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Os historiadores Edward Palmer Thompson, Eric Hobsbawm e Raymond

Williams, dentre outros, estão na gênese dos estudos culturais, sendo numa perspectiva

inglesa, os promotores, da história vista a partir de baixo. De forma concreta, seus

estudos influenciaram os campos da sociologia, história, psicologia, filosofia e a

educação. Para Filho e Vidal Et alli, (2004), as contribuições desses expoentes foram

apropriadas “[...] pelo campo da educação também de maneira variada, incitando os

educadores a reconhecer a existência de uma cultura escolar que demandava

investigação” (FILHO, VIDAL Et alli, 2004, p. 141). A partir de então, a escola tomada

como objeto de estudo cultural, tornou-se uma constante em diversas áreas da pesquisa

no Brasil.

Segundo Filho e Vidal Et alli, (2004) um dos primeiros artigos sobre cultura

escolar data de 1990 e foi desenvolvido por André Chervel, sob o título História das

disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa, no qual defendeu a

capacidade da escola em produzir uma cultura específica, original, única.

Em 1991 José Mário Pires Azanha, apoiado em Thompson (1963) e Williams

(1969), publicou Cultura Escolar brasileira: um programa de pesquisas, tornando-se

referência nessa temática. O artigo “[...] partia de uma interrogação sobre a crise em

educação e propunha um inventário das práticas escolares, de maneira a realizar um

mapeamento cultural da escola, atento à sua constituição social” (FILHO, VIDAL Et

alli, 2004, p. 141). O trabalho de Azanha (1991) foi fruto do grupo de pesquisa da USP,

tendo como participantes as professores Marta Carvalho, Maria Cecília de Souza, dentre

outros.

Jean Claud Forquin no ano de 1992 no livro Escola e Cultura, fruto de sua tese

de Doutorado, e no artigo Saberes escolares, imperativos didáticos e dinâmica sociais,

considerou a cultura escolar como seletiva, no que se refere à cultura social, e derivada,

quanto “[...] à sua relação com a cultura de criação ou invenção das ciências fontes”

(FILHO e VIDAL Et alli, 2004, p. 146). Como cultura escolar Forquin (1992), entende

o conjunto de características que formam o cotidiano escolar. Na sua compreensão, a

cultura é vista como “[...] um mundo humanamente construído, mundo das instituições e

dos signos no qual, desde a origem, se banha o indivíduo humano, tão somente por ser

humano, e que constitui como que sua segunda matriz” (FORQUIN, 1993, p. 168).

Em 1993, Dominique Julia, publicou A cultura escolar como objeto histórico,

voltando seu interesse para as culturas infantis, parte integrante da cultura escolar. Julia

convidava os historiadores da educação a observarem as práticas cotidianas e o

funcionamento da escola; entendia que era importante enfatizar, não somente normas,

mas também as práticas escolares. De forma objetiva propunha uma ampliação das

fontes escolares, não se fixando somente aquelas tradicionais. Segundo Filho e Vidal Et

alli, (2004), “[...] há aproximadamente dez anos, a categoria cultura escolar vem

subsidiando as análises históricas e assumindo visibilidade na estruturação propriamente

dita de eventos do campo” (FILHO e VIDAL Et alli, 2004, p. 142). No ano de 2003, a

cultura escolar, como objeto de pesquisa, recebeu impulso com o 1º Seminário sobre

Cultura Escolar, organizado por Rosa Fátima de Souza e Vera Valdemarin.

No final da década de 1990, os trabalhos de André Chervel e Jean Claud

Forquin (Quadro 1) figuram como aqueles que mereceram a atenção dos estudiosos

brasileiros no que se refere à cultura escolar.

Suas pesquisas foram precursoras no processo de investigação da cultura

escolar enquanto objeto histórico, conforme revela o Quadro 1, o qual foi organizado

levando em o ano de publicação e a sinopse dos mesmos.

Quadro 1- Obras ‘clássicas’ sobre Cultura Escolar

AUTOR TÍTULO ANO EDITORA/

INSTITUIÇÃO CONTEÚDO Jean Claud Forquin Escola e cultura: as bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. 1993. Editora Artes Médicas

Analisa os diferentes autores que buscaram responder questões relacionadas ao ensino, conteúdos, conceito de seleção implicada no currículo e o processo de desigualdade social. André Chervel La culture scolaire – une approche historique

1998 Editora Belin Discute a cultura escolar a partir das disciplinas escolares, argumentando que a escola constitui o lugar de criação das disciplinas.

Fonte: Conteúdo da obra de André Chervel (1998) e Jean Claud Forquin (1993).

As obras clássicas, de Chervel (1998) e Forquin (1993) influenciaram na

consolidação do Grupo Temático História da Educação na ANPEd em 1984, “[...] nos

Programas de Pós Graduação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo

(USP) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC – SP)” (VIDAL, 2005, p. 23).

Conseqüentemente os escritos em Educação no Brasil seguiram esta tendência,

elegendo a cultura escolar como caminho de investigação para perscrutar as instituições

escolares.

Referente às teses e dissertações sobre cultura escolar produzidas nas décadas

de 1990-2000, pontuamos os escritos de Antônio Vinao Frago Diana Gonçalves Vidal,

Irlen Antônio Gonçalves, Marilena Aparecida Jorge Guedes de Camargo e Tarcísio

Mauro Vago (Quadro 2), a saber:

Quadro 2- Trabalhos relevantes sobre Cultura Escolar – Décadas de 1990-2000

AUTOR TÍTULO ANO EDITORA/

INSTITUIÇÃO CONTEÚDO Antônio Vinao Frago Alfabetização na sociedade e na história 1993 Editora Artes Médicas

Analisa o analfabetismo levando em conta seus aspectos históricos e suas conexões com os processos sociais. Tarcísio Mauro Vago (Tese) Cultura escolar, cultivo de corpos: educação phisica e gymnastica como práticas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte (1897-1920).

1999 USP Problematiza o movimento de

afirmação de uma nova cultura escolar em Belo Horizonte nas duas primeiras décadas do século XX, especialmente após a reforma do Ensino Primário promovida pelo governo mineiro em 1906. Marilena. Aparecida Jorge Guedes de Camargo (Tese) Coisas velhas: um percurso de investigação sobre cultura escolar no Instituto de Educação Joaquim Ribeiro de Rio Claro (1928-1958).

1997 USP Aborda a história das práticas

escolares a partir de álbuns de fotografias, bordados, desenhos, e pinturas, que traziam consigo elementos da própria vida da autora. O livro é “[...] uma investida pioneira no campo da história cultural das práticas escolares” (CAMARGO, 2000, p. 9). Irlen Antônio Gonçalves A produção da cultura escolar em Minas Gerais: práticas de professoras/es e alunas/os da escola primária. 2004. Editora Educação em Foco.

Discute a cultura escolar formada nas escolas primárias de Minas Gerais nas três primeiras décadas do século 20. A análise das práticas escolares das professoras e alunos implicou problematizar as questões relacionadas à constituição da cultura escolar, tendo como pano de fundo o cotidiano da instituição. Diana Gonçalves Vidal (Tese -Livre Docência) Culturas escolares: estudo sobre as práticas de leitura e escrita na escola pública primária (Brasil e França, final do século 19). 2005 Editora Autores Associados

O objeto de estudo é o ensino da leitura e da escrita na escola primária brasileira e francesa do final do século 19. Visa compreender a singularidade dos processos educativos ocorridos em cada país, apresentando a instituição escolar como lócus

singular de produção de cultura.

Fonte: Conteúdos dos trabalhos de Diana Vidal (2005), Vinão Frago (1993), Irlen

Gonçalves (2004), Marilena Camargo (1997) e Tarcísio Mauro Vago (1999).

Teses, dissertações e outras produções elencadas no Quadro 1 e 2, acerca da

cultura escolar se projetaram e se consolidaram no cenário nacional brasileiro como

referenciais históricos indiscutível como instrumento de análise acerca da escola

brasileira em suas múltiplas facetas.

2 Instituições Escolares na historiografia brasileira: tendências e debates

Segundo os pesquisadores Paulo Nosella e Ester Buffa, os estudos sobre instituições escolares tiveram sua origem a partir do interesse da comunidade acadêmica pelas pesquisas sobre Instituições. Do ponto de vista da História da Educação tais pesquisas são recentes, desenvolveram-se, sobretudo, a partir da década de 1990. Entretanto, a temática “instituições escolares” já era uma preocupação para alguns autores da década de 1930 e 1940.

Para trilhar o caminho percorrido pela historiografia da história da educação brasileira e mato-grossense ousamos catalogar aqueles trabalhos que de forma germinal foram dando corpo e materializando as pesquisas sobre instituições escolares