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SUMÁRIO

Planta 1 1 – Sala de aula

5. A ESCOLA PRIMÁRIA E O PATRIMÔNIO HISTÓRICO-EDUCATIVO NO RIO GRANDE DO SUL

O presente capítulo tem como objetivo analisar os espaços escolares adaptados e construídos pelo Governo do Estado do Rio Grande Sul, nas três primeiras décadas do século XX. Para tanto, partimos das reflexões propostas por Viñao (2008), de que os espaços escolares, projetados ou não são parte integrante do patrimônio histórico- educativo, incluindo suas transformações ao longo de sua trajetória:

Los espacios escolares, edificados o no, e independientemente de su origen, forman ya parte del patrimonio histórico-educativo. Incluso, en sus sucesivas modificaciones y usos, - piénsese, por ejemplo, en las salas de usos múltiples convertidas en aulas por necesidades escolarizadoras o en las capillas transformadas en salones de actos -, o en su misma configuración y morfología, reflejan las ideologías o concepciones pedagógicas predominantes en cada caso, las culturas y tradiciones escolares y los cambios acaecidos en las mismas (p.25).

Valendo-se dessa concepção acerca dos espaços escolares apresentamos o levantamento das construções, adaptações e reformas dos edifícios escolares realizadas pelo governo do Estado, sob a responsabilidade da Diretoria de Obras Públicas do Rio Grande do Sul. Em seguida, adentramos no universo das primeiras instituições de ensino primárias que foram construídas, onde enfatizaremos os diferentes projetos, dentre escolas isoladas, colégios elementares e grupo escolar, entre 1907-1928 pelo Governo Estadual. Também buscamos conhecer aspectos de sua trajetória, e a situação em que se encontram na atualidade, no intuito de estabelecer uma discussão em torno do patrimônio histórico-educativo.

As construções, reformas e adaptações foram realizadas em diferentes tipos de escolas primárias: colégios elementares, grupos escolares e aulas isoladas. Os dois prédios de maior monumentalidade foram construídos na Capital do Estado, na zona central da cidade de Porto Alegre, sendo 18 instituições ao todo, nove de cada tipo. Apresentamos, primeiramente, os espaços escolares adaptados, ressaltando as reformas realizadas no período e explanando alguns aspectos de sua trajetória, sendo eles: os colégios elementares Voluntários da Pátria, Souza Lobo e o Grupo Escolar 13 de Maio, todos do município de Porto Alegre, e, os colégios elementares de Santa Cruz do Sul, Cachoeira, São Leopoldo, Bagé, Santa Maria e São Gabriel, localizados nos respectivos municípios. Devido à dimensão territorial e às dificuldades de acesso às fontes locais, o

objetivo principal foi dar visibilidade a estes estabelecimentos, os reconhecendo enquanto patrimônio da educação.

Os edifícios projetados e construídos para as atividades escolares continuam, em sua grande maioria, exercendo as atividades como instituição educativa. Desse modo analisaremos aspectos de sua construção, trajetória e sua relação com o patrimônio histórico-educativo do Rio Grande do Sul, das seguintes instituições: Escola Isolada Campo da Redenção, Colégio Elementar Fernando Gomes, Colégio Elementar de Santana do Livramento, Curso Elementar Anexo à Escola Complementar, Grupo Escolar da Tristeza, Aula de Gravataí, Colégio Elementar de Passo Fundo, Colégio Elementar de Cruz Alta, Aula Isolada da Chácara das Bananeiras. Para tanto, retornaremos os aspectos da discussão do conceito de patrimônio, as iniciativas de preservação do patrimônio no âmbito histórico-educativo e a importância do suporte arquitetônico para o patrimônio cultural.

5.1 Espaços escolares adaptados na história rio-grandense

Conhecer os espaços onde funcionaram as instituições de ensino públicas possibilita compreender uma parcela significativa do lugar da escola primária no cenário rio-grandense em grande parte do século XX. Na maioria dos casos, estes vestígios são difíceis de rastrear, tendo em vista que grande parte das edificações era alugada e não deixaram registros quanto às plantas e projetos e, nem sobre planos de adaptações e reformas. Quando os edifícios foram comprados ou doados ao poder público estadual, os casos que precisamente vamos analisar nesta pesquisa, torna-se possível localizar informações na documentação oficial, apesar de não ser uma regra, pois esse tipo de escola possuía uma categoria inferior aos edifícios projetados.

Quadro 19: edifícios adaptados e reformados para escola primária (1906-1918)

Nome antigo Município Adaptações Observações

1 Colégio Elementar de Santa Cruz Santa Cruz do Sul 1906 No edifício funciona atualmente a Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão. Colégio Elementar de Bagé

Bagé 1909 Não localizamos informações do antigo edifício.

2 Colégio Elementar de Cachoeira

Cachoeira 1913-1914 Não localizamos informações do antigo edifício. Provavelmente deu origem à Escola Estadual Antonio Vicente, que foi construída na zona central da cidade.

3 Colégio Elementar de São Leopoldo

São Leopoldo 1913 - 1914 O edifício antigo não existe mais. Nas mediações foi construído o novo prédio da escola, denominada Escola Estadual Visconde de São Leopoldo.

4 Colégio Elementar Voluntários da Pátria

Porto Alegre 1913 O edifício antigo não existe mais. Atual Escola Estadual Camila Alves Furtado.

5 Colégio Elementar Souza Lobo

Porto Alegre 1913 Prédio demolido em 1962. No mesmo local segue as atividades da Escola Estadual Souza Lobo.

6 Grupo Escolar 13 de Maio

Porto Alegre 1917 Prédio antigo não existe mais. Atual Escola Estadual Presidente Roosevelt.

8 Colégio Elementar de Santa Maria

Santa Maria 1917 Não localizamos informações do antigo edifício.

9 Colégio Elementar de São Gabriel

São Gabriel 1918 No local funciona

atualmente a sede da Secretaria da Fazenda do Estado.

Fonte: Quadro elaborado pela autora (2016)

Colégios elementares de São Gabriel e Santa Cruz do Sul

Dos edifícios adaptados, cabe salientar, primeiramente, a construção de dois edifícios para Colégios Distritais, um no município de São Gabriel e outro em Santa Cruz do Sul, entre 1902 e 1903, que, posteriormente, foram adaptados para serem colégios elementares. Conforme assinalamos anteriormente, os colégios distritais sobreviveram poucos anos sob esta nomenclatura, e tinham como objetivo a formação do corpo docente qualificado para atender as aulas públicas primárias, com o apoio dos municípios com a doação de terrenos e construções de prédios próprios.

Os dados referentes ao momento da construção dos colégios de São Gabriel e Santa Cruz não foram localizados, tendo em vista que os projetos foram executados pelos poderes municipais. Os mesmos foram doados ao Estado com a finalidade de se tornaram colégios elementares. O de São Gabriel foi criado pelo decreto número 2315, de 1918 e ocupou as dependências do prédio do extinto Colégio Distrital, construído com donativos de particulares e do poder municipal. Composto por um pavimento e porão, a construção se estende por um quarteirão, com duas entradas, para ambos os sexos, conforme visualizamos na fotografia a seguir.

Figura 32: Colégio Elementar de São Gabriel (1924)

Fonte: Relatório da Diretoria de Instrução Pública/RS ,1924, s/p.

Logo após o início das atividades do colégio elementar, a Diretoria de Obras Públicas relata alguns pequenos trabalhos de reparações, fiscalizados pelo engenheiro Antônio de Siqueira (DOP/RS, 1918, p.7). No ano de 1920, uma série de reformas foram realizadas pela mesma diretoria, tais como: o retelhamento do telhado, o conserto do madeiramento, colocação de calhas de zinco para esgoto das águas fluviais, consertos para para-raios, nas fechaduras, ferragens em geral, colocação de vidros, demolição e levantamento de paredes e construção de um pequeno depósito, executadas pelo empreiteiro José Ruchiega (DOP/RS, 1920, p.14).

Neste mesmo ano foi realizada a substituição do passeio de laje por mosaico e a reforma completa dos serviços sanitários, que compreendia “6 privadas, fossas depurativas com leitos bacterianos e um poço absorvente, tudo com respectivas canalizações. A água será tirada de um poço existente por um moinho a vento. Foram fiscalizados e dirigidos pelo Eng. João Pianca que também organizou o projeto de instalações sanitárias” (DOP/RS, 1920, p.14).

Segundo dados da Secretaria de Turismo do município de São Gabriel, o edifício abrigou o Foro da Comarca de São Gabriel e, atualmente, ocupam o espaço diferentes setores da Secretaria da Fazenda do Estado (Exatoria), da administração municipal, como Secretaria de Turismo, Setor de Habitação, Setor de Imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR) e do Imposto sob Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS),

bem como o setor de perícias da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, além da Unidade do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial do Rio Grande do Sul (SENAC/RS).

Com acesso a algumas fotografias atuais, podemos identificar a situação precária em que edifício se encontra, permanecendo a menção na fachada de entrada do “Collegio disctrital para meninos/as 1901” e o símbolo da bandeira do Estado.

Figura 33: Fachada da Secretaria da Fazenda do Estado, sede São Gabriel (2016)

Figura 34: Detalhe da fachada da Secretaria da Fazenda do Estado, sede São Gabriel (2016)

Fonte: acervo particular (2016)

Outra situação foi a do Colégio Distrital de Santa Cruz do Sul, construído pelo poder municipal, através de um acordo firmado entre o intendente Pita Pinheiro e o Sr. Clemens Borggreve157. Foi inaugurado no ano de 1903, na presença do Inspetor Geral do Ensino, Manuel Pacheco Prates, com a denominação de Colégio Distrital Júlio de Castilhos, em homenagem ao Presidente da Província falecido neste mesmo ano. A partir de 1906 foi transformada em Escola Complementar e no ano de 1909 passou a ser denominada Colégio Elementar Júlio de Castilhos.