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SUMÁRIO

ENTRESSÉCULOS (XIX-XX) 127 4.1 Modelos e experiências internacionais

3. A ESCOLA PRIMÁRIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA BRASILEIRA (1889 1930)

3.2 Panorama dos grupos escolares no Brasil

Os grupos escolares tornaram-se, entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX, o modelo de escola primária em grande parte dos Estados do Brasil, tanto

63 Para uma análise quantitativa entre homens e mulheres na direção dos colégios elementares e grupos

escolares no período, ver Peres (2000, 2010).

64 Sobre as exposições universais, ver Pesavento (1997), Kuhlmann (2001), Warde (2002). Sobre a primeira

exposição do Rio de Janeiro, ver Bastos (2005).

65 Em próximo subcapítulo trazemos a experiência realizada por um grupo de professores do Estado do Rio

por sua estrutura física, como pela organização metodológica e curricular. Resultado de uma reunião ou agrupamento de escolas existentes em uma determinada zona da cidade (aulas isoladas), o termo “escola” deixa de ser usado apenas para designar um grupo de alunos e passa a referir-se a um espaço especializado, com características apropriadas à sua função de ensino-aprendizagem. De acordo com Souza (1998, p.122), trata-se do momento histórico de consolidação da escola como uma instituição social independente das demais.

Em relação à nomenclatura, cabe salientar que esse modelo escolar nem sempre foi denominado de grupo escolar. Primeiramente, ficou conhecido como “escolas centrais” ou “escolas graduadas” e, foi também chamado de “escolas reunidas”, de modo geral, para designar um conjunto de escolas que funcionavam em um mesmo prédio, mas possuíam administrações independentes entre si (SOUZA, 1998, p.50). No entanto, a denominação de Grupo Escolar foi a que persistiu ao tempo e somente se modifica com a Lei nº 5692, de dezembro de 1971, que transforma o ensino primário em primeiro grau, de 8 anos, reunindo os antigos primário e ginásio.

O projeto da nova escola primária significava opor-se a todo um modelo educacional oriundo do período colonial e imperial, que consistia na instrução voltada para uma pequena parcela da população e, na maioria dos casos, desenvolvida no ambiente doméstico. A escolarização, ao longo do século XIX, no Brasil, foi progressivamente assumindo as características de uma luta do governo do estado contra o governo da casa. No âmbito simbólico, o afastamento da escola da casa familiar significava distanciá-la das tradições culturais e políticas organizadas e visíveis no espaço doméstico (FILHO e VIDAL, 2000, p. 24).

De acordo com os primeiros dados estatísticos organizados pelo Estado, podemos nos aproximar da situação em que se encontrava a escolarização no Brasil neste período, ou seja, o reduzido número de crianças que frequentam a escola. O analfabetismo atingia a grande maioria da população brasileira, e este se transformou no símbolo do atraso nacional. A Diretoria Geral de Estatística foi criada em 1871 pelo Governo Imperial, em um contexto de inexistência de informações básicas para o desenvolvimento desse tipo de trabalho. Segundo Souza (2005, p.198), instituída a República, “a situação dos serviços estatísticos ainda era irregular, apesar de algumas medidas tomadas ao longo da Primeira República”66. Esses dados seriam uma possibilidade de aproximação do processo de

66 Segundo Bastos (2011, p.346), as Conferências Populares da Freguesia da Glória, promovidas por

escolarização nacional, fornecendo indícios e rastros não apenas a rede pública municipal, estadual e federal, como também da privada.

Na Capital do Estado de São Paulo, a primeira escola primária pública projetada - até onde temos conhecimento, primeira também do Brasil - foi a “Escola Modelo da Luz”, posteriormente denominada “Grupo Escolar Prudente de Moraes”67. Iniciada no ano de 1893, sua construção esteve relacionada ao desenvolvimento da economia cafeeira e os “incipientes processos de industrialização e urbanização permitiram aos reformadores da instrução pública vislumbrar as escolas graduadas como um melhoramento e um fator de modernização cultural e educacional” (BUFFA e PINTO, 2002, p.33-34).

educacionais na cidade do Rio de Janeiro. De modo geral, as conferências apoiam-se em dados estatísticos, de vários países da Europa e Estados Unidos, para evidenciar o atraso brasileiro e a necessidade de instrução pública, sendo assinalada como origem de todos os problemas nacionais. Também, “expressam filiação com ideias em circulação dos principais pensadores de seu tempo”. As estatísticas da Diretoria Geral da Instrução Pública do Estado de São Paulo, no ano de 1918, atestam que mais da metade da população em idade escolar não frequentava a escola. Os dados do Censo do Estado do Rio Grande do Sul, de 1920, contabiliza uma população total, de 0 a 14 anos, de 954.186 pessoas. Destes, 165.647 eram alfabetizados e, 788.539 não possuíam este saber (Fundação de Economia e Estatística do RS, 1981, p.129-130)

67 A criação dos Grupos Escolares no Estado de São Paulo é aprovada com a Lei nº 169 de 1893 e o Decreto

nº 248 de 1894. De acordo com Souza (1998, p.47), “Caso houvesse mais de uma escola no raio traçado para a obrigatoriedade escolar, o conselho superior poderia fazê-las funcionar em um só prédio, para este fim. No ano de 1898, o critério passou a ser a existência de 6 escolas no raio traçado para a obrigatoriedade. Em 1904 a exigência passou a ser o número de alunos, no mínimo de 200 para cada sexo”.

Figura 1: Plantas escolares do Estado de São Paulo

1 - Planta do Grupo Escolar do Brás. Nível térreo. Autor do projeto Ramos de Azevedo. 2 – Planta da Escola Modelo da Luz. Nível térreo. Autor do projeto Ramos de Azevedo.

Fonte: BUFFA; PINTO, 2002, p. 36.

Em menos de 30 anos, entre os anos de 1894 e 1919, o governo paulista instalou 101 grupos escolares, sendo 24 na Capital e 77 no interior. Na Capital, 6 prédios pertenciam ao Estado, sendo que apenas 2 foram construídos para finalidade de ser escola de instrução primária (SOUZA, 1998). Em relação ao seu programa de ensino, bastante amplo, compreendia,

Leitura e princípios de gramática; escrita e caligrafia; contar e calcular sobre números inteiros e frações, geometria prática (taquimetria); educação cívica; sistema métrico decimal; desenho a mão livre; moral e prática; noções de geografia do Brasil, especialmente do Estado de São Paulo; cosmografia; noções de ciências físicas, químicas e naturais, nas suas mais simples aplicações, especialmente à higiene, história do Brasil e leitura sobre os grandes homens da história; leitura de música e canto; exercícios ginásticos e militares apropriados à idade e ao sexo. (SOUZA, 1998, p. 172)

Outros Estados Brasileiros, a partir da iniciativa paulista, começam a investir no modelo de grupo escolar. Segundo Souza e Araújo (2013, p.107), a instauração destas

Planta 1