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SUMÁRIO

Planta 1 1 – Sala de aula

3.3 A escola primária no Rio Grande do Sul

Para iniciar essa incursão mais específica no ensino primário do Rio Grande do Sul, é relevante destacar que não é somente com o a Proclamação da República e com a instauração do sistema Federativo, presente na Constituição de 1891, que o Estado começa a legislar sobre a instrução primária. O mesmo já exercia essa função, pois o Ato

Adicional de 1834, ainda sob regime monárquico, previa que cada Província do território nacional fosse responsável organização, implementação e fiscalização desse nível de ensino74. Conforme nos apresenta Fausto (2001, p.148), com a República se concretizou a autonomia estadual de uma maneira mais ampla, dando plena expressão aos interesses de cada região, refletindo no plano político, com a formação de partidos republicanos restritos a cada estado, onde tentativas de organização de partidos nacionais não obtiveram sucesso.

Foi a partir do Partido Republicano Rio-Grandense75 que se propôs a solução dos problemas do Estado através de um projeto de modernização, justificado a partir do conjunto de ideias elaboradas por Augusto Comte, vislumbrada na construção de uma sociedade racional, distinta da anterior76. A Constituição Estadual de 1891 foi marcada pela centralidade da figura de Júlio de Castilhos, seu único autor, sendo que a política ideológica estabelecida durante toda a Primeira República no Estado ficou conhecida como Castilhismo. O poder esteve centralizado por distintos e praticamente consecutivos mandatos, primeiramente com Júlio de Castilhos, Presidente da Província (1891-1897)77 e, logo em seguida como seu sucessor e seguidor, Borges de Medeiros, também adepto do positivismo (1898-1902; 1903-1907; 1913-1917; 1918-1922; 1923-1927).

A partir desse poder centralizado, forte, autoritário e violento, a ideia principal era moldada a partir do lema “conservar melhorando”. Na perspectiva da filosofia positivista, a organização de uma sociedade positiva dependia da intervenção do ser humano no espaço natural, na disputa entre barbárie e civilização. Caberia aos homens, de acordo com os princípios da ciência, pensar, organizar, construir os espaços e ordenar o tempo para essa nova sociedade que deveria surgir, estabelecendo o controle do homem sobre a

74 O Ato Adicional de 1834 (Decreto legislativo incorporado à constituição do Império) determinava a

autonomia relativa das províncias, atribuindo às Assembleias Provinciais legislar sobre a instrução pública e estabelecimentos próprios a promovê-la (art.10, inciso 2). Desse modo, a instrução primária gratuita tornou-se dever das províncias (SUCIPIRA, 1996).

75 O Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) foi fundado em 1882 e, quando instaurado o Regime

Republicano (1889), era numericamente inferior aos outros partidos. Segundo Pinto (1986, p.10), seus membros não faziam parte da tradicional elite pecuária da campanha gaúcha, que faziam parte do grupo opositor, o Partido Liberal. Os membros do PRR eram, em sua maioria, “pertencentes à região norte do Estado, de ocupação recente e mais pobre, quer pela ausência da indústria do charque, quer pela distância dos centros consumidores”.

76 De acordo com Tambara (1995), essa ideologia no Estado do Rio Grande do Sul apresentou certas

peculiaridades, decorrentes da justaposição das ideias de Auguste Comte e Júlio de Castilhos, o que se chamou de Castilhismo.

77 O início da República no Estado do Rio Grande do Sul foi marcado por instabilidade política,

principalmente pelos opositores do Partido Liberal, o que desencadeou, entre 1893-1895, uma guerra civil entre republicanos e federalistas. Entre 1889 e 1897, o Estado do Rio Grande do Sul teve 10 presidentes, 2 deles membros do Partido Republicano Rio-grandense (QUEIRÓS, 2006).

natureza, a construção dos espaços, a organização e determinação das ações humanas. Segundo Corsetti (2008, p.61), “na compreensão burguesa da realidade, da qual o positivismo é uma das vertentes, a questão social emergia como um elemento concreto, derivado da própria acumulação de capital”. Havia, portanto, a necessidade de “incorporar o proletariado à sociedade moderna”, limitando suas ações, assim como normatizando sua participação social.

Sob essa influência filosófico-política, o Estado do Rio Grande do Sul, principal mentor dessa organização, designou para diferentes esferas as responsabilidades desta intervenção social. A regeneração vislumbrada compreendia as esferas estruturais, morais, sociais, biológicas e psicológicas. Higiene e saúde, vícios e comportamentos, tudo deveria se alinhar para o progresso da sociedade. A instituição escolar, neste período, é vislumbrada como possuidora de todas as forças necessárias para a constituição do novo homem, o cidadão republicano. Uma formação que garantisse sanidade mental, higiênica, moral para o convívio social.

Com a descentralização dos Estados, as iniciativas do Governo Federal para a organização dos dados estaduais esbarraram, muitas vezes, na resistência dos Estados com qualquer tipo de intervenção federal (SOUZA, 2005, p.198). No Rio Grande do Sul, assim como ocorria em outros Estados, nos primeiros anos da República, foram constantes os levantamentos numéricos das categorias de sexo, lugar e data de nascimento, profissão, estado civil. Quanto à instrução, era cada vez mais recorrente o levantamento da população que sabia ler e escrever, entre homens/mulheres e crianças (0 – 14 anos) e acima de 15 anos, assim como dos imóveis urbanos e rurais, quase nada escapava da necessidade de contabilizar78.

Nesse contexto, a ciência, a educação e a moral constituíram importantes instrumentos de controle social e de veiculação ideológica. Dessa maneira, seria garantida a reorientação da sociedade e neutralização dos conflitos travados durante a guerra civil ocorrida entre 1893-1895, mantendo a estabilidade social em nome do “bem comum”. Em relação ao processo de modernização no Rio Grande do Sul, assumiam um caráter intervencionista no plano econômico e social. Em relação ao primeiro, buscou promover o progresso a partir dos moldes capitalistas, enquanto no âmbito social previa a

manutenção da ordem a partir do processo de pacificação como condição para o próprio desenvolvimento (CORSETTI, 2008, p.61-62).

O sistema de educação no Estado estava submetido à Secretaria de Negócios do Interior, sob comando de uma Diretoria de Instrução Pública, seu Diretor, secretários e inspetores. Estava marcado pela centralidade e pela hierarquização do poder do Presidente do Estado, que controlava a instrução pública por intermédio do Secretário dos Negócios do Interior e Exterior. O cargo de Inspetor Geral da Instrução Pública era subordinado hierarquicamente a ambas as autoridades, sendo responsável pela direção e inspeção do ensino, do qual dependiam além dos inspetores, os diretores, os professores e demais funcionários do setor79.

A figura do político Protásio Alves (1859-1933) marca a trajetória da Secretaria de Negócios do Interior e Exterior e a Instrução Pública no Estado80. Estudou Medicina no Rio de Janeiro, viajou pela Europa e retornou ao Estado do Rio Grande Sul, onde iniciou sua carreira como médico e político, membro do PRR. Primeiramente, como Diretor da Higiene (1891-1896; 1901-1904), e, posteriormente, como Secretario dos Negócios do Interior e Exterior, cargo exercido entre 1906 e 1928, sob governo de Borges de Medeiros.

Sua relação com a instrução pública esteve estritamente vinculada com a subordinação que a Diretoria de Instrução Pública possuía com a Secretaria da qual comandava, interesses pessoais, assim como a centralização e fiscalização exercida pelos dirigentes políticos republicanos. Em síntese, suas ações em torno da instrução compreenderam a expansão da instrução para as regiões de imigração e escolas religiosas, promovendo o ensino da língua nacional; a preocupação com a formação do magistério e a experiência de outros países, principalmente por uma missão de estudos de professores (as) para o Uruguai, em 191381; busca pela expansão da rede de ensino público e privado,

79 Segundo Corsetti (2008, p.67), “essa estruturação manteve-se quase inalterada até o final da década de

1920, tendo sido modificada no período de 1911 a 1927, período em que ficou suprimida a Inspetoria Geral da Instrução Pública, tendo sido extinto o cargo de Inspetor Geral”. Durante essa fase, o serviço de Instrução Pública foi entregue à Repartição Central da Secretaria do Interior e Exterior, o que culminou em uma ainda maior centralização durante o período.

80 Sobre, ver Campos e D’Azevedo (2005).

81 A Missão de Estudos para Montevidéu/Uruguai foi patrocinada pelo Governo do Estado, em 1913 tinha

como objetivo realizar estudos e fazer observações acerca do funcionamento e organização das escolas primárias daquele país, no intuito de reorganizar o ensino público no Estado. Contou com a presença de dois professores e quatro professoras, sendo chefiada pelo diretor da Escola Complementar da Capital, Alfredo Clemente Pinto e composta pelo professor Afonso Guerreiro Lima e as professoras Ondina Godoy Gomes, Georgina Godoy Moritiz, Marieta de Freitas Chaves e Florinda Tubino. De acordo com Peres (2010), “a experiência de estudo, pesquisa, observação, vivência e aprendizagem, no País vizinho frutificou”. Desse modo, a convite do governo uruguaio e com as despesas pagas pelo estado, o governo

elementar, complementar e superior. Seus discursos são repletos de palavras voltadas para a educação, examinava os resultados da pedagogia vigente, decidia sobre os livros a serem adotados nas escolas e aconselhava professores sobre métodos e programas. Suas ações eram descritas ano após ano nos Relatórios da Secretaria do Interior e do Exterior e da Diretoria de Instrução Pública, intercaladas por longos trechos de orientações, visando o progresso através da conservação da ordem social.

No período compreendido entre a Proclamação da República Brasileira (1889) e o Regulamento que organiza a instrução primária, promulgado em 02 de fevereiro de 1897, o Estado do Rio Grande do Sul estava dividido em 3 zonas escolares, com 3 fiscais para cada uma. Esse momento é marcado pelos primeiros balanços, discussões em torno das premissas que deveriam reger a instrução pública, fazendo um diagnóstico de seus problemas e buscando soluções. Como salientamos anteriormente, o primeiro movimento em torno da educação na Primeira República Brasileira compreendia a busca pela diminuição do número de analfabetos, a partir da ampliação da rede escolar primária por diferentes regiões.

Os relatórios anuais da Diretoria de Instrução Pública, submetida à Secretaria do Interior do Estado do Rio Grande do Sul, contém uma série de dados quantitativos. No ano de 1893, por exemplo, o Diretor de Instrução Pública, João Pedro H. Duplan afirma que: “existem criadas: 751 aulas, sendo 613 providas. Estão em exercício, 613 professores (334 homens e 279 mulheres), a frequência escolar é de 15.688” (DIP/RS, 1893, p.11). No entanto, além da análise quantitativa da instrução pública, os relatórios também apresentam as discursividade acerca dos fundamentos da educação, os projetos de regulamento, os fins do ensino primário.

Nas discussões que antecedem o projeto de Regulamento da Instrução Pública Primária (1897) do Estado do Rio Grande do Sul, o Diretor da Instrução Pública, Manoel Pacheco Prates, coloca as principais bases para uma “boa organização do serviço de Instrução Pública”, como: “garantia, responsabilidade e competência profissional do professorado; fiscalização constante, unidade administrativa, laicidade, gratuidade e liberdade de ensino (DIP/RS, 1895, p.186).

gaúcho enviou seis alunas-mestras para estudar na Escola Normal de Montevidéu e na Escola de Aplicação daquela cidade (Carolina Cunha, Olga Acauãn, Marina Cunha – para a escola normal e Idalina Mariante Pinto, Maria José de Souza e Branca Diva Pereira para a escola de Aplicação (PERES, 2010, p. 78). Em próximo capítulo abordaremos as questões apontadas sobre os prédios escolas das escolas uruguaias. Sobre, ver Arriada (2007) Michel; Arriada (2017).

Também é abordada a modificação no funcionamento das aulas de três municípios do Estado: Porto Alegre, Rio Grande e Pelotas, com a divisão em distritos escolares e o estabelecimento de dois colégios – um para sexo masculino e outro para feminino – com número de professores suficientes para cada classe, segundo as matérias ensinadas e o grau de adiantamento dos alunos. Destaca a necessidade do diretor e as vantagens pedagógicas e econômicas deste novo modelo:

Não me demorarei agora em demonstrar as vantagens desta organização. Elas são intuitivas, quer sob o ponto de vista administrativo e econômico, quer pedagógico; pois além de tudo fará nascer o estímulo entre os alunos e daí os resultados do nobre e fecundo esforço, que empregarão com o fim de passarem de uma classe atrasada para outra adiantada; virá finalmente despertar e desenvolver a amor pela escola e a vida escolar com todas as suas sadias e duradouras alegrias, até hoje completamente desconhecidas da população infantil que frequenta as nossas escolas públicas (DIP/RS, 1895, p.194).

A Diretoria de Instrução Pública lista 19 municípios onde existiam escolas a mais do que seria necessário para a instrução elementar (DIP/RS, 1895, p. 197). Das 376 escolas em atividade, deveriam existir 283 instituições, já que havia a necessidade do suprimento das aulas avulsas e o consequente agrupamento em um único estabelecimento era apontada como uma ação urgente, para o qual se destinariam todas as crianças de uma mesma localidade.

O objetivo principal, nesse primeiro momento, era a reforma completa do modelo de ensino primário, a partir dos seus atores e estrutura física: dos mestres (bem preparados e bem remunerados); escolas boas (melhores edifícios, claros e espaçosos); mobiliário escolar (decente e moderno) (DIP/RS, 1895, p.6). No ano seguinte, é lamentada a impossibilidade de colocar em funcionamento o novo regulamento, devido problemas orçamentários. Mesmo assim, apontam medidas necessárias para a melhoria do ensino, destacando a importância da fiscalização das aulas públicas, com ênfase às faltas cometidas pelo professorado; a aquisição de casas próprias para as escolas, com mobília recomendada pela pedagogia moderna; o método a ser seguido em todas as escolas e a adoção dos livros escolares (DIP/RS, 1896, p.199).

A necessidade de substituir gradativamente as casas alugadas pelos prédios próprios é um dos principais temas abordados pelo Diretor de Instrução Pública. Nas palavras do Diretor de instrução pública do Estado do Rio Grande do Sul, os fins da educação primária

eram amplos, e não consistiam apenas aos ensinamentos de ler, escrever e contar, mas sim,

Educar consiste em um processo que abrange a tríplice natureza humana. Exerce sua benéfica ação sobre o corpo, desenvolvendo-o com observância inteligente e sistemática das benignas leis de higiene que conservam a saúde e prolongam a existência. Sobre a inteligência, robustecendo-a e enriquecendo-a com conhecimentos úteis e cultivando-lhe o gosto que se eleva com a virtude; finalmente, sobre as faculdades morais, fortalecendo-lhe a consciência do bem e do dever. (Relatório de Instrução Pública do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 1896, p.297)

A escola primária é vislumbrada, na discursividade dos dirigentes políticos no Estado, como o “futuro dos povos”, um “sustentáculo dos governos republicanos”. Partindo do princípio de uma formação integral – moral, física e intelectual – educar consistia em um processo que abrange a tríplice natureza humana. O ensino primário deveria compreender “o conhecimento e o uso da linguagem; o exercício e lógico desenvolvimento dos poderes físicos, morais e intelectuais; assim como as ideias e os conhecimentos que, iluminando a inteligência, lhe darão os materiais necessários para a vida do pensamento” (DIP/RS, 1896, p. 299)

Em relação à formação moral e intelectual, seria o adotado o modelo americano82, aplicado também na República Argentina e com adaptações à legislação brasileira. Quanto à educação física, seriam extraídos alguns elementos o modelo das escolas alemãs, possíveis de serem aplicados. A organização do tempo escolar, de cinco horas diárias, deveria estar dividida de modo que entre cada lição (que nunca excederá a ¾ de hora), com um intervalo de 15 minutos, destinado aos cânticos escolares executados em movimentos adequados, conforme os compêndios que se adotarem. Para tanto, era destacada a necessidade de salas espaçosas, para que entre as filas de bancos as crianças executem os movimentos recomendados. Os exercícios de educação física desenvolveriam, ao longo dos anos, além do vigor e agilidade, o sentimento de coletividade em sobreposição aos instintos individualistas83.

82 O modelo americano estava baseado no liberalismo e no protestantismo, que marcou profundamente os

primeiros anos da República brasileira e suas reformas (disputas entre o iberismo - tradição que deveria ser abandonada - e americanismo – o novo modelo a ser seguido). Acreditava na transformação da sociedade a partir da escola, que seria um instrumento para abrir o caminho que levaria a nação a forjar o homem novo racional e industrioso, segundo o modelo norte-americano (VIEIRA, 2008, p.28). Sobre, ver Carvalho (1990), Monarcha (1999), Warde (2000), Faoro (2001), entre outros.

83 A unidade da educação também deveria estar prevista pela adoção de livros, já que existiam adotados

Após alguns anos de discussões e projeções, a instrução primária do Estado foi reorganizada pelo decreto n. 89 de 02 de fevereiro de 1897, que estabeleceu 7 zonas escolares, conforme quadro a seguir:

Quadro 2: Regiões escolares e a inspeção do ensino (1897)

Região Municípios Sede Inspetor

1ª Porto Alegre, Viamão, Dores e São João de Camaquã.

Porto Alegre Arthur Toscano Soares Barbosa 2ª São Leopoldo, São Sebastião,

Taquara, Gravataí, Santo Antônio da Patrulha, Conceição do Arroio e Torres.

São Leopoldo João Pedro Henrique Duplan

3ª São João do Monte Negro, Bento Gonçalves, Caxias, Vacaria, Lagoa Vermelha, Lajeado, Estrela, Taquari, Triunfo e São Jeronimo.

São João do Monte Negro

Lucio Brasileiro Cidade

4ª Santo Amaro, Venâncio Aires, Santa Cruz, Rio Pardo,

Encruzilhada, Cachoeira, São Sepé, Santa Maria, São Vicente, São Martinho, São Francisco de Assis, Caçapava e Lavras.

Santa Maria José Pena de Moraes

5ª São Gabriel, Rosário, Alegrete, Livramento, Quaraí, Uruguaiana e Itaqui.

São Gabriel Manoel Pinto da Costa Brandão Junior 6ª Pelotas, São Lourenço do Sul, Rio

Grande, São José do Norte, Santa Vitória, Jaguarão, Herval, Arroio Grande, Piratini, Canguçu,

Cacimbinhas, Bagé e Dom Pedrito

Pelotas Manoel Inácio Fernandes

7ª Vila Rica, Cruz Alta, Soledade, Passo Fundo, Palmeira, Santo Ângelo, São Luiz, São Borja e São Thiago do Boqueirão.

Cruz Alta Vago

Fonte: Quadro elaborado pela autora, de acordo com as informações do Relatório da Diretoria de Instrução Pública/RS, 1897, p. 302.

O Estado do Rio Grande do Sul contava, no ano de 1900, com 65 municípios fazendo fronteira com a Argentina, o Uruguai e com o Estado de Santa Catarina, conforme mapa a seguir:

e uma doutrina. Os livros legalmente adotados, em 1891, e fornecidos regulamente para as escolas eram: João de Deus – Cartilha Maternal, Hilário Ribeiro – Cartilha Nacional; Abílio – Primeiro Livro de Leitura; Ubatuba; Samorin de Andrade – Primeiro Livro. Quanto ao ensino de aritmética nas escolas primárias, o livro adotado era a Primeira e Segunda Aritmética de Souza Lobo, sendo destacada como de grande valia para a instrução.

Figura 3: Divisão Municipal em 1900. Estado do Rio Grande do Sul

Fonte: http://www.scp.rs.gov.br/upload/muni_1900(2).pdf

Uma das principais prerrogativas propostas pelo novo regulamento é o processo de fiscalização, que seria realizada por um inspetor geral, os inspetores de regiões, dos conselhos distritais e do conselho escolar84. Segundo Corsetti (2008, p.67),

a organização das atividades de fiscalização de ensino talvez tenha representado, em paralelo com a habilidade demonstrada na manipulação do orçamento público, o elemento da estrutura educacional rio-grandense onde a criatividade dos republicanos mais se evidenciou. A constituição de um sistema inédito de inspeção escolar caracterizou a experiência educacional dos dirigentes gaúchos, que conseguiram reunir os funcionários do Estado às próprias comunidades, nas tarefas fiscalizadoras do ensino.

84 A Diretoria de Instrução Pública ficou composta do seguinte pessoal: 1 Inspetor Geral; 1 Diretor; 1

Subdiretor; 1 Primeiro Auxiliar; 3 Segundos Auxiliares; 1 almoxarife-arquivista; 1 porteiro; 1 contínuo- correio; 1 servente (DIP/RS, 1897, p.301)

O ensino primário, a partir do Regulamento de 1897, fica dividido em elementar e complementar, sendo, o primeiro ministrado exclusivamente pelas escolas elementares “bem organizadas e constantemente inspecionadas” e, ambos, em colégios distritais, “com tantos professores quantas forem as classes em que se dividir o curso”. O artigo 3º do regulamento prevê que, nos colégios distritais, deve-se ensinar “quase todo o curso de madureza exigido para a matrícula nos cursos superiores; que este ensino será ministrado de acordo com o sistema de Ginásios, isto é, em um curso harmônico e graduado, não parcelado como atualmente se faz” (DIP/RS, 1897, p.404).

O método adotado era o intuitivo e prático, começando pela observação de objetos simples para depois elevar-se à ideia abstrata, à comparação, generalização e ao raciocínio. O modo empregado pelos professores deveria ser o simultâneo, sendo as lições dadas diretamente aos alunos pelo professor, que deveria primar pelo adiantamento geral e uniforme da classe. Outro aspecto abordado no Regulamento refere-se à instrução moral e cívica, que deveria ocupar constantemente a atenção do professor, sem um curso especial. Os mestres deveriam promover o amor ao trabalho e aos estudos, sentimento de bem e a consciência dos deveres morais (DIP/RS, 1897, p.406).

Em relação à organização do tempo e a adoção de livros, cabe destacar que a duração da seção escolar diária, de cada lição e o de cada recreio ou exercício, deveriam ter em vista as necessidades do ensino e os preceitos de higiene. No entanto, a Diretoria de Instrução Pública deixou a confecção do horário a cargo do professor, mediante a aprovação do Inspetor Regional. O problema da diversidade de livros ficou aparentemente resolvida com a adoção da “Cartilha Maternal”, de João de Deus85 e “O Rio Grande do Sul para as escolas”, de José Pinto Guimarães86 (DIP/RS, 1897, p.411).