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CAPÍTULO 1 – SOFTWARE EDUCATIVO: O QUE SUBJAZ A ESSE SUBSÍDIO

1.4 A esfera comunicativa do software educativo

Na elaboração e utilização do computador, percebe-se que há fusão de várias esferas de interação humana, todas coadjuvando com o campo da informática. Sendo assim, os discursos que circulam na máquina estão sempre integrados e mesclados com as especificidades do ambiente em que está situado que é o digital. O computador se constitui, em sua natureza, como um suporte digital do discurso.

Esses discursos também são imbuídos de influências do campo da informática e em se tratando de utilização do computador na esfera escolar, os programas específicos implementados na máquina sofrerão influência dessa outra esfera. Isto vai ocorrer principalmente quando se referir ao SE.

O SE além de está inserido num suporte digital ainda carrega característica da esfera da prática social educativa formal, tendo influência certamente de subsídio didático/pedagógico que o antecede e que circula nessa mesma esfera, “traços enunciativos de didaticidade” (BUNZEN, 2009). Nesta perspectiva, o SE situado em suporte digital terá tal característica bem como característica da esfera escolar, cujos discursos ali aportados sofrerão influências dessas esferas discursivas. Pois segundo Bakhtin (2003, p. 284) cada esfera

conhece seus gêneros, apropriados a sua especificidade, aos quais correspondem determinados estilos. Uma dada função (científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e dadas condições, específicas para cada uma das esferas da comunicação verbal, geram um dado gênero, ou seja, um dado tipo de enunciado, relativamente estável do ponto de vista temático, composicional e estilístico.

No entanto, dentre os diversos caminhos que se pode percorrer na feitura do SE, o que vai determinar a estrutura composicional, a arquitetônica, no sentido bakhtiniano do termo, é também a escolha que o autor-criador do software vai realizar para construir essa arquitetônica. E nessa escolha vão aparecer os traços do autor-criador do software e de suas condições de construção. Lembrando que o

software vai está imbuído de discursos diversos, tanto de discursos de materiais

didáticos já existentes, como dos discursos dos desenvolvedores que se constituem de diversos profissionais, fazendo aparecer a polifonia nos discursos dos softwares. Os autores-criadores25 vão deixar suas marcas, suas subjetividades, pois eles são sujeitos sociais e historicamente constituídos e situados, constituídos de linguagem e que também a constituem. E no momento de elaboração do software eles vão deixar suas marcas apreciativas também. É esse acento apreciativo que vai trazer a marca do locutor, sua individualidade ao enunciado, no entanto, sem fugir do âmbito social e histórico desse mesmo enunciado. Esse valor apreciativo goza de grande importância no interior do enunciado, segundo Bakhtin (2002, 2003).

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Vale mencionar que os autores-criadores são constituídos de vários sujeitos, no papel do programador, do designer e até mesmo do gerenciador do trabalho daqueles profissionais e do profissional da área da disciplina, pelo menos espera-se que este componha o grupo dos autores.

Além da inserção da subjetividade dos autores-criadores, o SE vai ser construído na perspectiva de um outro/interlocutor que o utilizará. Neste sentido, os autores vão considerar o outro, os utilizadores desse material, no caso primordialmente professores e estudantes, numa prática de uso da linguagem situada em um ambiente específico, o ambiente escolar. Esse outro terá uma atitude responsiva e ativa diante do uso do software e um propósito de ensinar e/ou aprender conteúdos da área a que o software é destinado.

Nesta perspectiva, os autores-criadores do SE precisam considerar as dimensões técnicas, pedagógicas e específicas da área de ensino a qual se destina, no caso desta pesquisa, ensino de língua materna: leitura e compreensão textual. É pensando no utilizador/no outro que a arquitetônica do software será construída, considerando as especificidades dos gêneros textuais que circulam nesse contexto de prática de linguagem, que é a esfera escolar.

Assim, docentes que pretendem utilizar softwares dessa natureza em suas aulas precisam ter a devida atenção sobre as diversas dimensões que fazem parte desse tipo de material educativo, a saber, os aspectos técnicos, pedagógicos e específico da área da disciplina curricular, é o que se propõe nesta pesquisa. E para isto, é necessário ter claro em mente o que se deve esperar de um software para que ele possa propiciar uma atividade didática/pedagógica de qualidade. Não basta apenas selecionar o instrumento a ser utilizado na sala de aula, deve-se também avaliá-lo considerando critérios bem definidos, pois “a avaliação de um SE envolve a interpretação de certos aspectos presentes no software, e o professor deve fazer um julgamento das categorias avaliativas para tomar suas decisões” (ZARDINI, 2009, p. 57).

Dentro do que foi exposto nesta seção, chega-se a conclusão de que para uma avaliação eficiente de um SE, considerando todas as dimensões que subjazem a esse instrumento didático/pedagógico, deve-se contemplar avaliação da parte técnica, pedagógica e específica da área do conhecimento em evidência no

software. O que significa dizer propor critérios de avaliação de SE, considerando as

esferas as quais o software faz parte, neste caso, as esferas tecnológicas e a esfera escolar. De acordo com Zardini (2009), a avaliação de um SE requer não apenas o conhecimento do conteúdo da disciplina e sobre metodologias de ensino, mas também um certo grau de competência tecnológica. Os SE, por conterem certas especificidades, requerem que os professores estejam preparados para o seu uso.

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