• Nenhum resultado encontrado

Na turma Pólo da Política de Educação de Surdos de Santa Catarina, da Escola Indígena Estadual Básica Cacique Vanhkre

No documento Cultura surda e educação escolar kaingang (páginas 71-73)

5 O ESPAÇO ESCOLAR: CONSTITUÍDO E CONSTITUINTE DE SIGNIFICADOS

5.3 A COMUNICAÇÃO NA ESCOLA, NA FAMÍLIA E NA ALDEIA DO MUNICÍPIO DE IPUAÇU

5.3.1 Na turma Pólo da Política de Educação de Surdos de Santa Catarina, da Escola Indígena Estadual Básica Cacique Vanhkre

A Educação Indígena com os surdos “Kaingang”, na região Oeste de Santa Catarina, acontece desde o ano de 2003, visto que esses estudantes foram aos poucos identificados na própria escola e posteriormente na aldeia com os demais, que estavam fora da escola. Nesse ano, a pesquisadora do projeto já se encontrava envolvida, por motivos profissionais da época (2003 a 2005), como Integradora de Educação Especial e Diversidade, na Secretaria Regional de Xanxerê, Gerência de Educação/Setor de Ensino.

Ainda no ano de 2003, foi realizado levantamento sobre crianças e jovens incluídos ou não nas escolas estaduais da Secretaria Regional de Xanxerê. Realizaram-se seminários, cursos e encontros de estudos sobre inclusão e diversidade, com a participação das Escolas Indígenas nesses eventos em nível regional.

Nas participações e em orientações nas escolas, através das queixas dos professores quanto à aprendizagem, foi possível identificar os estudantes que tinham alguma deficiência e os surdos. Após triagem, eles eram encaminhados para os exames clínicos. A princípio, foram realizados, na própria escola, os testes básicos de audição: tambor, apito, palmas e outros, com os que estavam na aula, pois havia, segundo os professores, aprendizagem lenta e impossibilidade de comunicação. Em seguida, foi feita uma visita às casas dos possíveis “surdos”, muitas vezes indicados pela expressão “Lá tem um que não fala”.

Após este levantamento, foram realizadas as audiometrias em 12 crianças com suspeita de surdez. Destas, 07 apresentaram perda auditiva e seriam estudantes para a Sala de Recursos e para a Turma Bilíngüe e 02 não responderam o exame e seriam necessários outros exames mais profundos, como a Audiometria de Tronco Cerebral (BERA). As outras 03 não apresentavam perda auditiva, mas outras complicações na fala e, conseqüentemente, na aprendizagem.

Realizou-se uma primeira proposta de alfabetização Trilíngüe, elaborada pelo setor de Ensino da Gerência de Xanxerê, e tendo a pesquisadora como mentora. Encaminhada à Fundação Catarinense de Educação Especial - FCEE e à Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina - SED, a proposta foi aprovada.

Iniciada a turma em 2004, pioneira no estado de SC, aplicou-se o que se sabia e o que se considerava adequado para oferecer alfabetização Trilíngüe, visto que tanto quem estava atuando (a Professora) quanto quem idealizou (a Integradora) não conheciam a Língua Kaingang oral4 e não tinham registros de Sinais dos estudantes como comunicação estabelecida5.

A proposta de Alfabetização Trilíngüe estava posta, e os estudantes identificados ingressados na escola; o que se tinha em mente era a possibilidade de ensinar, de oferecer a LSB, de instigar o conhecimento e assim levar à aprendizagem. Não se podia deixar esses surdos com a referência que tinham na aldeia. A Alfabetização, porém, ainda visava à contratação de pelo menos duas pessoas: uma Bilíngüe (LSB e Português) e um professor de Kaingang.

No segundo ano, 2005, o Estado de SC e a FCEE apresentaram uma proposta para a escolarização dos surdos em todo o estado, a qual foi implantada em 06 Pólos (regionais) em SC. A *Proposta do Estado de Santa Catarina na Educação de Surdos, pela FCEE e SED levou à criação da Turma com Ensino em Libras na EIEB Cacique Vanhkre, que se tornou Pólo na educação de surdos de todo o território Indígena da aldeia de Ipuaçu (SANTA CATARINA, 2007).

4 Língua Kaingang, Língua de tradição oral, falada pelos povos Indígenas Kaingang. 5 SKA: Sinais Kaingang na aldeia.

Proposta na Política de Educação de Surdos

Referendada pela Portaria E/19 de 04/05/2004 que dispõe sobre a implementação da Política para Educação de Surdos no Estado de Santa Catarina em unidades escolares da rede pública estadual de ensino de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2007).

Durante este tempo de implantação, foram realizadas três assessorias pela FCEE, através de uma equipe técnica pedagógica que vinha à escola onde os estudantes surdos estudavam. Estas assessorias, no entanto, não são realizadas desde 2006, por falta de recursos financeiros, segundo informação fornecida pela coordenação da Educação de Surdos, da FCEE de SC.

Na política do estado de Santa Catarina implantada para os surdos em praticamente todas as regionais, não existe uma diferenciação de especificidades aplicada à Educação de surdos, por região. Existe a Política que regulamenta as contratações e as ações a serem tomadas por igual, mas, pedagogicamente, não há metodologias diferenciadas, no caso, para os surdos Indígenas.

A política trata das questões de inclusão/exclusão do surdo no sistema escolar regular e das dificuldades de inserção devido à comunicação. Eis algumas questões/versões do documento:

Refletindo-se a respeito da educação em si, detectam-se vários problemas com o próprio processo de aprendizagem em termos qualitativos e quantitativos, pois já se espera menos dos estudantes “incluídos”. Além é claro, de o processo de aprendizagem não ser pensado de forma surda, o que exigiria uma revisão com a presença de pessoas surdas que possuem essa dimensão. O próprio currículo precisaria refletir e constituir essa forma surda, uma vez que se caracteriza enquanto dispositivo cultural e social e é fundamental no processo formador de identidade. Perlin (2000:23) observa que se a base da cultura surda não estiver presente no currículo, dificilmente o sujeito surdo irá percorrer a trajetória de sua nova ordem, que será oferecida na pista das representações inerentes às manifestações culturais. Perlin chama a atenção para a emergência na revisão das bases curriculares, pois esse currículo deve prever o contato do sujeito surdo para que haja manifestações culturais surdas. (SANTA CATARINA, 2007, p.33).

A Política de Educação de Surdos no Estado de Santa Catarina apresenta um detalhamento para a proposta, em que especifica a estrutura escolar, isto é, a quem se destina, por idade e turma, organizada em Pólos no estado ou por região.

5.3.2 Versão do documento da Política do Estado de Santa Catarina – Turmas com o

No documento Cultura surda e educação escolar kaingang (páginas 71-73)