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3. A classificação do corpus gráfico 114

3.2. A análise estatística 129

3.2.3 A validação dos resultados 164

3.2.3.1. A estratigrafia parietal 165

No decurso da análise a que agora damos início haverá que ter em conta que, se nos conjuntos de cavalos e auroques foram detetadas quatro classes, nos conjuntos dos restantes temas analisados apenas três foram identificadas. Deste modo, se em dado espaço parietal se identificar, por exemplo, um cavalo da classe 3 e uma cabra- montês da classe 2, tal não implica necessariamente a existência de duas fases de construção gráfica do dispositivo aí presente. Da mesma forma, não se pode concluir que os mesmos temas classificados como classe 2 sejam necessariamente coevos.

Por outro lado, pelas razões aduzidas páginas atrás, nem todas as unidades gráficas foram alvo da nossa análise, desde logo aquelas reduzidas apenas às cabeças. Alguns destes motivos apresentam contudo caraterísticas tão vincadas de uma dada classe que poderão ser facilmente integráveis numa delas. As rochas em que estes motivos ocorram juntamente com outros classificados de forma diferente serão também alvo da nossa atenção.

As rochas do Vale do Côa que apresentam unidade gráficas de diferentes classes são as seguintes: 1, 3, 11, 12, 14, 15, 19, 20, 22, 26, 28 e 41 da Canada do Inferno, 4, 5 e 8 do Fariseu, 3, 5, 6, 10, e 17 da Penascosa, 2, 15, 23 e 56 da Quinta da Barca, 2, 6 e 24 da Ribeira de Piscos, 6 do Rego da Vide, 1, 6 e 32 de Vale de Cabrões, 4 do Vale de José Esteves. Fora do Vale do Côa, devem ser tidos em conta o painel 9 do sector III de La Griega e as rochas 12 do Cerro de San Isidro, e 13, 21, 46, 48, 51 e 67 de Siega Verde.

Na rocha 1 da Canada do Inferno, três auroques foram classificados como da classe 2, o que contrasta com as restantes unidades gráficas destes espaço parietal, classificadas como 1. Encontrando-se dois destes animais em zona partilhada de elipses e o terceiro muito perto, julgamos não ser possível valorizar esta diferença ainda mais tendo em conta a sequência das sobreposições (Baptista & Gomes, 1997, 219)

Na rocha 3 da Canada do inferno foram classificadas como classe 1 o auroque

analisadas consideradas como da classe 2. Do ponto de vista da organização do painel, tal classificação é bastante coerente. De facto, as figuras classificadas como da classe 1 são as maiores do painel, parecendo as remanescentes terem vindo a ocupar os lugares deixados livres mais acima no painel. O cavalo CI03-06 é a este nível bastante eloquente, porquanto a localização das suas patas parece francamente condicionada pela pré-existência de CI03-02. A única figura que parece fugir a este esquema trata-se do auroque CI03-04 que aparentando, pelo tamanho e disposição relativamente a CI03-02, ser uma associação clara com esta, foi classificada como da classe 2.

Na rocha 11 encontramos uma série de auroques (CI11-09, CI11-11, CI11-19,

CI11-22) e um veado (CI11-18) classificados como da classe 2. Relativamente aos

primeiros já tivemos oportunidade de referir que esta classificação se deve relativizar, encontrando-se todos estes motivos em zona partilhada das elipses das classes 1 e 2. Diga-se que, em abono desta interpretação, CI11-19 e CI11-22 estão sobrepostos por

CI11-21, integrado na classe 1. Já o veado encontra-se claramente apartado dos

grafismos anteriores, bastante mais baixo no painel, devido provavelmente a razões que apontam também para uma gravação mais recente deste motivo, razões essas que exploraremos adiante.

A rocha 12 da Canada do Inferno corresponde a um dos casos onde a par de dois motivos analisados — a cerva CI12-02 e a cabra-montês CI12-04, ambas integradas na classe 3 — ocorrem outros motivos não analisados, apresentando um destes (o cavalo CI12-07) particularidades de classes mais antigas, como o focinho modelado, típico da classe 3 onde ocorrem 81,25% dos cavalos com focinhos deste tipo (representando 29,54% dos cavalos desta classe). Por outro lado, não será de descurar que 12,5% destas cavalos ocorrem ainda na classe 2, pelo que será ainda de ter esta classe em conta. Será de ter em conta que a modalidade B da picotagem, com que não só este cavalo é feito como também a cabeça de cavalo CI12-05 e o auroque

CI12-06, é própria das fases mais antigas, como é revelado pela análise dos cavalos

em que as técnicas são tidas em conta (91,49 % destes cavalos ocorrem na classe 1 da análise com variáveis técnicas, correspondendo a 43% dos equinos nela incluídos). Lembramos que este número elevado é devido essencialmente aos equinos de Siega Verde, cuja pertença a uma classe de transição é já sugerida pela análise com as variáveis técnicas e definitivamente exposta na que estas não são tidas em conta. De qualquer forma, tudo aponta para uma maior antiguidade destas figuras relativamente

às restantes, algo que parece confirmar-se pela distribuição das unidades gráficas pelo painel, encontrando-se as mais antigas ao centro e as mais recentes um pouco acima, já cerca do limite do painel.

Na rocha 14 da Canada do Inferno a maior parte das figurações foi integrada nas classes terminais (classes 4 para auroques e cavalos e classe 3 para cabras-monteses e veados). Ocorrem, no entanto duas exceções. Uma destas (CI14-17) foi já referida atrás. Independentemente de ser muito vetusta como sugere a análise sem as variáveis técnicas, ou mais recente como aponta a análise com essas mesmas variáveis e a datação pelo Cloro 36 (Phillips et al., 1997), a sua maior antiguidade relativamente à generalidade das figuras da rocha não é posta em causa pelas sobreposições verificadas, aí ocorrendo uma sobreposição desta figura por uma outra (CI14-18) (Baptista & Gomes, 1997, 236), que embora não tenha sido incluída na análise é claramente atribuível à fase terminal. A outra exceção corresponde ao cavalo CI14-28, atribuído à classe 2. Neste caso, a sua dimensão e posicionamento central no painel parecem confirmar a sua maior antiguidade. Encontramo-nos, portanto, perante mais um caso em que a análise fatorial parece ser confirmada pela análise da rocha.

Na rocha 15, um auroque foi classificado como da classe 2 (CI15-02), contrastando com cabra-montês e segundo auroque analisado, ambos integrados na classe 1. Mais uma vez, esta figura encontra-se em zona partilhada de elipses, não devendo ser valorizada uma possível construção do dispositivo parietal ao longo de um tempo excessivamente longo.

Na rocha 19 do mesmo sítio apenas a cerva CI19-01 foi incluída na análise, tendo sido classificada como pertencendo à classe 2. As restantes figuras integram perfeitamente as classes terminais, algo que não é contrariado pela análise das sobreposições, uma vez que aquando do estudo desta rocha, infelizmente submersa pelas águas do Pocinho, foi possível verificar que a referida cerva (então interpretada como cavalo) se encontrava “na base da estratigrafia figurativa do sector” (Baptista & Gomes, 1997, 237).

Também da rocha 20 da Canada do Inferno foi apenas incluída na análise uma figura (CI20-02). Trata-se de um veado atribuído à classe 2. As restantes figuras aparentam pertencer períodos mais recentes. Infelizmente não foi possível perceber a ordem das sobreposições aquando do seu estudo (Baptista & Gomes, 1997, 238), agora impossível devido à submersão da rocha pela albufeira do Pocinho. Contudo a sobreposição entre estes veados aparentemente mais antigos por outros mais recentes,

estriados e de maior dimensão, identifica-se numa outra superfície (rocha 1 do Tudão), atualmente a ser estudada por nós e por Fernando Barbosa. Pode ser um indício da ordem da sobreposição aqui identificada, mas não podemos deixar de assumir a fragilidade desse indício pelo que em abono do rigor, a análise desta rocha em nada nos ajuda relativamente à validade dos resultados da nossa análise estatística.

Na rocha 22 da Canada do Inferno foi identificada uma relação por sobreposição entre três unidades gráficas que julgamos da máxima importância. Estas unidades correspondem ao veado CI22-06, ao cavalo CI22-07 e à cerva CI22-07. De acordo com os autores que estudaram a rocha, a cerva encontrar-se-ia na base da estratigrafia figurativa, o cavalo no topo e o veado numa posição intermédia (Baptista & Gomes, 1997, 239), algo que contrariaria a análise a que procedemos, visto que a cerva foi classificada como da classe 3 e o veado como da 1, e por outro lado, a cabeça do cavalo, se bem que não incluída na análise integra-se perfeitamente na classe 2. Pensamos, no entanto, que outra interpretação é possível. De facto, julgamos encontrarmo-nos aqui perante um dos casos identificados por Breuil em que “le silex

ait sauté d’un bord à l’autre de l’incision ancienne sans pénétrer à l’intérieur, de sorte que l’ordre de superposition reste incertain et devra être établi par comparaison” (Breuil, 1952, 38). De facto, se observarmos com atenção a zona de

sobreposição entre o cavalo e a cerva quer no decalque, quer na fotografia publicada (Baptista, 1999b, 84) verificamos uma descontinuidade no contorno da cerva entre cada um dos lados do bordo cérvico-dorsal do cavalo, descontinuidade essa que se manifesta no número de traços incisos e na direção dos mesmos. Tal descontinuidade só se explica se considerarmos que o traço picotado é anterior à execução da cerva. Já a relação entre o veado e a cerva é de mais difícil precisão. No entanto, a relação entre o veado e o cavalo é, quanto a nós, sumamente elucidativa. De facto, os quartos traseiros do veado correspondem também à crineira do cavalo. Deste modo, parece- nos altamente provável que a crineira do cavalo não foi representada porque “já estava lá”. Resta saber há quanto tempo estava lá. De acordo com a análise de correspondências múltiplas, este veado é classificado como da classe 1. Contudo, como se referiu já, na análise dos veados só se isolaram três classes o que denota uma maior estabilidade das formas deste tema ao longo do tempo. A unidade gráfica em questão apresenta, por outro lado algumas caraterísticas que a apartam da classe 1 mais clássica, como sejam as coxas representadas, a técnica utilizada na sua gravação ou mesmo a dimensão. Serve esta reflexão para dizer que a contemporaneidade

relativa entre o cavalo e o veado não deve ser descartada. E de facto, como referiremos adiante, temos outras pistas para defender a invisibilidade desta superfície durante as fases mais antigas de gravação no Vale do Côa.

Relativamente à rocha 26 da Canada do Inferno e ao seu cavalo CI26-13, integrado na classe 2 em franco contraste com todas as outras unidades gráficas da rocha classificadas como 1, já nos referimos atrás, pelo que sobre o assunto apenas recordamos que esta diferença não deve ser valorizada, porquanto se esta figura encontra na zona partilhada pelas elipses das classes 1 e 2. De qualquer modo, na descrição conhecida desta rocha (Baptista & Gomes, 1997, 245-246) não é referida a relação estratigráfica entre os motivos nela presentes.

Relativamente à situação da rocha 28 da Canada do Inferno, os animais aí presentes que são classificados como de diferentes classes não estabelecem entre si relações de estratigrafia vertical. Também a análise da estratigrafia horizontal não contraria os resultados da análise de correspondências múltiplas, embora também não os reforce de maneira evidente.

Quanto à rocha 41 da Canada do Inferno, já em outro texto (Santos, 2012, 45) tivemos oportunidade de nos referirmos à importância das suas estratigrafias horizontal e vertical para a sustentação da relação entre a arte magdalenense e azilense, algo que parece confirmado também pela análise de correspondências múltiplas.

Debrucemo-nos agora sobre as rochas do Fariseu cuja análise revelou possuírem unidades gráficas de diferentes classes. Uma destas corresponde à rocha 4. Nesta rocha as cabras-monteses e cervídeos analisados foram integrados na classe 2, encontrando-se auroques e cavalos classificados como 2 e 3. A gravação desta rocha em ambas as fases é corroborável pela estratigrafia parietal. Assim, o único cavalo classificado como 2 (Fr04-02) encontra-se, de facto, sob as restantes figuras que são classificadas como 3, reutilizando o auroque Fr04-01 como sua a cérvico-dorsal do equino que temos vindo a tratar. Por outro lado, também o único auroque classificado como 2 (Fr04-18) se encontra sob o cavalo Fr04-19, classificado como 3.

Na rocha 5 do Fariseu apenas o veado Fr05-02 foi analisado, tendo sido integrado na classe 3 deste tema. O cavalo Fr05-01 integra-se, contudo, perfeitamente na classe 2 dos equinos. Tal é corroborado pela estratigrafia figurativa da rocha, correspondendo o bordo cérvico-dorsal do veado ao bordo ventral do tronco do cavalo.

tema, contrariamente às restantes figuras da rocha que foram classificadas como classe 2 (quer de cavalos, quer de cabras-monteses). O isolamento morfológico desta figura relativamente às restantes tem um correlato no seu isolamento temático e espacial, tendo este último já sido por nós valorizado enquanto evidência de um distanciamento temporal entre a gravação destas figuras (Santos, 2012, 45).

Voltemo-nos agora para a Penascosa. Na rocha 3 uma figura apenas não foi classificada como da classe 1. Trata-se do bovino Pn03-08. Pensamos que esta classificação deve ser desvalorizada. Não apenas a estratigrafia da rocha impede essa valorização, como também a localização do motivo na classe 1 no mapa da análise com variáveis técnicas.

Na rocha 4 dispomos de um cavalo classificado como classe 1 (Pn04-06) e dois classificados como 2 (Pn04-07 e Pn04-08), para além de duas cabras-monteses classificadas como 1. Tendo em conta o que se verifica na rocha que em seguida focaremos e aspetos ligados à geoarqueologia, é de supor que esta dupla classificação do dispositivo gráfico da rocha 4, possa denunciar a sua construção numa fase terminal da fase 1. Diga-se que a estratigrafia parietal da rocha não contraria a classificação proposta (Baptista & Gomes, 1997, 338).

Na rocha 5 encontramos igualmente motivos das classes 1 (todas as cabras- monteses analisadas e os auroques Pn05-05, Pn05-16 e Pn05-21) e 2 (a cerva Pn05-

29 e todos os cavalos). A análise da rocha não nos permite defender a existência de

dois momentos distintos de gravação. Pensamos mais parcimoniosos supor que todo o sector picotado da rocha datará de um momento terminal da vigência da classe 1. Já a localização da cerva ligeiramente separada dos restantes motivos e a uma cota algo mais baixa parece ser evidência suficiente para podermos inferir que a sua gravação se deu posteriormente à do restante dispositivo.

Relativamente à inclusão do cavalo Pen06-01 na classe 2, contrariamente a todas as restantes figuras da rocha, integradas na classe 1, já nos referimos atrás, pelo que a ele não voltamos.

Vejamos agora o caso da rocha 10. Aqui cinco motivos não são integrados nas respetivas classes terminais. São eles os cavalos Pn10-01, Pn10-53, o veado Pn10-22, a cerva Pn10-23 e o auroque Pn10-24. Refira-se ainda que no caso de cavalos e auroques, a classificação respetiva não é classe 3 mas 2, o que indicia alguma antiguidade. Tal atribuição relativamente a Pn10-01 não nos deve perturbar. De facto, a associação composta pelos cavalos aí presentes, pela cabra-montês Pn10-03 e ainda

pelo veado Pn10-04 parece-nos sumamente homogénea e morfologicamente apartada da maioria das figurações da rocha. A primazia destas figurações no painel em que se encontram parece-nos evidente tendo em conta a sua localização no mesmo. Por outro lado, o próprio painel parece uma entidade com autonomia suficiente, o que aliás levou os investigadores que primeiro estudaram esta rocha a identificá-lo como 10A. Também Pn10-22, Pn10-23 e Pn10-24 nos parecem formar uma associação evidente, quer pelas dimensões, quer pela orientação, quer pelo entrosamento entre as figuras. Esta simbiose entre as unidades gráficas referidas é de tal forma que apenas Pn10-22 foi identificada nos estudos mais antigos, embora os seus autores admitissem a reelaboração desta figura (Baptista & Gomes, 1997, 356-357). A localização desta associação no painel, é por outro lado, evidência suficiente da sua precedência relativamente às restantes unidades gráficas. O contrário é dito na publicação original, tendo sido considerado como da “última fase de gravação” (Baptista & Gomes, 1997, 355). Trata-se seguramente de um lapso, uma vez que nos decalques originais desses autores (em depósito no Museu do Côa), a relação estratigráfica aí registada é precisamente a inversa. A ordem correta é aliás facilmente inferida se num exercício mental concebermos o painel sem as figuras centrais. Se as unidades gráficas que até agora nos referimos denunciam com clareza a existência de uma fase mais antiga de gravação nesta rocha tendencialmente tardia, tal não chega para valorizarmos a classificação de Pn10-53 como sendo da classe 2 dos cavalos. De facto, contrariamente às figuras sobre as quais nos debruçámos até agora, esta aparece-nos perfeitamente integrável no conjunto gráfico do painel onde se encontra, não ocupando nenhuma posição que denuncie a sua maior antiguidade. Será também de ter em conta a sua posição no mapa fatorial da análise sem técnicas — fora dos limites da elipse da classe 2 e muito perto da elipse da classe 4.

Na rocha 17 da Penascosa, para além da cabra-montês Pn17-01, classificada como da classe 2 na nossa análise, ocorrem ainda outras unidades gráficas que, embora não analisadas, se inserem bem no mundo da arte tardo-paleolítica e até mais recente, como seja o caso do antropomorfo (Baptista, 1999b, 112). Se ao nível da estratigrafia vertical não há forma de confirmar ou infirmar tal hipótese, ao nível da estratigrafia horizontal verificamos que ela sai reforçada.

Na Quinta da Barca encontramos quatro importantes rochas que confirmam a nossa análise. Em duas delas — rochas 2 e 15 —encontramos superfícies colocadas a descoberto após fracturação das superfícies onde se encontram as gravuras mais

antigas (QB02-01 a QB02-11; QB15-06), superfícies essas onde apenas se observam figurações mais recentes (QB02-12 a QB02-15; QB15-01 a QB15-05).

Quanto à rocha 23, já em texto anterior (Santos, 2012, 45) nos havíamos referido as sobreposições aí identificadas entre figuras que consideramos mais antigas (neste caso atribuídas à classe 2 dos equinos) e as mais recentes (compostas essencialmente por cervídeos). Um dos cavalos foi mesmo integrado na classe 1 (QB23-06), algo que pensamos, como referimos já linhas atrás, dever-se a uma série de coocorrências fortuitas, devendo aquele cavalo ser coevo dos restantes.

Também a rocha 56 parece comprovar os resultados da análise. Aqui, as unidades atribuídas à classe 1 (QB56-01, QB56-03 e QB56-02, esta última por comparação) encontram-se em painel distinto do que contém as unidades atribuídas à 2 (auroque QB56-04 e cabra-montês QB56-05), sugerindo dois momentos distintos de gravação.

Na ribeira de Piscos encontramos três rochas com unidades gráficas atribuídas a diferentes classes. Uma destas corresponde à rocha 2. Nela a par de cervídeos atribuídos à classe 2, encontramos dois cavalos e um auroque atribuídos à classe 2, um cavalo atribuído à classe 3 e um veado atribuído à classe 1. A análise da rocha confirma em grande medida esta atribuição. De facto, o cavalo atribuído à classe 3 (Pi02-07) encontra-se sobre o auroque Pi02-06, atribuído pela análise à classe 2. Mais

sui generis é a atribuição do veado Pi02-03 à classe 1, mas as caraterísticas da

amostragem deste tema não nos permitem valorizar excessivamente esta atribuição, devendo esta figuração ser coeva dos cavalos e auroque das respetivas classes 2.

Na rocha 6 deste sítio encontramos a par de dois auroques classificados como da classe 2, uma cabra-montês (Pi06-05) classificada como da classe 1, motivo ao qual se devem juntar outras duas que se encontram no mesmo painel e que apresentam as mesmas caraterísticas morfológicas (Pi06-03 e Pi06-04). Embora a análise da rocha não desminta tal classificação encontrando-se as referidas cabras em painéis diferentes daqueles onde se encontram os auroques, pensamos que serão contemporâneas destes últimos. Por um lado, não nos devemos esquecer que entre as cabras-monteses só se identificaram três classes, encontrando-se seguramente as coevas de auroque e cavalos das respetivas classes 2 integradas quer na classe 1 quer na 2 das cabras-monteses. Tendo isto em conta, não é fraco argumento lembrar o posicionamento de Pi06-05 no gráfico — embora classificada como classe 1 encontra-se no interior da elipse da classe 2.

A derradeira rocha do sítio onde se encontram motivos de diferentes classes é a 24. Aí podemos encontramos auroques atribuídos quer às sua classes 2 (Pi24-04;

Pi24-19; Pi24-22; Pi24-35; Pi24-58; Pi24-67; Pi24-76; Pi24-84; Pi24-90; Pi24-95; Pi24-96; Pi24-97; Pi24-98; Pi24-102; Pi24-126; Pi24-128; Pi24-129; Pi24-137; Pi24-139), quer à 3 (Pi24-64; Pi24-99; Pi24-100; Pi24-104; Pi24-113; Pi24-114) e

um cavalo atribuído à sua classe 3 (Pi24-133). Relativamente às outras espécies analisadas foram também identificadas três cabras-monteses (PI24-10; PI24-24;

Pi14-51) e dois veados (Pi24-130; Pi24-132) atribuídos à classe 2.

É verdade que apenas uma pequena parte dos motivos desta rocha foram analisados, mas os resultados são, no mínimo, curiosos. Assim, verificamos que a distribuição dos motivos de diferentes classes pelos painéis da rocha não se faz de forma aleatória. De facto, sempre que no mesmo painel se encontram diversos motivos, estes tendem a pertencer à mesma classe. Assim, no painel 3 um auroque é classificado como 2 e uma cabra-montês também como 2, ocorrendo o mesmo no painel 6; no painel 23 os dois bovinos analisados pertencem à classe 2, no 26 os três analisados pertencem também à 2, no painel 27, dos seis bovinos analisados, apenas