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A especialização: celeridade na produção de projetos

A escolha de determinado arquiteto (Escritório A) ou equipe (Escritório C) para o desenvolvimento dos projetos é determinada em razão do tipo de projeto e da experiência em projetar para a cidade na qual a obra será construída.

Em relação ao tipo de projeto, há a possibilidade de o arquiteto ou a equipe se especializar em projetos para hospitais, para laboratórios, dentre outros. Como Débora (arquiteta I) do Escritório A, que já vinha coordenando projetos relativos a laboratórios havia cerca de um ano. Segundo ela, para projetar nessa área é preciso estar por

dentro das legislações referentes à vigilância sanitária, por exemplo.

No Escritório C, como é uma empresa de grande porte, há pessoas que se especializaram em determinados assuntos, como é o caso de um dos arquitetos que é referência nas leis sobre acessibilidade e de outro, um arquiteto master, que assessora todos os outros arquitetos sobre soluções técnicas. Conforme se pode observar nas palavras do Paulo (arquiteto pleno e líder de equipe no Escritório C), o processo de produção de projetos é composto por conhecimentos gerais, como de legislação, mas também específicos:

Aqui tem uma coisa que facilita: você tem vários níveis de conhecimento em vários setores. O Alfredo (diretor-presidente) é ‘foda’ no negócio. Tem pessoas que são muito boas para fazer o que o cliente quer, outros que têm um conhecimento técnico apurado. O Cleber sabe legislação de deficientes, sabe procurar, sabe um tanto de coisas. O Ivo (arquiteto master e diretor-técnico) tem um conhecimento técnico grande, os masters têm o conhecimento em arquitetura, todo mundo tem um conhecimento bom. Se você quiser aprender, é só correr atrás, você

tem uma nata toda para consumir (grifos nossos).

A escolha em relação à experiência da equipe ou arquiteto em desenvolver projetos para determinada cidade se deve ao fato de que a legislação difere de uma cidade para outra, e o arquiteto precisa dominar os requisitos da lei porque os parâmetros legislativos influenciam as decisões no projeto e, por isso, são imperativos.

Sobre a importância da legislação, Paulo relatou:

Para você fazer um prédio não é só fazer o desenho da planta, não é só você falar ‘isso aqui vai ficar bonito, a sala vai ficar boa’, não, você tem

a legislação que traz, você tem o terreno que te induz, você tem algumas coisas que te direcionam mesmo a fazer o projeto do jeito que ele deve ser. Algumas coisas mudam, lógico; a cara dele pode

mudar um pouco, os materiais podem mudar dependendo do cliente, o tipo de produto pode mudar dependendo do cliente, mas o terreno não muda, ele vai ser o mesmo. Ele vai ter os mesmos índices de

afastamento, os mesmos índices de coeficientes para você construir. Não adianta nada você falar que quer fazer um prédio de 20

andares, cada andar com 500 m² se o terreno não te permitir. Você passou do utópico para o real, a arquitetura utópica de você achar que a gente pode fazer tudo (PAULO, arquiteto pleno, grifos nossos).

Esse relato nos permite perceber que o desenvolvimento do projeto se dá num campo total de relações, parafraseando Ingold (2010), constituído por uma série de fatores influentes, como legislativos, ambientais, sociais, tecnológicos, além do desejo do cliente, entre outros.

Ainda, segundo Paulo, ele trabalhou no plano diretor (estudo de viabilidade) que é o

primeiro estudo do projeto, uma análise na verdade, do que o cliente quer em relação ao que é possível em função do terreno e da legislação. Ele relatou o caso de um

projeto que precisou ser alterado, mesmo depois de o projeto legal já ter sido realizado. A legislação da cidade foi alterada, mas nem o master nem o coordenador do projeto tinham conhecimento desse fato. Nas informações básicas da prefeitura, havia um dado sobre o alargamento da via em frente à edificação projetada pela empresa, e quem estava desenvolvendo o projeto não percebeu isso. Quando o projeto mudou de coordenador, uma das pessoas da nova equipe foi checar as informações e viu que havia esse dado. Assim, tiveram de alterar o projeto. Nesse caso, sem maiores problemas.

Sobre a importância do domínio da legislação, Marcelo (arquiteto master) argumentou que é fundamental saber/dominar a legislação local da cidade onde o projeto será

construído para fazer/elaborar o conceito do projeto. Também, segundo Graça

(arquiteta que atua na área comercial), desse escritório, saber sobre a legislação é

fundamental porque influencia nas decisões de projeto, como nos afastamentos e áreas a serem construídas.

Gisele (arquiteta sênior e líder de equipe no Escritório C), quando foi apresentar um novo projeto para sua equipe, deu um exemplo de um prédio pronto, em que um dos moradores fez o cálculo da metragem quadrada da janela e percebeu que não estava de acordo com a legislação. Eles tiveram de arcar com as consequências. Por isso, ela solicitou muita atenção da equipe à legislação quando estivessem trabalhando naquele projeto.

Sobre a importância da especialização, Gisele disse:

A especialização é melhor porque a comunicação fica concentrada numa equipe só. Se a equipe trabalha com Brasília ela tem um

conhecimento melhor da legislação, o projeto vai passar mais rápido pela equipe porque ela já tem um conhecimento técnico, não precisa ficar vasculhando lei nem nada. [...] Eu acho que é fantástico ter essa divisão, porque é uma diminuição de custo porque eu já sei que esse projeto é em Brasília, eu já sei das leis de Brasília, e por isso não vou errar, já sei o caminho que eu tenho que pesquisar. O projeto vai mais

rápido, você já sabe os macetes daquela área, e ao mesmo tempo, se

o Eurico ou alguém de Brasília liga para cá e conversa com o Breno, pode conversar com a equipe, não precisa ficar ‘picando’ para várias pessoas. Ele já sabe como é a apresentação de projeto lá, qual é o procedimento de aprovação, no caso, como é a legislação, qual o tipo de apresentação de projeto para Brasília, o projeto legal, por exemplo. A gente já sabe exatamente o produto que eles estão esperando; para a gente é muito melhor porque a gente não vai errar, e para o cliente é muito melhor porque ele não vai ficar recebendo coisas que não interessam a ele. Isso já foi discutido em outro projeto, em outra fase.

Acho que concentrar informação, filtrar informação e concentrar em uma equipe, acho que facilita. Isso do ponto de vista do escritório, de lucro e de rapidez (grifos nossos).

Mas a especialização também apresenta limites, conforme é possível observar nas falas dos pesquisados:

Por outro lado, claro, impede que outras pessoas tenham conhecimento. Se fulano trabalha com Brasília e eu não trabalho, eu nunca vou saber como é o projeto de Brasília; impede o conhecimento em outras áreas (GISELE, arquiteta sênior, grifos nossos).

Para a empresa é ótimo! Mas para a pessoa, não, ela começa a

perder um pouquinho. A pessoa está focada em Brasília, mas poderia

estar aprendendo um pouquinho de Nova Lima. O Breno não sabe nada sobre Nova Lima. Se a vontade dele for essa, tudo bem. A minha

hoje dentro da empresa é que eu consiga aprender. Quanto mais aprendizado eu puder ter, eu quero ter. Não sei, isso vem de cada um

(VÂNIA, arquiteta júnior, grifos nossos).

Fica explícito que as especializações, principalmente em relação à legislação, contribuem para a celeridade na produção dos projetos porque o arquiteto que domina determinada legislação não precisa consultá-la com frequência. Além disso, nesse

processo de repetição53 – em consultar a norma ou legislação e fazer a aplicação do que foi visto/verificado –, a pessoa acaba aprendendo.