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Estudo exploratório: possíveis campos de pesquisa

1.2 Os percursos da pesquisa

1.2.1 Estudo exploratório: possíveis campos de pesquisa

O objetivo principal com esse primeiro estudo exploratório foi identificar, dentre as alternativas possíveis, os campos de pesquisa (escritórios de arquitetura) que pudessem viabilizar a execução desta investigação. Esse estudo permitiu, também, entender um pouco mais sobre as práticas dos projetos de arquitetura, sobre a organização dos escritórios pesquisados e uma breve noção sobre a participação dos estagiários no processo de produção dos projetos. Ele foi realizado em dez escritórios de arquitetura (TAB. 1), em setembro de 2011.

TABELA 1

Resumo de algumas características dos dez escritórios de arquitetura pesquisados no estudo exploratório 1.

 

ESCRITÓRIOS FUNDAÇÃO N. FUNCIONÁRIOS N. ESTAGIÁRIOS SISTEMA DE GESTÃO TIPO DE PROJETO DESENVOLVIDO

1 2002 11 4 sim Imobiliários

2 2002 02 1 não Autorais e imobiliários

3 2004 23 2 sim imobiliários

4 1995 ? não tem não autorais e imobiliários

5 ? ? não tem não autorais

6 1974 23 6 sim autorais

7 1997 18 10 não autorais

8 ? ? não tem não autorais

9 ? ? não tem ? ?

10 1989 96 6 sim imobiliários

Fonte: Dados da pesquisa.

Obs.: 1º) Em destaque, os seis escritórios nos quais houve conversa (pessoalmente) com os

responsáveis: 1, 2, 3, 6, 7 e 10; 2º. Os nomes dos escritórios foram substituídos para manter o sigilo e a ordem segue a sequência em que foram pesquisados; 3º) As interrogações correspondem às informações que não foram obtidas nas conversas via telefone.

                                                                                                               

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Uma das possibilidades aventadas como método para esta pesquisa foi a aplicação de um teste para os estagiários e arquitetos juniores. Mas, com os estudos exploratórios, optou-se por abolir essa técnica por acreditar que desvirtuaria o foco da pesquisa – que é investigar como se dá a aprendizagem na prática, cotidianamente – por não representar o que acontece no dia a dia do escritório e por estar na contramão da própria compreensão de aprendizagem aqui proposta: a ideia de aprendizagem como processo, e não como produto.

Os escritórios pesquisados foram indicados por colegas da Escola de Arquitetura da UFMG e também por profissionais que atuam nesse mercado. Inicialmente, o contato foi via telefone com todos os indicados – para saber se havia estagiários de arquitetura entre os funcionários. Posteriormente, busquei maiores informações em conversa pessoal com o responsável em cada escritório onde havia estagiários. Nessas conversas, utilizei um roteiro com algumas questões: estrutura do escritório, pessoal empregado, fases dos projetos, participação de cada profissional e de cada estagiário no processo de projeto, forma de contratação, processo de supervisão dos estagiários, forma de participação do cliente no projeto e organização do processo.

Neste estudo exploratório, foi possível perceber, de forma geral, as diferenças em relação aos tipos de projeto realizados pelos escritórios, à forma de organização, ao gerenciamento e à infraestrutura em cada um deles. Uns com maior ênfase em projetos autorais (projetos nos quais a autoria se torna relevante), outros com foco em projetos imobiliários (projetos para as grandes construtoras, considerados projetos “em série” ou comerciais) e em alguns, projetos mistos, autorais e comerciais.

Dos dez escritórios pesquisados, quatro deles (n. 1, 3, 6 e 10, na TAB. 1) tinham sistemas de gestão para a elaboração dos projetos. Sendo que três deles (n. 3, 6 e 10) tinham certificação pela ABNT (NBR ISO 9001-2008)16 e outro (n. 1 na TAB. 1) estava em processo de certificação. Ou seja, os procedimentos já estavam normatizados (em setembro de 2011) e no ano seguinte iam requerer a certificação.

Para definição dos campos de pesquisa (escritórios) utilizei os seguintes critérios:

                                                                                                               

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A ISO 9001 é uma norma generalista, e isso quer dizer que pode ser aplicada em todas as organizações, independentemente do tipo, porte ou produto que forneçam. O termo “produto”, conforme descrito na própria norma, pode ser entendido também como serviço. Ela aborda diretrizes para a gestão da qualidade com foco no processo – “conjunto de atividades inter-relacionadas ou interativas que transforma insumos/entradas em produtos/saída”. Orienta para que a empresa especifique requisitos para o controle do processo, com definição clara de entradas e saídas, especificação de todas as atividades e funções que fazem parte do processo, requisitos de controle, de avaliação e melhoria do processo. Os requisitos estabelecidos na ISO 9001 não garantem a qualidade final do produto da empresa, mas, sim, a qualidade no processo. Para mais informações sobre a ISO 9001 e certificação, cf. Mello et al. (2009) e Carpinetti; Miguel e Gerolamo (2011).

1º escritórios com estagiários envolvidos no processo de projeto: requisito sine qua non, dado o foco no processo do aprendiz;

2º escritórios com arquitetos em diferentes níveis de formação: não bastava ter estagiários, era preciso ter também arquitetos em funções diversas porque diferentes formas de participação na prática podem gerar processos de aprendizagem;

3º escritórios com maturidade no desenvolvimento de projetos de arquitetura: escritórios com uma prática consolidada poderiam facilitar o entendimento do processo de produção de projetos se comparados àqueles que estavam iniciando suas atividades, os quais poderiam ter outras variáveis no processo.

Após analisar as informações desses escritórios que fizeram parte do primeiro estudo exploratório, acrescentei um quarto critério para a escolha dos campos de pesquisa: 4º escritórios com sistema de gestão de projetos consolidado: a decisão por incluir mais esse requisito aos demais, se baseou, principalmente, na percepção de que nos escritórios com sistema de gestão de projetos17, os processos e procedimentos referentes à produção de projetos estavam formalizados e descritos – dadas as próprias exigências normativas18 – e poderiam facilitar o entendimento do processo de produção dos projetos se comparado àqueles sem sistema de gestão estabelecido. Os seis escritórios nos quais conversei pessoalmente com os responsáveis atenderiam aos três primeiros requisitos, mas somente três deles possuíam a gestão de projetos consolidada (tinham certificação ISO 9001 para os processos de projeto). Dessa forma, estes foram os selecionados como potenciais campos de pesquisa, representados na TAB. 1 pelos números 3, 6 e 10.

A negociação com um desses escritórios (n. 6 na TAB. 1), porém, não se concretizou. Meu contato foi com um dos gerentes de projeto, que forneceu alguns documentos:                                                                                                                

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Sobre gestão de projetos cf.: Silva e Souza (2003); Oliveira (2004); Melhado et al. (2005, 2011);; Oliveira e Melhado (2005); Ferreira e Salgado (2007); Emmitt (2010); Andery et al. (2012).

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Não necessariamente para se ter um sistema de gestão há necessidade de obter certificação. Porém, observa-se que as empresas buscam a normatização e certificação para implantarem sistemas de gestão de projetos.

Manual da Qualidade (MQ), Manual de Descrição de Funções (MDF), procedimentos

para desenvolvimento dos produtos e arquivamento de projetos. Em uma das reuniões com o gerente, o diretor participou e declarou que forneceria todas as informações necessárias para o entendimento do processo, mas que não ia liberar a observação do processo de produção19. Assim, esse escritório foi descartado como campo de investigação para esta pesquisa.

Daqui em diante, trato os dois escritórios pesquisados – 3 e 10, na TAB. 1 – como Escritório A e Escritório C, respectivamente.