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2.1 Os escritórios

2.1.2 O Escritório C

O Escritório C ocupa quase um andar inteiro de um prédio comercial, um total de aproximadamente 625 m2, com três salas para produção de projetos – salas verde, laranja e roxa –, entre outros ambientes, como a recepção, duas salas de reunião, sala da presidência, sala da diretoria e uma copa/cozinha (FIG. 2). Além desse ambiente, a empresa utiliza uma sala para o setor administrativo em outro andar.

FIGURA 2 – Planta do Escritório C.

Os ambientes de produção (dentre eles o que foi observado, a sala verde) foram projetados para o trabalho em equipe. Nas salas verde e laranja são 16 estações de trabalho em cada uma, dispostas em 4 fileiras (bancadas), e as pessoas da mesma equipe sentam-se lado a lado. Entre as fileiras havia uma divisória baixa de vidro, em torno de 30 cm de altura, acima da mesa, que permitia a interação e a troca de informações entre as pessoas que estão de um lado e do outro36. Entre as estações de trabalho, sob a bancada, havia um gaveteiro com quatro gavetas de uso compartilhado: duas gavetas para cada pessoa.

Segundo o diretor-presidente, no escritório são 96 pessoas ao todo, sendo 60 em Belo Horizonte e 36 em Brasília. Na sala verde havia 17 pessoas (TAB. 3). Os estagiários trabalhavam em meio período, dois deles à tarde e um pela manhã. Assim como no Escritório A, no C também havia arquitetos em diferentes funções na empresa, alguns deles também estavam na empresa desde quando eram estagiários, como Wagner e Paulo.

TABELA 3

Quadro de funcionários da sala de produção de projetos observada no Escritório C, com as funções e data de entrada na empresa.

 

PESSOAL FUNÇÃO DATA ENTRADA

Marcelo Arquiteto master 1º 1992 a 1996 – 2º 2004

Gisele Arquiteto sênior I e líder 2009

Vânia Arquiteta júnior 2011

Solange Arquiteta júnior 2012

Breno Arquiteto sênior I e líder 2003

Wagner Arquiteto pleno II 2008

Sílvia Arquiteto pleno I 2012

Paulo Arquiteto pleno II e líder 2006

Alice Arquiteta júnior 2011

Valéria Arquiteta júnior 2012

Clara Arquiteto sênior I e líder – AI 2007

Cíntia Arquiteto pleno I – AI 2008

Rosália Arquiteto pleno I – AI 2010

Larissa Arquiteto sênior I – AI 2007

Roberto Estagiário 2011

Renata Estagiária 2012

Arildo Estagiário 2012

Fonte: Informações obtidas com o diretor administrativo do Escritório C e nas entrevistas.

Obs.: 1) Os nomes acima estão agrupados de acordo com as equipes de produção de projetos dessa sala. O master e os estagiários não pertencem a nenhuma equipe específica. 2)AI: equipe que trabalha com arquitetura de interiores.

                                                                                                               

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A produção de projetos era realizada por equipes37, organizadas de acordo com o ambiente, geralmente compostas por três ou quatro pessoas, sentadas lado a lado, conforme pode ser observado na planta do escritório (FIG. 2). Na sala de produção observada, havia quatro equipes, compostas por arquitetos plenos e seniores ou plenos e juniores: três delas ligadas à produção de projetos de arquitetura e uma responsável pelas atividades relacionadas à arquitetura de interiores (AI).

No período de observação, a equipe da Gisele trabalhou em dois projetos. Na equipe do Breno, cada um dos três tinha um projeto corrente, e ele era o responsável por todos os projetos. A do Paulo trabalhou com dois projetos, um coordenado por ele e outro por Alice.

As equipes formadas por pessoas mais experientes tinham mais projetos para desenvolver e o líder da equipe podia delegar mais atividades, como a equipe de Breno, que contava com dois arquitetos plenos. A equipe da Gisele e a do Paulo eram compostas por arquitetas juniores. No caso da equipe do Breno, embora cada um tivesse coordenando um projeto, havia sempre muita conversa e troca de informações entre eles. Além disso, às segundas-feiras eles se reuniam para planejar a semana e trocar informações sobre o andamento dos projetos.

Nesses casos, a distribuição da responsabilidade entre as pessoas e, principalmente, entre as equipes, faz lembrar Lave e Wenger (1991) quando mencionam (mediante a análise de outros contextos) que essa é uma característica da aprendizagem: menor experiência, menor responsabilidade. É o que esses autores chamam de participação/movimentação centrípeta. Ou seja, os iniciantes se movem de uma participação periférica para uma participação completa: “um domínio fechado de conhecimento ou prática coletiva para o qual pode haver graus mensuráveis da ‘aquisição’ pelos novatos” (LAVE; WENGER, 1991, p. 36, tradução nossa).

                                                                                                               

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Essa forma de organizar a produção com quatro equipes por sala foi alterada no ano seguinte à observação. A sala inteira passou a ser composta por uma equipe só. Segundo Camilo, diretor- administrativo, essa alteração foi para melhorar o controle sobre os projetos e ter mais agilidade no processo: A forma de gestão vai mudar para equipes grandes com um gerente por sala. Algumas

pessoas irão trocar de sala para ‘arejar’. Desse modo, o ‘dono da sala’ vai poder perceber melhor as habilidades e os talentos extras.

O desenvolvimento dos projetos da equipe de arquitetura de interiores (AI) era diferente. Elas trabalhavam dando suporte às equipes da sala – em relação aos materiais, acabamento, mobiliário, eletrodomésticos – e também às de outras salas. Além disso, desenvolviam projetos de apartamentos decorados para os clientes do escritório.

Nessa sala, havia, também, um arquiteto master, que dava apoio a todas as equipes, incluindo as de outras salas.

Os estagiários não pertenciam a nenhuma equipe oficialmente, mas havia uma organização na sala que privilegiava o trabalho de cada um deles por um tempo maior em determinadas equipes. Segundo Gisele (arquiteta sênior e líder de equipe), os líderes de projetos perdiam muito tempo explicando aos estagiários que não vivenciavam o dia a dia do projeto e logo em seguida (dois a três dias) saíam do projeto para trabalhar em outro. Por isso, os líderes de equipe da sala decidiram alterar a forma de participação dos estagiários nos projetos:

Porque eu achava que o estagiário tinha que estar numa equipe para eles criarem vínculo e aprenderem com o projeto, porque do jeito que estava, cada semana eles estavam com uma pessoa, então eles estavam só desenhando, porque eles não pensavam. [...] Se o

estagiário ficar de um projeto para outro tem oportunidade de interagir mais e participar de muito mais projetos, sim, mas acho que ele aprende menos (GISELE, arquiteta sênior e líder de equipe,

grifos nossos).

Além das diferenças em relação ao porte e à organização da produção dos projetos desses escritórios, há também uma diferença significativa relacionada ao tratamento dado aos estagiários. No Escritório A, os estagiários têm mais restrições: não têm acesso à internet, não possuem as chaves do escritório e somente eles não podem salvar os arquivos nas devidas pastas. Enfim, o tratamento dispensado a eles é diferenciado se comparado com o tratamento dado aos arquitetos. Parecia que eram tratados à margem do processo.

Entretanto, no Escritório C, conforme observei, os estagiários têm, basicamente, os mesmos direitos e deveres que os demais arquitetos. Eles têm acesso a quase todas

as informações dos projetos e recebem o mesmo tratamento dado aos arquitetos. É o que conta Renata (estagiária): Isso que eu acho uma das coisas que eu mais gosto

aqui da empresa, eles tratam a gente de igual pra igual.

Essas diferenças entre os escritórios – de leiaute do espaço físico, da organização da produção de projetos e do tratamento dado aos estagiários – têm implicações diretas no desenvolvimento dos projetos e, consequentemente, na aprendizagem, conforme veremos mais adiante.