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CAPÍTULO III - MENDES GONÇALVES: UM GRUPO ESCOLAR NA FRONTEIRA

5. Ponta Porã: a Cidade e a Escola

6.4 A instalação do Grupo Escolar Mendes Gonçalves

6.4.3 A Inauguração do Grupo

A inauguração do Grupo Mendes Gonçalves foi noticiada pelo jornal O

Progresso em 29 de maio de 1927, por meio da publicação da carta do professor

Achilles Verlangieri, convidando a população para a solenidade de inauguração. Assim

escreveu o diretor:

Sr. Dr. Director do O Progresso. Estando designado o dia 1º as 15 horas para a sessão inaugural do Grupo “Mendes Gonçalves” peço a fineza de fazerdes pelo vosso jornal um convite as cultas e distinctas sociedades de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero para abrilhantarem esse acto de tanta relevancia para nós e que deve ter, por sua natureza um cunho essencialmente democrático. Agradecido antecipadamente subscrevo-me. Acchiles Verlangieri.

A notícia com os detalhes da inauguração foi veiculada pelo referido periódico

em 12 de julho de 1927, esboçada na Figura 22. Durante a inauguração ocorrida às 15

horas do dia 5 de julho de 1927 esteve presente ao ato, o prefeito de Ponta Porã,

Arnóbio de Miranda; Sr. Heitor Dias, Chefe Político de Pedro Juan Caballero; Dr. Lima

Avelino, Inspetor Escolar; Major Policarpo De Avilla, Delegado de Polícia; Dr.

Eduardo de Barros; Coronel Luiz Pinto e o Diretor do Grupo professor Achilles

Verlangieri.

Figura 22 - Recorte Jornal O Progresso 1927.

Fonte: Jornal O Progresso, 12 de junho de 1927, n. 277.

Segundo o Jornal ‘O Progresso’, o Dr. Arnóbio de Miranda, além de inaugurar

solenemente o referido Grupo (Figura 23), proferiu discurso com destaque para o

importante papel da educação na formação do cidadão republicano (Figura 29. Na

ocasião, Miranda registrou o mérito do Presidente Mario Correa da Costa, o qual foi

comparado ao jurista e político brasileiro, Rui Barbosa, e ao cientista francês, Louis

Pasteur, lembrado por todo o sempre pela instrução e ciência.

Figura 23 -Grupo Escolar Mendes Gonçalves (1925).

Fonte: Acervo do Grupo Escolar Mendes Gonçalves.

De acordo com o Regimento da instrução pública em vigor naquele ano, era

necessária a assinatura da ata de fundação por parte de todos os presentes. Daí a incisiva

ênfase dada ao evento pelo Jornal O Progresso de 12 de junho de 1927 aos registros dos

presentes que assinaram a ata de instalação do Grupo Escolar, com destaque para o

tenente Patrocínio que assinou o documento como representante do 11º Regimento de

Cavallaria Independente de Ponta Porã, responsável pela segurança da fronteira

Brasil-Paraguai.

Poucos meses após a inauguração do GEMG, o edifício começou a apresentar

problemas no telhado. O periódico local datado de 12 de outubro de 1927 trouxe a

notícia da substituição das telhadas do Grupo, por ordem do Presidente de Estado de

Mato Grosso.

Pela Secretaria de Obras publicas do Estado, foi autorizada a Collectoria local a contractar a substituição do telhado do Grupo Escolar, “Mendes Gonçalves”, visto estar o mesmo danificado, e nessa conformidade, o Sr. Collector major Henrique de Carvalho, vem de contractar com o sr. Manoel Gregorio, pela importancia de 14.000$000 toda a substituição por telhas francezas, exigindo o instrumento de contracto cuja leitura tivemos occasião

de assistir, que seja empregado material de optima qualidade. É esse um melhoramento de significação, pois, o prédio fora construído com alicerces de comprovada resistência, sendo de lamentar que o pouco escrupulo do constructor, abusando de attribuições que lhe foram confiadas tivesse empregado na cobertura material feito sem consistência (O PROGRESSO, 1927, n. 294).

O artigo em questão atribui aos construtores do GEMG os problemas ocorridos

com o telhado, alegando que o mesmo deveria ser substituído por telhas de barro. Vale

notar que quem forneceu o material utilizado para a edificação do prédio foi a Empresa

Laranjeira, Mendes & Cia, não sendo então os construtores os responsáveis pelas telhas

de baixa qualidade utilizadas na cobertura. Salientamos que o GEMG já estava

edificado há dois anos, estando sem reparos. Outro ponto importante consiste no fato da

Empresa construir o edifício e deixá-lo a mercê do Estado de Mato Grosso,

considerando que poucos meses após a solenidade de instalação do GEMG, os reparos

já eram de responsabilidade da Secretaria de Obras Públicas de Mato Grosso.

Em 7 de agosto de 1927, O Progresso trouxe artigo sobre os primeiros

resultados obtidos com a implantação do Grupo Escolar, enaltecendo os métodos

utilizados e a atuação das professoras do GEMG.

[...] É confortador o que vimos observando. Pelo methodo de ensino empregado, pela competência das distinctas preceptoras, e dada a capacidade do professor Achilles Verlangieri que dirige o modelar instituto, há verdadeiro estimulo, e as creanças têm demonstrado franco progresso. Com todo o nosso atrazo, força é notar que Matto Grosso está, com muito poucos Estados do Brasil, na vanguarda em questão de ensino. (O PROGRESSO, 1927, n. 285).

Ao finalizar o artigo, reconhece que o Estado de Mato Grosso, apesar do atraso

educacional no qual estava mergulhado, figurava entre os Estados da Federação que

estavam na vanguarda do ensino republicano. Para Silva (2006), “[...] floresceu em

Mato Grosso uma cultura escolar próxima dos demais estados do país, [...]

consolidando-se no ensino público desse estado e na memória da população

mato-grossense” (SILVA, 2006, p. 231).

As evidências dão conta que a instalação do GE em Ponta Porã ensejou uma

maior preocupação por parte dos professores e autoridades locais, para com a

consolidação do republicanismo na região de fronteira. A presença do Estado de Mato

Grosso, por meio das constantes intervenções no domínio da Laranjeira Mendes & Cia e

a instalação do GE consistiram em atitudes concretas para fazer da fronteira um

território efetivamente brasileiro, visando eliminar as forças que se opunham a tal

processo.

A instalação do GE, diferentemente do que se possa imaginar, não foi forçado

pela Empresa, mas suportado por ela, isto é, a Laranjeira Mendes & Cia aceitou a

intervenção do Estado, pois se fizesse oposição dificultaria as relações políticas,

comprometendo a futura renovação dos contratos de arrendamento. Nessa perspectiva

cabe afirmar que, a Laranjeira Mendes & Cia projetou e financiou o GE, os pedreiros,

liderados por Paulo Wincler edificaram o prédio, conferindo-lhe existência material.

Com a ocupação por alunos, professores e funcionários, esse espaço foi gerando cultura

material escolar.