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A c onstr ução da ci dada nia: da outor ga para a conquista

C APÍTU LO 5 A EDU CA ÇÃO PAR A A CID ADAN IA

5.3. A c onstr ução da ci dada nia: da outor ga para a conquista

Não se p od e fa lar em construção da cid ad ania sem falar em ed uc ação, pois a vincu lação e ntre a lfa bet ização e cid ad an ia faz part e do senso comum: a concepção de q ue só quem é alfab etizado é capaz d e agir polit ic amente, d e p artic ipar, d e se r livre, respo nsáve l, cons cient e - de ser h omem históric o e polític o, de ser cidadã o, faz parte do senso comum.

A excessiva ênf ase que se coloca no analfa bet ismo, com o sendo a caus a da exc lusão da cida da nia, e a cidad an ia, com a correspo ndent e ênfas e na alf abet iz aç ão, como sendo fat or essencial par a evit á-la, oc ultam as causas mais pro fun das dessa e xclus ão , qu e estã o centra das nas cond iç õe s materiais de exis tênc ia a que s ão s ub metidos os “exc luíd os ”, nas es truturas priv atiza nt es do po der, n os mecanismos de a lienação e d e opressão, fatores que , ju ntos, result am na o utorga difere nc ia da de dir eitos sociais, civis e po lí t ic o s à s d iv er s as c las s es e c a t eg o r i as s ocia is .

Na verdade, a e xclus ão do agir e do part icipar po lit icamente, lo ng e d e ser produt o de uma “ ig norâ ncia” caus ad a pelo an alf abet is mo, é produt o das in iq üidad es s oc iais que, elas sim, imp õem estreit os lim ites ao exerc ício dos dir eitos sociais, civis e po líticos que cons titu em a cidadan ia.

Bas ta que se c ons id ere a c o-oc o rrênc ia d e i nd ic ador es de exclusão: altas t axas de a na lfab etismo e outr os ind icadores ed uc aciona is (taxas de re petênc ia, de eva s ão, de nã o ac es so à es c ola, etc .), que oc orre m ao lado de baixas fa ixas s alaria is , maiores índices de subnutriçã o, de imora lid ade, de men or exp ectativa de vida, etc.

Ao se p ensar em alf abet ização e cidadan ia, é precis o fugir a uma inte rpretação line ar desses do is termo s, atrib uindo-lhes um a relação de caus a-consequ ência, em que a e xclus ão d a cidadan ia seja tom ad a com o conse qü ênc ia do an alfabetis mo; as relações entr e analf ab et ização e cidadan ia – pois elas exis tem – deve m ser ent en did as no conjunto mais amplo dos det erminantes socia is, po lític os e eco nô mic os , que inv ia biliz am o exerc íc io da c ida da ni a por enor me parcela da população brasileira.

A conquista do direit o de voto pe lo a na lfab eto, de um la do, comprova, pelas acirradas po lêmicas que suscitou, a a rraiga da resistência a rec onhecer, no a nal fab eto, um cidadão (lembramos qu e os an alfabet os cons titu em o grupo de e xcluídos q ue mais tard ou a obter o dir eit o de v oto), e, de o utro la do, testemun ha o cidadã o, fazendo-se pela prát ic a da r eivindicação po lítica, aind a qu e a na lf ab et o.

Portant o, ao se pe ns ar em an alfa bet ização e cidadan ia é preciso, aq ui t am bém, e de novo, f ug ir a uma inter pret ação li near desses dois termos, atribuindo- lh es uma relação causa- consequ ência, em que a cons trução da cidadania seja vist a in de pendent e d a alf ab et ização; es ta d eve ser enten dida com o um compone nte, e ntr e mu itos outros, da conqu ista, pela populaç ão, d e seus direitos sociais, civis e políticos .

As sociedades q ue che garam a gar ant ir atr ibut os e conquistas ava nçad as à população, passaram por trans formações profundas e r ad ic ais . O nde h á ins t it u iç ões cris t al iz ad as e m be nef í cio a pe nas de s etores min or itári os dom i nantes , on de o E s tado é o p arc eir o pref erencial d a acumulaçã o, da exploraç ã o e da exclusão, mais necessário se tor na or gan izar-se e mobiliz ar -se par a a con qu ista da cidada nia.

CONCLUSÕES

1. Há uma crescente conscientização da sociedade a respeito dos direitos que lhe são assegurados constitucionalmente, como também existe hoje a certeza do direito do cidadão, em exigir do ente estatal, o cumprimento de suas atribuições públicas, no exato desempenho das obrigações que lhe são inerentes, consubstanciadas em ações concretas.

2. A esses preceitos constitucionais, consagradores de direitos, liberdades e garantias, se atribui uma força vinculante, porquanto pressupõem um regime jurídico-constitucional especial, que os caracteriza materialmente.

3. O predomínio do neoliberalismo durante as décadas de 80 e 90 não conseguiu eliminar os direitos sociais, mas também impediu que outros fossem obtidos.

4. Os direitos sociais não podem divorciar-se das várias dimensões reconhecidas pela constituição, ao catálogo dos direitos fundamentais dos indivíduos.

5. O sentido global que resulta da combinação das dimensões objetiva e subjetiva dos direitos fundamentais, é de que o cidadão, em princípio, tem assegurada uma posição jurídica subjetiva, cuja violação lhe permite exigir a proteção jurídica.

dimensão subjetiva e, ao mesmo tempo, alicerça um verdadeiro direito ou pretensão de defesa das posições jurídicas ilegalmente lesadas, que se refere, precisamente, à defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos.

7. Muitos direitos impõem um dever ao Estado, aos poderes públicos. Os direitos sociais, dentre eles o direito à educação, é qualificado como um direito a prestação, o que significa, em sentido estrito, o direito do particular a obter algo através do Estado.

8. Os particulares podem derivar diretamente das normas constitucionais pretensões prestacionais por parte do Estado, traduzidas no direito de exigir. Podem exigir, também, uma atuação legislativa concretizadora das normas constitucionais sociais, sob pena de omissão inconstitucional por parte do ente estatal.

9. Também estão aptos a exigir e obter a participação igual nas prestações criadas pelo legislador, como por exemplo, prestações médicas e hospitalares, ou mesmo prestações educacionais existentes.

10. Se o particular tiver meios suficientes e houver resposta satisfatória do mercado à procura destes bens sociais, ele pode obter a satisfação de suas pretensões prestacionais através da iniciativa privada.

11. Caso o particular não disponha dos meios suficientes para tal, como é o caso da imensa maioria dos brasileiros, o Estado, que tem o dever da prestação ao atendimento das necessidades dos cidadãos em tais áreas, deve atender a estes ou responder por sua omissão.

12. É líquido que as normas consagradoras de direitos sociais, econômicos e culturais, insculpidas na Constituição Federal de 88, individualizam e impõem políticas públicas socialmente ativas, sendo certo que, neste ponto, reside a responsabilidade educacional do Estado.

13. Por excelência, a destinação maior da instituição Estado, é propiciar a construção de uma sociedade mais justa, cujo conjunto do povo possa constituir uma identidade política, que lute contra as discriminações e o desrespeito aos direitos dos cidadãos.

14. O pleno exercício desses direitos resulta na cidadania, que deve ser entendida no conjunto mais amplo dos determinantes sociais, políticos e econômicos, de forma que estes não inviabilizem o exercício desta cidadania, a grande parte da população.

15. A conquista da cidadania se fará, fundamentalmente, através da prática política e social, na luta dos indivíduos por seus direitos civis, políticos e sociais.

16. O Brasil é um país endividado com sua população, em razão do descumprimento das obrigações constitucionais assumidas perante seus nacionais, no que tange ao atendimento dos direitos mais comezinhos de seus cidadãos, designados como direitos sociais e qualificados como garantias fundamentais do ser humano.

17. Falta aos cidadãos o cumprimento das garantias constitucionais por parte do Estado, mormente aquelas insculpidas no artigo 6º da Lei maior, dentre as quais destacamos a sua obrigação no desempenho da prestação educacional,

pedra fundamental para a edificação do caráter e da própria condição de vida dos indivíduos, visualizadas em uma realidade concreta.

18. A educação poderá formar cidadãos com juízos ou condutas errôneas por ignorância, omissão ou livre arbítrio, porém, sob esses aspectos, não isentos da responsabilidade.

19. No devido cumprimento das obrigações constitucionalmente garantidas, reside a responsabilidade do Estado, aí inclusa a responsabilidade educacional.

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ANEXO

D EC LA RA ÇÃ O UN I V ER SAL DOS D IRE I TO S D O HOME M E DO

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