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3. A classificação do corpus gráfico 114

3.2. A análise estatística 129

3.2.2. Os resultados 136

3.2.2.1. Cavalos

A tabela sobre a qual trabalhámos corresponde à nossa tabela 3.1. Como referimos anteriormente, é composta por unidades gráficas de estações portuguesas e por outras da Meseta castelhana publicadas por colegas do outro lado da fronteira. Ora, em algumas unidades gráficas da nossa tabela podem verificar-se algumas divergências quanto à descrição dos autores responsáveis pelo seu estudo. Importa desde já identificá-las. Assim, considerámos que o traço paralelo ao membro anterior de DC06.C-02 (LEP, 1999a, 190-191, fig. 262) pode ser interpretado como segunda pata deste animal, que assim passa a ter os membros representados em perfil uniangular e em movimento. Também no decalque de DC06.D-01 (LEP, 1999a, 192, fig. 263), julgamos poder reconhecer uma segunda pata dianteira, encontrando-se ambas em perfil uniangular. Considerámos igualmente que SI44.C-01 possui boca linear, visível quer no decalque, quer na foto (LEP, 1999a, 115-116, figs. 135-136). Em La Griega, interpretamos o traço imediatamente à esquerda da pata dianteira do cavalo do conjunto X do sector III — Gr_III_10 — (Corchón et al., 1997, 68-69, fig. 52) como esboço de uma segunda pata, encontrando-se o par representado em perfil uniangular. As unidades gráficas de Siega Verde tivemos oportunidade de as ver in

loco. As únicas precisões relativamente aos cavalos publicados prendem-se com a

existência de uma orelha contornada em SV13-09 (Alcolea & Balbín, 2006a, 75-76, fig. 32), de um olho circular em SV40-01 (idem, 115, fig. 82) e de um olho em forma de ponto em SV74-05 (idem, 162, fig. 158). Feitas estas ressalvas, analisemos os gráficos resultantes das nossas análises.

Uma observação atenta do gráfico 3.1 é profundamente sugestiva. Nele observamos que a nossa análise considera a existência de três classes. Estas três classes correspondem grosso modo às três fases que temos vindo a defender para as manifestações gráficas do vale do Côa (v.g. Santos, 2012), correspondendo cada uma destas às classes representadas no gráfico67.

As variáveis que mais condicionam a distribuição dos motivos analisados encontram-se representadas no gráfico 3.2. O primeiro facto a relevar corresponde à pouca importância dos índices corporais (ic) na análise da variabilidade formal dos

                                                                                                                         

67 A imagem original produzida pelo programa identifica as classes 2 e 3 de forma inversa à por nós

adotada. De facto, o programa nomeia as classes a partir da leitura da esquerda para a direita do dendrograma produzido (cfr. Graf. 3.5). De forma a facilitar a compreensão da análise, a numeração das classes identificadas através das nossas análises sujeitar-se-á a um critério cronológico.

cavalos. No extremo oposto encontramos variáveis como a forma e o perfil dos membros (memb_f e memb_p respetivamente), a forma geral do corpo (corpo), o preenchimento interior (int), a incisão simples (inc_s) e a picotagem (pic), estas três essencialmente ao longo da dimensão 1. Na dimensão 2 têm especial importância a presença ou ausência de cascos (cas), a forma das narinas (nar), boca (bc) e olhos (oc), a incisão reiterada (inc_r) e as delimitações internas (di).

A distribuição das categorias pelo mapa fatorial pode ser observada no gráfico 3.3. Dada a quantidade de categorias, este gráfico é de leitura algo difícil. Nele observamos a existência de uma série importante cerca do centro do gráfico. As categorias que mais contribuem para a distribuição encontram-se, no entanto na periferia.

No gráfico 3.4 optámos por apresentar apenas a metade que mais contribui para a distribuição dos indivíduos pelo gráfico. Assim, no quadrante inferior esquerdo encontramos a picotagem A (pic_A), a existência de abrasão (abr_s), os membros simples (memb_bs), os corpos com curvas acentuadas (cor_c), a não ocorrência de incisão simples ou múltipla (inc_s_n e inc_m_n), as narinas e bocas lineares (n_l e b_l) e os membros em perfil absoluto. No quadrante superior esquerdo encontramos apenas os corpos naturalistas (cor_nat) e a ocorrência de delimitações internas. No quadrante superior direito identificamos a não ocorrência de picotagem (pic_n), a presença de cascos (cas_s), as narinas contornadas (n_cont), a ocorrência da incisão simples e múltipla (inc_s_s e inc_m_s), o preenchimento parcial dos corpos (int_p), as orelhas contornadas (or_cont), a modalidade 2 dos membros modelados (memb_m2), os olhos amendoados (oc_am), a incisão reiterada (inc_r_s), a utilização do perfil uniangular na representação dos membros (memb_un) e a boca modelada (b_mod). Finalmente, no quadrante inferior direito observamos a inexistência de delimitações internas (di_n), a inexistência de olhos (oc_n), a utilização das perspetivas biangulares na representação dos membros (memb_bi), as crineiras retas (cri_r) e as suas terminações em ponta (tcri_pt), os bordos ventrais da cabeça retos (cbv_r), os corpos geométricos (cor_geo), os membros lineares (memb_l), o interior dos corpos totalmente preenchido (int_t) e os focinhos apontados (f_apont).

Uma enumeração das categorias responsáveis pela partição originada é elucidativa (Tab. 3.2). Assim, a classe 1 é essencialmente caraterizada pela proeminência das técnica do picotado (sobretudo na sua modalidade A, mas também na B) e da abrasão, pela utilização do perfil absoluto na representação dos membros,

que tendem a ser definidos simplesmente pelos bordos; os corpos apresentam curvas acentuadas; as crineiras tendem a ser convexas, as orelhas lineares, os olhos em forma de ponto ou circulares; a forma mais comum do bordo ventral da cabeça é a que dispõe de ganacha convexa e zona da barbada/ queixo reta; as linhas fronto-nasais tendem a ser convexas, assim como as delimitações internas das crineiras, embora estas últimas possam ser também retas.

Embora possamos estranhar a ausência, no rol atrás descriminado, de categorias como a ausência de cascos (que desde logo, não é exclusiva desta classe), tal deve-se ao facto das classes serem também definidas pela negativa, isto é, pela ausência de determinadas categorias, ausências essas cujo contributo para a sua definição pode ser mais importante que o de uma categoria que, embora presente, não é tão significativa. Entre as categorias cuja ausência contribui mais para a definição da classe 1, conta-se a da incisão (nas suas três variantes), a dos corpos geometrizados, as orelhas contornadas, os preenchimentos interiores (nas suas duas variantes), as bocas modeladas, as crineiras retas, os membros de forma linear e em perfil biangular (embora o perfil uniangular também seja residual), os focinhos apontados, a ausência de delimitação interna da crineira, os olhos amendoados, o bordo fronto-nasal convexo-reto, os olhos amendoados, as terminações das crineiras em ponta ou diretamente sobre a nuca, os bordos ventrais da cabeça retos (e em menor medida, convexos), os membros modelados na sua segunda variante, e as narinas contornadas.

A classe 2 (Tab. 3.3) carateriza-se essencialmente pela proeminência da incisão reiterada (mas também da simples e da múltipla), pelas bocas modeladas e pelas orelhas contornadas, pelos membros representados em perfil uniangular, pelos olhos amendoados, pelas narinas contornadas, pelos membros modelados (sobretudo na sua modalidade 2), pelas delimitações internas, pelo preenchimento interior parcial dos corpos, pelos corpos naturalistas, pelos bordos fronto-nasais convexo-retos, pelos focinhos modelados e pela presença de cascos. A classe 2 carateriza-se ainda pela ausência ou raridade de membros definidos apenas simplesmente pelos bordos (e em menor medida, dos lineares), da picotagem em ambas as modalidades, da abrasão, dos corpos geométricos, dos membros em perfil absoluto, de extremidades rostrais sem boca ou narina, dos bordos fronto-nasais retos, dos interiores dos corpos totalmente preenchidos, de orelhas lineares ou de cabeça sem orelhas, de bordos ventrais da cabeça retos e de olhos em forma de ponto.

pelo total preenchimento dos corpos, pelos membros lineares dispostos em perfil biangular, pelos focinhos apontados, pela ausência de olhos e narinas, pelos bordos ventrais da cabeça retos (e em menor medida convexos), pela ausência de delimitações internas, pelas crineiras retas, não delimitadas interiormente e terminadas em ponta, pelo uso da incisão simples (e em menor medida, pela da múltipla), pelos bordos fronto-nasais retos e pela ausência de boca e de orelhas. As categorias cujas ausências mais contribuem para a definição desta classe são os corpos sem qualquer preenchimento interior e de formas naturalistas (e em menor medida, os definidos por curvas acentuadas), as delimitações internas, os bordos ventrais da cabeça convexo-retos (e, em menor medida, os convexo-côncavos), as crineiras convexas, o picotado A (e em muito menor medida, o B), os membros em perfil absoluto, os bordos fronto-nasais convexos, as narinas contornadas, a abrasão, os membros modelados (sobretudo a modalidade 2, mas também a 1), os olhos amendoados (e, em menor medida, os circulares), o perfil uniangular nos membros, as delimitações da crineira convexas, os focinhos modelados, as terminações das crineiras alteadas, as bocas modeladas e as narinas lineares.

Uma primeira conclusão a tirar é a de que a Classificação Hierárquica Ascendente parece refletir a proposta de faseamento da arte paleolítica do Côa que apresentámos em 2012. Assim, a classe 1 é composta pelas unidades gráficas que atribuímos ao período entre o Gravettense e o Solutrense médio, a classe 2 pelas que situámos num intervalo entre o Solutrense final e o Magdalenense superior, e a classe 4 pelas que integrámos no Magdalenense final/ Azilense (Santos, 2012, 46).

Contudo, esta análise não se deu apenas sobre os equinos do Côa, estendendo-se aos de toda a nossa área de estudo, o que nos permitiu perceber o seu lugar relativamente aos do Côa. Alguns destes, como seria expectável, caíram na classe 3 (da arte magdaleno-azilense), designadamente os motivos de Ojo Guareña (OG-15,

OGV-26 e OGV-32) e de Peña de Estebanvela (PE_m_21-01). SV13-04 cai também

nesta classe, o que, não sendo impossível dadas as outras figurações coevas já identificadas na estação (Bueno, Balbín & Alcolea, 2007), pensamos dever-se a outras razões que exploraremos adiante. A ocorrência do motivo SI52.B.A-01 de Domingo García nesta classe pode parecer estranho, mas como se verifica no gráfico, localiza- se em região partilhada pelas elipses das classes 2 e 3. Situação semelhante verifica-se com a unidade gráfica Pn10-01, da Penascosa.

(Pi02-04) são integrados na classe 1, localizando-se, no entanto, em zona partilhada pelas elipses das classes 2 e 3. Na zona exclusivamente partilhada pelas classes 1 e 3 apenas se observa um motivo de La Griega (Gr_X-22) e outro de Siega Verde (SV62-

01), ambos integrado pela análise na classe 1. Três motivos da classe 1 (CI03-09, CI03-11 e QB23-01) e um da classe 2 (QB23-06) localizam-se em zona partilhada

pelas três elipses.

Contudo, a maior parte dos motivos “partilhados” localizam-se em zona mista das classes 1 e 2, correspondendo 9 destes à classe 1 (Co01-01, SI2.B-05, Vl_m_B-

02, Fr03-01, CI02-04, CI03-06, CI14-17, SV46-25 e SV84-01) e cinco à classe 2

(SI44.C-01, DC06.D-02, Vl_m_A-12, SV13-09 e RI24-133).

O caráter de transição de algumas das rochas e sítios que se localizam nestas zonas partilhadas por várias elipses é evidenciado quando observamos a localização dos restantes motivos que se encontram nas rochas e sítios respetivos. Por exemplo, relativamente aos cavalos da rocha 23 da Quinta da Barca, não seria expectável que

QB23-01 (classe 1) se apartasse de QB23-02, QB23-03 e QB23-06 (classe 2). No

entanto, para além da distância entre QB23-01 e QB23-06 ser muito pouca, a verdade é que o grande cavalo desta rocha se encontra ainda bem dentro da elipse da classe 2, e os restantes motivos no hemisfério inferior da elipse da classe 2. A rocha parece assim ser constituída por um repertório de transição entre as duas classes (e ainda por um horizonte magdaleno-azilense, representado no gráfico por QB23-36). Outra rocha que aparenta encontrar-se na mesma situação é a rocha 3 da Canada do Inferno, cujos equinos, embora integrados na classe 1, se encontram todos em zona partilhada pelas classe 1 e 2 (dois destes encontram-se mesmo em zona partilhada pelas três classes). O cavalo da rocha 2 da Canada do Inferno e o da Costalta (já no vale do Zêzere) podem também corresponder a uma situação do género.

A placa de Vilalba corresponde também, muito provavelmente, a um período de transição, com um motivo integrado na classe 1 (mas em zona de elipses partilhadas [Vl_m_B-02]) e os restantes quatro integrados já na classe 2, embora um destes também em zona de elipses partilhadas (Vl_m_A-12).

As estações de Domingo García parecem, no seu todo poderem integrar-se nesta fase de transição, não se localizando nenhum dos equinos respetivos nos hemisférios superior da classe 2 e inferior da classe 1. Será aliás de referir que apenas um motivo de Domingo García se localiza numa região exclusivamente delimitada pela elipse da classe 1 (SI12.B-03) e dois na zona exclusiva da classe 2 (DC06.C-02 e Ca04-10).

Uma parte importante dos motivos de Siega Verde parece integrar-se nesta situação de transição, embora mais de metade dos equinos se localize ainda em zona exclusiva da elipse da classe 1. Contudo, a maior parte destes motivos, a par de outros de estações como Poço do Caldeirão, localiza-se no hemisfério superior da elipse, onde os motivos do Côa rareiam mais. Uma distinção entre estes motivos e os do Côa parece-nos portanto confirmada. Esta situação é claramente verificada quando olhamos para o dendrograma com a partição dos grupos (Graf. 4.5). Verificamos aí que os motivos de Siega Verde (com exceção de SV13-09, SV48-04 e SV13-04, os dois primeiros integrados na classe 2 e o remanescente na 3) se encontram num subgrupo com poucos efetivos da fase mais antiga do Côa, subgrupo esse que, por outro lado, integra toda a série de motivos a que nos temos vindo a referir como representantes de uma putativa fase de transição. Antes de voltarmos a este dendrograma, voltemos à figura que estávamos a analisar.

Claramente fazendo parte da classe 1 encontramos a maior parte dos motivos que sempre considerámos da fase mais antiga do Côa, motivos esses que se encontram presentes nas rochas 1, 16, 26 e 27 da Canada do Inferno, 1 do Fariseu, 4, 5 e 6 da Penascosa, 1, 8, 14 e 19 da Quinta da Barca, 1 de Piscos, e 6 e 7 de Rego de Vide. Destaque-se, contudo, a proximidade deste último relativamente à elipse da classe 3. Para além destes motivos do Côa, encontram-se ainda perfeitamente integrados na classe 1 os equinos do Pousadouro e, se bem que em menor medida, os de La Griega.

Os motivos do Côa que se encontram exclusivamente na classe 3, com exceção de um, não levantam grandes questões: correspondem ao cavalo da rochas 6 e à maior parte dos da 14 da Canada do Inferno, aos cavalos da rocha 10 da Penascosa, a um da rocha 2 de Piscos (Pi02-01), ao do painel esquerdo da rocha 15 da Quinta da Barca (QB15-05), a um cavalo da rocha 23 desse mesmo sítio (QB23-36), aos cavalos das rochas 13 e 16 do Vale de José Esteves e ao único que foi possível analisar da arte móvel do Fariseu (Fr_m01-08). Destaque-se a presença de figuras picotadas, algumas delas consideradas previamente como da fase pré-magdalenense do Côa (v.g. CI06-

01). Refira-se ainda a presença nesta classe de um motivo da rocha 1 do Fariseu

(Far01-83). A presença deste motivo nesta classe é perfeitamente possível do ponto de vista estratigráfico (encontrando-se o motivo coberto apenas pela camada 2). No entanto, a sua integração nesta classe pode dever-se a um outro aspeto que exploraremos adiante e ao qual se deverá a inclusão do motivo de Siega Verde nesta

classe a que já fizemos atrás referência.

Os motivos do Côa que encontramos exclusivamente na elipse da classe 2 são os equinos das rochas 41 da Canada do Inferno, um da rocha 14 deste sítio (CI14-28), um da rocha 23 da Quinta da Barca (QB23-02) os das rochas 4 e 8 do Fariseu, o cavalo presente na composição principal da rocha 2 de Piscos (Pi02-07), os das rochas 3 e 5 deste sítio, e o da rocha 4 do Vale de José Esteves. Para além destes motivos do Côa e dos outros já mencionados atrás, refira-se ainda a integração nesta classe dos equinos da arte móvel do Vau e do Medal.

Voltemos agora ao dendrograma (Graf. 3.5). Nesta figura observamos algumas diferenças relativamente ao mapa fatorial. De facto, neste último parece observar-se uma maior relação entre as classes 1 e 2 (com dezoito motivos destas classes a localizarem-se na zona de elipses partilhadas) que entre as classes 2 e 3 (com apenas três motivos das duas classes em zona de elipses partilhadas). No entanto, no dendrograma observa-se uma maior proximidade formal entre estas duas classes, aparecendo-nos ambas com origem no mesmo ramo.

Este aspeto alertou-nos para o facto das variáveis relacionadas com a técnica estarem a “distorcer” os nossos resultados. De facto, como vimos acima, as categorias relacionadas com as variáveis técnicas têm um peso muito considerável na classificação dos equinos. As classes 2 e 3 parecem relacionar-se no dendrograma devido ao predomínio da incisão, a par da raridade da picotagem, em ambos os conjuntos de motivos que as conformam.

Na arte do Côa conhecida até ao momento, as opções técnicas parecem ter relevância cronológica. Mas, por exemplo em Siega Verde, as diferenciações ao nível da técnica parecem mais condicionadas por razões topográficas e temáticas que cronológicas (v.g. Alcolea & Balbín, 2006a, 189-191). Ou seja, em Siega Verde o predomínio de determinada técnica não pode ser considerado como indicador cronológico. Estas observações levaram-nos a sentir necessidade de proceder a uma análise multivariante apenas com as variáveis morfológicas. Esta análise encontra-se expressa nos gráficos 3.6 a 3.10.

No primeiro destes encontra-se graficamente representado o contributo das variáveis para a nova distribuição que agora se apresenta. Destaque-se a continuidade da contribuição residual dos índices corporais dos animais. A par de algumas variáveis cuja importância para a distribuição das unidades analisadas já se tinha verificado (corpo, forma e perfil dos membros, preenchimento interior), refira-se

ainda a forma da boca, narina, olhos, focinho e bordo ventral da cabeça (bc, nar, oc, foc e cbv).

No gráfico 3.7 apresentamos a distribuição do total das categorias pelo gráfico e no seguinte a distribuição da metade que mais contribui para a dispersão dos indivíduos pelo mapa fatorial. Aqui distinguimos sensivelmente três grupos: um primeiro na zona inferior do gráfico composto pela inexistência de preenchimento interior (int_n), pela representação dos membros em perfil absoluto (memb_pa), pelos corpos com curvas acentuadas (cor_c), pelas bocas e narinas lineares (b_l e n_l), pelos olhos em forma de ponto (oc_p) — todas estas no quadrante inferior esquerdo —, pelos membros definidos por bordos simples (memb_bs), pela inexistência de delimitações internas (di_n) e pela ausência de olho — estas três localizadas no quadrante inferior direito. Um segundo grupo de categorias localiza-se no quadrante superior esquerdo, sendo constituído pelos corpos naturalistas (cor_nat), pelas orelhas contornadas (or_cont), pelas delimitações internas (di_s), pelas narinas contornadas (n_cont), pelos olhos amendoados (oc_am), pela presença de cascos (cas_s), pela representação dos membros em perfil uniangular (memb_un), pela modalidade 2 dos membros modelados (memb_m2) e pelas bocas modeladas (b_mod). Um terceiro grupo localiza-se na extremidade direita do quadrante superior direito, sendo constituído pelos bordos ventrais da cabeça retos (cbv_r), pelas crineiras retas (cri_r) e terminadas em ponta (tcri_pt), pela representação dos membros em perfil biangular (memb_bi), pelos corpos geométricos (cor_geo), pelos interiores dos corpos totalmente preenchidos (int_t), pelos focinhos apontados (f_apont) e pelos membros lineares (memb_l). A categorias dos interiores parcialmente preenchidos localiza-se ainda neste quadrante mas já em zona de transição para o segundo grupo definido.

O gráfico mais sugestivo é, contudo, o mapa fatorial com os indivíduos já distribuídos pelas respetivas classes (Graf. 3.10). De facto, se não tivermos em conta as variáveis técnicas, uma análise do dendrograma resultante da Classificação Hierárquica Ascendente permite-nos inferir, com elevado grau de probabilidade, a existência de quatro classes (Graf. 3.9). A primeira destas (Tab. 3.5) é definida essencialmente pelas seguintes categorias: corpos com curvas acentuadas, bocas e narinas lineares, olhos em forma de ponto, bordo ventral da cabeça convexo-reto, membros representados em perfil absoluto, orelhas lineares, terminação da crineira contra a orelha, focinhos retos e membros definidos simplesmente pelos bordos. A classe é ainda definida pela ausência ou raridade das seguintes categorias: corpos

naturalistas (e, em menor medida, de tendência geométrica), delimitações internas, ausência de boca (e, em menor medida de bocas modeladas), orelhas ausentes ou contornadas, bordos ventrais da cabeça convexo-côncavos, olhos ausentes, narinas ausentes ou contornadas, preenchimentos interiores, membros em perfil biangular e uniangular, membros lineares e terminações da crineira contra a nuca.

A classe 2 (Tab. 3.6) é definida pelas categorias seguintes: corpos naturalistas, membros delimitados por bordos simples, bordos ventrais da cabeça convexo- côncavos (e, em menor medida, côncavos), terminações da crineira alteadas, focinhos convexos, membros em perfil absoluto e bordos ventrais da cabeça côncavos. Predominam ainda as cabeças sem detalhes (narinas, olho, boca e orelhas), os membros sem cascos, os corpos geométricos, as terminações da crineira contra a orelha, os preenchimentos interiores totais e os focinhos.

A classe 3 (Tab. 3.7) é definida pelas narinas contornadas, pelos olhos amendoados (e em menor medida, circulares), pelas bocas e focinhos modelados, pelas delimitações internas, pela presença de cascos, pelo predomínio da modalidade 2 dos membros modelados (e em menor medida da 1) representados em perfil uniangular, pelas orelhas contornadas, pelos bordos fronto-nasais convexo-retos e pelos bordos ventrais da cabeça convexo-côncavos. Pela negativa é definida pela ausência de cabeças sem detalhes (bocas, olhos, narinas e orelhas), membros definidos por bordos simples ou lineares, corpos geométricos e definidos por curvas acentuadas, bordos fronto-nasais retos, membros sem cascos e dispostos em perfil absoluto, bordos ventrais da cabeça retos, crineiras não delimitadas interiormente, corpos totalmente preenchidos e focinhos apontados.

A classe 4 (Tab. 3.8) é definida por corpos geometrizados totalmente preenchidos, focinhos apontados, membros lineares dispostos em perfil biangular, bordos ventrais da cabeça retos (e, em menor medida, convexos), ausência de olhos, narinas e delimitações internas, crineiras e linhas fronto-nasais retas, ausência de delimitações da crineira que tendem a terminar em ponta e ausência de bocas. Pela negativa é definida pela ausência ou raridade de corpos sem preenchimento interior ou delimitados interiormente, de formas naturalistas (e, em menor medida, de curvas acentuadas), de bordos ventrais da cabeça convexo-retos, crineiras convexas, fronto- nasais convexas, narinas contornadas, delimitações da crineira convexas, focinhos convexos, membros modelados (nas variantes 1 e 2) em perfil uniangular e sobretudo em perfil absoluto, olhos amendoados ou circulares e terminações da crineira contra a

orelha ou alteadas.

A consolidação com o algoritmo “K-médias” no mapa fatorial origina a configuração presente no gráfico 3.10. Nele apreciamos claramente a existência de