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RE-CONTAR/HISTORIAR: O POVO KAINGANG NO SUL DO BRASIL

No documento Cultura surda e educação escolar kaingang (páginas 46-49)

4 POVO E ESCOLA KAINGANG NO OESTE CATARINENSE

4.1 RE-CONTAR/HISTORIAR: O POVO KAINGANG NO SUL DO BRASIL

Segundo a Wikipédia (2007),

Os caingangues (ou ainda kaingang, kanhgág) são um povo indígena do Brasil meridional. Sua língua pertencente à família linguística jê, do tronco macro-jê. Sua cultura desenvolveu-se à sombra dos pinheirais (Araucaria brasiliensis). Há pelo menos dois séculos sua extensão territorial compreende a zona entre o rio Tietê (São Paulo) e o rio Ijuí (norte do Rio Grande do Sul). No século XIX seus domínios se estendiam, para oeste, até San Pedro, na província argentina de Misiones.

Atualmente os caingangues ocupam cerca de 30 áreas reduzidas, distribuídas sobre seu antigo território, nos estados meridionais brasileiros de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com uma população aproximada de 29 mil pessoas. Ver mapa e quadros da população caingangue (por áreas e por estados) no Portal Kaingang. Os Kaingang estão entre os cinco povos indígenas mais populosos no Brasil.

Na literatura internacional, caingangues tem designado o povo que, na literatura de língua portuguesa, é chamado xokleng (que hoje se autodenominam laklãnõ). Os xokleng foram descritos por Jules Henry (1941: “Jungle People: a Kaingáng tribe of the highlands of Brazil”), pesquisador que esteve entre eles no início da década de 1930, no leste de Santa Catarina. Por isso, o que se costuma referir, na literatura internacional, como característica da cultura “Kaingang” é, na verdade, característica da cultura Xokleng segundo a descrição de J. Henry.

Uma boa síntese sobre o povo caingangue, bastante completa em seus aspectos antropológicos principais, aparece nas teses de Mestrado e Doutorado de Juracilda Veiga (defendidas na UNICAMP, SP, Brasil, em 1994 e 2000). O primeiro desses trabalhos foi publicado em 2006, pela Editora Curt Nimuendaju (Campinas) sob o título: ‘Aspectos Fundamentais da Cultura Kaingang’ (grifo no original).

De acordo com Enciclopédia (2007), Nimuendajú foi o primeiro a afirmar que os Kaingang estão articulados através do reconhecimento de um sistema de metades. Diz ele: “Telêmaco Borba não compreendeu bem esta divisão em dois clãs [...] A divisão em Kañeru e Kamé é o fio vermelho que passa por toda a vida social e religiosa desta nação”

(NIMUENDAJÚ, 1993 apud ENCICLOPÉDIA, 2007, pág. 60). A divisão em metades Kamé e Kairu, o fio vermelho a que se refere Nimuendajú, aparece no mito de origem através da trajetória dos irmãos mitológicos Kamé e Kairu. São estes heróis culturais que dão o nome às metades Kaingang, são eles que, no transcorrer do mito, criaram os seres da natureza.

Kanyerú fez cobras, Kamé, onças. Este fez primeiro uma onça e a pintou, depois Kanyerú fez um veado. Kamé disse à onça: ‘Come o veado, mas não nos coma’. Depois ele fez uma anta, ordenando-lhe que comesse gente e bichos. A anta, porém, não compreendeu a ordem. Kamé repetiu-lhe ainda duas vezes em vão; depois lhe disse, zangado: ‘Vais comer folhas de urtiga, não prestas para nada!’. Kanyeru fez cobras e mandou que elas mordessem homens e animais (NIMUENDAJÚ, 1986, pág. 87).

Embora Telêmaco Borba tenha convivido por muitos anos com os Kaingang da região Norte do atual Estado do Paraná – o que lhe permitiu o registro de mitos e histórias, bem como a elaboração de um pequeno dicionário da língua Kaingang – ele, acompanhando seus contemporâneos do século XIX, não reconheceu a existência de um sistema de metades entre estes índios.

Os primeiros povos ou povos originais da região do atual estado do Rio Grande do Sul já estavam aculturados, em boa parte, especialmente devido ao estabelecimento das missões jesuíticas católicas no século XVIII, com a vinda do Padre Roque Gonzales, filho de pai espanhol e de mãe nativa do Paraguai - o primeiro estrangeiro/europeu a pisar em solo riograndense). Porém a relação dos gaúchos com os povos indígenas era extremamente conflituosa, embora a miscigenação entre os dois grupos se tornasse algo inevitável. Segue até os dias atuais, com grandes enfrentamentos, porque ainda existem pequenos grupos de povos aborígines que lutam para manter as suas identidades. Por exemplo, os Mbyás-Guaranis e os Caingangues ou Kaingang, na região.

Em Santa Catarina, os povos Kaingang são a maioria, segundo registros e relatos, oriundos do estado do Paraná, porém, há quem arrisque dizer que alguns poucos vieram do Rio Grande do Sul. Existem estas diferenças no contar da história dos Kaingang, devido à localização em que se instalaram no passado, ficando nas fronteiras de estado, como é o caso de Nonoai, Chapecó, Palmas entre outros (IPUAÇU, 2007).

Localizaram-se a princípio nos Campos do Paraná, mais especificamente na região de Guarapuava, em 1810. A partir de 1840, com a colonização dos campos de Palmas, as autoridades nacionais e províncias passaram a negociar com alguns Kaingang que faziam a pacificação e o extermínio de grupos dos povos Indígenas com os não-índios. Houve na época

honrarias a quem tivesse a liderança de comandar os grupos a favor dos brancos. Muitos títulos de Hierarquia Militar foram dados a índios, além de armamentos e remuneração financeira. Desde os primeiros anos de conquista de Guarapuava, os índios colaboradores receberam o título de Capitão (IPUAÇU, 2007).

Na segunda metade do século XIX e até hoje, os Kaingang usam os termos de Hierarquia Militar para designar suas autoridades internas. Alguns índios se destacaram e tornaram-se conhecidos, como é o Major Vitorino Kondá, por ser considerado pelos brancos como um dos desbravadores da região oeste de SC, campos de Palmas, à região das Missões no Rio Grande do Sul (IPUAÇU, 2007).

Índio Kondá, hoje, é visto por alguns dos povos Indígenas como um dos grandes responsáveis pela colonização dos brancos, o qual não trabalhava a favor de sua própria gente. Em 1848, com a abertura deste caminho ao Rio Grande do Sul, as terras hoje denominadas TERRA Indígena Xapecó entraram para a colonização dos Brancos (IPUAÇU, 2007).

Conforme Ipuaçu (2007) em 1859, com o decreto 2.502, era criada a Colônia Militar, atual município de Xanxerê, mas a implantação de fato só ocorreu em 1822. Os objetivos no decreto de criação eram de:

a) defender as fronteiras;

b) proteger os habitantes dos Campos de Palmas contra a incursão dos índios arredios;

c) implementar a catequese e a civilização dos indígenas que ali viviam (IPUAÇU, 2007).

Entre os anos de 1882 a 1910, houve a distribuição de 255 títulos de propriedades aos agricultores, na periferia da atual cidade de Xanxerê, local que, na época, sediava a Colônia. Os agricultores que receberam estes títulos eram, na maioria, os nordestinos, ex- emigrantes da força militar. De 1902 a 1916, esta região pertenceu ao governo do Paraná, havendo muito interesse pelas terras, visto que eram férteis e de muita madeira. Aos índios foi limitado um espaço de terras - Toldo de Formigas. Ao mesmo tempo, o governo pagava aos índios que colaborassem para abertura de caminhos que levassem de Palmas ao Rio Grande do Sul (IPUAÇU, 2007).

Em 1902, as terras reservadas aos Índios eram de 76.623.000 hectares, conforme decreto:

Fica reservada, para o estabelecimento da tribo de indígenas coroados ao mundo do cacique Vaicrê, salvo direito de terceiros, uma área de terras compreendida nos limites seguintes: A partir do Rio Chapecó pela estrada que segue para o sul até o passo do Rio Chapecozinho, e por estes dois rios até onde eles fazem barra (Decreto n.7 de 18/06/1902 apud IPUAÇU, 2007).

Nestas terras havia inúmeros acampamentos que na época eram chamados de Toldos e se dividiam em muitos agrupamentos, chegando a um total de mais de 600 índios, segundo o Recenseamento do Brasil em 1890. Outras propriedades estavam neste limite de terras que o Decreto estabelecia, porém nas localidades estavam os brancos. Estas terras só foram reconhecidas mais tarde, em 1950 (IPUAÇU, 2007).

Houve uma lenta recuperação das terras indígenas desde este decreto. Há muita insatisfação por parte dos povos indígenas na questão de posse de terras que legalmente pertencem a estes grupos; do outro lado estão as gerações de ocupantes - agricultores que vivem destas terras. Atualmente existe o processo de legalização e devolução das terras aos indígenas, expandindo assim o Toldo do Chimbangue (IPUAÇU, 2007).

4.2 CARACTERIZAÇÃO SOCIOCULTURAL DA COMUNIDADE KAINGANG NO

No documento Cultura surda e educação escolar kaingang (páginas 46-49)