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O Conhecimento e a sua Importância para a Inovação

Capítulo IV – Gestão do Conhecimento como Fator Determinante para a Inovação

4.2 O Conhecimento e a sua Importância para a Inovação

O papel da gestão de conhecimento é entendido como uma estrutura que permite desenvolver e incrementar a inovação (Nonaka e Takeuchi, 1995; Darroch e McNaugton, 2002; Lettieri, Borga e Savoldelli, 2004; Darroch, 2005; Nicolás e Cerdán, 2011).

O conhecimento, além de ser um driver estratégico, é uma fonte de vantagem competitiva que uma organização pode utilizar, para fazer face à sua sustentabilidade, potenciando um

forte valor acrescentado (Gravier, Randall e Strutton, 2008; Liew 2008; Teerajetgul e Chareonngam, 2008; Niu, 2010).

A atividade principal da empresa criadora do conhecimento transmite-se pela interação continuada, recíproca e dinâmica, entre dois tipos de conhecimento: tácito e explícito (Nonaka, 1994; Nonaka e Takeuchi, 1995; Herrgard, 2000; Nonaka e Krogh, 2009).

A criação de conhecimento surge através de uma forte, dinâmica e complementar interação entre o conhecimento tácito e explícito. Este processo interativo conjugado com os quatros modos de conversão – denominado processo SECI – potencia a espiral da criação do conhecimento organizacional (Nonaka, 1994; Nonaka e Takeuchi, 1995; Krogh, Ichijo e Nonaka, 2000; Nonaka, Toyama e Byosière, 2001; Takeuchi, Nonaka e Yamazaki, 2011). A manifestação da partilha de conhecimento destaca-se pelo intercâmbio de experiências, da cooperação, da interação, da forte e constante comunicação multidirecional, pelo estabelecimento de relações fortes com parceiros externos, pela existência de grupos coesos e através da confiança mútua (Soekijad e Andriessen, 2003; Hooff e Ridder, 2004; Guzman e Wilson, 2005; Gumus, 2007; Zboralski, 2009).

Assim, torna-se oportuno colocar a seguinte questão: de que forma o conhecimento poderá ou não influenciar um processo de inovação?

Neste âmbito, Silva (2007:1708) salienta que “as abordagens actuais de referência sobre os processos de inovação têm essencialmente uma natureza sistémica, focada nos fluxos de conhecimento e na aprendizagem colectiva, envolvendo a interação de vários agentes económicos, sociais e políticos”. Mais acresce Oslo (2005:24) que “a gestão do conhecimento envolve atividades para adquirir, usar e partilhar conhecimento na organização. É uma parte fundamental no processo de inovação”. Ou seja, a interação entre os vários atores gera uma corrente fluida de saberes, que potencia a aquisição e a disseminação do conhecimento, permitindo a alavancagem de fortes sinergias, rumo à inovação.

Os autores Jensen, Johnson, Lorenz e Lundvall (2007) enfatizam dois modos de inovação tendo em vista a criação e a transferência do conhecimento. O primeiro é baseado na produção e no uso de conhecimento codificado e científico -Science, Technology and

Innovation, adiante designado por STI; o segundo assenta na experiência e no saber fazer - Doing, Using and Interacting, abreviadamente classificado por DUI.

A relação entre os modos STI e DUI corresponde à necessidade de harmonizar e combinar conhecimento tácito e explícito, no sentido de concentrar a aprendizagem e promover a

inovação. A inovação não é mais do que um processo interativo, no decorrer do qual vários atores interagem para codificar, criar, partilhar e transferir conhecimento.

A figura que se segue aborda os diferentes modos de inovação e os tipos de conhecimento associados a cada um deles.

Figura 4.1 – Modos de Inovação

Fonte: Adaptado de Jensen, Johnson, Lorenz e Lundvall (2007)

Conhecimento explícito, também denominado por conhecimento “codificado”, refere-se ao conhecimento que é transmissível em linguagem formal e sistemática. Este tipo de conhecimento pode ser obtido através da leitura de artigos, livros, no acesso a base de dados, nos manuais, nas gramáticas, em expressões matemáticas, circulares ou outros afins (Nonaka, 1994; Nonaka e Takeuchi, 1995; Nonaka e Konno, 1998; Teece, 1998; Chen, Sun e McQueen, 2010).

Assim, o tipo de conhecimento Know-what e Know-why pode ser adquirido via livros, leituras, através do acesso em base de dados, caracterizando como conhecimento explícito no modo de inovação STI (Lundvall, 1996; Jensen, Johnson, Lorenz e Lundvall, 2007; Lundvall e Nielsen, 2007).

Paralelamente, considera-se que o conhecimento tácito se caracteriza como o conhecimento crucial dentro de uma organização. O conhecimento tácito de difícil transferência dado o seu carácter subjetivo, ambíguo, abstrato e implícito, revela-se através da interação, no aprender a fazer, nas experiências conjuntas, na intuição, na perícia e numa forte e dinâmica

Modos de inovação

Science, Technology and Innovation – STI

Baseado na produção e no uso de conhecimento codificado e científico

Doing, Using and Interacting – DUI Baseado na experiência e no saber fazer Tipos de conhecimento Know – what Know – why Tipos de conhecimento Know – how Know – who INOVAÇÃO

comunicação (Nonaka e Takeuchi, 1995; Choo, 2006; Takeuchi, Osono e Shimizu, 2008; Holste e Fields, 2010; Takeuchi, Nonaka e Yamazaki, 2011).

Aliás, a própria definição de conhecimento, ostentada no capítulo três dos autores Davenport e Prusak (1998:5), destaca e releva uma distinta e explícita importância neste tipo de conhecimento, veja-se: “o conhecimento é como uma mistura fluída de uma experiência principal, valores importantes, informação contextualizada, e compreensão profunda, que permite uma limitação para avaliar e incorporar novas experiências e informação. Tem origem e é aplicado na mente das pessoas. O conhecimento é originado de experiências únicas e na aprendizagem organizacional através de pontos chaves, mantendo-se embutidos, não só em documentos escritos, mas também em rotinas, conversas, processos, práticas, normas e valores da própria organização”.

Aliada a esta definição, Drucker (2005:14) reforça que “os profissionais do conhecimento detêm os meios de produção, trata-se do conhecimento que têm na sua cabeça. É totalmente portátil, representando um enorme ativo de capital”. Este tipo de conhecimento caracterizado no modo de inovação DUI -Know-how e Know-who - surge pelo saber fazer; manifesta-se pela interação entre pessoas e departamentos dentro e fora da fronteira organizacional; exterioriza-se através de uma forte e dinâmica comunicação; evidencia-se pela partilha de valores, saberes e de experiências; vetores estes, fundamentais para a inovação (Lundvall, 1996; Jensen, Johnson, Lorenz e Lundvall, 2007; Lundvall e Nielsen, 2007; Johannessen, 2008).

Em reforço, Johannessen (2008), esquematicamente, apresenta uma síntese relacional entre os modos de inovação e os tipos de conhecimento e as formas de aprendizagem. Veja-se a tabela 4.1.

Tabela 4.1 – A gestão do conhecimento

Tipos de

conhecimento A forma de aprender aprendido O que é Como partilhar Media

Meta -

conhecimento Reflexão Know why Comunicação Livros, conferências, bases de dados, etc.

Conhecimento

explícito Ouvir/leitura Know what Comunicação Livros, conferências, bases de dados, etc.

Conhecimento

tácito Usar/fazer Know-how

Brainstorming estruturado na aprendizagem Experiência, Prática: Aprendizagem - relacionamentos Conhecimento oculto Socialização Sabendo como

nós sabemos Foco no grupo

Questionar acerca das hipóteses e os modelos

mentais Relações no

conhecimento Interação Know who

Parceiros e equipas de

trabalho Relações sociais

As empresas que desenvolvem práticas e comportamentos de gestão de conhecimento fomentam e incrementam a inovação (Plessis, 2007; Chang e Lee, 2008; Mu, Peng e Love, 2008; Tseng, Pai e Hung, 2011; Mundra, Gulati, Vashisth, 2011).

Darroch (2005:112) acresce que “o papel da gestão do conhecimento é visto com um mecanismo coordenado para desenvolver e incrementar a inovação”. Esta mesma autora, esquematicamente, apresenta um modelo interessante, como se pode observar na figura 4.2. Figura 4.2 – O conhecimento como fator incremental à inovação

Fonte: Darroch (2005:110)

Uma organização com comportamentos e práticas de codificação, criação e transferência do conhecimento, cuja existência de cultura de partilha, cooperação e confiança são uma constante, terá um impacto fundamental na inovação, visando uma melhor performance económica e a sustentação de vantagens competitivas (Darroch, 2005; Andreeva e Kianto, 2011; Donate e Guadamillas, 2011; Tseng, Pai e Hung, 2011).

A relação entre os modos de inovação STI e DUI é fundamental no sentido de codificar, criar, partilhar e transferir conhecimento, tendo como objetivo inovar. A interação existente entre estes dois modos de inovação, associada ao processo de conversão de conhecimento, potencia, promove e estimula inovação.