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A r esponsa bilidad e soci al do Estado na E duca çã o

O s ignif ic ado político d o t ermo Es tad o, pr oc ed ent e do lat im status , que em Roma des ignava a situa ção jurí d ica da pessoa, ou se ja, a situação de h om em livre, de cidad ão r oma no, d e membro de um a família não su jeit o a p od er a lheio , é atrib uíd a a Ulp iano (17 0-228).

No sentido q ue lhe é da do atu alment e, Estado é uma criação modern a que m ais se apr oxima dos an tigos im pér ios orient a is, q ue, seg undo o conc eito de Sah id Maluf em concordância com Queiroz Lim a sign ific a: “o Estado é a Nação encarada sob o po nto de vista de sua org anização polít ica, ou simp lesmente, é a N aç ão p olit ic ame nt e org aniz ada. ( . . . ) O E st ad o, de m oc ratic ame nt e considerado, é apenas u ma instituiçã o na cion al, um meio destinado à r ealiz ação d os f ins da co munidade nacion al. ...é u ma síntese dos id ea is da comun hã o que ele re pres enta... é o órgão exec utor da s ober an ia n ac io nal”49.

Segun do Atalib a Nogueira, também citad o por Sahid M aluf50:

O f i m d o E s ta d o é a p r o s p e r i d a d e p ú b l i c a o u o c o m p l e x o d a s c o n d i ç õ e s r e q u e r i d a s p a r a q u e , n a m e d i d a d o p o s s ív e l , t o d o s o s m e m b r o s o r g â n i c o s d a s o c i e d a d e p o s s a m c o n s e g u i r p o r s i a o m n í m o d a f e l i c i d a d e te m p o r a l , s u b o r d i n a d a a o fi m ú l ti m o . E n tr e e s t a s c o n d i ç õ e s , to d a v i a , o c u p a p r i m e i r o l u g a r o g o z o d a o r d e m j u r íd i c a , t a l q u a l p o s t u l a a e s tr u t u r a d a s o c i e d a d e n a t u r a l ; l u g a r s e c u n d á r i o , a a b u n d â n c i a s u f i c i e n te d o s b e n s d a a l m a e d o c o r p o , o s q u a i s s ã o n e c e s s á r i o s p a r a r e a l i z a r a d i ta fe l i c i d a d e , c o i s a s e s t a s q u e s e n ã o p o d e m a t i n g i r s u fi c i e n t e m e n te c o m a a ti v i d a d e p r i v a d a .

49 Sahid Maluf. Teoria geral do Estado, p. 22. 50 Sahid Maluf, op. cit.,p. 318-319.

Os direitos polít i cos e civis, de per si, não asseguram a dem oc rac ia s em qu e a ele s s e junt em os direit os sociais, porq ua nt o são es ses últ imos que vêm gara ntir aos ind ivíduos a sua part ic ipa ção na riqueza colet iva, qu al se ja: o d ireito à educação, à saúde, a o trab alho, ao salário justo, à ve lh ic e tranq üila.

É convenient e lembrar a posiçã o de M ário Masag ão, a o afirm ar:51 O E s ta d o p o s s u i , a o l a d o d a a t i v i d a d e j u r í d i c a , u m a a ti v i d a d e s o c i a l q u e p o d e r á e x e r c e r d e n t r o d e c e r t o s p r i n c í p i o s b á s i c o s : a a ç ã o s o c i a l d e v e s e r s u p l e ti v a d a a ti v i d a d e i n d i v i d u a l ; d e v e te r e m m i r a o b e m c o m u m e n ã o o i n te r e s s e i n d i v i d u a l o u d e g r u p o s , e n ã o d e v e o c a s i o n a r o s a c r i f íc i o d o d i r e i t o d e q u e m q u e r q u e s e j a .

Bobbio, em valio sa lição e xplana: “O prob lem a f undam ent al em relação aos direit os d o homem, hoje, n ão é t ant o o d e jus tificá- los, mas o de prot egê-los. Trata-se de um problem a n ão f ilosóf ico, mas político”.

A res pon s abilid ad e c iv il do Es tado pas s ou por diver s as fases qu e vai d esde aqu ela onde o Estado não podia ser respo nsab iliza do por qualquer lesão a o dire ito de a lguém, até a f a se da respo nsabilida de civil ista surgida n a França.

Conform e salien ta Ru i Stoco, “o gr an de desen vo lv iment o d a respo nsabilida de do Estad o, pr ovei o do dire ito fr ancê s e através da construç ão pret oriana do C ons e lho de Estado”.52.

51 Mário Masagão. Curso de direito administrativo, p. 44-45.

Leci on a o mestre A d o u t r i n a d a r e s p o n s a b i l i d a d e c i v i l d a A d m i n i s tr a ç ã o P ú b l i c a e v o l u i u d o c o n c e i to d e i r r e s p o n s a b i l i d a d e p a r a o d a r e s p o n s a b i l i d a d e s e m c u l p a . P a s s o u - s e d a fa s e d a i r r e s p o n s a b i l i d a d e d a A d m i n i s t r a ç ã o p a r a a f a s e d a r e s p o n s a b i l i d a d e c i v i l ís t i c a e d e s t a p a r a a fa s e d a r e s p o n s a b i l i d a d e p ú b l i c a . .53

No dire it o brasile iro, mais precis am ent e n o Estado de Dire ito _E stado que faz as leias e a ela se subm ete_ com e çou a surgir a respo nsabilida de do Estad o.

Agasa lha da pela atua l Carta P olít ica, a respo nsab ili da de ob jet iva do Estado, na m odalidad e do risco adm inistrativo, e ncontra- se esculpida n o art igo 3 7, § 6°, q ue dispõ e:

“A rt. 37

§ 6° A s pes s oas jurí dicas de d ir eit o pú bl ic o e as de dir eit o priva do prestadoras de serviços públicos responder ão pe los danos que seus a ge ntes, nessa qualidade, causar em a terceiros, assegurado o dir eit o de re gr esso contr a o r espo nsável nos c as os d e do lo ou c ul pa ”.

Em breve síntes e , pod emos dizer que a re sponsabilid ade do Estado p or atos jurisdicionais será cabível sempre q ue houve r dano exp er imentado por part iculares, decorrent es do exercício da ativida de judiciár ia, como por e xe mplo, o erro judiciário; por lei

incons tit ucional o u constit ucio nal. A rnald o N is k ier af irma54:

G r a n d e s e d u c a d o r e s b r a s i l e i r o s r e u n i r a m - s e m u i ta s v e z e s p a r a d i r i g i r à N a ç ã o o q u e v e i o a s e d e n o m i n a r ‘ M a n i fe s t o d o s P i o n e i r o s d a E d u c a ç ã o N o v a ’ , a s s i n a d o p o r d i v e r s a s p e r s o n a l i d a d e s , m u i ta s d a s q u a i s p e r t e n c e n t e s à A c a d e m i a B r a s i l e i r a d e L e t r a s .

Um pug ilo d e 2 6 ed uc ador es d e escol q ue, em 19 32, retoma nd o o q ue Migu el Couto d issera em 1927, assina lava de forma objetiva: N a h i e r a r q u i a d o s p r o b l e m a s n a c i o n a i s , n e n h u m s o b r e l e v a e m i m p o r t â n c i a e g r a v i d a d e a o d a e d u c a ç ã o . N e m m e s m o o s d e c a r á te r e c o n ô m i c o l h e p o d e m d i s p u ta r a p r i m a z i a n o s p l a n o s d e r e c o n s t r u ç ã o n a c i o n a l . P o i s , s e a e v o l u ç ã o o r g â n i c a d o s i s te m a c u l tu r a l d e u m p a ís d e p e n d e d e s u a s c o n d i ç õ e s e c o n ô m i c a s , é i m p o s s ív e l d e s e n v o l v e r a s f o r ç a s e c o n ô m i c a s o u d e p r o d u ç ã o s e m o p r e p a r o i n t e n s i v o d a s f o r ç a s c u l t u r a i s e o d e s e n v o l v i m e n t o d a s a p ti d õ e s à i n v e n ç ã o e à i n i c i a ti v a , q u e s ã o f a t o r e s fu n d a m e n ta i s d o a c r é s c i m o d e r i q u e z a d e u m a s o c i e d a d e .55

Mesmo na poesia ou n a lit erat ura, podemos entrever a pre ocup ação de e scritores famosos para com a educa ção. Exemplo disso é o incom par ável t exto extraído das ‘Obr as Comp let a s de Mac hado de A ss is’, q ue as sina la:

“ P a s s a i d a s r i q u e z a s m a t e r i a i s à s i n t e l e c tu a i s : é a me s ma c o u s a . S e o m e s tr e - e s c o l a d a tu a r u a , i m a g i n a r q u e n ã o s a b e v e r n á c u l o , n e m l a t i m, e m v ã o l h e p r o v a r á s q u e e l e e s c r e v e c o mo V i e i r a o u C íc e r o , e l e p e r d e r á a s n o i te s e o s s o n o s e m c i m a d o s l i v r o s , c o m e r á a s u n h a s e m v e z d e p ã o , e s c a r n e c e r á o u e n c a l v e c e r á , e mo r r e r á s e m c r e r q u e ma l d i s ti n g u e o v e r b o d o a d v é r b i o . A o c o n t r á r i o , s e o te u c o p e i r o a c r e d i t a r q u e e s c r e v e u o s L u s í a d a s , l e r á c o m

54 A Educação na Virada do Século idem. p. 260

55 Arnaldo NISKIER. A educação na Virada do Século. Col. Páginas Amarelas. (pocket books). Exped

o r g u l h o ( s e s o u b e r l e r ) a s e s t â n c i a s d o p o e t a ; r e p e t i - l a s - á d e c o r , i n te r r o g a r á o te u r o s to , o s t e u s g e s t o s , a s t u a s me i a s p a l a v r a s , fi c a r á p o r h o r a s d i a n t e d o s m o s tr a d o r e s , mi r a n d o o s e x e m p l a r e s d o p o e ma e x p o s t o . ”

Paulo Fr eire, nu ma crítica à globaliz aç ão ne ol ibera l instalada atu alm ente, es c reve:

A p e d a g o g i a r a d i c a l j a m a i s p o d e f a z e r n e n h u m a c o n c e s s ã o à s a r t i m a n h a s d o ‘ p r a g m a ti s m o ’ n e o l i b e r a l q u e r e d u z a p r á ti c a e d u c a t i v a a o t r e i n a m e n t o t é c n i c o - c i e n t í f i c o d o s e d u c a n d o s . A o t r e i n a m e n t o e n ã o à fo r m a ç ã o . A n e c e s s á r i a f o r m a ç ã o t é c n i c o - c i e n t í fi c a d o s e d u c a n d o s p o r q u e s e b a t e a p e d a g o g i a c r í ti c a n ã o t e m n a d a q u e v e r c o m a e s tr e i te z a t e c n i c i s t a e c i e n ti fi c i s t a q u e c a r a c t e r i z a o m e r o t r e i n a m e n t o . É p o r i s s o q u e o e d u c a d o r p r o g r e s s i s t a c a p a z e s é r i o , n ã o a p e n a s d e v e e n s i n a r m u i t o b e m a s u a d i s c i p l i n a , m a s d e s a fi a r o e d u c a n d o a p e n s a r c r i t i c a m e n t e a r e a l i d a d e s o c i a l , p o l í t i c a e h i s t ó r i c a e m q u e é u m a p r e s e n ç a . É p o r i s s o q u e , a o e n s i n a r c o m s e r i e d a d e e r i g o r s u a d i s c i p l i n a , o e d u c a d o r p r o g r e s s i s t a n ã o p o d e a c o m o d a r - s e , d e s i s te n t e d a l u ta , v e n c i d o p e l o d i s c u r s o f a t a l i s t a q u e a p o n ta c o m o ú n i c a s a í d a h i s tó r i c a h o j e a a c e i t a ç ã o , ti d a c o m o e x p r e s s ã o d a m e n te m o d e r n a e n ã o ‘ c a i p i r a ’ d o q u e a í e s t á p o r q u e o q u e e s t á a í é o q u e d e v e e s t a r .56

O Estado brasileiro, incurso no ro l dos Estados do bem-estar social, o u se ja, aq uele r esponsável pela efet ivação da igualda de social en tre os ind iví du os , respo nsável pela s ua jus-cida dan ia, deve, po is , ad min istrar e distribuir os recurso materiais, de ma ne ira a abr ev iar as dis tân cias ec on ômic as e ntre os m esmos .

56 Paulo FREIRE. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo:Unesp, 2000, p.

C AP Í TU LO 4. A CID AD AN IA

Prelimin armente há qu e se ressaltar que cidadania n ão é uma def in ição es tanque, mas sim um conc eit o histór ic o q ue varia no temp o e no espaç o, ha ja vista qu e a prát ic a da cid adania se a lter a no tra nscorrer do tempo, seja pe lo grau d e participação po lítica dos in divíd uos na socied ade, seja p elo ma ior ou m enor gr au de par t ic ipa ção dest es no e s tat ut o d e cidad ão d e cada s oc ie da de dis ti nt a .

Percebe mos que a cid ad ani a é um verd adeiro pr ocesso dentro da his tória, em cujo l ento movim ento, perc eptív el mas não li near, part iu da total inexis tênc ia, para a exis tência de dir eitos cada vez mais am plos.

Na Gréc ia reconh ec ia-se como cid adão to do o hom em que tomava parte n o cult o da cidade, e desta part icipação lhe d er ivavam tod os os seus direitos civis e po líticos. Renunciando a o culto, ren unc ia va aos direit os .

Coulanges refere S e q u i s e r m o s d e f i n i r o c i d a d ã o d o s t e m p o s a n t i g o s p e l o s e u a t r i b u to m a i s e s s e n c i a l , d e v e m o s d i z e r s e r c i d a d ã o t o d o o h o m e m q u e s e g u e a r e l i g i ã o d a c i d a d e , q u e h o n r a o s m e s m o s d e u s e s d a c i d a d e , a q u e l e p a r a q u e m o a r c o n t e o u o p r í ta n e o f e r e c e , e m c a d a d i a , o s a c r i f íc i o , o q u e t e m o d i r e i t o d e a p r o x i m a r - s e d o s a l ta r e s e , p o d e n d o p e n e t r a r n o r e c i n t o s a g r a d o o n d e s e r e a l i z a m a s a s s e m b l é i a s , a s s i s te à s fe s t a s , s e g u e a s p r o c i s s õ e s , e e n t r a n o s p a n e g í r i c o s , p a r ti c i p a n o s r e p a s t o s s a g r a d o s e r e c e b e s u a p a r te d a s v í t i m a s . T a m b é m e s t e h o m e m , n o d i a e m q u e s e i n s c r e v e u

n o r e g i s tr o d o s c i d a d ã o s , j u r o u p r a ti c a r o c u l t o d o s d e u s e s d a c i d a d e e p o r e l e s c o m b a t e r . 57

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