, ervas medicinais, entre outras que identificam o povo Kaingang, para tornar a aprendizagem mais eficiente.

O processo ensino/aprendizagem é um processo integrado e interdisciplinar, uma construção social, em constante elaboração e aperfeiçoamento, que se baseia no sentido cultural e científico, onde todos interagem, tornando-se críticos, participativos, líderes e criativos.

Para tornar possível a sua efetivação, o PPP está embasado legalmente na Constituição Federal/1988, Leis de Diretrizes e Bases - LDB N° 9394/1996, Secretaria do Estado de Educação / Santa Catarina (SEE/SC), resolução 23/2000 e proposta curricular de Santa Catarina, Diretrizes Administrativas e Pedagógicas da Secretaria da Educação e

Desenvolvimento (SED) com princípios de autonomia e gestão democrática num processo dinâmico e permanente. O Projeto se embasa ainda nos decretos N° 3429/98/SC e portaria 08/99/SED/SC, Conselho Deliberativo Escolar decreto N° 31/13/86, APP e Lei 7398/85 e Grêmio Estudantil.

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