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Capítulo II – Gestão do Conhecimento

2.4 A Espiral do Conhecimento

Como já se teve oportunidade de verificar na secção anterior, a espiral do conhecimento, nos diferentes tipos de interação, envolve dois tipos de conhecimento: tácito e explícito.

O modelo da criação de conhecimento, instruído por Nonaka e Takeuchi (1995), indica que o conhecimento dos seres humanos é criado e disseminado através da interação social entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito. A esta interação, os referidos autores denominam-na de “conversão de conhecimento”.

A interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito permite estabelecer quatro diferentes modos de conversão de conhecimento, processo apresentado na figura 2.7 e denominado por SECI.

Figura 2.7 - Quatro modos de conversão na criação do conhecimento (processo SECI)

Conhecimento tácito para Conhecimento explícito

Socialização Exteriorização

Interiorização Combinação

Fonte: Nonaka e Takeuchi (1995:62)

O modo de conversão denominado de socialização surge pela interação de conhecimento tácito para conhecimento tácito. É um processo difícil de gerir, dado tratar-se de uma interação face a face entre indivíduos, envolvendo, particularmente, a partilha de experiências comuns, a articulação de opiniões, habilidades e atividades conjuntas. O fator confiança e a empatia criada prevalecem para que possam trocar e partilhar conhecimento tácito. Por exemplo, o contacto informal, a promoção de reuniões informais fora do âmbito do trabalho potencia a criação deste tipo de conhecimento. A aprendizagem, realizada entre

Conhecimento Tácito

de Conhecimento explícito

o mestre e um aprendiz, não é feita através de livros e/ou manuais, mas pela prática de imitação e da observação direta.

A exteriorização surge quando o conhecimento tácito é tornado explícito. Nonaka, Toyama e Byosière (2001:495) salientam que “dos quatros modos de conversão do conhecimento, a exteriorização é a chave para a criação de conhecimento porque cria conceitos novos e explícitos do conhecimento tácito. Quando conhecimento tácito é tornado explícito, o conhecimento torna-se cristalizado, a tal ponto que ele pode ser partilhado por outros e pode ser tornado a base para novo conhecimento”. Este modo surge quando a interação face a face se manifesta num contexto coletivo. Por exemplo, um grupo de trabalhadores tenta explicitar os seus conhecimentos, as suas experiências, os seus valores, as suas intuições e as suas capacidades técnicas num manual ou documento escrito.

Segue-se a combinação, que ocorre durante a transformação de conhecimento explícito para conhecimento explícito. Este tipo de conversão é realizado através da troca e combinação de conhecimento entre os indivíduos, numa simples conversa coletiva, telefónica, em reuniões ou por correio eletrónico.

A transformação de conhecimento explícito para conhecimento tácito concorre com o modo de conversão: interiorização. Caracteriza-se por aprender fazendo. A interação é virtual e individual. O conhecimento explícito circunspecto em manuais, documentos, histórias e experiências passadas, auxiliam a interiorização do conhecimento passado, potenciando melhorias no conhecimento tácito.

Neste contorno, torna-se fundamental ilustrar o processo SECI e o movimento da espiral do conhecimento, através da figura 2.8.

Figura 2.8 – Espiral do conhecimento

Conhecimento tácito Diálogo Conhecimento explícito

Socialização Exteriorização

Interiorização Combinação

Conhecimento Aprender Conhecimento

tácito fazendo explícito

Fonte: Adaptado de Nonaka e Takeuchi (1995) Conhecimento Tácito Construção no terreno Conhecimento Tácito Conhecimento explícito Aglutinação do conhecimento explícito Conhecimento explícito

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O processo SECI circunscreve-se à dimensão epistemológica da criação de conhecimento organizacional. A interação entre o conhecimento tácito e o explícito potencia a criação da espiral do conhecimento. A criação do conhecimento organizacional é uma espiral incessante, iniciando-se ao nível individual, deslocando-se para comunidades interativas, que ultrapassam os limites organizacionais e as fronteiras sectoriais. Estas fronteiras, que se podem designar como fontes externas, são os meios/locais onde as empresas podem recolher e/ou transferir conhecimento, nomeadamente, através de clientes, fornecedores, concorrentes, e utilizam- -no para criar o seu próprio conhecimento. A este respeito, Hernández (2003:65) salienta que “a transferência de conhecimento não se produz apenas dentro da empresa, sendo que também ocorre entre organizações. É o que se pode denominar de empresa estendida, que cria valor através da transferência e agregação do conhecimento nas suas relações externas, com clientes, fornecedores, universidades, centros de investigação, etc.”

Assim, torna-se oportuno, visualizar a figura 2.9, que demonstra todo o processo da criação do conhecimento organizacional.

Figura 2.9 – Espiral da criação do conhecimento organizacional

Fonte: Nonaka e Takeuchi (1995:73)

Gonçalves (2006:24) afirma que “a espiral do conhecimento é um processo interativo que permite a criação de conhecimento organizacional, a níveis infinitos e que se atualiza a ele próprio de forma continuada e sistemática”. Mais acresce Nonaka (2001:32) que “a conversão do conhecimento individual em recurso disponível para outras pessoas é a atividade central da empresa criadora de conhecimento. Esse processo de transformação ocorre continuamente em todos os níveis da organização”.

Individual Grupos Organização Interorganizações Nível de conhecimento

Dimensão Ontológica Dimensão

Epistemológica Combinação Exteriorização Conhecimento

Explícito

Conhecimento Tácito

Para finalizar, Nonaka, Toyama e Byosière (2001), através da tabela 2.1., apresentam, de forma sintetizada, as qualidades destes dois tipos de conhecimento, nos diferentes modos de conversão do conhecimento.

Tabela 2.1 - Qualidade do conhecimento tácito e explícito nos diferentes modos de conversão

Fatores Descrição

Socialização (de conhecimento tácito para conhecimento tácito): Acumulação de conhecimento tácito

Gestores juntam informação de vendas e locais de produção, partilha de experiências com fornecedores e clientes, e dedicam-se ao diálogo com os concorrentes

Recolha fora da empresa de informação social

Gestores vagueiam sobre o que está fora das suas empresas, reunindo ideias para estratégias empresariais da vida social diária, interagindo com peritos exteriores e reunindo-se informalmente com concorrentes.

Recolha dentro da empresa de informação social

Gestores descobrem novas estratégias e oportunidades de mercado por vaguearem dentro da empresa.

Transferência de conhecimento tácito

Gestores criam um ambiente de trabalho que permite observar demonstrações e práticas do mestre para compreender a perícia que o seu trabalho envolve.

Exteriorização (de conhecimento tácito para conhecimento explícito)

Gestores facilitam o diálogo criativo e essencial, “pensamento isolado”, a utilização de metáforas para criar a criação de conceito e a inclusão de designers industriais em equipas de projeto.

Combinação (de conhecimento explícito para conhecimento explícito)

Aquisição e integração

Gestores planeiam estratégias e operações, desenhando sobre literatura publicada, simulações de computador e prognósticos, no sentido de reunir dados internos e externos.

Síntese e processamento Gestores criam manuais, documentos e bases de dados para produtos e serviços e juntam figuras de gestão, informação

técnica ou ambas, através da empresa.

Disseminação Gestores planeiam e fazem apresentações no sentido de

transmitir conceitos criados recentemente. Interiorização (de conhecimento

explícito para conhecimento tácito) Experiência pessoal;

Aquisição de conhecimento do mundo real

Gestores comprometem-se em atividades “de ligações poderosas” com o departamento funcional através dos membros das equipas de desenvolvimento multifuncional, coincidindo com o desenvolvimento do produto. Gestores procuram e partilham novos valores e pensamentos, partilham e tentam compreender visões de gestão e valores através da comunicação com membros/parceiros das organizações.

Simulação e experimentação; aquisição

de conhecimento do mundo virtual Gestores facilitam protótipos e benchmarking e procuram espírito de desafio dentro da organização. Gestores formam

equipas como um modelo, conduzem experiências e partilham resultados com todo o departamento.

Fonte: Adaptado de Nonaka et al. (1994), citado por Nonaka, Toyama e Byosière (2001:496)

Terminada esta explanação, torna-se oportuno apresentar e descrever as principais características do conhecimento que uma organização deverá privilegiar, quer na sua forma de gestão, quer no âmbito da sua aplicação.