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A Escola Zandoná: diagnóstico e estrutura pedagógica

No documento 2016ConsueloPiaiaTese (páginas 94-98)

2 OUTROS CAMINHOS, OUTRA ESCOLA

2.1 Situando a experiência pedagógica da Escola Zandoná

2.1.1 A Escola Zandoná: diagnóstico e estrutura pedagógica

Nesse contexto marcado por contradições, conflitos e tensões situa-se a Escola Zandoná. Essa instituição foi fundada em março de 1953 como Escola Rural, sendo a mais antiga das três instituições educativas do município78 e a única escola que oferece Educação Fundamental e Ensino Médio. Possui 63 anos de história oficial79 e tinha, no ano de 2014, 251 alunos, 30



78 As outras instituições são a Escola Municipal de Ensino Fundamental Barra Funda, Escola Municipal de

Educação Infantil Raio de Sol, ambas as instituições mantidas e administradas pelo município.

79 Foi oficializada como escola por decreto de criação, em 1953, número 1.190 de 27/03/53. Fonte: Documentos

professores e 04 funcionários. Funciona em três turnos80 e a sua mantenedora é a Secretaria de Educação do Estado do RS, portanto, está atrelada diretamente às políticas públicas educacionais dos governos estadual e federal, fruto, em parte, dos desdobramentos de políticas públicas municipais, estaduais e nacionais.

Os educandos provêm da área urbana e rural, sendo que a média de anos de estudo das pessoas responsáveis permanentes pelos domicílios no município era, no ano de 2000, de 5,6 anos81; dado que representa a baixa escolaridade dos pais ou responsáveis pelos alunos dessa instituição. Porém, a educação no município, nos últimos anos, despontou positivamente na melhora dos índices. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), em 2010, era de 0,763, considerado alto, pois está acima da média da Unidade Federativa do Rio Grande do Sul e da média brasileira, que são, respectivamente, de 0,746 e 0,699 (em uma escala de 0 a 1). Dentre os aspectos que constituem o indicador, estão a renda, a educação e a longevidade. O quadro a seguir mostra alguns desses dados.

Quadro 3 - Índice de Desenvolvimento Humano de Barra Funda

IDHM e componentes 1991 2000 2010

IDHM Educação 0,307 0,590 0,710

% de pessoas com 18 anos ou mais com

ensino fundamental completo 22,70 42, 21 47,89

% de 5 a 6 anos na escola 43,22 68,05 100,00

% de 11 a 13 anos nos anos finais do fundamental ou com fundamental completo

37,04 89,49 94,52

% de 15 a 17 anos com fundamental

completo 39,17 76,55 86,53

% de 18 a 20 anos com médio completo 23,30 44,63 64,92

IDHM Longevidade 0,742 0,794 0,856

Esperança de vida ao nascer (em anos) 69,54 72,62 76,36

IDHM Renda 0,552 0,631 0,731

Fonte: Atlas de Desenvolvimento Humano (2013).

Os números indicam que, de 1991 a 2010, o IDHM passou de 0,307 para 0,710. A porcentagem de crianças, jovens e adultos que estão na escola e concluíram o Ensino Fundamental e Médio é relevante. Mais de 86% de jovens entre 15 a 17 anos com Ensino Fundamental completaram essa etapa da educação Básica em 2010. Dos jovens entre 15 a 17 

80 Fonte: matrículas e documentos da secretaria da escola. 81 Fonte: IBGE, Censo Demográfico, 2000.

anos, somente 3,51% deles não frequentavam a escola. Em 1991, 22,44% estavam cursando o Ensino Médio regular sem atraso e, em 2010, 50,62%. As informações sobre o IDHM revelam que o município vem melhorando significativamente os indicadores de desenvolvimento e mais especificamente a educação ali desenvolvida. Em que medida a Escola Zandoná contribui com esses indicadores? Como era o trabalho dessa instituição e que mudanças foram produzidas nesse espaço?

Na Escola Zandoná, a memorização, a repetição de atividades e as apresentações artísticas ensaiadas para serem apresentadas às autoridades eram práticas largamente usadas ao longo da história, como tendência dominante. No final da década de 1970, iniciou-se a utilização dos livros didáticos como recurso pedagógico. Durante a ditadura militar (1964- 1985), a prática pedagógica na Escola Zandoná seguia um padrão de ações educativas centralizadas e centralizadoras. Os conteúdos desenvolvidos pelos grupos de professores “vinham determinados, sendo que os programas tinham que ser seguidos à risca”. Assim sendo, até meados da década de 1990, as práticas pedagógicas da Escola Zandoná estavam perfeitamente coerentes e alinhadas às tendência dominantes na maioria das escolas brasileiras (GAUER, 2003, p. 12-13).

As mudanças pedagógicas começaram a partir da insatisfação de parte do grupo de professores e de alguns pais com a prática pedagógica e elas foram produzidas a partir de dois eventos de caráter pedagógico, frutos de duas políticas educacionais: a formação de professores por meio da reconstrução do Plano Político Pedagógico (PPP) e a Constituinte Escolar.

A formação de professores no município com a assessoria do professor Danilo Gandin realizada em 1995 foi uma ação desencadeada pelo poder público municipal, por meio da Secretaria de Educação que possibilitou a reconstrução do PPP. Esse processo, inicialmente, fez parte do estágio da coordenadora pedagógica da escola, Sandra Gauer, no curso de Especialização em Supervisão.

No ano de 2000, teve início a Constituinte Escolar e a Escola Zandoná optou pela realização dessa política pública educacional desencadeada pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul (gestão Olívio Dutra) em abril de 199982. O objetivo da constituinte era

[...] promover a construção da democracia participativa. Junto com outros instrumentos, como o orçamento participativo, pretende promover a participação popular na definição e no controle de políticas públicas. O movimento é conduzido pela Secretaria de Educação, que abre espaços para a participação das comunidades escolares (educadores, pais, estudantes e funcionários), de movimentos sociais



populares, de instituições de ensino superior e instituições do poder público (FLEURI, 2011, p. 116).

Como política pública, a Constituinte Escolar no Rio Grande do Sul instituiu-se como uma opção de reorganização escolar a partir de leituras e encontros que incentivavam a participação da comunidade nessa tarefa. Essa política educacional baseou-se em uma opção pela Concepção Dialética de Conhecimento e pela metodologia de Pesquisa Participante e diferenciou-se de outras experiências por privilegiar o trabalho com os grupos sociais historicamente alijados dos processos econômicos, sociais, culturais. Para Fleuri (2011, p.122), a constituinte visava à “participação das camadas populares como sujeitos de um processo de produção de conhecimento e, ao mesmo tempo, de definições de políticas públicas”.

As leituras realizadas sobre o processo da Constituinte Escolar e os documentos da escola nesse período sugerem um vínculo estreito entre essa política e a proposta de trabalho da escola. Esta, ao eleger a Pesquisa da Realidade como metodologia, busca dar visibilidade às camadas sociais populares, que, em sua maioria, compõem-na. Essa escolha está clara em todos os documentos oficiais da instituição e constitui-se uma preferência política nessa direção, o que permitiu construir as bases das mudanças operadas na instituição. A direção da escola, mandato 2000-2001, composta por Cândida Rossetto (direção), Silvia Rossatto, Sara Zandoná, Ana Lúcia Bariviera (vice-direção), Sandra Rossetto Gauer e Zaila Blau (coordenação)83, teve um papel determinante no processo de construção da nova proposta que, para passar a existir, suscitou discussões e reflexões especialmente relacionadas à função social da escola. A reconstrução do PPP, a militância sindical do coletivo da escola no Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS), a proximidade com o sindicato dos trabalhadores rurais e com as pastorais da Igreja como, por exemplo, a Pastoral da Terra, e de alguns educadores com movimentos sociais, em especial com o Movimento Sem Terra e o Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais, refletiu-se na elaboração da proposta e na sua continuidade84. Sendo assim, as transformações que se seguiram, na instituição, estruturam-se em torno da pesquisa da realidade, temas geradores e projetos de iniciação científica. Essa metodologia precisou de um suporte organizacional que comportasse novos tempos e espaços para a formação ali desenvolvida.



83 Fonte: documentos da secretaria da instituição pesquisada.

No documento 2016ConsueloPiaiaTese (páginas 94-98)