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CAPÍTULO 2 – DIMENSÃO TÉCNICA DO SOFTWARE EDUCATIVO

2.1 O que é pertinente na parte técnica do software educativo

2.1.2 O hipertexto e a hipermodalidade

Entendendo que o objetivo desta pesquisa não é se aprofundar na abordagem de hipertexto e de hipermodalidade ou hipermídia, serão aqui esboçadas algumas definições na perspectiva de alguns autores e em seguida qual delas será adotada nesta pesquisa. Neste sentido, a abordagem começará mencionando as primeiras noções e utilização do termo hipertexto.

Segundo Lévy (1993), a ideia de hipertexto surgiu pela primeira vez enunciada por Vannevar Bush em 1945, em um artigo intitulado As We May Think

(cf. GOMES, 2007; LOBO-SOUSA, 2009a, KOMESU, 2005b), que afirmava que a

mente humana funciona através de associações, pulando de uma representação para outra em “uma rede intrincada, desenha trilhas que se bifurcam, tece uma trama infinitamente mais complicada do que os bancos de dados de hoje ou os sistemas de informação de fichas perfuradas existentes em 1945” (p. 28).

No entanto, foi no início dos anos 60 que Theodore Nelson inventou o termo hipertexto para designar “a ideia de escrita/leitura não linear em um sistema de informática” e o utilizou em 1965 no sistema Xanadu36

: sistema mundial de hipermídia, “onde tudo pode ser imediatamente acessado, onde as idéias de todos podem estar associadas com quaisquer outras, e onde os mesmos documentos apareciam em múltiplos contextos sem terem sido duplicados fisicamente” (GOMES, 2007, p. 30). Theodore Nelson pensou “em uma imensa rede acessível em tempo real contendo todos os tesouros literários e científicos do mundo, uma espécie de Biblioteca de Alexandria de nossos dias” (LÉVY, 1993, p. 29). Nesta perspectiva, Lévy (1993, p. 33) afirma que tecnicamente um hipertexto, considerando-o também na informática, é

um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira.

Bakhtin prenunciou a questão da hipertextualidade, uma vez que defendeu a concepção de que um discurso é formado por discursos outros e que não há delimitação entre os enunciados, onde começam e onde terminam. Uma enunciação é sempre continuidade de outras enunciações e estas por sua vez serão continuadas e serão constituídas de múltiplas vozes.

Sendo assim, a hipertextualidade também está relacionada ao texto impresso, pois a não linearidade de organização textual que leva o leitor a uma leitura também não linear acontece na escrita impressa, através de notas de rodapé, citação de outros textos ou indicação de leitura de outros textos para prosseguimento do texto

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principal, dentre outros aspectos. O que existe no texto e suportes impressos são relações de hipertextualidade e hipertextos também, mas contemplando as características dos suportes impressos, com suas especificidades e semelhanças, diferenciando-se e ao mesmo se aproximando da hipertextualidade e dos hipertextos dos suportes digitais. O que significa dizer que o ambiente digital apresenta uma hipertextualidade particular com a manifestação de hipertextos particulares, cujas características se diferenciam do ambiente impresso, mas também contemplam aspectos do impresso. Considerando as diferenças no suporte digital, pode-se afirmar que há uma ampliação das noções dos termos hipertextualidade e hipertexto, como também aconteceu com o termo letramento com o surgimento de novas formas de letramento na sociedade, principalmente com o avanço tecnológico. Hoje há as expressões letramento digital e letramento hipertextual, dentre outras.

Lévy (1999) também já reconhecia que o ambiente digital exerce uma influência significativa no hipertexto, em comparação com o hipertexto na escrita impressa. Na tela do computador, a realização de pesquisas em sumários, o uso dos instrumentos de orientação, a passagem de um nó a outro são feitos com maior rapidez, apesar de poderem ser realizados também no texto impresso. Além do mais, a digitalização permite a integração das mídias unindo som, imagem, movimento e textos. Assim, para o autor, nesta primeira abordagem

o hipertexto digital seria definido como informação multimodal disposta em uma rede de navegação rápida e “intuitiva”. Em relação às técnicas anteriores de ajuda à leitura, a digitalização introduz uma pequena revolução copernicana: não é mais o navegador que segue os instrumentos de leitura e se desloca fisicamente no hipertexto, virando as páginas, deslocando volumes pesados, percorrendo a biblioteca. Agora é um texto móvel, caleidoscópico, que apresenta suas facetas, gira, dobra-se e desdobra-se à vontade frente ao leitor (LÉVY, 1999, p. 56).

Porém, considerando uma segunda abordagem, complementar, segundo o autor, a hipertextualização apresenta uma tendência à indeterminação, à mistura das funções de leitura e de escrita, pois, na perspectiva do leitor, trata-se de um espaço de leituras possíveis, um texto aparece com uma leitura particular de um hipertexto. O navegador participa, portanto, da escrita do texto que lê como se o autor de um hipertexto constituísse “uma matriz de textos potenciais, o papel dos navegantes sendo o de realizar alguns desses textos colocando em jogo, cada qual

à sua maneira, a combinatória entre os nós. O hipertexto opera a virtualização do texto” (LÉVY, 1999, p. 57).

E numa terceira abordagem do autor, os leitores podem modificar os links e acrescentar ou modificar nós (textos, imagens etc.), conectar um hiperdocumento a outro. Isto pode acontecer sobretudo na web e, portanto, quando o processo de visualização em tempo real da estrutura do hipertexto é bem concebido, ou efetuando-se a navegação de forma natural e intuitiva, os hiperdocumentos abertos acessíveis pela rede de computadores são poderosos instrumentos de escrita-leitura

coletiva. A conectividade de um hipertexto pode ser representada de várias

maneiras. A visualização gráfica ou diagramática é o meio mais intuitivo. Desta forma, o hipertexto é dinâmico, sempre em movimento, e não se trata apenas de uma rede de microtextos.

Quanto à utilização do termo “multimídia”, de acordo com Lévy (1999, p. 63), pode-se afirmar que significa, em princípio, aquilo que emprega diversos suportes ou diversos veículos de comunicação. Mas nem sempre o termo é utilizado com esse sentido, podendo ser empregado com duas acepções relacionadas aos sistemas de comunicação contemporâneos: a multimodalidade e a integração digital.

O autor prefere falar de informações ou de mensagens multimodais, por colocar em jogo diversas modalidades sensoriais (a visão, a audição, o tato, as sensações proprioceptivas), pois já é característica do computador trazer as informações com textos, imagens e sons. Desta forma, não se deve designar os CD- ROMs como “multimídia”, pois sua característica tem a ver com “multimodalidade”, assim sendo, o primeiro termo não descreve adequadamente a especificidade deste novo suporte, se assim fosse a enciclopédia, ou alguns livros manipuláveis para crianças, ou brochuras ilustradas acompanhadas por fitas cassete (para ensino de línguas), que são multimodais (texto, imagem, som, tato), seriam também multimídia (LÉVY, 1999). Por isso, o autor sugere chamar os CD-ROMs e CD-I de

hiperdocumentos. A noção de hiperdocumento “generaliza, para todas as categorias

de signos (imagens, animações, sons, etc.), o princípio da mensagem em rede móvel que caracteriza o hipertexto” (LÉVY, 1999, p. 27).

O autor ainda afirma que o termo “multimídia” remete ao movimento geral de digitalização que diz respeito às diferentes mídias que são a informática (por definição) e outros equipamentos como o telefone, os discos musicais, a edição por CD-ROMs e CD interativos, o rádio, a fotografia, o cinema e a televisão.

O uso correto do termo, segundo o autor, seria “quando, por exemplo, o lançamento de um filme dá lugar, simultaneamente, ao lançamento de um vídeo game, exibição de uma série de televisão, camisetas, brinquedos etc. Neste caso, estamos de fato frente a uma ‘estratégia multimídia’”. No entanto, “se desejamos designar de maneira clara a confluência de mídias separadas em direção à mesma rede digital integrada, deveríamos usar de preferência a palavra ‘unimídia’” (LÉVY, 1999, p. 65). Assim, ao vir a palavra “multimídia” para um tipo particular de suporte ou de processamento, é necessário atribuir ao enunciador a intenção de designar um horizonte de unimídia multimodal, ou seja, a constituição progressiva de uma estrutura de comunicação integrada, digital e interativa.

Voltando à questão do hipertexto, Valente (1999) afirma que os sistemas de hipertexto são “uma representação eletrônica de um documento, onde é possível ao usuário fazer uma leitura não apenas sequencial, mas também por meio das relações entre determinados conceitos, figuras etc. (Nunes, 1993)” (p. 59). E continua a afirmar que esse documento não é composto apenas de texto, mas de “novos elementos representáveis na mídia do computador: sons, figuras, imagens animadas etc” (p. 59), tendo a apresentação da informação em fragmentos do documento e suas interligações. Esses fragmentos individuais “são chamados ‘nós’ e as interligações ‘links’”. Sendo possível, então, “passar de um fragmento para outro relacionado por meio de seu ‘link’ e a esse processo chamamos ‘navegar’ pelo hipertexto. As unidades de informação são visualizadas em ‘janelas’ de apresentação e existem vários caminhos diferentes para se fazer a ‘leitura’ desse documento” (p. 60). O hipertexto, segundo o autor, consiste em técnica natural para dar suporte a sistemas multimídia pelo fato de interligar nós que podem conter diferentes mídias.

Oliveira et al (2001) percebe o hipertexto como “um conjunto de textos interligados hierarquicamente, facilitando a navegação do leitor através dos diversos assuntos ali integrados” (p. 44), o hipertexto tratando-se apenas de textos verbais. E a multimídia “significa a presença de recursos sonoros, imagem e animação nos sistemas de informática e Hipermídia é o conjunto formado pela utilização da multimídia associada a sistemas de hipertexto” (p. 44, 45).

Para Lemke (2002) o texto escrito apresenta uma forma de leitura bidimensional: vertical e horizontal caracterizando uma leitura não sequencial e não linear. A partir de títulos e subtítulos, início e fim de parágrafo, bibliografia, tipo de

letra, paginação permite que o leitor fixe sua atenção em segmentos aleatórios (cf. RIBEIRO, 2005a; MARCUSCHI, 2005). Sendo assim, a diferença do hipertexto do texto impresso e o hipertexto no ambiente digital, segundo o autor, é o fato de a rede de conexões no digital ativa a expectativa de haver links nos diferentes segmentos textuais e a interação entre os segmentos não ter uma sequência pré-estabelecida.

Concordando com o autor supracitado, Braga (2005, p. 147) acrescenta que a organização não sequenciada, que não depende de um eixo central que sustenta hierarquicamente as informações secundárias, “exige que o leitor faça escolhas e também determine tanto a ordem de acesso aos diferentes segmentos disponibilizados no hipertexto, quanto o eixo coesivo que confere um sentido global ao texto lido”.

Ainda para Braga (2005), com o surgimento do computador propiciou-se uma nova forma de construção textual que é o hipertexto que altera significativamente a natureza do texto na tela e cujas características são a interatividade e a hipermodalidade. Essa interatividade é proporcionada pelos links eletrônicos, os quais permitem a construção da coesão e coerência entre os diferentes segmentos do texto acessado. Já a hipermodalidade, que consiste no hipertexto construído de forma multimodal, relaciona unidades de informação de natureza diversa, texto verbal, som, imagem, que “gera uma nova realidade comunicativa que ultrapassa as possibilidades interpretativas dos gêneros multimodais tradicionais” (p. 148). Multimodal para a autora corresponde aos diversos recursos verbais e não verbais, estes sendo justaposição das páginas, quadros destacados em cores diferentes, relações graficamente indicadas como legendas, utilizados nos textos impressos, entre outros aspectos.

Para Braga (2005), a multimídia consiste na utilização das diversas mídias que não estão acopladas, mas que podem ser utilizadas concomitantemente, e cita algumas pesquisas relacionadas à utilização de recursos diversos em sala de aula desde texto verbal até a utilização de vídeos, ou seja, mídias escritas e visuais que não fazem parte do ambiente da informática.

Desta maneira, a autora prefere chamar a especificidade que se apresenta no computador, ao se utilizar dos recursos multimodais, de hipermídia, que, segundo a autora, tem a ver com a utilização de diferentes modalidades midiáticas integradas no ambiente computacional, pois no “ambiente hipermídia o apoio visual pode

também ser apresentado em forma dinâmica e acrescido de som” (BRAGA, 2005, p. 153).

Já Xavier (2005, p. 171) afirma que o hipertexto é “uma forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e acondiciona à sua superfície formas outras de textualidade”. Essa tecnologia de linguagem, conforme chama o autor, possui um espaço de apreensão de sentido formado apenas por palavras, mas, estas, em conjunto com “sons, gráficos e diagramas” sobre “uma mesma superfície perceptual, amalgamados uns sobre os outros formando um todo significativo e de onde sentido são complexicamente disponibilizados aos navegantes do oceano digital”.

Para Ribeiro (2005b) o hipertexto não é novidade, por isso não “é preciso dar ao leitor um computador com acesso à Internet para oferecer a ele o hipertexto”. Desta forma, talvez “lhe soem novidade os links em azul, a velocidade e a infinitude da teia virtual de informações” o que se assemelha à “procura pelos livros, capítulos e versículos que norteiam (ou desnorteiam) o leitor para cá e para lá, conforme sua difusa vontade ou o desejo do escritor” (p. 125). A autora concebe hipertexto como o texto não-linear e afirma que os novos suportes digitais dão a falsa impressão de que o hipertexto é uma novidade relacionada à Rede Mundial de Computadores, no entanto, apesar de sua história ser recente, seus fundamentos são antigos. Além do mais, as novas tecnologias trazem interfaces novas para a leitura e a escrita, mas que se somam às que já existiam há muito tempo e, sendo assim, essas tecnologias são híbridas em sua natureza e origem, pois são familiares, em parte, aos leitores.

Desta forma, o leitor de hipertextos impressos “não tem tantos problemas ao deparar com hipertextos digitais, que lhe parecerão familiares na forma de navegar, caso o leitor esteja disposto em relação a suas expectativas sobre a máquina e a Internet” (RIBEIRO, 2005b p. 127). Percebendo que o texto no suporte eletrônico não traz tanta novidade, a autora conclui que o leitor do hipertexto digital não terá tanta dificuldade para ler tais textos, cabendo-lhe ampliar seu leque de leitura de gêneros textuais aumentando assim o seu grau de letramento.

Gomes (2007, p.10) afirma que é necessário perceber o hipertexto eletrônico considerando suas particularidades linguísticas e de usabilidade, no entanto, “é necessário entender melhor o hipertexto como objeto de estudo da linguística, sua produção e recepção e sua usabilidade, esta relacionada ao hipertexto enquanto produto tecnológico”. Ele propõe isto porque há a tendência de se tratar o hipertexto

a partir de conceitos técnicos e de usabilidade, sua produção (design), e pouco se evidencia sua natureza linguística, sua recepção (leitura e construção de sentidos).

O autor menciona algumas críticas realizadas por autores como Perfetti em 1996 e Miall em 1998 às abordagens de caráter estritamente tecnológicas envolvendo a usabilidade e deixando de observar a construção do sentido, perspectivas da Linguística e das Ciências Cognitivas. Esses estudiosos afirmam que se deve considerar o que já se sabe sobre a leitura e a escrita dos textos impressos, os processos psicológicos conhecidos quando se está lendo e escrevendo textos impressos para poder verificar em que muda o hipertexto no que se refere a esses processos psicológicos. O que se verifica, segundo Gomes (2007), é que se deve distinguir “se o foco está no processo utilizado pelos leitores para obter as informações ou no uso que os leitores fizeram dos textos, a serviço de seus objetivos” (p. 13) e aponta como um dos principais problemas no estudo de hipertextos o “como se constrói a coerência em textos relacionados através de links, organizados de forma descentralizada, que possibilitam uma leitura não linear, alterando, assim, a noção de continuidade tópica, temática e de sentido” (p. 13).

Gomes (2007) afirma ainda que há preferência de alguns pesquisadores em enfatizar as semelhanças que há entre texto e hipertexto, no caso Marcuschi (1999; 2005), Koch (2005), Coscarelli (2005) e Ribeiro (2005), enquanto outros enfatizam as diferenças, como é o caso de Kress (2005), Xavier (2001; 2002), Braga (2003), Araújo e Rodrigues (2005). O autor destaca as perspectivas de Braga (2005), concordando com a autora, a qual assevera que “o hipertexto é o produto de uma nova modalidade linguística no meio digital que está sujeito aos limites e possibilidades inerentes ao meio” (GOMES, p. 18). Assim, mesmo havendo as semelhanças entre texto e hipertexto, é enfatizado que este se trata de uma “nova modalidade da comunicação feita exclusivamente para o meio digital” (GOMES, p. 18). O autor ainda menciona as principais diferenças: “a maior quantidade de informações disponíveis devido à presença dos links, à rapidez de acesso às informações e à possibilidade de combinar diversas modalidades impraticáveis no texto impresso” (p. 15).

A inserção de links, segundo Gomes (2007, p. 24), componente fundamental e exclusivo do hipertexto, organizado de forma descentralizada, altera a noção de continuidade tópica, temática e de sentido, mas o autor assevera que a noção básica de texto não se altera a partir do hipertexto, ocorrendo, portanto, alteração

fundamental na noção de textualidade. Sendo assim, de acordo com o autor, a “situacionalidade recebe contornos especiais, por ser alterada pela disposição topográfica dos textos, através dos links, que podem dar ou não relevância aos segmentos textuais”; a topicidade, não exclusiva do hipertexto, “depende do

contexto, isto é, dos textos anteriormente visitados pelo leitor e do cotexto criado,

para que sejam percebidas como sequenciadoras do mesmo tópico e tornem-se relevantes”. Os segmentos do texto “assumem certa ‘independência’, posto que, a princípio, podem ser lidos em qualquer sequência e quantidade, modificando a noção de texto, que se torna, de fato, aquilo que o leitor leu (acessou)”.

Diante do exposto, constata-se que Gomes (2007, p. 26) prefere definir hipertexto numa perspectiva linguística, como “uma modalidade linguística que utiliza formas alternativas de construção textual que buscam contornar as dificuldades impostas à leitura do texto na tela e também explorar os recursos oferecidos pelo meio digital”, sendo que essa exploração “leva à incorporação de outros modos de representação, o que nos leva a acrescentar o termo multimodal ao hipertexto, para diferenciá-lo do hipertexto baseado apenas na escrita”. Assim, o hipertexto, como no texto tradicional, “é aqui considerado como o local e o resultado da interação ativa, verbal ou não, entre interlocutores, que dialogicamente nele se constroem e são construídos”, mas sua existência é exclusivamente eletrônica e há a presença incondicional de links, estes com função retórica e estrutural. Portanto, o autor utiliza o termo hipertexto multimodal para diferenciá-lo do hipertexto baseado exclusivamente na linguagem verbal escrita, mas quando se refere ao CD-ROM, utiliza-se do termo multimídia por ser um produto

que permite o acesso não linear aos conteúdos e faz uso de diferentes linguagens (visual, sonora, videográfica, fotográficas, gestual, etc.), porém, não no nível de interatividade e de possibilidades tendendo ao infinito como no caso da hipermídia, já que o CD-ROM é um sistema fechado e, especificamente, sendo um material elaborado para fins didáticos, ele possui algumas restrições de navegação e alguns caminhos que são ‘obrigatórios’, mesmo que sejam acessados não linearmente (GOMES, 2007, p. 60, 61).

Por considerar que o termo multimodalidade é amplo e que também pode ser utilizado para texto impresso, Gomes prefere adotar a expressão hipermodalidade, comungando com a posição de Lemke (2002), o qual afirma que a expressão vai unir a multimodalidade e a hipertextualidade. Esta é “uma maneira de se nomear as novas interações entre os significados das palavras, imagens e sons na hipermídia,

isto é, em artefatos semióticos nos quais significantes em diferentes escalas de organização sintagmática estão ligados em redes complexas” (GOMES, 2007, p. 62). A hipermodalidade, portanto, “é mais que a multimodalidade, da mesma forma que o hipertexto vai além do texto tradicional”.

O autor também se interessa em mencionar que a fusão de imagem com o texto verbal se integra no layout digital e no significado da mensagem e aponta duas razões principais do seu interesse nessa fusão: (a) alguns tipos de imagens, em certos contextos, podem ser mais esclarecedores que o texto escrito e (b) a combinação de texto escrito e imagem pode favorecer melhor a construção de sentidos (p. 52). O autor vê a necessidade dessa abordagem pelo fato de que a imagem e a escrita não são duas maneiras de representar a mesma coisa, mas que a presença de um ou do outro consiste em representações diferentes, e que se houver a presença de ambos em um mesmo contexto eles vão complementar o sentido do todo, mesmo havendo uma certa hierarquia de um sobre o outro. Vão acrescentar algo, mas não dizer a mesma coisa. No entanto, em determinados contextos um pode ser a melhor utilização em detrimento do outro. No contexto pedagógico, por exemplo, pode-se afirmar que há uma boa receptividade pelos estudantes de imagens na abordagem de determinados temas ou em todas as situações de abordagem de conteúdos curriculares.

Ainda sobre hipertexto, pode-se citar a concepção de Coscarelli (2009, p. 73), a qual afirma ser o hipertexto “um texto que traz conexões, chamadas links, com outros textos que, por sua vez, se conectam a outros, e assim por diante, formando

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