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A rotina de trabalho no Escritório C

2.1 Os escritórios

2.1.4 A rotina de trabalho no Escritório C

De modo geral, a rotina de trabalho dos arquitetos no escritório se traduz em: chegar por volta das oito e meia da manhã, ligar o computador, preencher a folha de registro de horas39, checar e-mails e responder aos mais urgentes, abrir uma pasta com a data do dia para colocar tudo o que for fazer e pegar o arquivo do dia anterior na pasta do coordenador do projeto. O coordenador de projeto é a pessoa responsável por atualizar o “diário de projetos” com e-mails enviados/recebidos e analisar se o planejamento do dia anterior foi cumprido pelos membros da equipe. A maioria das pessoas utiliza a parte da manhã para a organização das tarefas (como mandar e-mails, fazer o planejamento do dia, reuniões e preencher formulários) e a parte da tarde para a produção dos projetos propriamente ditos. Afirma Wagner: É à tarde que eu produzo

mesmo, porque de manhã é organizar o dia. Vânia (arquiteta júnior), também concorda:

                                                                                                               

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Sobre essa questão do dom, Bueno (2007) investigou quatro sujeitos que se encontravam em processo de constituição de habilidades, dois no esporte (um no futebol e outro no hipismo) e dois na música (um no piano e outro no violão). Baseando-se nesses estudos, mediante uma abordagem sociológica e a narrativa sobre a história de inserção dos praticantes nas diferentes modalidades, a autora se opõe às explicações baseadas em dom, no sentido essencialista e inatista. Segundo ela, explicações essencialistas se nutrem da invisibilidade e sutilezas de alguns dos processos constituidores e “o peso definidor que atribui a uma natureza inata a diversidade das habilidades se deve à confusão provocada pelo erro de se tomar o inatismo de certas condições biológicas como causalidade das atividades e habilidades” (BUENO, 2007, p. 341).

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A folha de horas é um arquivo disponível online no sistema, usada para contabilizar as horas trabalhadas pelos funcionários, como também as horas gastas em cada projeto.

Se tiver que preencher alguma coisa como quadro de área, eu prefiro fazer na parte da manhã, tem algumas coisas assim, [...] eu prefiro fazer na parte da manhã, porque você está mais concentrada.

No meio da manhã há um intervalo de dez minutos para um lanche rápido na copa do escritório. O almoço está previsto entre o meio dia e as duas da tarde. Novo lanche ocorre por volta das dezesseis horas. A saída do escritório se dá por volta das dezoito horas. Antes de encerrar o dia de trabalho no escritório, todos devem salvar o que fizeram na pasta do líder do projeto, como também preencher a hora de saída na folha de horas. O coordenador de projeto ainda deve fazer o becape de todos os arquivos trabalhados pelas pessoas da equipe.

Os arquitetos têm de cumprir uma média de oito horas e meia de trabalho por dia. A rotina pode ser descrita nas palavras de Vânia, arquiteta júnior:

Você chega, liga o computador, abre uma pasta do dia de seu trabalho, e aí o arquivo que eu estava trabalhando, se não é corrente meu, eu tenho que buscá-lo num becape em que ele esteja mais atualizado na pasta da pessoa do projeto corrente, do coordenador do projeto. Então assim, se, por exemplo, a Gisele não tiver feito ainda esse becape, se ele não for mais atual do dia anterior, alguma coisa assim, eu tenho que perguntar onde que eu posso pegar esse arquivo, dar continuidade ao trabalho dele. E aí, no final do dia, se ele não é projeto corrente meu, eu tenho que devolver ele, coloco na pasta dela para que ela faça o becape para o dia seguinte.

Algumas equipes faziam reuniões semanais, às segundas-feiras, para discutir o desenvolvimento do projeto – acertar o cronograma, dividir tarefas e planejar o trabalho para a semana. Apenas a equipe da Gisele (arquiteta sênior e líder de equipe) não estava fazendo essas reuniões naquele período porque segundo ela, todas as pessoas da equipe estavam trabalhando no mesmo projeto e não precisavam parar a produção porque todos estavam “falando a mesma língua”.

Mas, em relação à rotina e aos procedimentos, não havia uma regra fixa ou homogeneidade na forma de condução dos trabalhos, por exemplo, Gisele disse que fazia os becapes quando chegava e não no final do dia porque no dia anterior à noite

todo mundo que trabalhou para mim fez os becapes no arroba40. Faço no dia seguinte porque nem sempre eu saio depois de todo mundo. Paulo (arquiteto pleno e líder de

equipe) também afirmou que tentava não seguir uma rotina muito fixa tal qual Breno e Wagner: Os caras são sistemáticos, chegam e fazem becape todo dia na hora que

chegam. Segundo ele, quando ia tentar fazer becape e tinha alguém trabalhando no

projeto, não conseguia becapear, deixava para fazer depois e esquecia. Em relação aos procedimentos, Paulo disse que era difícil seguir uma rotina porque é o trabalho

burocrático, isso é que é a parte difícil. Relatou também que chegava mais tarde, por

volta das nove horas, e saía mais tarde, em torno das sete e meia da noite.

Os estagiários podiam escolher trabalhar quatro horas e quinze minutos por dia ou seis horas. Trabalhar mais implicava em receber mais como também estar mais envolvido com a prática de projetos no escritório. Roberto e Renata optaram pela primeira alternativa e Arildo, pela segunda.

A rotina dos estagiários pode ser resumida nas palavras da Renata, estagiária:

Chego às quinze para as duas. As pessoas estão voltando do almoço. Aí, eu começo já o que eu estava fazendo no dia anterior. Se for alguma coisa que eu sei que eu vou continuar, se não for eu pergunto para Gisele. E mesmo se eu for continuar eu pergunto para ela: ‘Gisele você mexeu nesse arquivo ontem?’ Porque às vezes eu coloquei no becape dela e ela mexeu. Então eu já tenho que pegar o outro arquivo. Então eu confirmo com ela se é para eu continuar fazendo isso. Aí faço o que ela pediu, tiro as dúvidas que eu tinha. Quando termina, eu falo com ela: ‘Ah, terminei’. Ela me passa mais coisa, confere o que eu fiz. Se tiver alguma coisa para corrigir eu corrijo. E no final tem que preencher, a gente preenche a folha de horas. Eu vou embora seis horas.