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No que concerne à educação contem porânea, n ão po dem os deixar de traz er à c ola ção, as teses el ab or adas po r Jacques Delors, feit as com o objet iv o de a pr ofundar a visão transd is ciplinar da ed uc aç ão e com vistas a tr az er uma refle xão nova e cr iat iva à e ducação do aman hã.

O R elat ório D elors es tabe lece u os quatr o pilares da ed uc ação contemporâne a, que dever iam ser perse gu idos permane ntem ent e pela polít ic a educacional de to dos os países, el enca nd o-os da seguinte f orma:

1- A pren der a s er: voltado para o d es envolvim e nto int eg ral do in divíd uo.

2- Aprender a f azer: va le mais a competência p essoal d o que a qu al if ic aç ão prof iss iona l.

3- Aprender a viver junt os : compreen der e es tar apto a viver com o

outr o.

4- Apren der a conhecer: ter prazer em compreend er, de scobrir, construir e reconst ruir o conhecim ent o.

Nessa esteira, Ba sarab Nic olescu18, afirma: H á u m a t r a n s r e l a ç ã o q u e l i g a o s q u a tr o p i l a r e s d o n o v o s i s t e m a d e e d u c a ç ã o e q u e t e m s u a o r i g e m e m n o s s a p r ó p r i a c o n s ti tu i ç ã o c o m o s e r e s h u m a n o s . U m a e d u c a ç ã o s ó p o d e s e r v i á v e l s e fo r u m a e d u c a ç ã o i n te g r a l d o s e r h u m a n o . U m a e d u c a ç ã o q u e s e d i r i g e à t o t a l i d a d e a b e r t a d o s e r h u m a n o e n ã o a p e n a s a u m d e s e u s c o m p o n e n t e s .19

Ensin a E dgar Morin que: “ Há sete saber es ‘fundam e nta is’ que a e ducação do fut uro d everia trat ar em tod a socieda de e em toda cultur a, sem exc lu sivida de nem r ejeição, seg un do modelos e r egras pró prias a cada sociedade e a cada cultura”.20

São eles:

I - As cegueir as do conh ec iment o: o erro e a ilusã o

Morin e nte nd e qu e a e ducaç ão, c ujo objeto é transmi tir conheciment os, é cega naq uilo q ue tange ao pró prio conh ec im ent o hum an o, cujas tendências ao erro e à il us ão são uma cons tant e, não se pre ocup an do em fazer conh ec er o que é realm ente o con hecer, capacit ando ca da ment e hum an a à lucide z, na medida e m que introduza e desenvolva na educ aç ão o estu do d as características ment ais, cultur ais e cerebr ais do conh ec ime nto humano, bem com o das disp os iç ões culturais e ps íquica s que conduzem o indiví duo a o erro, à ilusão ou mesmo aos erro s de percepç ão result ant e s da visão e d o intelecto da cada ind iví duo em p artic ul ar.

18 Presidente do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas Transdisciplinares (CIRET) 19 Apud MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro, 9 ed. 2004,

UNESCO/Cortez Editora.

20

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro, 9 ed. 2004, UNESCO/Cortez Editora, p.13.

Aduz o autor que o desenvo lvim ent o do conh ec ime nto científ ic o é um m eio exc elent e e p od eroso para d et ectar erros e ilusões e, por isto, a ed uc a ção deve se ded ic ar a id ent ificar a o rige m de erros , i lus ões e ce gu eir as , us an do d a rac io nalid ade t eóric a, crítica e aut ocrítica, e não da racionalizaç ão.

II - Os princípios do conh eciment o pert in ente

O aut or ensina qu e, para se recon hecer e conhecer os pro blemas glo bais há q ue se reformar o pensam ento humano, no sentido de art icular e or ga nizar os conhec imentos. Porém, essa reforma é um a re forma de par adig mas e tor na-se questão ba silar da ed uc ação, haja vista que d iretame nt e li gad a à a pt id ão do in divíduo par a or ganizar o con hec im e nto.

Enten de que o gr an de pr oblema q ue a educ aç ão do século XXI enfr ent ará é o de torn ar e videntes : o cont exto ( sent ido a ser da do às inf orm aç ões e da dos); o glo bal (r el aç ão das part es c om o to do); o mult idim ensio na l (reconhecimento do caráter multidimensiona l d o ser humano) e o comple xo (união e ntre unidade e mult iplicidade).

III - Ensinar a condição humana

A ed uc ação do futuro d ever á es tar centr ada na cond iç ão hum an a, vez qu e o hom em é, ao mesmo tempo, um ent e f ísico, ps íquico, bio lóg ic o, socia l, histórico e cult ural, u nidades que se enc ontra m des int egr ad as na e duca ç ão, em razão da s eparaç ão das disciplinas.

Há que se conh ecer o ser hum ano situ ando-o no u niverso e nã o o separ an do dele, na ev id enciação do elo indissolúvel e xistent e entr e a u nidad e e a diversidade de t udo o qu e é hum a no.

C a b e à e d u c a ç ã o d o f u tu r o c u i d a r p a r a q u e a i d é i a d e u n i d a d e d a e s p é c i e h u m a n a n ã o a p a g u e a i d é i a d e d i v e r s i d a d e e q u e a d a s u a d i v e r s i d a d e n ã o a p a g u e a d a u n i d a d e . H á u m a u n i d a d e h u m a n a . H á u m a d i v e r s i d a d e h u m a n a . A u n i d a d e n ã o e s tá a p e n a s n o s t r a ç o s b i o l ó g i c o s d a e s p é c i e H o m o s a p i e n s . A d i v e r s i d a d e n ã o e s t á a p e n a s n o s t r a ç o s p s i c o l ó g i c o s , c u l t u r a i s , s o c i a i s d o s e r h u m a n o . E x i s t e t a m b é m d i v e r s i d a d e p r o p r i a m e n te b i o l ó g i c a n o s e i o d a u n i d a d e h u m a n a ; n ã o a p e n a s e x i s t e u n i d a d e c e r e b r a l , m a s m e n t a l , p s í q u i c a , a f e ti v a , i n t e l e c t u a l ; a l é m d i s s o , a s m a i s d i v e r s a s c u l t u r a s e s o c i e d a d e s tê m p r i n c í p i o s g e r a d o r e s o u o r g a n i z a c i o n a i s c o m u n s . É a u n i d a d e h u m a n a q u e t r a z e m s i o s p r i n c íp i o s d e s u a s m ú l ti p l a s d i v e r s i d a d e s . C o m p r e e n d e r o h u m a n o é c o m p r e e n d e r s u a u n i d a d e n a d i v e r s i d a d e , s u a d i v e r s i d a d e n a u n i d a d e . É p r e c i s o c o n c e b e r a u n i d a d e d o m ú l t i p l o , a m u l ti p l i c i d a d e d o u n o . A e d u c a ç ã o d e v e r á i l u s t r a r e s t e p r i n c í p i o d e u n i d a d e /d i v e r s i d a d e e m to d a s a s e s f e r a s . 21

IV - Ensinar a ide ntidade t errena

Outra r ealidad e ignorada pela educação até os dias atuais, que dever á se conv er ter num dos principais objet os da educação , diz respe ito ao destino planet ário do g êner o hum ano, ao conh ec im ent o dos desenvolviment os opera dos n a era planetár ia e ao r ec on heciment o da i de nt id ad e t er r ena, ca da vez m a is ind is pe ns áve is ao hom em.

Não é c onv enien te oc ultarmos do hom em as opres s ões e a dom in ação que devassaram a humanidade e q ue a ind a ho je exis tem em vár io s país es , a fim de mos trarmos qu e todos os s eres terr es tres part ilh am um mesmo des tino, vez qu e s e confr ont am aos idênt icos pro blemas comuns da vida e da mort e.

V - Enfrentar as incertez as

As ciências nos tr ou xeram muit as certezas, mas tam bém nos revelaram um sem número de incertezas nas ciências físicas, bi oló gicas e histó ricas , incertez as e stas que deveriam s er inc luídas e trata da s na edu cação do futuro.

Faz-se necessário ensinar princípios de estratég ia que no s permitam enfrentar as incertez as, os imprevistos e o in es per ado, a fim d e que conhe cedores destas informações, possamos , ao long o do tem p o, mod ific ar seu de senvolviment o.

O poet a gre go E urípe des, há v inte e c inc o s éc ulos , es c reveu : "O es perado não se cumpre, e ao inesp erad o um deus a bre o c am in ho " .22

VI - Ensinar a compreensão

Edgar M orin considera qu e a compreensão é, a um só tempo , meio e fim da comunicaçã o h uma na. No ent ant o, n o ensino, não es tá prese nte a educaç ão par a a compr eensão, sen do cert o que o mun do atu al precis a, em todos os sentidos , da comp reensão mútu a.

Em todo s os níveis d a educação, bem co mo em t odas as id ad es , o d es en vo lv ime nt o da c ompreens ão imp or ta na reform a da qu elas menta lidades que, em últ ima instância, repr es ent a a verda de ir a obra pa ra a e ducação d o f utur o.

A c o m p r e e n s ã o m ú t u a e n t r e o s s e r e s h u m a n o s , q u e r p r ó x i m o s , q u e r e s t r a n h o s , é d a q u i p a r a f r e n t e v i t a l p a r a q u e a s r e l a ç õ e s h u m a n a s s a i a m d e s e u e s ta d o b á r b a r o d e i n c o m p r e e n s ã o . D a í d e c o r r e a n e c e s s i d a d e d e e s tu d a r a i n c o m p r e e n s ã o a p a r ti r d e s u a s r a íz e s , s u a s m o d a l i d a d e s e s e u s e f e i t o s . E s t e e s tu d o é t a n to m a i s n e c e s s á r i o p o r q u e e n f o c a r i a n ã o o s s i n to m a s , m a s a s c a u s a s d o r a c i s m o , d a x e n o fo b i a , d o d e s p r e z o . C o n s ti t u i r i a , a o m e s m o t e m p o , u m a d a s b a s e s m a i s s e g u r a s d a e d u c a ç ã o p a r a a p a z , à q u a l e s ta m o s l i g a d o s p o r e s s ê n c i a e v o c a ç ã o . 23

VII – A ética do gê ner o h um ano

Ress alta E dgar Mori n qu e a ed uc aç ão para o f utur o d ev e t er como fim a “antropo- ética”, is to é, deve levar em conta o caráte r tern ário da cond iç ão hum a na: indiví duo/socied ad e/ espécie, ressaltando que a étic a ind iví du o/espécie n ecessita basicamen te da dem ocrac ia, o u seja, d o contr ole m útuo d o indiví du o pe la sociedad e e d a sociedade pe lo indiví d uo.

A é ti c a n ã o p o d e r i a s e r e n s i n a d a p o r m e i o d e l i ç õ e s d e m o r a l . D e v e fo r m a r - s e n a s m e n t e s c o m b a s e n a c o n s c i ê n c i a d e q u e o h u m a n o é , a o m e s m o te m p o , i n d i v íd u o , p a r t e d a s o c i e d a d e , p a r t e d a e s p é c i e . C a r r e g a m o s e m n ó s e s s a t r i p l a r e a l i d a d e . D e s s e m o d o , t o d o d e s e n v o l v i m e n to v e r d a d e i r a m e n te h u m a n o d e v e c o m p r e e n d e r o d e s e n v o l v i m e n to c o n j u n to d a s a u to n o m i a s i n d i v i d u a i s , d a s p a r t i c i p a ç õ e s c o m u n i t á r i a s e d a c o n s c i ê n c i a d e p e r t e n c e r à e s p é c i e h u m a n a .24 E nt en de M ori n q ue P a r t i n d o d i s s o , e s b o ç a m - s e d u a s g r a n d e s fi n a l i d a d e s é t i c o - p o l í ti c a s d o n o v o m i l ê n i o : e s ta b e l e c e r u m a r e l a ç ã o d e c o n t r o l e m ú t u o e n t r e a s o c i e d a d e e o s i n d i v í d u o s p e l a d e m o c r a c i a e c o n c e b e r a H u m a n i d a d e c o m o c o m u n i d a d e p l a n e t á r i a . A e d u c a ç ã o d e v e c o n tr i b u i r n ã o s o m e n te p a r a a t o m a d a d e c o n s c i ê n c i a d e n o s s a T e r r a - P á tr i a , m a s ta m b é m p e r m i ti r q u e e s ta c o n s c i ê n c i a s e t r a d u z a e m v o n ta d e d e r e a l i z a r a c i d a d a n i a t e r r e n a . 25

23 Morin Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. 9 ed. UNESCO/Ed.Cortez.p.17 24 idem.p.17

C apítul o 2. O Esta do Gr ego e a E duc aç ão

Sem dú vida, a história da civi lização oc id enta l com eça na Gréc ia, cujos habitantes , que adotaram uma posiç ão revolucionador a e solidár ia , há vár ios milênios , traç aram o de stino da e duca ç ão, qu e repres entav a para aquele povo o sentido de todo o es forç o huma no e a jus tif icaç ão últ ima da comun ida de e in div id ua lid ad e h um an as .

É no conceito de aret e q ue se concentr ou o ideal de educação da qu ela época, t ema essenc ia l d a história d a f or maç ão g rega, signif icando o ma is alto id eal da no brez a cavaleiresca, unido a uma conduta cortês e distinta e ao her oísmo g uerreiro. A arete es tav a int imam e nte lig ad a à honra, como reflexo do valor inter no no es pelh o da es tim a socia l, haja vista que o ser hum ano homérico só ad qu ir ia consciên cia do seu valor p elo reconhecim ent o d a sociedad e a q ue pertencia.

J aeg er26 em sua célebre obra Pa idéia, cita que não se pod e traç ar o proc esso de form ação do povo gr ego, senã o a partir do id ea l de Ser hum an o q ue forjaram, proc es so ess e que es tab elec eu , pe la primeir a vez de m odo co nsciente, um ide al de cu lt ura como princípio format ivo , alia do a um sentiment o d a dign idade human a.

For am os gregos que per c eber am, em primeir a mão, q ue a ed uc ação de veria ser u m processo de contínua cons trução conscient e, “constituído de mod o cor reto e se m falha, nas mã os , nos pés e no espírito” , como já d isse um po et a grego dos temp os de Marato na e Sa la mina, qu an do descreve a essência da virtude

26JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do Homem Grego. Martins Fontes, São Paulo, 2001.tradução Artur

hum an a mais difí cil de a dquir ir, a formação do ind iví duo, e xpr essão qu e Platão uso u em sentido met af órico, q uando a aplicou à ação ed uc ador a.

Em lapidar text o, refere o aut or D e s d e a s p r i m e i r a s n o t í c i a s q u e t e m o s d e l e s ( g r e g o s ) e n c o n t r a m o s o s e r h u m a n o n o c e n t r o d e s e u p e n s a m e n t o . A f o r m a h u m a n a d e s e u s d e u s e s , o p r e d o m ín i o e v i d e n t e d o p r o b l e m a d a f o r m a h u m a n a n a s u a e s c u l tu r a e n a s u a p i n tu r a , o m o v i m e n to c o n s e q ü e n t e d a fi l o s o f i a d e s d e o p r o b l e m a d o c o s m o s a t é o p r o b l e m a d o s e r h u m a n o , q u e c u l m i n a e m S ó c r a t e s , P l a tã o e A r i s t ó t e l e s ; a s u a p o e s i a , c u j o te m a i n e s g o t á v e l d e s d e H o m e r o a t é o s ú l ti m o s s é c u l o s é o s e r h u m a n o e o s e u d u r o d e s ti n o n o s e n ti d o d a p a l a v r a ; e , fi n a l m e n te , o E s t a d o g r e g o , c u j a e s s ê n c i a s ó p o d e s e r c o m p r e e n d i d a s o b o p o n t o d e v i s ta d a fo r m a ç ã o d o s e r h u m a n o e d a s u a v i d a i n t e i r a ; tu d o s ã o r a i o s d e u m a ú n i c a e m e s m a l u z , e x p r e s s õ e s d e u m s e n t i m e n to v i t a l a n t r o p o c ê n tr i c o q u e n ã o p o d e s e r e x p l i c a d o n e m d e r i v a d o d e n e n h u m a o u t r a c o i s a e q u e p e n e t r a to d a s a s f o r m a s d o e s p í r i t o g r e g o .

A sua de scoberta do S er h uma no n ão é a do e u subjetivo, m a s a consciênc ia gr adual d as leis ge rais que determinam a e ssênc ia hum an a.

O princíp io es pir it ual d os Greg os não é o individ ualis mo, mas o “humanismo”, p ara usar a pa lavr a no se u sent id o clássico e orig in ário. H uman is mo ve m d e hu man itas . Pelo menos de sde o temp o de Varrão e de Cícero, esta palavr a teve, a o la do da ac epção vulgar e prim it iv a de hum anit ário, que nã o nos int ere ssa aqui, um segundo sentido mais n ob re e r ig or oso.

S i g n i f i c o u a e d u c a ç ã o d o S e r h u m a n o d e a c o r d o c o m a v e r d a d e i r a fo r m a h u m a n a , c o m o s e u a u tê n t i c o s e r . T a l é a g e n u í n a P a i d é i a g r e g a ( p a l a v r a q u e a p a r e c e u n o s é c . V ) , c o n s i d e r a d a m o d e l o p o r u m s e r h u m a n o d e E s t a d o r o m a n o . N ã o b r o t a d o i n d i v i d u a l , m a s s i m d a i d é i a , p o i s a c i m a d o S e r h u m a n o c o m o s e n d o s e r g r e g á r i o o u c o m o s u p o s to e u a u t ô n o m o , e r g u e - s e o S e r h u m a n o c o m o i d é i a . 27

C onclui s eu pens am ent o afir man do: “C omo v imos , a essênc ia da edu c aç ão cons is te na mode lag em dos indiví duos pe la norma da comun idade.”28

27 JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do Homem Grego. Martins Fontes, São Paulo, 2001.tradução Artur

M.Parreira. p. 32

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